CARDOSO,
Cícero Émerson do Nascimento. A Alma de Almodóvar. Revista Sétima de Cinema, n. 09, p. 04 -05, nov. de 2013.
Sobre
Almodóvar sabemos que é um dos mais premiados e mais notáveis diretores de
todos os tempos. Sabemos também que é de uma evidente versatilidade – para
comprovar isto basta dizer que ele, além de diretor, é ator, roteirista, produtor
e compositor...
Para mim, Almodóvar é o diretor de
um dos mais belos filmes da história do cinema. Refiro-me, apaixonadamente, ao
filme Tudo sobre minha mãe. Alguém
pode até considerar exagero meu, mas com este filme Almodóvar conseguiu
realizar um dos seus melhores trabalhos – nem seria preciso, mas para confirmar
o que eu digo citarei alguns dos prêmios que ele obteve pela realização deste
filme: Óscar de melhor filme estrangeiro, Globo de Ouro de melhor filme
estrangeiro, Palma de Ouro de melhor diretor, César de melhor filme estrangeiro
e BAFTA de melhor filme estrangeiro.
A propósito ainda do filme Tudo sobre minha mãe, faz-se necessário
destacar a força das personagens femininas – sem dúvidas fruto da atuação de
majestosas atrizes – que compõem talvez o mais bem-resolvido retrato da
capacidade feminina de superar as adversidades que a vida, sorrateiramente,
proporciona.
Mas o talento de Almodóvar não cessa
nessa obra tão enfaticamente citada, gosto muito também de: Má Educação, A flor do meu segredo, Carne
trêmula, Fale com ela, A pele que habito, dentre outras tantas.
Exagerado
em suas explanações? Repetitivo em relação a certas temáticas mais-que-recorrentes
em sua obra, ou um gênio da arte cinematográfica no sentido mais valorativo do termo
que, por ser experimentalista, não se rende ao óbvio?
Parece
mais coerente considerarmos esta última ideia porque, em Almodóvar, a ousadia,
a criatividade e a construção de personagens – sobretudo porque ele enfatiza o
universo feminino – nada convencionais torna sua obra uma das mais inovadoras
e, consequentemente, belas do cinema universal.
Dentre
as características de seus filmes, podemos perceber uma espécie de ritmo
diferenciado que o torna peculiar, além de sua ênfase na constante metalinguagem
cinematográfica. Dentre suas temáticas, podemos apontar: discussões amplas
sobre sexualidade, identidade de gênero, feminilidade, perversões sexuais,
passionalidade amorosa, além de uma forte crítica à religiosidade e observação,
por vezes tragicômica, do dilaceramento do universo familiar tradicional.
Uma idiossincrasia de Almodóvar é a
frequência com que ele trabalha com alguns atores e atrizes em seus filmes – o
que eu, sinceramente, considero muito interessante. A parceria com atrizes
sempre foi mais frequente em decorrência da constante discussão em torno de
temáticas femininas. Suas grandes parceiras foram: Carmem Maura, Marisa
Paredes, Rossy de Palma, Chus Lampreave e Penélope Cruz. Com atores, podemos
destacar sua parceria com Antonio Banderas.
Acerca das peculiaridades da obra do
cineasta, podemos enfatizar sobretudo o excesso de cores que torna – com raras
exceções – seus cenários supostas telas vibrantes que parecem dar o tom
necessário para os dramas humanos que ele costuma retratar. As tramas em que
ele imerge suas personagens costumam ser movimentadas, tensas e, por vezes,
caótica, mas do caos ele extrai os valores da alma humana com suas
fragilidades, anseios e subterfúgios ante os vazios da vida. A música utilizada
por ele acompanha o intenso universo de personagens que tentam se sobressair às
amarras socioculturais impregnadas por falsos moralismos e visões obsoletas.
Sobre
a alma de Almodóvar – alma que ele esparge sem hesitações em suas obras
cinematográficas que, para alguns, são um tanto controversas – podemos dizer, sem
receio: é de uma feminilidade arrebatadora, por isto bela, forte e encantadora!
E tenho dito.
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