Em 2010, por ocasião do Centenário de Nascimento de Rachel de Queiroz, vários autores escreveram ensaios sobre a obra desta escritora cearense cuja obra apresenta o universo feminino tendo como cenário, na maior parte dos seus escritos, a paisagística nordestina. Rachel de Queiroz escreveu, além de romances, crônicas e peças teatrais, poemas, em sua juventude - que ela jamais permitira, nem permitiria, que fossem publicados. Sânzio de Azevedo¹ discorre sobre esta produção poética, que a autora tanto desprezou, no ensaio: Rachel de Queiroz e a Poesia. A seguir, leiamos um dos poemas que ela produziu, antes dos dezessete anos, utilizando-se do seu pseudônimo mais famoso: Rita de Queluz. Trata-se de um soneto publicado, provavelmente, segundo Sânzio de Azevedo, na revista Ceará Ilustrado, em 02 de março de 1927, cujo título é marcado por um questionamento representado pelo sinal de interrogação: " ? "
?
- Mas onde Deus? Quem sabe? O Buda do oriente
a cruzar sob o ventre as pernas imortais?
- Zeus, no trono do Olimpo, a beber sorridente
O néctar de rubi que Hebe divina traz?...
- Alá, dando a Maomé o Corão e o crescente
que no Islã simbolizam os supremos fanais?
- Feroz Odin germano a cavalgar à frente
Das valquírias que correm em campos siderais?...
- E o místico rabino, o doce Galileu,
Que mesmo do madeiro, ante a turba que o chora,
Ainda fala do amor do pai que está no céu?...
- As divindades surgem em legiões imensas...
E o homem a cada uma incensa, louva, adora
na confusão sem fim dos deuses e das crenças...
¹AZEVEDO, Sânzio. Rachel de Queiroz e a Poesia. In: Rachel de Queiroz: uma escrita no tempo: ensaios. Fortaleza: Demócrito Rocha, 2010. p. 89.
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