Dentre os poetas românticos, o fluminense Casimiro de Abreu (1839 - 1860) foi um dos mais espontâneos. Sua poesia é jovem, e curta foi sua vida: viveu apenas 21 anos. Publicou o livro "Primaveras", que se tornou muito popular.
Casimiro de Abreu, longe de ter o vigor nacionalista de um Gonçalves Dias, desenvolveu, como
afirma Candido (1997), “um gorjeio sentimental” em sua produção literária. Na
obra deste autor, apontado em manuais de Literatura como partícipe da segunda
geração da poesia romântica - poesia byroniana
ou mal-do-século - não há
“desespero amargo”, nem grandes preocupações formais e sublimações
intelectualistas, sua poesia expressa um lirismo permeado de sensibilidade em
que emergem inúmeros vieses sentimentais: a ternura, o saudosismo, a contemplação
da natureza e os conflitos amorosos pautados em singeleza e sincera elegância,
ao tratar de enleios amorosos.
Dentre as construções poéticas casimirianas, uma que se enquadra na
característica da poesia apta à recitação em saraus familiares, dotada de elementos
vinculados à temática amorosa, é o poema A
valsa. Este poema traz temática e recursos formais por vezes repetitivos, mas
se caracteriza pela “naturalidade de expressão, [...] aproveitamento da
linguagem coloquial” e “evocação sentimental” comum à obra desse autor. A poesia a seguir foi construída com perceptível musicalidade com o predomínio de versos construídos com duas sílabas poéticas. Façamos a leitura:
Tu, ontem,
Na dança
Que cansa,
Voavas
Co'as faces
Em rosas
Formosas
De vivo,
Lascivo
Carmim;
Na valsa
Tão falsa,
Corrias,
Fugias,
Ardente,
Contente,
Tranquila,
Serena,
Sem pena
De mim!
Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera que sintas!...
- Não negues,
Não mintas...
- Eu vi!...
Valsavas:
- Teus belos
Cabelos,
Já soltos,
Revoltos,
Saltavam,
Voavam,
Brincavam
No colo
Que é meu;
E os olhos
Escuros
Tão puros,
Os olhos
Perjuros
Volvias,
Tremias,
Sorrias,
P'ra outro
Não eu!
Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera que sintas!...
- Não negues,
Não mintas...
- Eu vi!...
Meu Deus!
Eras bela
Donzela,
Valsando,
Sorrindo,
Fugindo,
Qual silfo
Risonho
Que em sonho
Nos vem!
Mas esse
Sorriso
Tão liso
Que tinhas
Nos lábios
De rosa,
Formosa,
Tu davas,
Mandavas,
A quem?!
Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera que sintas!...
- Não negues,
Não mintas...
- Eu vi!...
Calado,
Sozinho,
Mesquinho,
Em zelos
Ardendo,
Eu vi-te
Correndo
Tão falsa
Na valsa
Veloz!
Eu triste
Vi tudo!
Mas mudo
Não tive
Nas galas
Das salas,
Nem falas,
Nem cantos,
Nem prantos,
Nem voz!
Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera que sintas!...
- Não negues,
Não mintas...
- Eu vi!...
Na valsa
Cansaste;
Ficaste
Prostrada,
Turbada!
Pensavas,
Cismavas,
E estavas
Tão pálida
Então;
Qual pálida
Rosa
Mimosa
No vale
Do vento
Cruento
Batida,
Caída
Sem vida.
No chão!
Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera que sintas!...
- Não negues,
Não mintas...
- Eu vi!...
(Casimiro de Abreu)
REFERÊNCIAS:
ABREU, Casimiro de. A valsa. In: Amores Diversos. São Paulo: Editora
Melhoramentos, 2003.
CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira: momentos
decisivos. 8. ed. Rio de Janeiro: Itatiana, 1997.
Mano, sou teu fã
ResponderExcluirObrigado pela leitura!
ExcluirEu aqui toda empolgada lendo este poema e quem eu encontro aqui? Meu prof querido!!👏👏👏
ResponderExcluirFico feliz que tenha vindo passear por este Blog! Obrigado pelo carinho! Abraço!
ExcluirParabéns! Fez uma apresentação sensível, culta, justa e elegante do trabalho do jovem poeta Casimiro.
ResponderExcluirObrigado pela leitura e gentileza das palavras! Abraço!
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