A
Jesus Cristo crucificado,
estando o poeta para morrer
estando o poeta para morrer
Meu
Deus, que estais pendente de um
madeiro,
Em
cuja lei protesto de viver,
Em
cuja santa lei hei de morrer
Amoroso,
constante, firme e inteiro:
Neste
transe, por ser o derradeiro,
Pois
vejo a minha vida anoitecer,
É,
meu Jesus, a hora de se ver
A
brandura de um pai, manso
cordeiro.
Mui
grande é o vosso amor,
e o meu delito:
Porém,
pode ter fim todo o pecar;
Mas
não o vosso amor, que é infinito.
Esta
razão me obriga a confiar
Que
por mais que pequei, neste conflito,
Espero
em vosso amor de me salvar.
À
instabilidade das cousas do mundo
Nasce
o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois
da Luz se segue a noite escura,
Em
tristes sombras morre a formosura,
Em
contínuas tristezas a alegria.
Porém,
se acaba o Sol, por que nascia?
Se
formosa a Luz é, por
que não dura?
Como
a beleza assim se transfigura?
Como
o gosto, da pena assim se fia?
Mas
no Sol, e na Luz,
falte a firmeza;
Na
formosura, não se dê constância:
E
na alegria, sinta-se
tristeza.
Comece
o mundo enfim pela ignorância,
Pois
tem qualquer dos bens por natureza,
A
firmeza somente na inconstância.
Descreve
que era Realmente Naquele Tempo a
Cidade
da Bahia
A
cada canto um grande conselheiro,
Que
nos quer governar cabana e vinha;
Não
sabem governar sua cozinha,
E
podem governar o mundo inteiro.
Em
cada porta um bem frequente
olheiro,
Que
a vida do vizinho e da vizinha,
Pesquisa,
escuta, espreita e esquadrinha,
Para
o levar à praça e ao terreiro.
Muitos
mulatos desavergonhados,
Trazendo
pelos pés aos homens
nobres,
Posta
nas palmas toda a picardia.
Estupendas
usuras nos mercados,
Todos
os que não furtam, muito pobres:
E
eis aqui a cidade da Bahia.
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