quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

RESENHA DO LIVRO "AS PORTAS DO TEMPO NOS MUROS DA VIDA", DE ELIELDO CARVALHO E EPITÁCIO RODRIGUES


Gostei demais do título da obra de Elieldo Carvalho e Epitácio Rodrigues: As portas do tempo nos muros da vida. Esta obra reúne prosa e poesia em edição realizada pela BSG, em 2013, na cidade de Crato – CE.
            Quando li essa obra pela primeira vez, busquei nos textos a mesma criatividade com que os autores construíram o título. Tentei ler os textos em prosa – escritos por Epitácio Rodrigues – e os textos em poesia – escritos por Elieldo Carvalho – em busca de uma relação entre eles. Busquei, ainda, sensação parecida com a que sentiu Ivan Nascimento no prefácio: “Ao ler As portas o tempo nos muros da vida, senti-me como um capitão do meu próprio barco, um lobo solitário, a vagar num mar de dúvidas, questionamentos, segurando na corda da popa, vento no rosto, solene silêncio...”
            A criatividade do título eu encontrei em textos como: A poesia, O Cronos e as crônicas, Vidiária, A cisão humana: condição de liberdade, Identidade, Do ninguém à pessoa, Paisano e O elogio.
            Percebi relações entre os textos dos dois autores à medida que encontrei neles discussões pautadas no cotidiano da vida – cotidiano dado ao efêmero e tão incerto quanto fascinante. No prosador, que é um sóbrio cronista, deparei-me com reflexões fadadas a afirmar: “Tudo é efêmero!” E o cotidiano foi muito bem personificado na metáfora da “nuvem cinzenta e pálida que mascara a existência efêmera”. Mas, do prosador, o melhor texto é, sem dúvidas, O elogio que, segundo seu autor, “humaniza o homem”. Esse texto realmente me chamou atenção, porque faz uma apologia inteligente a esse vocábulo mal interpretado que, neste tempo de poucas harmonias, e relações tão tumultuárias, poderia ser – se bem empregado – um paliativo para as misérias da alma.
            Quanto aos poemas, a advertência que se faz é: a quem busca poesia complexa, de ares rebuscados e figurações herméticas eles não são recomendáveis. Mas para quem busca a poesia do simples, para quem se comove com o cotidiano também transposto para a palavra, para quem sente o fazer poético como algo a ser leveza e despretensão deve, sem dúvidas, satisfazer-se com a poesia de Elieldo Carvalho. Eu gostei, por exemplo, do tom metalinguístico do primeiro poema: A poesia. Também vi muita qualidade no poema Vidiária, texto em que o poeta cria um eu lírico lamentando o fato de que o tempo, fugaz demais para que o acompanhemos, se vai impiedoso. Mas, no irremediável, esse eu lírico vislumbra algum conforto porque, afinal de contas: “Acabou o tempo... e surgiu um neologismo”. E como se fosse possível esperar, ante uma vidiária repleta de obrigações a cumprir, o eu lírico ousa dizer que “depois pensa nisso”.
            Por último, remeto-me à ideia exposta por Ivan Nascimento a propósito das sensações que ele experimentou ao ler esse livro. Não, no meu caso a metáfora criada tão bem por Ivan Nascimento não me cabe, prefiro dizer diferente a partir da experiência que vivenciei: ao ler As portas do tempo nos muros da vida fiquei com a sensação de que preciso colocar cada vez mais os pés no chão e, sobriamente, tentar entender o quanto sou pequeno ante o tempo – esse monstro devastador que me conduz ao irreversível.
            Tenho a sensação, ao discorrer sobre essa obra, que muito mais os autores teriam para dizer. Elieldo Carvalho ainda tem muito a experimentar poeticamente, Epitácio Rodrigues tem assuntos vários a percorrer em sua filosófica prosa. O livro é simples em sua estrutura física, porém prenuncia o quanto esses autores ainda têm a expressar por meio da arte literária e, com isto, ampliar seus horizontes poéticos.
           Elieldo Carvalho nasceu em Exu – PE, é graduado em Letras, é especialista em Língua Portuguesa e é professor das redes públicas de ensino do estado do Ceará e Pernambuco. Além de poeta, tem interesse profundo por música, com ênfase em MPB e música regional.
           Epitácio Rodrigues é graduado em Filosofia e Teologia, atuou no Instituto Diocesano de Filosofia e Teologia e na Universidade Vale do Acaraú. Atualmente é professor das redes públicas de ensino do estado do Ceará e Pernambuco. Além de cronista, ele desenvolve trabalhos de pesquisa na área de Filosofia.

             Émerson Cardoso
27/02/15

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