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"Viva la vida", de Frida Kahlo |
sábado, 21 de novembro de 2020
O QUE LAURA CARDOSO DISSE SOBRE A VIDA
domingo, 1 de novembro de 2020
DIVAGAÇÕES-MELÓDICAS-DIVAGAÇÕES
Quando gosto muito de uma música ou canção me pergunto interiormente: será que após a morte eu a poderei ouvir? Também me pergunto se as pessoas que eu gosto já a ouviram - desejo compartilhá-la. Claro que minhas preferências musicais são bem controversas, porque amo de Luiz Gonzaga a Cyndi Lauper, de Bach a Reginaldo Rossi, de Tulipa Ruiz ao Abba, de Caetano Veloso ao Falamansa, de Amelinha a Demis Roussos, de Elza Soares a Mercedes Sosa, passando por Edith Piaf, Perla (a paraguaia, obviamente), Raul Seixas, Belchior, Gilberto Gil, Mozart, Elba Ramalho, Supertramp, Chopin, Os Mutantes, Françoise Hardy, Diana, Beethoven, Chico César, Daniela Mercury, Ednardo, e tantas outras vozes.
NÃO OUSE ATIRAR A PRIMEIRA PEDRA
Eu cometi um erro. Você sabe que a vida humana é um histórico amplo de erros possíveis. O problema de errar se amplia quando uma falha tem implicação nos outros. O que se pode fazer, porém, quando algo acontece sem que você possa controlar? Tentar reverter o quadro. Você tentou fazer isso, não foi? Então, só resta esperar o tempo reorganizar as coisas. Se o tempo estiver ocupado e não organizar nada, que seja. O que se pode fazer? Cedo ou tarde tudo passa. Agora, depois de autocomiserações e punições autoimpostas, só há uma coisa a fazer: sobreviver a si mesmo apesar da tendência humana ao erro que traz em si.
Preciso ficar tranquilo. Sim, precisa. Aliás, devo dizer que você está perdoado. Quem nunca se viu numa situação de mal-estar por ter cometido erro? Durma tranquilo, porque no mundo só existe gente predisposta à falha. Pelo que sei, infalibilidade não é dom humano! Então, explore seu potencial de se refazer depois do caos! Sim, perdoo você por seus pensamentos, palavras, atos ou omissões.
Eu aprendo com o erro. Você aprende, sim, e merece caloroso abraço. Quem achar que não, vá catar pedras no Hades - o Rio Estige está cheio delas! Tome meu abraço e lembre-se de que ainda vai errar muito na vida. Não se esqueça de aceitar sua humanidade redescoberta no erro! Quem acerta sempre é uma fraude!
Penso nas consequências. Sim, mas, que eu saiba, o mundo não deixou de girar por um erro cometido por você. Esquecimento é erro? No trancelim é, mas na vida pode não ser! Quem determina se é erro ou não, por vezes, é o contexto. Sei que o seu contexto não tem sido dos mais tranquilos. Por acaso existe alguém tão irreprochável que se sentirá no direito de julgar você por um erro que você cometeu e procurou consertar? Não leve isso a sério: o sistema solar continua no mesmo lugar e, se houve alguma reconfiguração nele, não foi com o seu poder de erro. Pode retomar sua vida sem culpa ou medo, quem mais do que você merece que a vida seja pacificada? Você já teve que sobreviver a tantas intempéries! Esse caos vai passar - tem sido assim desde que o mundo é mundo.
Acho que tenho tendência a remoer demais os pensamentos. Jogue essa tendência no lixo! Sabe o que é pior na vida? Não errar. Gente perfeita é chata, sem graça, sem cor! Não digo que você a partir de agora vai se tornar um tresloucado inconsequente, não é por aí. O que quero dizer é: você não pode partir do pressuposto de que o mundo vai acabar ou a vida ficou insustentável por algo tão irrelevante que você fez de errado! Sei que não gosta, porém o momento é para palavrão: fala! Sim, um palavrão que coloque quem te julgar em situação constrangedora. Não vou insistir, mas se quiser dizer um palavrão o momento é: ontem-agora-sempre. Pode expurgar quando quiser!
Escutar isso me deu alento. Agora, siga certo de que não cometeu o maior dos erros. Você não fez nada que um ser humano em tempos de pandemia e em país tão mal administrado não faria. Acho que você ainda está no lucro por ter algum juízo. Eu sei do quanto você vive para o trabalho e para o estudo. Caso venha um desconforto por estar pensando na opinião dos outros, já disse que um palavrão resolve! No mais, meu neurótico favorito, você ainda tem uma tese para escrever e uma vida para tornar mais leve. Faça isso sem peso ou angústia. Não transforme sonho em pesadelo. Suas conquistas só vêm com suor e sangue, vai esquecer disso agora? Quanto à leveza, sim, busque-a com rigor. Afaste-se de gente que olha por baixo, que ri torto e que gosta de melindres. Feito isso, pronto! Siga: a vida precisa de gente capaz de olhar para si mesmo com riso na face e humanidade nos olhos.
Com amor!
Émerson Cardoso
20/10/2020
quarta-feira, 23 de setembro de 2020
ELEGIA PARA DONA MARIA GONÇALVES
Eu conheci um desses seres raros: trata-se de Dona Maria Gonçalves (a quem chamávamos carinhosamente de Dona Mariinha). Ela foi minha catequista quando eu era criança. Aliás, ela foi catequista de diversas gerações da comunidade na qual ela atuou. A propósito, era uma catequista amável, embora tivesse um jeito firme e prático de ser. Ela ensinava aos moldes da Igreja de seu tempo, mas o fazia com a doçura dos que nascem para o ato de comunicar com a melhor das bondades.
Ao vê-la na primeira aula do catecismo fiquei tão impressionado - foi amor à primeira vista! Eu fui privilegiado por ser seu catequizando. Nem todos conseguiam. Ela era catequista disputada. As mães que ela catequizou queriam que seus filhos fossem seus catequizandos, de modo que ela era extremamente procurada. Quem conseguia estar em sua turma de catequese detinha certo "status" (ao menos era assim que nos sentíamos)!
Ainda ouço sua voz nos fazendo perguntas para, em seguida, mostrar as respostas do Catecismo com sua voz reconfortante: "Quem é Deus? É um espírito perfeitíssimo criador do Céu e da Terra!" E "Onde está Deus? No Céu, na Terra e em toda parte!" As lições se seguiam, nas tardes quentes de sábado, e ela ainda gostava de cantar comoventes canções católicas. Estou ouvindo sua voz agora, cantando a seguinte canção, que era a minha preferida:
Como dói lembrar! Não tenho como ouvir essa canção sem me comover profundamente. Essa canção, devo dizer, traz inteira a imagem de Dona Maria Gonçalves quando a conheci. Seu cabelo era longo, preso e bem penteado em seu cacheado cor de algodão. Trajava saia azul e blusa branca. Usava óculos. Deus, com que dedicação ela exercia seu ofício de ensinar! Eu, que sou professor por escolha e afeto, vi nela um dos mais perfeitos modelos de professora: era didática, dominava o conteúdo, era simples nos gestos e palavras, firme ao lidar com a turma e sempre atenciosa.
Quantas crianças estiveram sob seus cuidados ao longo dos mais de 50 anos de catequese? Será impossível dizer, mas tenho por certo que foram diversas. Ela propagou Deus para muita gente. Não só como catequista ela serviu a Deus. Ela sempre encontrou outros caminhos para estar a serviço.
Eu estive muitas vezes com ela, no entanto sinto que foi pouco. Ela era firme na fé, aconselhava sempre, tinha palavras de acolhimento, sabia dizer o que traria paz de espírito ao coração da gente. Não me recordo de ter ouvido dela, nas vezes em que nos encontramos, uma palavra que não fosse de acolhida. Eu realmente não consigo vê-la senão como uma dessas pessoas raras que, apesar do cotidiano, da vida e seus reveses, dos sofrimentos e angústias, conseque trazer luz ao mundo. Ainda que no anonimato e com simplicidade, há tantos santos que andam pelo cotidiano das nossas vidas sem que muitos percebam que eles estão entre nós. Por mim, prefiro pensá-la dessa forma: ela é santa. Sim, porque humildade, fé, caridade, dedicação e amor aos outros são características dos santos. Ela trazia em si essas e tantas outras qualidades, de modo que, para mim, ela é santa.
Nós humanos somos pequenos e frágeis quando a vida traz sua rotina e seus enfrentamos. Respondemos positiva ou negativamente aos reveses que ela traz. Talvez Dona Maria Gonçalves, em algum momento, tenha tido necessidade de mostrar que era humana, que também poderia errar. E a Igreja não está repleta de santos que invariavelmente cometeram suas divinas falhas? Que seja! E, com isso, reforço mais ainda o que disse anteriormente: ela é santa!
Acima de qualquer visão mais passional que eu expresse aqui, ela era uma das pessoas mais lindas que eu tive a oportunidade de conhecer. O mundo não será o mesmo sem sua presença, porque precisamos de pessoas cheias de luz (igual a ela) para desfazermos as trevas que andam nos atemorizando.
Dona Maria Gonçalves esteve conosco, espargindo luz e humanidade santa, até o dia 21 de setembro deste fatídico ano de 2020. Na última vez que nos vimos, nos abraçamos, conversamos e rimos! Que saudade sinto, que saudade sentirei. Não poderei esquecê-la, porque ela contribuiu para minha visão de mundo com tanta singeleza que será impossível não torná-la parte do que sou em essência. Enquanto eu tiver memória, ela estará comigo. Ela estará sempre rindo, com seu olhar bondoso, me dando conselhos para cuidar mais da saúde, para não me deixar levar pelo excesso de trabalho e para me dedicar mais a Deus!
Adeus, Dona Maria Gonçalves, nossa grande catequista! Olhe por todos nós, seus frágeis catequizandos, e continue apontando os melhores caminhos para que alcancemos a paz e o bem!
Émerson Cardoso
23/09/2020
sábado, 12 de setembro de 2020
CRÔNICA: "SOBRE INGRATIDÃO"
No conto, a personagem evocada no título tem um primo chamado Pedro que é a personagem mais ingrata que já vi numa obra literária. Ele é monstruoso, infame e cruel! Para entender sobre o que falo, leia o conto e confirme minha assertiva. Ele se chama Pedro (nome de origem grega que remete à palavra "rocha") e traz no nome uma nítida relação com a imagem do discípulo que negou Cristo - negar o outro não é a ingratidão manifestada com toda maldade e força?
Por vezes, uma pessoa que se doa em excesso e exige muito dos outros tende a considerar ingrata qualquer pessoa que não atenda às suas expectativas de retorno em relação ao que foi ofertado. Faz-se necessário, portanto, que se tenha cautela para não cair em acusação contra tudo e todos. Querer uma contrapartida por uma ação benéfica dispendida a alguém é comportamento de gente mercenária, claro, mas não deveria ser preciso que a pessoa com tendência à doação exigisse do beneficiado um reconhecimento por aquilo que foi feito por e para esse outro. A pessoa beneficiada deveria ser, em verdade, capaz de demonstrar dignidade a ponto de ser grata a quem lhe estendeu a mão.
Ocorre que gratidão é característica de quem tem espírito aberto às percepções mais elevadas dos laços humanos. O prudente é observarmos, em nossas condutas, o quanto nos é dada a possibilidade de demonstrar diante de um gesto nobre o reconhecimento por esse gesto. Retribuir, reconhecer e retornar o que foi dado por alguém é gesto de gente digna. Como é raro perceber no cotidiano demonstrações de gratidão, sobretudo se pensarmos a rapidez que tem feito girar o mundo. Gratidão, ressalvo, é gesto de quem tem espírito elevado. No simples e no complexo, gratidão é conduta de quem sabe encontrar caminhos em direção ao outro.
O ser humano que não tem gratidão, penso, é pobre de alma, é podre de espírito. Será que eu devo atirar pedra nos ingratos do mundo de cima de minha torre de marfim de homem moralmente blindado? Não, obviamente não! Escrevo reflexões sobre o assunto, aqui, mais para manter contato com ele do que para atirar pedra contra alguém. Eu, quantas vezes, fui e tenho sido ingrato! Ninguém está livre de ser fadado à falibilidade que nos resume. Agora, escrevendo sobre, tenho pensado no quanto poderia ter sido mais grato em relação a algumas pessoas. Penso, porém, que não sou o monstro sem caráter e desprovido de memória que metaforiza a ingratidão neste meu texto de reflexão sem jeito.
Lygia Fagundes Telles é capaz de cada coisa em termos de escrita! Sempre que leio "A confissão de Leontina" mergulho na profundidade de meu ser ainda em formação e descubro que sou capaz de atrocidades tantas, por isso devo ficar atento. Que eu me livre ao menos desta falha humana: não quero ser ingratidão. Quanto aos que foram ingratos em relação a mim: estão desculpados. Vamos zerar as culpas e começar tudo de novo!
Émerson Cardoso
12/09/2020
sexta-feira, 11 de setembro de 2020
NESTE 11 DE SETEMBRO DE 2020, ANO DE PANDEMIA, O QUE ME FARIA FELIZ?
1 - Escrever;
2 - Ler sem obrigação;
3 - Caminhar;
4 - Conseguir dormir;
5 - Conseguir ficar livre de redes sociais ainda que temporariamente;
6 - Descansar a mente;
7 - Tomar banho sem pressa;
8 - Conversar com pessoas com as quais eu não precisasse me preocupar muito se iria cometer gafes;
9 - Receber notícias positivas sobre a situação do Brasil e do mundo;
10 - Rir um pouco de bobagens do cotidiano;
11 - Receber a notícia de que foi encontrada vacina para destruir o vírus que amedronta a todos e descobrir que o presidente atual nunca foi presidente do país;
12 - Ver meu quarto limpo e organizado;
13 - Concluir os trabalhos que estão pendentes;
14 - Não sentir culpa por existir;
15 - Encontrar soluções para as coisas práticas da vida;
16 - Ir ao ponto mais alto da cidade (ir ao Horto)!
domingo, 2 de agosto de 2020
CRÔNICA: "A DOLORIDA E NECESSÁRIA ARTE DE ESCREVER"
Na escola, eu me lembro de que na 3ª série eu escrevi minha primeira redação (como é forte a lembrança que tenho dela!). Era uma narração que a Professora da letra mais bela que já vi e que eu imito até hoje (Tia Elisângela) sugeriu que a escrevêssemos a partir de uma imagem. Eu escolhi uma imagem da Turma da Mônica (eu aprendi a ler com gibis da Turma da Mônica!) com roupas de festa junina. Havia muita inadequação em meu texto infantil, claro, mas me recordo perfeitamente da sensação de bem-estar que o ato de realizar aquele texto me proporcionou. Também lembro da expectativa que tive para saber qual seria a reação da Professora ao ler meu texto (queria o maior e melhor dos elogios e a Professora correspondeu às expectativas, gentil que era!).
Depois, prossegui sempre a escrever.
Eu escrevi, sobretudo, diários. Muitos diários, em verdade, mas os três mais relevantes foram escritos durante os anos de 2001, 2002 e 2003, isto é, anos, respectivamente, nos quais eu fiz meu Ensino Médio, Serviço Militar e vestibular para o Curso de Letras, que mudou minha vida.
Durante o Ensino Médio fiz inúmeras produções textuais (sempre obtive notas significativas). No Serviço Militar, também, fiz uma produção textual para me tornar Monitor (sim, eu me tornei Monitor, a ponto de ser super elogiado pelo texto que escrevi). Quanto ao vestibular para o Curso de Letras (curso da minha vida), eu obtive a nota máxima na redação dissertativo-argumentativa, para minha alegria e orgulho incalculáveis!
Voltando para os meus três diários, há neles o contexto político da época (sai Fernando Henrique Cardoso e entra Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência), as mudanças que o Brasil vivenciou, a perda de familiares queridos, a primeira vez que usei óculos, a queda das torres gêmeas, uma copa do mundo, a descoberta de sentimentos afetivo-amorosos (com os quais até hoje não sei lidar), a leitura do livro que me fez olhar para o mundo de outra forma (embora tivesse lido muitas obras, sobretudo do Romantismo, li O Quinze e meus olhos se abriram para sempre), ausências familiares, sofrimentos aos arroubos, a relação de proximidade com amigas e amigos que me ficaram na alma para sempre e minha trágica adolescência nada fácil.
O meu primeiro desejo de escrever um romance me veio antes do Ensino Médio. Lembro que escrevi uma história intitulada Maria dos Anjos (1999), que depois se transformou numa das protagonistas do meu primeiro romance. Antes de pensar em escrevê-lo, eu produzi contos. Foi assim que resolvi juntá-los e transformá-los no romance. Para escrevê-lo, comprei um caderno e fiz tudo em manuscrito. Depois tive que digitalizar e foi nisto que o reescrevi mil vezes.
Escrever sempre foi algo indispensável em minha vida.
Começou, creio, na mesma época em que passei a ler. Antes de ler, no entanto, eu fabulava muito. Criava personagens inseridas em enredos nos quais a morte sempre estava em pauta - na infância eu tive contato excessivo com a morte, deve ter sido por isso.
Eu sempre escrevi e escrevo tanto, meu Deus! Parece uma doença! Se as pessoas soubessem...
Quanto ao que escrevo, algumas pessoas viram e gostaram, outras não deram muita atenção - devem ter detestado.
Nessa aventura e desventura: 1) já li texto meu em sala de aula durante a graduação (quando eu era um aluno infantil e inseguro) com direito a aplausos; 2) já vivi a dor de ver um texto de minha autoria ser publicado por outra pessoa que, com esse texto, ganhou um prêmio de contos (causando em mim um dos meus maiores traumas); 3) fui estimulado, por boas amigas, a participar de mostras poéticas que selecionaram textos meus e deram a confiança de que eu precisava para divulgar meus textos, 4) já tenho textos publicados em diversas revistas on-line e impressas, 5) recebi menções honrosas (com direito a recebimento de dinheiro e tudo!) e prêmios; 6) fiz uma performance poética (traumática, devo dizer!); 7) já publiquei livros (para meu arrependimento, claro!) etc.
Sim, escrevo de tudo: de cordel a soneto, de ode à elegia, de balada a haikai, porque amo escrever poemas em todos os gêneros possíveis. Escrevo, também, fábulas, apólogos, contos, crônicas, memórias, diários, relatos, romances, peças teatrais, trabalhos acadêmicos etc.
Eu escrevo feito louco, sem conseguir cessar, sem entender por que motivo, sempre e muito. Creio que escrever é um modo de dar sentido à vida, é uma forma de compreender o que sou e sinto. Escrever é a ponte que me leva do desespero à expurgação. Escrever é doer um pouco menos. Escrever é minha vida!
No que isso vai dar? Pouco me importa! Eu sei que quero e vou continuar escrevendo, é tudo o que me importa! O resto é silêncio - e solidão e ausências!
Quanto a publicar, meu Deus! Publicar é uma tragédia! Eu sou pobre, não tenho como publicar com os orçamentos que me apresentam. Não sei lidar com as burocracias dos editais e concursos. A verdade é que não sei entrar e enfrentar os jogos que massacram almas no campo literário (refiro-me ao livro As regras da arte, de Bourdieu). Quero paz de espírito e silêncio na alma!
Quanto a ser lido, o Brasil não tem espaço para amadores! Os clássicos não são lidos, o que os aspirantes ou metidos a escritores iguais a mim poderiam querer? Também há outro problema mais grave: sou de um país que quase não lê, porque não há em nosso cotidiano o hábito da leitura! A Educação atende a um projeto antigo de tornar o trabalhador e a trabalhadora, assim como seus filhos e filhas, incapazes de entender o contexto sôfrego no qual estão inseridos e, por isso, eles são cada vez mais explorados, vilipendiados e tolhidos na possibilidade de acesso à Cultura e à Arte em suas mais amplas manifestações.
Relendo o texto de Antonio Candido O direito à literatura, recentemente, penso que não estou sozinho ao pensar por esse viés. Além disso, devo dizer que vivo essa realidade na prática: sou Professor. Instigo os estudantes à leitura sempre, no entanto sabemos que é desafiador desenvolver esse tipo de trabalho sem o apoio do "mundo" (quando digo o "mundo", eu me refiro às seguintes instituições e seres: ministério da educação, secretaria de educação, coordenadorias educacionais, diretores escolares, coordenadores pedagógicos, pais de alunos, sociedade, mídia etc.).
E se me fosse tirado o direito de escrever? Não sei, mas... Creio que eu enlouqueceria. Digo isto, com sinceridade, porque o que organiza minha mente tumultuada é o ato de escrever. Sem a escrita eu entraria em tamanha desorganização da alma que me tornaria louco em pouco tempo.
Enfim, a dolorida e necessária arte de escrever é o que me salva neste vale de lágrimas!
Émerson Cardoso
11/08/2020
QUANDO A QUARENTENA AUMENTA A LOUCURA NOSSA JÁ EXISTENTE
Foi quando ouvi alguém gritar meu nome...
Decidi andar um pouco mais pela Biblioteca. Foi quando vi Miguel de Cervantes, Federico García Lorca e Gabriel García Marquez rindo de alguma anedota, sentados em almofadas coloridas. Quando me viram, levantaram-se, abraçaram-me e conduziram-me para uma sala. Lorca me disse: "Há umas figuras ali que esperam por ti!" Corri, curioso, para ver quem me esperava.
Gustave Flaubert, depois, apareceu à porta e convidou-me a ir com ele para uma outra sala. Pedi licença aos meus compatriotas e saí. Ele me abraçou com barulho e levou-me a um sarau. Nele, Voltaire, Slvia Plath, Marguerite Yourcenar, Victor Hugo, Emile Zola, Virgínia Woolf, Guy de Maupassant, Emily Dickinson, Honoré de Balzac, Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Violette Leduc, Katherine Mansfield, Emily Brontë, Jane Austen, William Shakespeare, dentre outros e outras, esperavam-me com crepes crocantes que eram servidos com uma boa quantidade de tomates regados a azeite e salpicados com orégano. Comi fartamente. Permaneci por horas, meses ou anos naquele espaço.
Depois, Salvador Dalí apareceu à porta e convidou-me para a sala de exposições. Ele e Gustave Doré apresentavam as imagens que desenvolveram sobre A Divina Comédia, de Dante. Dante, diga-se de passagem, fez questão de aparecer para me cumprimentar. Eu não consegui acreditar que seria possível, um dia, ver aquele ser capaz de construir algo tão perfeito querendo, de mim, um cumprimento! Abracei-o com desespero. Homero, Virgílio e Camões conversavam à frente e, rindo-se, também abriram os braços para um abraço fraterno!
Na saída, esperava-me Frida Kahlo. Ela me deu um abraço intenso, sugeriu que, na Bibiloteca, havia cinema de todas as nacionalidades, exposições diversas, concertos maravilhosos, peças teatrais grandiosas e uma sala-quarto só minha. Nela, estariam todos os livros que eu li e amei, e todos os livros que eu desejei ler e não pude ainda. Também estariam lá pinturas, obras cinematográficas, esculturas, músicas etc. Tudo o que faz pulsar meu coração estaria à minha espera. Ela disse, ainda, que eu deveria ficar tranquilo, porque as pessoas que eu mais amei ao longo da existência iriam me encontrar ali, sempre que eu quisesse, e eu também poderia visitar a sala-quarto das pessoas que me amavam quando me fosse feito o convite. Eu lhe perguntei, um tanto tímido, se no Céu a gente poderia encontrar o grande amor da vida. Ela ficou confusa e fez a seguinte pergunta: "Mas o amor da sua vida está na Terra, querido, vocês não se encontraram?" Silenciei. Ela se despediu com um bom álibi: iria para uma roda de conversas com Florbela Espanca, Agustina Bessa-Luís e Sophia de Mello Breyner. Eu estava convidado, caso quissesse ir.
Decidi ficar e sentar numa poltrona de belo designer que encontrei ao lado da cama. De repente, a canção Why worry deslizou na atmosfera. Posteriormente, Don't let me be misunderstood, na voz de Nina Simone, ecoou. Fiquei feliz e comovido. Havia muita coisa a fazer, muita arte e cultura a viver, mas me faltava algo. Uma voz me chamou à porta: era Santa Dulce dos pobres. Corri para abraçá-la. "Meu filho, você viu como a Biblioteca é maravilhosa? Aqui você será eternamente feliz! Antes de viver o que tanto deseja seu coração, no entanto, falta algo, não é!" Ela deve ter intuído, de algum modo, o que eu havia pensado. Saímos de mãos dadas: ela cheirando a rosas, e iluminando todos os espaços pelos quais passávamos, e eu expectante.
Já fora da Biblioteca, passamos por Maysa, Maria Callas, Dalva de Oliveira, Nina Simone, Ângela Maria, Miriam Makeba, Emilinha Borba, Cesária Évora, Carmem Miranda, Dolores Duran, Núbia Lafayete, Ella Fitzgerald, Dalida, Elis Regina, Nara Leão, Clara Nunes, dentre outras, que faziam apresentações com suas canções mais famosas. Quase cessei a marcha para ouvi-las, mas Santa Dulce me aconselhou que eu poderia voltar em outro momento, pois elas reuniam-se para cantar com frequência.
Seguindo Santa Dulce, percebi que ela cessou os passos maravilhada. Foi quando vimos, sentado perto de um riacho, revestido de luz, o ser que parecia me faltar. Era Jesus Cristo! Santa Dulce olhou para mim, apertando-me a mão, e disse: "Prepara-te, menino, agora a vida será preenchida tão completamente que tu não terás mais ausências no coração machucado que trazes da nossa sofrida Terra!" Jesus olhou-me com tanta singeleza, antes que se abrisse a um abraço enternecedor, e acolheu-me com amabilidade infinita. Seus negros braços, finalmente, alcançaram meu corpo ferido. E a vida fez-se plenitude e a paz sorriu para mim. Ao abraçá-lo, senti que três abraços, em um só, me revestiam da mais completa felicidade! Eu renasci!
Depois, Jesus segurou minha mão e convidou-me a ler as obras dos autores e das autoras brasileiras da contemporaneidade. Com um grupo irreverente, debatemos por três séculos peças teatrais, poemas e narrativas que o Brasil tem produzido nos últimos tempos. Fomos lendo os textos em forma de sarau. Dercy Gonçalves quase me matou de rir, com seu humor escrachado, quando decidiu fazer algumas leituras! Elke Maravilha, com riso eterno, declamou divinamente alguns poemas! Eva Todor declamou textos com seu riso e carisma insuperáveis! Depois, com o sarau finalizado, voltei com Santa Dulce para a minha sala-quarto.
A minha sala-quarto foi construída com inúmeras poltronas para os amigos. Em uma das paredes, com molduras prateadas, foram colocadas todas as fotos de minhas professoras e professores mais marcantes. Eu recebi visitas maravilhosas em minha eternidade, mas como o texto que escrevo já está longo demais, vou concluindo. Vou deitar na minha cama, sozinho, para ler um pouco. Depois da leitura, receberei meus escritores e escritoras e compositores e compositoras e cineastas e atores e atrizes preferidos. Quando saírem, receberei meus amigos e amigas e familiares tão queridos. Quando saírem, receberei os Santos e Santas de minha predileção. Posteriormente, assistirei bons filmes. Farei toda essa quantidade imensa, e perfeita, de coisas enquanto espero que o amor da minha vida, que anda pela Terra sem mim desde que nascemos (como Frida Kahlo me revelou), me chegue para que eu possa amar, também, nesta perspectiva do amor erótico. Como nunca soube lidar com isso estando na Terra, por isso terminei me acostumando com a solidão, quem sabe se no Céu eu não conseguiria repensar meus modos e me permitir um pouco a esse tipo de amor! A culpa, no entanto, não foi minha: e eu lá sabia que no mundo havia alguém capaz de me amar e de merecer o meu amor!
Mas bateram na porta, agora, e meu sonho acordado desvaneceu.
E QUANDO A GENTE CANSA? (OU: COMO MANTER A SANIDADE EM TEMPOS DE PANDEMIA?)
Vida, por favor, segure minha mão e vamos à aprendizagem que tanto me queres proporcionar!
quinta-feira, 25 de junho de 2020
NOTAS SOBRE O FILME "PACARRETE", DE ALLAN DEBERTON (PREPARE-SE PARA A ARTE NO QUE HÁ DE MAIS SINGELO)
sábado, 20 de junho de 2020
CARTA ENVIADA PARA MIM PELO SR. ANO DE 2020 (E QUE FOI VAZADA DESCARADAMENTE)
20/06/2020
quinta-feira, 11 de junho de 2020
PARA "A OBSCENA SENHORA D" (PERSONAGEM DE HILDA HILST)
Estou entregue, Senhora D., a uma busca irrefreada. Deus em mim é tão silente, embora vivo! Queria olhá-la e não ser recebido com violência ou mal-estar em minha tentativa de aproximação – desejo apenas abraçá-la quando, em verdade, não sei de afetos e de demonstração de força.
Retomarei seu vão de escada logo mais, porque a vida solitária e louca, pulsante em seus gritos, me inundou de identificação e fez-me cair, descuidado, na piscina obscura e melancólica que são nossos olhos em derrelição e medo.
quarta-feira, 20 de maio de 2020
ANIVERSÁRIO EM TEMPOS DE PANDEMIA
Sim, comemora-se hoje, neste 20 de maio, o dia do pedagogo. Também se comemora o dia do técnico de enfermagem, o dia mundial das abelhas e o dia nacional do medicamento genérico.
Espero que me venham notícias menos tristes ao longo do dia!
terça-feira, 19 de maio de 2020
ARTIGO: "REFLEXÕES SOBRE BULLYING NO SERIADO THE BIG BANG: THEORY"
TORRE, Toni de la. Bazinga!: um guia para a vida com Sheldon Cooper. Tradução de Marcelo Brandão. São Paulo: Lafonte, 2014.
REFERÊNCIA DA PUBLICAÇÃO DO ARTIGO:
CARDOSO, Cícero Émerson do Nascimento. Reflexões sobre bullying no seriado The Big Bang: Theory. In: SOUZA, Adílio Junior; CARDOSO, Cícero Émerson do Nascimento; PEREIRA, Maria Lidiane de Sousa (orgs.) Linguística, literatura e educação: teorias, práticas e ensino. João Pessoa: Ideia, 2020. p. 136 - 148.
https://www.ideiaeditora.com.br/produto/linguistica-literatura-e-educacao-teorias-praticas-e-ensino/