Talvez seja um lugar-comum, mas as pessoas, muitas vezes, não erram por querer, erram porque são vítimas
de uma insustentável falta de consciência. A falta de consciência atropela
mesmo a quem é dada a oportunidade de ser menos ignorante por dispor de conhecimentos teóricos adquiridos em instituições de ensino.
Já
me deparei com pessoas que nunca sentaram numa cadeira de sala de aula, mas que
sabiam, com simplicidade, tratar e valorizar ao outro. Por outro lado, conheci – e conheço – pessoas que estudaram (e
estudam muito) e são intratáveis, esnobes, prepotentes, hipócritas,
egocêntricas, mentirosas, maldosas, amargas, cínicas, medíocres, levianas e
incapazes de uma mão estendida para o outro. E isto, mais que grave, é
lamentável.
O correto, creio, é que todas as
pessoas deveriam ser capazes de refletir sobre seus atos e nunca deixar que o
egocentrismo proporcionasse desrespeito à condição do outro.
Eu disse que as pessoas são vítimas
da falta de consciência. De fato. Consciência para mim, neste caso, corresponde
à capacidade de julgar ações realizadas, ou as ações a serem realizadas
para que, por meio delas, não se destrua a vida do outro, nem haja abertura
para a destruição da própria vida advinda da culpa, do medo e do
isolacionismo.
O problema é que as pessoas se
apoiam em gestos humanos ou desumanos para sobreviver na selva em que a
existência foi atirada. E não sei até que ponto devemos julgá-las, pois quem
consegue ser benévolo ou malévolo para sempre? Esta visão maniqueísta não me
parece uma discussão produtiva.
Ao
ser humano tudo é possível quando este se vê ameaçado, ultrajado e preterido.
Porque, do meu ponto de vista, o que dói no mundo é a necessidade de
comunicação que é tolhida por uma série de falhas humanas: o preconceito, a
discriminação, o racismo, o fanatismo religioso, a incompreensão, a autossuficiência...
Para fugir disto, muitas vezes, o ser humano agride, fere, causa mal-estar e
angústia.
Para não cair, algumas pessoas se
apoiam em gestos absurdos. A negação da palavra, o rancor, o isolacionismo, a
indiferença, a mentira, a deslealdade, o ódio, a vingança são muletas usadas
frequentemente pelo ser humano para sobreviver.
Mas
será que tudo pode ser usado com a desculpa de que, se agimos mal, foi porque
queríamos sobreviver? Será que não devemos refletir sobre tais ações?
A
verdade é que ninguém está isento de errar. No entanto, às vezes, à condição
humana é dada a oportunidade de corrigir os erros. O problema é: para corrigir tais
erros, faz-se necessário que o indivíduo reflita sobre sua condição humana
falível e, conscientemente, busque moldar sua conduta para novas ações menos
errôneas. Eis o desafio diário: tentar errar menos.
Como
ser humano que somos, devemos cuidar dos gestos, das palavras, das
interpretações para que, assim, não soframos e não façamos outras pessoas
sofrer.
O
que escrevo não tem nada a ver com o que chamam de autoajuda. E não é porque,
dentre outros fatores, não tenho a intenção de que as pessoas se autoajudem por
meio do que escrevi. Quero é mudar a mim mesmo, tornar-me capaz de tolerar os outros
sem vê-los meramente como seres humanos falíveis e medíocres. Em verdade, eu
quero olhar para mim mesmo e lembrar-me de que escrevi esta pieguice com a
intenção de inserir-me no clã dos humanos capacitados às mais obsoletas
práticas de erro e mediocridade.
Tudo
o que usamos como subterfúgio é amparado pela necessidade de empreender uma fuga da realidade – realidade por vezes insustentável e que precisa ser ressiginificada.
A
comunicação por meio de olhares, risos, calor humano, palavras de
aconselhamento, ou mesmo críticas amparadas pela lealdade e pelo bom senso com
que são proferidas, é o que mais o ser humano deseja para si. Viemos ao mundo
sem que pudéssemos escolher – nele estamos e, para que haja sentido, precisamos
entender que a consciência sobre si e sobre o outro é o que pode nos salvar,
pois quando nos comunicamos com os outros nos sentimos parte de um todo que
supre, mesmo que temporariamente, o vazio em que nos encontramos quando não
conseguimos nos comunicar nem com o outro, nem com o que há de mais íntimo em nós
mesmos.
TEXTO DE: ÉMERSON CARDOSO
17.03.12