terça-feira, 12 de março de 2013

FÁBULA - ANIMAIS ANTROPOMORFIZADOS

Do Latim "fabula" (narrativa, jogo, história e, literalmente, "o que é dito") a "Fábula" corresponde a composições literárias que apresentam, como personagens, animais antropomorfizados, personificados (ou seja: possuem características humanas). Uma das principais características da "Fábula" é o sentido pedagógico que se manifesta através de um ensinamento moral, instrutivo e que leva o leitor à reflexão. Sobre a origem da "Fábula", leiamos: 

"A fábula é um gênero que surgiu no Oriente, mas foi particularmente desenvolvido por Esopo, autor que viveu no século VI a. C., na Grécia Antiga. A Esopo foi atribuído um conjunto de pequenas histórias, de caráter moral e alegórico, cujos papéis principais eram desenvolvidos por animais. Por meio dos diálogos entre os bichos e das situações que os envolviam, ele procurava transmitir sabedoria de caráter moral ao homem. Assim, os animais, nas fábulas, tornam-se exemplos para os seres humanos. Cada animal simboliza algum aspecto ou qualidade do homem como, por exemplo, o leão representa a força; a raposa, a astúcia; a formiga, o trabalho etc. É uma narrativa inverossímil, com fundo didático. Quando os personagens são seres inanimados, objetos, a fábula recebe o nome de apólogo. A temática é variada e contempla tópicos como a vitória da fraqueza sobre a força, da bondade sobre a astúcia e a derrota de preguiçosos. La Fontaine foi outro grande cultor do gênero, imprimindo à fábula grande refinamento. George Orwell, com sua "Revolução dos Bichos" (Animal Farm), compôs uma fábula (embora em um sentido mais amplo e de sátira política)."


Essa informação saiu daqui: http://pt.wikipedia.org/wiki/fabula


EXEMPLO:

O ESCORPIÃO E A RÃ
(Rubem Alves)

          Um dia a floresta pegou fogo. E incêndio não tem medo de rabo de escorpião. Só havia um jeito de fugir da morte: era atravessando o rio, para o outro lado. Os bichos que sabiam nadar pulavam na água, levando seus amigos nas costas. Mas o escorpião nem tinha amigos nem sabia nadar. E não havia ninguém que se arriscasse a oferecer-lhe carona.
       O escorpião então, valentia e coragem sumidas ante o fogo que se aproximava, foi forçado a se humilhar. Dirigiu-se com voz mansa à rã, que se preparava para a travessia.
          - Por favor, me leve nas suas costas - ele disse.
          - Eu não sou louca. Sei muito bem o que você faz a todos que se aproximam de você - replicou a rã.
        - Mas veja - argumentou o escorpião -, eu não posso picá-la com o meu ferrão. Se o fizesse você morreria, afundaria, e eu junto, pois não sei nadar.
        A rã ponderou que o raciocínio estava certo. Podia ser que o escorpião fosse muito feroz, mas não podia ser burro. Todo mundo ama a vida. O escorpião não podia ser diferente. Ele não iria matar, sabendo que assim se mataria... E como tinha bom coração resolveu fazer esta boa ação. 
          - Muito bem - disse a rã ao escorpião. - Suba nas minhas costas. Vou salvar sua vida...
         O escorpião se encheu de alegria, subiu nas costas lisas da rã, e começaram a travessia.
         Que coisa - ele pensou -, é a primeira vez que me encosto em alguém de corpo inteiro. Antes era só o ferrão... E até que não é ruim. O corpo da rã é bem maciinho...
         Enquanto isso, a rã ia dando suas braçadas tranquilas, nado de peito, deslizando sobre a superfície. 
         - E como é gostoso navegar - continuou o escorpião nos seus pensamentos. - Estes borrifos de água, como são gostosos. É bom ter a rã como amiga...
         Estavam bem no meio do rio. O escorpião olhou para trás e viu a floresta em chamas. 
         - Se não fosse a rã, eu estaria morto neste momento. 
        E um estranho sentimento, desconhecido, encheu seu coração: gratidão. Nem sempre veneno e ferrão são a melhor solução. A vida estava com a rã, macia e inofensiva, que não inspirava medo a ninguém...      
     Sentiu seu corpo descontrair-se. Achou que a vida era boa... Era bom poder baixar a guarda e descansar.
        Voltou-se de novo para trás para olhar a floresta incendiada. Mas, ao fazer isto, viu-se refletido, corpo inteiro, na água do rio que brilhava à luz do fogo. E o que viu o horrorizou: seu rabo, dantes ereto, agora dobrado, desarmado. Escorpião de rabo mole... Todos ririam dele. E sentiu um ódio profundo da rã.
        - Espelho, espelho meu, existe bicho mais terrível que eu? 
        A resposta estava naquele rabo mole, refletido no espelho da água. E a única culpada era a rã...
        Sem um outro pensamento enrijeceu o rabo e o enfiou nas costas da rã.
        A rã morreu. E com ela o escorpião.
        A estupidez do poder é maior que o amor à vida.

ALVES, Rubem. O escorpião e a rã. São Paulo: Loyola, 1989. p. 10.




5 comentários:

  1. todos se concentram no escorpiao como reflexao da moral da historia, mas e a ra ? acho que a moral da historia esta na ra,ela pensou que aquele escorpiao poderia ter uma natureza diferente dos outros , poderia modar se fosse ajudado e decidiu acreditar nele. a moral da historia sera que nao se deve acreditar que alguem que nunca foi bom um dia o ira ser e que nao se consegue mudar alguem .
    alexandra ramos

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  2. Sim, Alexandra!!! Você tem razão em olhar essa fábula por outro ângulo de visão e considerar a moral a partir do comportamento evidenciado pela rã!!! Numa visão mais humanista, por exemplo, crer que o homem é dotado de uma índole apta à possibilidade de mudança é sempre uma forma muito peculiar de ver o mundo - e não deixa de ser uma visão mais otimista, coisa cada vez mais rara ante a realidade tão caótica em que vivemos... Ótima ideia, a sua!!!

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  3. É verdade , a história foi baseada no pensamento de que o escorpião é culpado,mas se olhar por outro ângulo vemos que a rã foi tola em achar que uma pessoa muda de uma hora pra outra

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