terça-feira, 27 de dezembro de 2016

LEITURA: TRECHO DE "O PENTÁGONO DE HAHN", DE OSMAN LINS



“Caiu um poste ou quebrou-se o gerador. Faltou luz na cidade. Das ruas que vêm ter à praça continuavam a chegar pequenos grupos. Desarmado o circo, tudo já seguira, de trem ou nos dois degraus da igreja, nas cornijas, nos fios, nos telhados. Mãos para trás, eu entre os da turba, olhos na tromba erguida para a lua cheia. Queríamos saudar a elefanta pela última vez. Faróis de bicicletas se enovelavam no ar empoeirado, laçando a multidão. Entre as sombras, vi o rosto de Armando, seu ar perdido, os olhos etéreos, a mão direita sobre o paletó. Não fora olhar para Hahn; queria ver o pátio enluarado. Aprecia o luar. Com a lua, não vê o monturo, as paredes sujas, as caras dos bêbados. Um pouco de esforço, e descobre um fiorde. Ou algum dos bichos que continuava a inventar nos seus óleos. Havia qualquer coisa de antigo ritual na multidão que marchava lentamente. Alguém cantava a marcha da Aída, para nós já familiar. Outras vozes, aos poucos, juntaram-se àquela voz iniciadora. Onde li o caso do elefante que, durante doze anos – sim, doze – viajou sozinho através da baía de Bengala, de ilha em ilha, percorrendo centenas de quilômetros? Que procurava? E há quanto ando eu nesta cidade, golfo de consternação, perseguindo o que talvez não exista? Duas jovens, à minha frente, levavam ramos de árvores erguidos. Fome de dar-lhes o braço, extraviar-me em sua companhia, cantando como os outros. Iriam quantas mulheres, além delas? Não haveria, entre todas, nenhuma ao mesmo tempo real e fictícia, para dissipar a invisível nuvem que me separava da vida? Nenhuma? Exclamei com voz rouca: “Adeus, Hahn!”. Não sabia, ao certo, de que profundo bem, de que essencial esperança me desapossava. As moças dos ramos de árvore, sorrindo, olharam para trás. Envergonhado, adentrei-me num beco. Mais uma vez, sem rumo, uivando dentro de mim, ganhei as ruas adormecidas”.

LINS, Osman. Nove, novena – narrativas. 4. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. p. 58 - 59.

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

FELIPE D'CASTRO - ALGUNS POEMAS DE UM TALENTO INCONTESTE



Felipe D'Castro é um poeta paraibano que desenvolve poemas notáveis - tanto pelo trabalho com a linguagem, quanto pelas temáticas que explora! Imagens bem delineadas, fruto da compreensão de mecanismos que podem estruturar o poema artisticamente engendrado, são recorrentes em sua poesia. A grandeza de seu talento pode ser confirmada pelos textos que colhi do seu perfil do facebook e copiei aqui, neste blog, que tem a pretensão de divulgar e, mais que isto, homenagear esse jovem poeta com sensibilidade artística inconteste. 

O primeiro deles é o meu preferido. Não digo o preferido dentre os que esse poeta escreveu, mas o meu preferido dentre os poemas que já li na vida. Felipe D'Castro, que tive o privilégio de conhecer e conviver numa época feliz de minha existência, precisa ser reconhecido e apreciado, afinal é de grandes artistas que precisamos neste mundo conturbado e ainda pouco afeito à beleza e à sensibilidade artística.

A FARDA
(Felipe D'Castro)



a farda não
veste a palavra
porque dela foge como
o sol da noite
quando entarda

cubo de gelo decerto
degela se penetrada
a farda, que não é roupa
mas jaula

a farda não fala
mas cala a língua e
empala a cor, o brilho
a onda batendo no olho

a farda, assim perto
não é farda
mas ferrolho.


 RETRATO
(Felipe D'Castro)

o céu manchado
de jambo aberto
[rinocerontes também
sonham algodão]
a boca dela
abrindo-se corola
a hora aberta
em um alçapão
/
o braço dele
caverna quente
a tarde ainda
vermelhidão
a praça a asa
abraça os dois
o amor acaba
carmim e não:

AOS TEUS PÉS
(Felipe D'Castro)

um poema
para amamentar a noite
e adotar estrelas
um poema
para ecoar tambores
dentro das costelas
um poema
para guardar a praia
dentro da concha
um poema
que lembre os teus pés
sobre o lençol da cama

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

CRÔNICA NADA APOLOGÉTICA À "pec - 55" (OU: "SANTA LUZIA, ROGAI POR NÓS!")


Acontece que no dia 13 de dezembro de 2016 a "pec - 55" foi aprovada. Vinte anos! Acontece que eu sou deslocamento, inadequação, estranhamento ante o ser-estar em mim. Vinte anos... E aqui em casa comemoravam o aniversário de minha mãe. Vinte anos? Luiz Gonzaga nos honrou com seu nascimento nesta data. O "ai - 5" foi imposto em 13 de dezembro de 1968. Santa Luzia está em pauta para os católicos. 

Santa Luzia, que nossos olhos se abram! Mártir benevolente, restitui o dom de ver destes brasileiros deitados eternamente em berço nada esplêndido, porque tiraram de nós vinte anos de possibilidades. Luiz Gonzaga nunca fez canção para Santa Luzia? Minha mãe é de sagitário e é complicada e é generosidade e é impulso e é dramática. Santa Luzia, por que tão distante estou de minha mãe quando com ela estou? 

O "brasil" morre um pouco hoje, ó vida e seus percalços! O "brasil" morre e eu estou sem chão. Mas sem chão aprendemos a voar? Não sejamos otimistas... Santa Luzia, como olhar para mim mesmo nesta data querida-não-querida? 

Diz o ditado popular que: "Ingratidão tira afeição!" Diz a vida que as decisões tomadas podem ser cruéis quando pouco sensatas. Vida, quem te obrigou a respirar por mim? Se eu vim para cá com a sensação de que não queria ser-estar, vida, por que me foi dado o dom maior de todos? Viver, vida, me entorpece e amplia: sinto novos espaços e tempos com minhas mãos feridas.

Estou num lugar que não é meu, num tempo que não é meu, num mundo que não é meu. Luiz Gonzaga, cante algo que me faça esquecer que sou. Santa Luzia, ilumina caminhos para que meus olhos não se ofusquem com a escuridão. Mãe, queria saber novas roupagens para a sensação de desamparo que despertaste em mim. Vida, que tenho eu para viver no amanhã que já nem sei? 

Danço alguma música triste que me dá o tom e a força. Acontece que no dia 13 de dezembro de 2016 a "pec - 55" destruiu minhas sandálias. Minhas mãos vazias imploram por perdão por aqueles que destruíram nossa paz. Não seria melhor estender as mãos pedindo armas? Mas a paz que busco, e que julgo encontrar no olhar perdido de uma criança triste, me impele a dizer que não... Santa Luzia, por favor, carecemos de novas luzes... O "brasil" está sem olhos! Luiz Gonzaga, não posso respirar, não posso mais nadar... 

E o fluxo que me invade dói com dor renitente - tenho medo e fecho os olhos. Adeus, 13 de dezembro de 2016. Que meus olhos nunca mais te vejam. Mãe, quem sabe um dia a gente possa comemorar de fato seu aniversário! 

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quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

RESENHA CRÍTICA: "O LEITOR", DE STEPHEN DALDRY




O LEITOR. Direção de Stephen Daldry. Produção: Anthony Minghella, Sydney Pollack, Donna Gigliotti e Redmond Morris. Elenco: Kate Winslet, Ralph Fiennes, David Kross. Estados Unidos: 2008. Filme (123 min), DVD.

No filme O Leitor (2008), de Stephen Daldry – que rendeu a Kate Winslet, vivendo a personagem Hanna Schmitz, os mais importantes prêmios cinematográficos de 2009 –, uma personagem feminina é julgada e condenada por seus crimes contra a comunidade judaica. O enredo conduz-nos a acompanhar o drama desta personagem e compreender que ela, quando em Auschwitz, foi condicionada a cumprir ordens sem pensar sobre seus atos, muito menos questioná-los. Este filme é baseado na obra de mesmo título do escritor alemão Bernhard Schlink, publicada em 1995.
A propósito do enredo, O Leitor é constituído por flashbacks que retomam a história de Michael Berg e sua relação amorosa com a personagem Hanna Schmitz, ocorrida no verão de 1958. Entre leituras d’A Odisseia, de Homero, e d’A dama do cachorrinho, de Tchekhov, Hanna e Michael vivenciam uma relação afetiva que os aproximam intensamente, até que Hanna, após ser promovida em seu local de trabalho, desaparece sem informá-lo de seu paradeiro.
Michael havia conhecido Hanna aos quinze anos, quando ela lhe prestou auxílio por ocasião de um problema de saúde. Apesar da diferença de idade, eles passam a viver uma relação afetiva que representa para Michael a descoberta do amor e de sua sexualidade. Com o desaparecimento de Hanna, Michael retoma sua vida e entra para a faculdade de Direito, ocasião em que conhece uma colega de curso com quem tem uma filha. Neste mesmo período, durante um estágio num tribunal, ele é instigado por seu professor a participar do julgamento de ex-guardas dos campos de concentração de Auschwitz, que seriam julgadas por terem participado da “marcha da morte”, em 1944, e por terem sido responsáveis, numa igreja da Cracóvia, pela morte de 300 judias que foram incendiadas. 
Michael reencontra Hanna, sua antiga amante, entre as mulheres que estavam no banco dos réus. Somos informados de que Hanna, ao escolher as mulheres que iriam morrer no campo de concentração, optava pelas mais jovens, aparentemente as de aspecto doentio e frágil, a quem ela protegia e para as quais ela pedia que realizassem leituras. Ao conhecer Michael, foi exatamente assim que Hanna procedeu: em seu primeiro contato com o rapaz ela o auxiliou, o protegeu e, após o estreitamento da relação, ela pedia que ele também realizasse leituras.
No julgamento, a acusação mais grave recai sobre Hanna, que tinha sido uma mera guarda, mas que na ocasião é acusada de estar no comando do grupo responsável pela morte das 300 judias incendiadas na igreja. Ela é acusada, neste caso, de ter escrito o relatório que comprovaria sua participação no comando da ação e, consequentemente, de ser responsável, mais que as demais, de exterminar as mulheres.  
As demais acusadas são condenadas a quatro anos e seis meses de prisão, mas Hanna, que assume a autoria do relatório, é condenada à prisão perpétua. Michael, no entanto, detém uma informação que poderia salvá-la da acusação. Esta informação, porém, é um segredo que Hanna não quer revelar a ponto de submeter-se à punição para mantê-lo escondido. Isto leva Michael a passar por uma severa crise moral. O que fazer: 1) permitir que Hanna se entregue à prisão perpétua, mas ser fiel a ela e assegurar-lhe que seu segredo será resguardado, ou 2) revelar seu segredo ao tribunal e, assim, libertá-la da prisão perpétua, mesmo que isto contrarie seu desejo e atente, de algum modo, contra sua dignidade?
Michael opta, como podemos constatar, pelo silêncio. Ele respeita sua antiga amante, aceita sua decisão de não relutar ante a condenação e retoma sua vida. Isto coaduna com o que Hanna diz, em determinada ocasião: “Não importa o que sentimos, mas o que fazemos”. Michael sofre com a ideia de que, para ser fiel ao desejo de sua ex-amante, se viu obrigado a silenciar quando seu testemunho poderia salvá-la.
Alguns anos após, Michael decide gravar fitas em que ele realiza leituras e as envia para Hanna, que tenta manter contato com Michael, em 1976, porém não recebe resposta. Em 1988, quando Hanna consegue a concessão para sair do presídio, e Michael é informado de que ela será liberta, há um reencontro entre eles – talvez seja uma das cenas mais pungentes do filme. Ela constata que seu grande amor não é mais o mesmo. Sua condição de ex-presidiária, sua velhice e seu crime representavam barreiras intransponíveis entre ela e o amado, que decide auxiliá-la em sua tentativa de retomar a vida, mas ela realiza um ato desesperado antes de sair do presídio.  
Hanna pede, em dado momento, que Michael entregue um dinheiro, que ela guarda numa lata velha, às sobreviventes do incêndio da igreja. Ele encontra-se com uma delas, entretanto esta aceita apenas a lata e recusa o dinheiro. Quando Michael pergunta se poderia utilizar o dinheiro para alguma entidade direcionada à comunidade judaica, ela afirma, em tom arrogante e magoado, revestido de lembranças amargas e de sofrimento, que ele faça o que quiser com o dinheiro, e que judeus nunca precisaram de auxílios como os que ele propõe.   
Hanna é uma personagem densa. Talvez a mais complexa das personagens a que Kate Winslet emprestou seu talento. Por trás da ação monstruosa que a fez partícipe do extermínio dos mais de seis milhões de judeus, em campos nazistas, acontecimento histórico que não pode ser esquecido, e repetido, há uma mulher que traz um limite que a torna tão vulnerável quanto fragilizada. 
Para manter seu segredo, ela perde o amor de sua vida, é condenada à prisão perpétua e é humilhada pela filha da judia que ela, no passado, quase exterminou. Hanna é uma personagem contida, independente e solitária. Vivencia, sem crises morais, um envolvimento afetivo-amoroso com um rapaz mais jovem – na cena do restaurante ela é confundida com a mãe dele. Ela traz em si, todavia, sentimentos de culpa que a tornam infeliz – a cena da igreja, em que ela observa crianças a cantar, remete-a ao crime cometido, por isto o choro incontido cuja motivação Michael desconhece. 
Além disso, ela é uma personagem cujo caráter prático, racional, faz com que ela renuncie ao amor e à liberdade para que, desse modo, seja resguardado aquilo que mais a torna vulnerável. Seu segredo parece-lhe algo vergonhoso demais para que ela possa assumir para si, e para o mundo, sem que isto a destrua em sua dignidade.
Quanto ao trabalho no campo nazista, Hanna interpela um dos advogados que a acusa perguntando-lhe sobre o que ele teria feito se estivesse em seu lugar. Ela argumenta que havia uma vaga de guarda do campo nazista, que pleiteou a vaga e conseguiu o cargo tendo, obviamente, que cumprir ordens. Mais uma vez vem à tona a frase que anteriormente apontamos: “Não importa o que sentimos, mas o que fazemos”. Apoiada nisto, ela realiza os atos que a levam ao tribunal – não sem sentimento de culpa, como apreendemos de seu último gesto –, ela envia o dinheiro para a filha da sobrevivente do campo nazista (que ela reencontrara no tribunal) e comete suicídio (gesto simbólico de autopunição). 
Esse filme instiga-nos a vários questionamentos: até que ponto alguém é capaz de guardar um segredo? Renunciar ao amor e a uma vida é coerente quando vivê-los implica na exposição de um segredo que nos humilha? Que vida alguém pode ter após destruir tantas outras vidas? Quem pode livrar-se da culpa, quando a existência aponta-nos para as consequências de nossas ações impensadas e realizadas no irremediável?
Michael, por sua vez, também é uma personagem complexa. Ele passa sua vida inteira preso às lembranças da mulher com quem ele descobriu as vicissitudes do amor. Em algumas cenas, percebemos sua incapacidade de permanecer na cama com uma mulher após relacionar-se sexualmente com esta. Sua primeira amante deixou nele lembranças intensas demais para que ele consiga retomar a vida sem recordar-se de que ela existiu.
A cena em que Michael e sua filha Júlia vão ao túmulo de Hanna, em 1995, ocasião em que ele passa a contar para ela quem era aquela mulher sobre quem ele nunca falou, parece-nos uma tentativa de libertar-se, também ele, da culpa de não tê-la absolvido, com seu testemunho, da condenação. Ou mesmo da culpa de ter dado continuidade à vida – mesmo marcado pelas lembranças do passado – sabendo que ela poderia estar livre se ele tivesse dito no tribunal aquilo que ela tanto quis ocultar.
 Essa é uma história de amor, lealdade e, sobretudo, respeito. Mas é uma história amarga, que mostra o outro lado desse acontecimento tenebroso que foi o holocausto. Embora tenha sido visto o lado humano de Hanna, nem por isto ela foi isenta de cumprir penas pelos crimes hediondos que cometera. Hanna foi uma das poucas envolvidas com os crimes nazistas, dentre os oito mil trabalhadores que foram recrutados para tal empreendimento desumano, que foi condenada. Ela deve ter sentido medo, desejo de libertar-se, deve ter alimentado conflitos, no entanto suas ações eram motivadas por uma linha de raciocínio que a fez enfrentar a si mesma ante os medos e a motivou a realizar seu grande erro existencial: “Não importa o que sentimos, mas o que fazemos”.


CARDOSO, Cícero Émerson do Nascimento. Resenha Crítica: “O Leitor”, de Stephen Daldry. Revista Sétima de Cinema, n. 38, p. 03 – 07, dez. 2016. 

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

DEZEMBRO, ESVAZIAMENTOS E CUPINS DE PALETÓ

"Big Man", de Ron Mueck

Eu me pergunto, neste início de dezembro, se o vazio que me acomete a alma é consequência de uma tendência minha à sensibilidade excessiva, ou percepção nada alienada das baixezas humanas que têm tentado, com êxito, destruir o país.

A sensibilidade excessiva e a política não me possibilitam fechar os olhos em busca de alguma paz. O que eu mais queria, no entanto, era fechar os olhos e acordar na mais absoluta serenidade. Queria força interior para mim e coerência e democracia para a política nacional. Como conseguir tais proezas?

O vazio que me tritura liquidifica minhas esperanças e alegrias. Sob meus pés deslizam fragmentos de uma vida em silêncio. Em silêncio como? Vivo aos gritos – e somente eu mesmo os posso ouvir.

Esse vazio indica pessoas ausentes? Os mortos ou os vivos me despertam maior saudade? Não vejo minhas mãos quando o mundo me atravessa com suas inadequações. Quem tem mais inadequação: ele ou eu?

Enquanto biltres se ocupam em destruir – ratos que são – o país, eu me impressiono com a minha própria condição. Fixo um ponto na parede e deixo o mundo girar sem mim. Baratas gordas existem em algum escuro que não posso perscrutar – e como são completas! Nascem para fins específicos sem que haja necessidade de problematizações. Meus olhos fixos no ponto da parede. Incompletude absoluta é a lança que sorve de mim o sangue e a água.

Passeio os dedos sobre as cenas que aprisionei em mim – nunca as saberia descrever. Dor intensa é melhor segredada? O país chora sem hino, sem bandeira, sem ética, sem soluções. Queria um olhar de fraternidade que se transformasse em mãos aguerridas e tirassem de mim a não-força que me fustiga.

Neste dezembro, tão incerto e injusto, quero a paz maior do mundo. Serpentes de paletó preparam botes contra a nação, mas será possível a existência de alguém nascido para um olhar confortador?

Andarei dias e noites fixando pontos incertos, ou encontrarei, finalmente, a pacificidade perdida desde o momento em que nasci e tive que enfrentar os desamparos com choro e ranger de dentes? Será isso? Desamparo? Quem ousou, nesta vida incompleta, me desamparar? Eles não sabiam que eu era de alma frágil?

Será autocomiseração demais para um ser humano só? Dezembro, preciso pedir com ênfase: não permita que os políticos  cupins malignos  comam as pedras que meu povo reuniu com trabalho e honra, também não permita que o vazio arranque de mim a esperança de encontrar novas roupagens para minhas mãos há tanto tempo vazias e sem cor.

Émerson Cardoso
06/12/16