sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

CLARA CHARF NO PROGRAMA "PROVOCAÇÕES" (2011)


ABUJAMRA

Clara Charf, o que é a vida?

CLARA CHARF

É dificil definir, né? Eu acho que é tudo o que pulsa, tudo o que você pode realizar, construir, fazer... Vida é isso! Uma pessoa que não faz nada, que não participa de nada, que fica só se queixando, ou então, sei lá, amargurada, porque não tem isso ou aquilo, acho que não vive, porque vida, para mim, é luta! 

LEITURA: "A PORTA", DE VINICIUS DE MORAES



Eu sou feita de madeira
Madeira, matéria morta
Mas não há coisa no mundo
Mais viva do que uma porta.

Eu abro devagarinho
Pra passar o menininho
Eu abro bem com cuidado
Pra passar o namorado
Eu abro bem prazenteira
Pra passar a cozinheira
Eu abro de supetão
Pra passar o capitão.

Só não abro pra essa gente
Que diz (a mim bem me importa...)
Que se uma pessoa é burra
É burra como uma porta.

Eu sou muito inteligente!

Eu fecho a frente da casa
Fecho a frente do quartel
Fecho tudo nesse mundo
Só vivo aberta no céu!

MEUS POEMAS DE CECÍLIA MEIRELES


ENCOMENDA

Desejo uma fotografia
como esta - o senhor vê? - como esta:
em que para sempre me ria 
como um vestido de eterna festa.

Como tenho a testa sombria,
derrame luz na minha testa.
Deixe esta ruga, que me empresta
um certo ar de sabedoria.

Não meta fundos de floresta
nem de arbitrária fantasia...
Não... Neste espaço que ainda resta,
ponha uma cadeira vazia. 

RETRATO

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração 
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança, 
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?

INSCRIÇÃO NA AREIA 

O meu amor não tem
importância nenhuma.
Não tem o peso nem
de uma rosa de espuma.

Desfolha-se por quem?
Para quem se perfuma?

O meu amor não tem
importância nenhuma.

MOTIVO

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- Mais nada.

A AVÓ DO MENINO

A avó 
vive só.
Na casa da avó
o galo liró faz "cocorocó!"
A avó bate pão-de-ló
E anda o vento-t-o-tó
Na cortina de filó.
A avó 
vive só.
Mas se o neto meninó
Mas se o neto Ricardó
Mas se o neto travessó
Vai à casa da avó,
Os dois jogam dominó.



TRECHO DO DISCURSO DE "O GRANDE DITADOR", DE CHARLES CHAPLIN



"Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem nos deixado na penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes a vida será de violência e tudo estará perdido".

SAVIOLI, Francisco Platão & FIORIN, José Luiz. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, p. 100.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

UM LAMENTO PELO "MUSEU CASA DO PADRE CÍCERO"


Estive no Museu Casa do Padre Cícero no dia 25 de janeiro de 2016. Ao sair, perguntei a uma moça que trabalha no local sobre quem administra o Museu e fui informado de que são os Salesianos.  
            Encontrei uma página intitulada Casa Museu do Padre Cícero numa rede social e vi, dentre os materiais iconográficos, audiovisuais e textuais, apresentados na referida página, um texto cujo autor não é identificado e que fiz questão de ler. Neste texto, fiquei sabendo que o Museu “é um verdadeiro patrimônio histórico e cultural para o Ceará, Região do Cariri, especialmente para o Juazeiro”.
            Agora, decepcionado com o que os administradores têm feito com o Museu, devo perguntar: como assim o Museu Casa do Padre Cícero é um patrimônio de inconteste valor se ele me parece desprezado, abandonado, à mercê da própria sorte?
       Estou estarrecido, triste e decepcionadíssimo com o que vi. No texto mencionado anteriormente, há menção a um trabalho que tem sido desenvolvido com relação ao material bibliográfico, e isto é louvável. Mas como proteger este material se a casa parece não dispor do mínimo de cuidado por parte da administração, se tudo parece atirado ao léu?
            Eu sou juazeirense, nascido e criado, de modo que posso falar sobre o que tem ocorrido com propriedade. Como se não bastasse a administração municipal não ter o mínimo de competência para gerir nossa cidade, que está devastada em vários aspectos, deparar-me com o que vi na última morada do padre Cícero, considerado o cearense do século, parece uma afronta aos valores históricos e culturais de que a cidade dispõe.
            Sujeira pelo chão, poeira, desorganização na disposição dos objetos do padre, madeira do teto de um dos cômodos caindo, nenhuma fiscalização para acompanhar os muitos visitantes que se abalroavam pelos cômodos da casa e um notável odor de mofo a espargir de todos os espaços. Claro que temos visto muita chuva neste mês de janeiro, e que a umidade é possível neste caso, mas, convenhamos, não me parece que o problema deve ser lido apenas como uma das consequências da chuva!
          Aquela casa em que o padre Cícero morou, e onde morreu, é de valor incomensurável do ponto de vista histórico – isto é fato. Como podemos permitir que tanto descaso a acometa e a transforme em reduto de sombras quando, em verdade, ela representa um dos espaços mais importantes da atualmente tristonha Juazeiro do Norte?
          Creio que os Salesianos devem realizar, no momento, algum trabalho nesta perspectiva, porém precisamos de algo mais expressivo. Vamos deixar que aquele espaço se dilua por falta de melhores cuidados? Meu Deus, que absurdo!
       Juazeiro do Norte, com tanto potencial humano e econômico e político e cultural, tem se deteriorado em vários aspectos, porque não vislumbramos, há tempos, a sensibilidade de políticos que olhem com mais sensação de pertencimento para nossa cidade. O que a tem salvado, de certo modo, é a sensibilidade de alguns que ainda levantam a voz contra o descaso a que ela está submetida, de modo que preciso integrar este grupo dos que gritam a seu favor. Temos que fazer algo por ela hoje, para que, na posteridade, possamos dispor do que por nós foi preservado.
            A primeira ação que proponho é olhar para o Museu Casa do Padre Cícero e revitalizá-lo. O Horto foi revigorado e todos saímos ganhando com isto, não foi? Façamos o mesmo com este Museu. Não posso ver a casa, que minha bisavó visitou tantas vezes para colher, do padre que ela considerava santo, auxílio para o corpo e para a alma, ser desamparada, excluída, desvalorizada desta forma.
            Aliás, quantas pessoas, ao longo dos anos em que ela está de pé, entraram nela em busca de acolhimento e paz de espírito! Não há quem olhe para seus degraus, e suas espessas paredes, muito menos para os seus cômodos quase vazios, sem que vozes maltratadas pela sorte gritem por um auxílio, e sem que o padre Cícero, em sua inteligência e personalidade forte, lhes valha com uma palavra de conforto ou com uma ordem à beata Mocinha de que lhes entregue alguns tões e tantos vinténs – e isto quem me disse foi minha bisavó, mulher que nunca foi de mentira.   
            Este texto, portanto, é uma nota de repúdio. É, também, um pedido devotado de que os Salesianos, ou a quem de direito, faça alguma coisa por essa casa que aprendi a respeitar como se fosse um ente querido que aguarda, sempre atencioso, alguma visita minha. A propósito, mesmo quando morei fora da cidade, por algum tempo, não houve uma vez em que estive aqui sem que eu fosse revê-la, com saudade e respeito, sempre certo de que ela não me deixaria isento de ser bem acolhido.

CÍCERO Émerson do Nascimento Cardoso

25/01/16