Gostei demais do
título da obra de Elieldo Carvalho e Epitácio Rodrigues: As portas do tempo nos muros da vida. Esta obra reúne prosa e poesia
em edição realizada pela BSG, em 2013, na cidade de Crato – CE.
Quando li essa obra pela primeira
vez, busquei nos textos a mesma criatividade com que os autores construíram o
título. Tentei ler os textos em prosa – escritos por Epitácio Rodrigues – e os
textos em poesia – escritos por Elieldo Carvalho – em busca de uma relação
entre eles. Busquei, ainda, sensação parecida com a que sentiu Ivan Nascimento
no prefácio: “Ao ler As portas o tempo
nos muros da vida, senti-me como um capitão do meu próprio barco, um lobo
solitário, a vagar num mar de dúvidas, questionamentos, segurando na corda da
popa, vento no rosto, solene silêncio...”
A criatividade do título eu encontrei
em textos como: A poesia, O Cronos e as crônicas,
Vidiária, A cisão humana: condição de liberdade, Identidade, Do ninguém à
pessoa, Paisano e O elogio.
Percebi relações entre os textos dos
dois autores à medida que encontrei neles discussões pautadas no cotidiano da
vida – cotidiano dado ao efêmero e tão incerto quanto fascinante. No prosador,
que é um sóbrio cronista, deparei-me com reflexões fadadas a afirmar: “Tudo é efêmero!”
E o cotidiano foi muito bem personificado na metáfora da “nuvem cinzenta e
pálida que mascara a existência efêmera”. Mas, do prosador, o melhor texto é,
sem dúvidas, O elogio que, segundo
seu autor, “humaniza o homem”. Esse texto realmente me chamou atenção, porque
faz uma apologia inteligente a esse vocábulo mal interpretado que, neste tempo
de poucas harmonias, e relações tão tumultuárias, poderia ser – se bem
empregado – um paliativo para as misérias da alma.
Quanto aos poemas, a advertência que
se faz é: a quem busca poesia complexa, de ares rebuscados e figurações herméticas
eles não são recomendáveis. Mas para quem busca a poesia do simples, para quem
se comove com o cotidiano também transposto para a palavra, para quem sente o
fazer poético como algo a ser leveza e despretensão deve, sem dúvidas,
satisfazer-se com a poesia de Elieldo Carvalho. Eu gostei, por exemplo, do tom
metalinguístico do primeiro poema: A
poesia. Também vi muita qualidade no poema Vidiária, texto em que o poeta cria um eu lírico lamentando o fato
de que o tempo, fugaz demais para que o acompanhemos, se vai impiedoso. Mas, no
irremediável, esse eu lírico vislumbra algum conforto porque, afinal de contas:
“Acabou o tempo... e surgiu um neologismo”. E como se fosse possível esperar,
ante uma vidiária repleta de
obrigações a cumprir, o eu lírico ousa dizer que “depois pensa nisso”.
Por último, remeto-me à ideia
exposta por Ivan Nascimento a propósito das sensações que ele experimentou ao
ler esse livro. Não, no meu caso a metáfora criada tão bem por Ivan Nascimento
não me cabe, prefiro dizer diferente a partir da experiência que vivenciei: ao
ler As portas do tempo nos muros da vida
fiquei com a sensação de que preciso colocar cada vez mais os pés no chão e,
sobriamente, tentar entender o quanto sou pequeno ante o tempo – esse monstro devastador
que me conduz ao irreversível.
Tenho a sensação, ao discorrer sobre
essa obra, que muito mais os autores teriam para dizer. Elieldo Carvalho ainda tem
muito a experimentar poeticamente, Epitácio Rodrigues tem assuntos vários a
percorrer em sua filosófica prosa. O livro é simples em sua estrutura física,
porém prenuncia o quanto esses autores ainda têm a expressar por meio da arte
literária e, com isto, ampliar seus horizontes poéticos.
Elieldo Carvalho nasceu em Exu – PE,
é graduado em Letras, é especialista em Língua Portuguesa e é professor das
redes públicas de ensino do estado do Ceará e Pernambuco. Além de poeta, tem
interesse profundo por música, com ênfase em MPB e música regional.
Epitácio Rodrigues é graduado em
Filosofia e Teologia, atuou no Instituto Diocesano de Filosofia e Teologia e na
Universidade Vale do Acaraú. Atualmente é professor das redes públicas de
ensino do estado do Ceará e Pernambuco. Além de cronista, ele desenvolve
trabalhos de pesquisa na área de Filosofia.
Émerson Cardoso
27/02/15
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