terça-feira, 25 de novembro de 2025

ENTREVISTA: JORGE NOGUEIRA, AUTOR DO LIVRO "INVENTÁRIO DOS SEUS ABRAÇOS"

Arquivo pessoal de Jorge Nogueira

1. Você poderia me dizer seu nome artístico, onde nasceu e qual sua formação acadêmica?

Meu nome artístico é Jorge Nogueira. Nasci em Jaguaribe, Ceará. Sou Mestre em Biblioteconomia pela UFCA, Especialista em Pesquisa Científica pela UECE e Graduado em Biblioteconomia pela UFC.

 

2. Para você, o que é literatura e qual a importância dela em sua vida?

 

A boa literatura é vida pulsante! É prazeroso, é um aprendizado constante, é o melhor hobby que se pode ter. É viajar sem sair do lugar, é conhecer lugares, culturas, outros mundos, pessoas (sim, quando os personagens são bem construídos, são quase como nós, reais) que jamais teríamos acesso se não fosse pela literatura. A literatura me ajudou a entender quem sou, a me aceitar enquanto um homem gay, a entender que a vida é muito mais do que o meu olhar me permite ver. Na adolescência, quando sofria bullying com frequência, os livros eram meus melhores amigos e sei que sempre farão parte de minha vida.

 

3. Como começou seu desejo de escrever (família, escola ou outros meios)?

 

Lembro que comecei a escrever como uma tentativa de entender o que sentia, de expurgar todos aqueles sentimentos ruins. Eram, em sua maioria, poesias mórbidas, depressivas. Mas nem todas. Escrevia também como uma forma de entender o mundo ao redor, de captar a beleza em palavras.

 

4. Qual a importância de ler em um país considerado pouco leitor?

 

Ler nos permite ter uma visão crítica sobre tudo, nos faz menos dependentes do olhar do outro e capazes de perceber o quanto estamos constantemente passíveis de manipulação, seja da mídia, de políticos, religiosos etc. São tantos benefícios! Especificamente sobre a leitura de ficção, penso que nos permite ter mais empatia pelo outro e por nós mesmos, entender que somos tão diversos mas ao mesmo tempo tão iguais, no que a gente sente, sabe? E aquela frase famosa sobre quem lê vive muitas vidas pra mim é real.

 

5. Tendo em vista que quem escreve deve estar sempre em contato com obras literárias, quais são as leituras que você realiza e quais são seus autores e autoras preferidos?

 

Leio sempre livros de ficção, principalmente contos e romances, dos clássicos aos contemporâneos. Também poesia e crônica. Muita literatura brasileira. Também leio não ficção e livros de escrita criativa. Com relação aos meus autores favoritos, tenho muitos: Dostoiévski, Tolstói, Tchekhov (amo os russos), Saramago, Kafka, Fernando Pessoa, Elena Ferrante, Haruki Murakami, Guimarães Rosa, Machado de Assis, Lygia Fagundes Telles e outros.

 

6. Qual obra literária você considera indispensável em sua formação de escritor?

 

Contos de Machado de Assis, Lygia Fagundes Telles, Clarice Lispector, Caio Fernando Abreu, Moreira Campos, Antonio Carlos Viana e vários outros.

 

7. Você poderia contar um pouco sobre seu processo de escrita?

 

Escrevo geralmente a partir de um tema. Em seguida, penso em uma situação que possa trazer o tema para um contexto real. Materializá-lo. Depois, penso em qual seria o melhor narrador para a história. Mas nem sempre é assim. Já aconteceu, por exemplo, de surgir um personagem e a história se desenrolar a partir dele.

 

8. Este é seu primeiro livro? Como ele nasceu?

 

Sim, o primeiro. Ele nasceu a partir de contos já escritos durante anos e outros que escrevi para que pudesse me inscrever no Edital de Incentivo às Artes da SECULT–CE. A ideia inicial era de um livro com temáticas sobre o universo gay e protagonismo de homens gays ou bissexuais.

 

9. Pensa em escrever outros livros? Quais temas poderiam surgir neles?

 

Sim! Inclusive, estou no processo de escrita do meu novo livro de contos, intitulado Canção do riso. Diferentemente de Inventário dos seus abraços, em Canção do riso, amplio os temas abordados. Ainda com protagonismo gay e bi, trago nas histórias temas universais como a morte e o amor, a amizade, as novas configurações das relações, o sexo, o impacto da internet e das Inteligências Artificiais–IAs, entre outros. Pretendo escrever um romance em seguida.

 

10. Escrever é desafiador, mas publicar é muito mais. Quais são, do seu ponto de vista, os desafios de trabalhar como escritor no Ceará?

 

Publicar é caro. Fazer com que o livro chegue a muitos leitores, mais ainda. E tudo exige dinheiro. O maior desafio para quem não tem dinheiro sobrando (a maioria de nós) é fazer tudo isso com poucos recursos financeiros. Os editais públicos são um caminho, como foi o caso da publicação de Inventário dos seus abraços. Com relação a ser escritor no Ceará, considero que seja mais difícil ainda, pois a maioria dos grandes eventos literários, onde os autores podem se mostrar e divulgar o seu trabalho, acontecem no eixo Rio-São Paulo.

 

11. Você considera pertinente situar sua escrita a alguma denominação literária (Literatura Cearense, Literatura Homoerótica, Literatura LGBTQIAPN+ etc.)?


Sim, considero. Em um mundo ideal, não precisaríamos colocar os livros nessas “caixinhas”, mas penso que hoje ainda é necessário. Eu escrevo histórias com protagonismo LGBT+, então se algum leitor procurar por histórias assim, conseguirá localizar os meus livros mais facilmente. Mas isso não significa que escrevo só para este público. E fico muito feliz quando vejo leitores não LGBT+ lendo e gostando das minhas histórias. 


Sobre o autor:


Jorge Nogueira é graduado em Biblioteconomia, pela Universidade Federal do Ceará (UFC), especialista em Pesquisa Científica, pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), e mestre em Biblioteconomia, pela Universidade Federal do Cariri (UFCA). Vencedor do concurso Diversidade e Resistência: Coletânea Literária LGBT do Ceará e do XII Edital de Incentivo às Artes da SECULT Ceará. Participou da antologia: Juazeiro tem artistas, Juazeiro tem poesia: manifesto poético (2024) e Haicai-Cariri: antologia de haicais (2025). No momento, prepara seu segundo livro de contos: Canção do riso.

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

CÍRCULO DE LEITURA: "LEITURA DE TEXTOS DE AUTORIA FEMININA EM PROSA E POESIA"

 


Sinopse

O Círculo de Leitura do Centro Cultural do Cariri propõe, entre agosto e outubro de 2025, na EEM Governador Adauto Bezerra, a atividade: Leitura de textos de autoria feminina em prosa e poesia. Com o objetivo de promover leitura de textos em prosa e poesia de autoras brasileiras diversas, pretendemos realizar apreciação e debate em torno de aspectos formais e conteudísticos presentes em textos que se manifestam em gêneros discursivos variados. Além disso, pretendemos despertar o desejo de ler e de construir, no âmbito escolar, espaços de leitura contínuos.

Classificação indicativa: 12 anos

Público-alvo: Docentes e discentes da EEM Governador Adauto Bezerra

Limite: 20 participantes

12 de agosto

         O Círculo de Leitura, intitulado “Leitura de textos de autoria feminina em prosa e poesia”, teve início na data de 12 de agosto de 2025, às 13h30, no Centro de Multimeios da EEM Governador Adauto Bezerra, localizado na cidade de Juazeiro do Norte–CE. Na ocasião, foi apresentada a proposta de leitura dos seis encontros que deveriam ser mediados por mim. Nesse sentido, os encontros foram divididos em três momentos: 1) leitura de texto poético, 2) leitura de texto em prosa e 3) debate teórico-crítico.

        Assim, no primeiro encontro, foram apresentados, no primeiro momento, um poema de Conceição Evaristo e três poemas de Neuma Xenofonte. No segundo momento, foi lido o conto “O búfalo”, de Clarice Lispector. Para dar suporte à explanação do texto, foi realizada discussão em torno do ensaio: “O amor erótico n’O búfalo, de Clarice Lispector”, de autoria do mediador.    

         Antes da leitura, que ocorreu de forma interativa, houve breve explanação de notas alusivas às temáticas gerais abordadas pela escritora, também houve menção a componentes estruturantes do gênero narrativo conto: definições, aspectos estruturais, características gerais etc. Dentre as propostas teórico-críticas, foi apresentada a que se encontra em “Formas breves”, de Ricardo Piglia.

        Com base no conto lido, a discussão foi direcionada para diversos temas, dentre os quais: amor, ódio, afetividade, solidão, frustrações amorosas etc.

26 de agosto    

         No segundo encontro, foi apresentado, no primeiro momento, um poema de Conceição Evaristo e, no segundo momento, os contos: “Pomba enamorada ou uma história de amor”, de Lygia Fagundes Telles; “Não pode dar certo” e “O grande e o pequeno”, de Adriana Falcão.     

         Antes da leitura, houve breve predição acerca da obra e, após a leitura interativa, houve debate alusivo aos temas: encontro amoroso, busca amorosa, a condição da mulher nos séculos XX e XXI etc. Para o debate, recorremos ao conceito de amor conforme o apresenta Zygmunt Bauman no livro: "Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos". 

09 de setembro

        No terceiro encontro, foram apresentados, no primeiro momento, poemas de Conceição Evaristo e, no segundo momento, foram lidos os contos: “Sacola” e “Gesso”, de Jarid Arraes. Na ocasião, recebemos na escola a visita de um ex-aluno que construiu uma sólida carreira literária, em âmbito nacional, e fez uma fala sobre sua experiência literária: Sidney Rocha. 

23 de setembro

         No quarto encontro, foram apresentados, no primeiro momento, poemas de Cecília Meireles e, no segundo momento, foram apresentados: o conto “Uma amizade sincera”, de Clarice Lispector, e a crônica “Ah, os amigos”, de Rachel de Queiroz.

         Antes da leitura, houve breve predição acerca da obra e, após a leitura interativa, houve debate alusivo ao tema da amizade. Para o debate, recorremos ao texto Da amizade, de Marcus Túlio Cicero. 

         Na ocasião, realizamos debate em torno das aproximações e diferenciações dos gêneros narrativos conto e crônica.

07 de outubro

          No quinto encontro, foram apresentados, no primeiro momento, poemas de Zila Mamede e, no segundo momento, o conto “Olhos d’Água”, de Conceição Evaristo. Para a discussão, foram explanados conteúdos teórico-críticos alusivos à Literatura Afro-brasileira, conforme as abordagens de: Eduardo de Assis Duarte, Conceição Evaristo e Nazareth Fonseca, dentre outros. Nesse sentido, foram abordados os temas: maternidade, memória, afetividade etc.

21 de outubro

           No sexto encontro, foram lidos, no primeiro momento, poemas de Jovina Benigno, com ênfase nos livros “Cruviana” e “As linhas apagadas de minhas mãos”. No segundo momento, foi lido o conto “Amor”, de Clarice Lispector. Antes da leitura, houve breve predição acerca da obra e, após a leitura interativa, houve debate alusivo aos temas presentes no conto. Nessa perspectiva, foram explanados os seguintes temas: epifania, a condição da mulher, reflexões em torno da condição social brasileira, relações familiares, maternidade, erotismo etc. 

          Para o último encontro, os participantes do Círculo de Leitura foram convidados a visitarem o Centro Cultural do Cariri, com transporte disponibilizado pela instituição, e o encontro para leitura se deu na Biblioteca e, depois, no Bosque (espaço no qual foi servido lanche).

          O encontro foi concluído com o sorteio, entre os presentes, de diversos livros teórico-críticos e ficcionais. Dentre eles, foram sorteados: “As linhas apagadas de minhas mãos”, de Jovina Benigno, e o livro “Romanceiros”, de autoria do mediador do Círculo de Leitura.

          Como resultado das atividades realizadas durante o Círculo de Leitura, o Centro de Multimeios pretende prosseguir com o desenvolvimento de novos encontros para leituras e debates. No geral, a experiência foi maravilhosa, pois tivemos um espaço de construção de saberes plurais sob incentivo do Centro Cultural do Cariri, que tem prestado relevante serviço de propagação das artes no Cariri cearense.

REFERÊNCIAS:

ARRAES, Jarid. Redemoinho em dia quente. Rio de Janeiro: Capital das Letras, 2021.

BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. Trad. de Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2016.

BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.

CARDOSO, Cícero Émerson do Nascimento. O amor erótico n’O búfalo, de Clarice Lispector. In: GOUVEIA, Arturo (org.). Sátira, amor, pobreza e anatomia da alusão: ensaios de literatura. Cotia: Cajuína, 2022.

CÍCERO, Marco Túlio. Saber envelhecer e A amizade. Tradução de Paulo Neves. Porto Alegre: L&PM, 2013.

DUARTE, Francisco de Assis. Por um conceito de literatura afro-brasileira. In: DUARTE, E. A. e FONSECA, M. N. S. (org.) Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.

EVARISTO, Conceição. Literatura negra: uma poética de nossa afro-brasilidade. InSCRIPTA, Belo Horizonte, v. 13, n. 25, p. 17–31, 2º sem. 2009. 

________. Olhos d’água. Rio de Janeiro: Pallas: Fundação Biblioteca Nacional, 2016.

FONSECA, Maria Nazareth Soares. Poesia afro-brasileira: vertentes e feições. 2018. Disponível em: http://www.letras. ufmg.br/literafro/artigos/teoricos/ArtigoNazareth. Acesso em: 24 jan. 2020.

LISPECTOR, Clarice. Todos os contos. Rio de Janeiro: Rocco, 2016. 

MAMEDE, Zila. O arado. Natal: EDUFRN, 2023.

MEIRELES, Cecília. Literatura comentada: Cecília Meireles. Seleção de Norma Seltzer Goldstein e Rita de Cássia Barbosa. São Paulo: Abril Educação, 1982.

PLATÃO. O banquete. Trad. de Donaldo Schüler. Porto Alegre: L&PM, 2018.

PIGLIA, Ricardo. Teses sobre o conto. InFormas breves. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

QUEIROZ, Rachel de. Ah, os amigos. InMapinguari: crônicas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1989.

STRAUZ, Rosa Amanda (org.). Elas por elas: histórias de mulheres contadas por grandes escritoras brasileiras. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2018.

TELLES, Lygia Fagundes. Literatura comentada: Lygia Fagundes Telles. Organização de Ligia Chiappini Moraes Leite. São Paulo: Abril Educação, 1980.


sábado, 8 de novembro de 2025

ENTREVISTA: "MINHAS QUATRO FUTURAS EX-NAMORADAS", DE THIAGO MARIANO

1. Você poderia me dizer seu nome artístico, onde nasceu e qual sua formação acadêmica?

Meu nome artístico é Thiago Mariano, mas meu nome completo é Francisco Thiago de Sousa Mariano (Thiago com H). Eu nasci em Juazeiro do Norte, em 1993, aqui no interior do Ceará. Minha formação acadêmica começou em 2011, quando eu entrei em Engenharia de Materiais (me formei 5 anos e meio depois). Em 2020, eu recebi o diploma da segunda faculdade: Pedagogia. E agora, em 2025, eu pretendo finalizar o curso de Jornalismo. Estou no último semestre.

2. Para você, o que é literatura e qual a importância dela em sua vida?

A literatura é uma forma de expressar o que eu sinto, as minhas histórias e até os meus traumas. Usei a escrita para transformar em arte muitas das dificuldades que vivi na infância e na adolescência, principalmente por causa do bullying. O meu livro fala muito sobre isso. O protagonista, por exemplo, é apelidado de Filé de Muriçoca, porque é magro e tem a cabeça grande — do mesmo jeito que eu era zoado na escola, pelos mesmos motivos. Então, para mim, a literatura serve tanto para contar histórias, quanto para extravasar as minhas insatisfações, raivas e frustrações, de um jeito que me faz sentir que existe um pouco de justiça no mundo. É complicado, mas gosto de colocar nas histórias o que vivi — só que de uma forma que ninguém perceba exatamente o que aconteceu.

3. Como começou seu desejo de escrever?

No começo, eu não escrevia com palavras, mas com a oralidade. Quando era criança, eu tinha uma coleção de brinquedos e adorava criar histórias complexas para justificar a existência deles. Eu não queria saber se o Goku já tinha a sua história ou se o Superman vinha dos quadrinhos — eu inventava novas versões, histórias próprias, que faziam com que esses personagens existissem no meu quintal. A minha bicicleta, por exemplo, era um demônio supremo que queria destruir o mundo, e um dos meus bonequinhos era o herói que precisava salvar todo mundo. Eu criava tudo isso de cabeça. Com o tempo, lá pelos 9 ou 10 anos, ganhei um caderno de aniversário — o primeiro que não era para fazer tarefa. Ele tinha o Mickey e o Donald na capa, e eu fiquei empolgado. Foi aí que comecei a escrever minhas primeiras histórias, em forma de quadrinhos. Criei um personagem chamado Coelhato, um coelho mutante superforte, com olhos triangulares, que voava, lançava raios laser e tinha um ponto fraco: ele ficava com muita fome e só queria comer bolacha. Fiz várias HQs caseiras e amadoras com ele. Depois, percebi que desenhar dava muito trabalho e comecei a escrever roteiros para animações. Fiz animações em stop motion, com recortes, e até frame a frame, mas também era trabalhoso demais. Então, pensei: seria mais fácil filmar com atores reais. E foi assim que comecei a criar roteiros de cinema — meu sonho, por muito tempo, foi ser cineasta, mas, com o tempo, percebi o quanto é difícil fazer um filme: precisa de equipe, equipamentos, dinheiro… Então, fui adaptando esse sonho e passei a fazer curtas para a internet. Nesse processo, acabei escrevendo centenas de roteiros. Em algum momento, percebi que seria ainda mais interessante transformar essas ideias em histórias longas, no formato de narrativa literária. Foi aí que nasceu o desejo de escrever livros e levá-los até o fim. A experiência com roteiros me ensinou que eu era capaz de me dedicar por anos a uma história — como aconteceu com Minhas 4 Futuras Ex-namoradas, que levei cinco anos para concluir.

4. Qual a importância de ler em um país considerado pouco leitor?

A leitura é importante, porque ajuda a gente a lidar com os problemas ao nosso redor. E eu não falo nem da leitura apenas como forma de se capacitar ou de ficar mais inteligente — mas como uma ferramenta de felicidade. Ler é uma forma de se sentir bem, de passar o tempo de um jeito realmente único. A ideia de escolher ler, não por falta de opção, mas porque ler é mais divertido do que muitas outras coisas é inspiradora. Encontrar um bom livro e sentir vontade de ler, sem preguiça, é uma dádiva. Pena que, no nosso país, as pessoas não são estimuladas quanto a isso. A leitura traz prazer e conforto. Então, para mim, a leitura é importante, porque ela tem o poder de fazer as pessoas mais felizes.

5. O que o levou a querer escrever?

Sempre gostei de criar e contar histórias — desde pequeno. Primeiro, na oralidade, com meus brinquedos. Depois, em histórias em quadrinhos, filminhos de animação, curtas e até vídeos para o YouTube. Sempre me atraíram histórias que misturam humor, cultura nerd, fantasia e romance. Chegou um momento em que percebi que queria escrever algo maior, algo que mostrasse que eu era capaz de construir uma narrativa mais complexa. Eu também entendi que, enquanto continuasse usando ideias de terceiros — tipo The Flash no Brasil, The Walking Dead no Brasil ou Todo Mundo Odeia o Chris no Brasil —, eu nunca teria uma obra que fosse realmente minha. Então, decidi criar algo totalmente original. Passei cinco anos escrevendo uma história só minha, feita com dedicação, no meu próprio universo — e gostei muito do processo. Foi quando percebi que era isso que eu queria fazer.

6. Tendo em vista que quem escreve deve estar sempre em contato com obras literárias, quais são as leituras que você realiza e quais são seus autores e autoras preferidos?

Eu cresci com muita preguiça de ler. Por anos, achei que eu simplesmente não gostava de leitura, porque os livros que chegavam até mim eram os que eu tinha dificuldade de terminar. Eu não me dava o direito de abandonar um livro no meio — achava que isso era errado. Então, eu me forçava a ler, mesmo que fosse devagar, e isso acabava me travando. Eu lia um livro, demorava muito, e não conseguia seguir para outro. Na adolescência, tudo mudou. Quando conheci livros como O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, e alguns de fantasia, como O Senhor dos Anéis e Harry Potter, percebi que eu gostava de ler, sim, eu só não tinha encontrado as histórias certas. A partir daí, comecei a me apaixonar pela leitura e a entender que eu era mais seletivo: precisava de histórias que realmente me prendessem. Com o tempo, fui descobrindo os livros que me cativavam e até desenvolvi o hábito de reler as mesmas histórias várias vezes, porque me conecto mais fácil com o que já me encantou do que com algo novo que demora a me prender. Entre os autores que me influenciaram estão: Tolkien e J.K. Rowling, mas também Thalita Rebouças, que é a principal escritora do gênero em que eu atuo. Quando li Confissões de uma Garota Tímida, Ansiosa e (Ligeiramente) Dramática, em 2018, fiquei apaixonado pela forma leve e próxima do leitor como ela escreve. Foi por causa desse livro que decidi reescrever Minhas 4 Futuras Ex-namoradas — mudei da terceira pessoa para a primeira pessoa, inspirado na narrativa dela. Além da literatura, também fui muito influenciado por animes, como: Attack on Titan, Death Note, Sword Art Online, Boku no Hero e Hunter x Hunter. Essas obras me despertaram o desejo de escrever histórias que misturassem fantasia, romance e comédia, mas trazendo tudo isso para dentro da cultura caririense — que é onde minhas histórias realmente ganham vida. 

7. Qual obra literária você considera indispensável em sua formação de escritor?

Na minha formação como escritor, existem algumas obras que considero indispensáveis. Eu colocaria 6 obras literárias, já que cada uma impactou em quesitos que compõem a minha linguagem: comédia, romance, fantasia, adolescência e regionalidade. O Auto da Compadecida, por exemplo, foi essencial pela questão do humor e da regionalidade. Harry Potter e O Senhor dos Anéis me marcaram profundamente na fantasia, e eu incluiria também A história sem fim, nesse grupo, porque esse último livro me marcou demais. E, na parte do romance, por mais engraçado que pareça, eu colocaria: Crepúsculo. Essa obra realmente me cativou quando eu era adolescente. Você encontra no meu livro influência do romance sobrenatural entre adolescentes. Quando li os livros e esperava os filmes, entre 2008-2010, eu sentia uma grande vontade de criar uma história que contagiasse as pessoas da mesma maneira que Crepúsculo contagiava aquela geração. Senti vontade de brincar com o amor superestimado adolescente, cheio de intensidade, exagero, mas incluindo ironias, piadas e regionalismo. Já a pegada mais adolescente do livro, na forma de expressar em primeira pessoa, foi inspirada no texto de Thalita Rebouças, com seu livro Confissões de uma Garota Tímida, Ansiosa e (Ligeiramente) Dramática, que foi um divisor de águas durante a minha escrita. 

8. Você poderia contar um pouco sobre seu processo de escrita? Este é seu primeiro livro? Como ele nasceu?

Eu comecei a escrever Minhas 4 Futuras Ex-Namoradas em 2018, quando já fazia cerca de um ano que eu havia criado a premissa — com todos os plots e o desfecho planejados. No início, pensei que seriam três livros, e que cada um contaria a história de uma futura ex. Mas, no meio do processo, decidi que seriam quatro. Assim nasceu o título Minhas 4 Futuras Ex-NamoradasO livro foi crescendo muito com o tempo. Passei cinco anos escrevendo e reescrevendo essa história. A primeira versão tinha mais de 700 páginas. Mesmo depois de revisar e reescrever nove vezes, ele ainda continuava grande, com cerca de 600 a 650 páginas. Percebi, então, que lançar um livro tão longo seria inviável comercialmente — especialmente sendo um autor estreante e independente. Por isso, decidi dividir a obra ao meio e lançar a parte 1, que é essa que está sendo publicada agora. Ela tem 240 páginas, e acredito que cumpre bem o papel de prender o leitor e deixá-lo curioso para a continuação. Apesar de ser o meu primeiro livro impresso, eu já havia escrito outros dois: Guempy – Amor Perfeito (2021) e O Mapa do Guempendoele (2023). Ambos estão disponíveis digitalmente na Amazon KindleEssas histórias fazem parte de um mesmo universo literário, o chamado universo onde guempendoele é real. Trata-se de uma mitologia que eu mesmo criei, inspirada na cultura caririense. 

9. Pensa em escrever outros livros? Quais temas poderiam surgir neles?

Sim, eu tenho vontade de escrever outros livros — inclusive a continuação de Minhas 4 Futuras Ex-Namoradas já está pronta e deve ser lançada no próximo ano. Atualmente, estou finalizando uma nova obra que segue um caminho diferente: uma paródia de super-heróis ambientada no Cariri, chamada O Traumatizador vs. O Tempero. É uma história que mistura sátira e cultura regional, mostrando heróis e vilões inspirados no nosso jeito de ser, nas nossas expressões e na vida aqui da região. Esse livro vai ser mais curto e voltado para o público infantojuvenil, com ilustrações e capítulos curtos, quase como se fossem contos independentes. No início, parece uma antologia, mas aos poucos as histórias se conectam até chegarem a um desfecho comum. É um projeto que me deixa muito empolgado — e a ideia é lançá-lo no Dia do Super-Herói, 28 de abril de 2026.

10. Escrever é desafiador, mas publicar é muito mais. Quais são, do seu ponto de vista, os desafios de trabalhar como escritor no Ceará?

A maior dificuldade para mim não foi escrever o livro — embora tenha exigido muita disciplina manter um projeto por cinco anos, sem ninguém me cobrando ou acreditando muito que eu realmente fosse concluir. O mais difícil veio depois que terminei: juntar maturidade, conhecimento e recursos financeiros para transformar o livro em realidade. Demorei dois anos só pra escolher a capa certa, levantar o dinheiro para publicar e entender que eu não precisava de uma editora. Percebi que, no meu caso, uma editora encareceria o produto e tiraria parte do controle criativo. Então, comecei a estudar sobre serviços editoriais, revisão, diagramação e tudo que envolve as etapas e elementos pré e pós-textuais. Aprendi que o maior desafio de um escritor independente, além de vender, é entender que ele precisa ser mais do que escritor. Precisa ser também empreendedor, comunicador, blogueiro e, muitas vezes, investir tirando dinheiro do próprio bolso por um sonho às cegas para, só depois, talvez, colher algum retorno.

11. Você conhece o conceito de Literatura Infantil, Literatura Infanto-juvenil e Literatura Juvenil? Você considera que seu livro está vinculado a um desses tipos de Literatura?

Conheço um pouco do conceito, mas não sou especialista. Sou pedagogo e trabalho com crianças há 9 anos. Acredito, no entanto, que o meu livro se encaixa melhor no público juvenil, acima dos 13 anos — talvez a partir dos 11, se houver o consentimento dos pais. Isso porque a história aborda temas como: namoro, romance e paixão, o que não considero adequado para o público infantil. Já os adolescentes e os jovens que estão vivendo essa fase, sim, podem se identificar bastante. O protagonista, por exemplo, tem 15 anos — ele começa a história com 14, mas faz 15 durante a narrativa. Então, é um livro voltado para quem está nessa faixa etária e, claro, para os demais adultos que gostarem de ler.

MARIANO, Thiago. Minhas 4 futuras ex-namoradas. Vol. 1. Juazeiro do Norte: Edição do Autor, 2024.