segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

A TRISTE PARTIDA

Dentre as muitas temáticas comuns à criação de Antônio Gonçalves da Silva - Patativa do Assaré - a seca caracteriza-se como uma das mais recorrentes em sua obra. O sertanejo nordestino, que teria na agricultura e pecuária a sua mais importante fonte de renda, encontra-se sempre numa constante luta contra a estiagem e, esperançoso, aguarda bons invernos para que seu trabalho possa "vingar". A seca assume contornos de tragédia, desespero e maldição para o nordestino e torna-se um drama inevitável em decorrência das secas periódicas que assola o Nordeste brasileiro.  

No universo sertanejo, a seca nem sempre figura como um problema que poderia ser resolvido por meio de esforços humanos. Nesta perspectiva, somente o sagrado, representado pelas figuras representativas da religiosidade popular, poderia solucionar o drama a que o homem, impotente ante a força da natureza e à mercê de políticos acríticos, estaria submetido. O aspecto místico-religioso figura como o subterfúgio do sertanejo ante a seca e sua devastação. A fé torna, aparentemente, o sertanejo capaz de suportar com resignação a tragédia climática que o acomete de tempos em tempos. 

A seca e a fé são temas basilares do poema "A triste partida". Este poema de Patativa do Assaré foi musicado por Luiz Gonzaga em 1964, em forma de toada, tornando-se um dos seus maiores sucessos. A seca e a fé surgem já nos primeiros versos:

Passou-se setembro
Cum oitubro e novembro
Já tamo em dezembro
Meu Deus, que é de nóis?
Assim fala o pobre
Do seco Nordeste
Com medo da peste
Da fome feroz

O poema "A triste partida" apresenta 19 estrofes com oito versos compostos por cinco sílabas poéticas (redondilha menor). Nesta estrofe inicial, percebemos uma imagem poética que se constrói pela recorrência das consoantes fricativas /s/ e /f/ que poderiam sugerir a fluidez do vento - no caso, um vento trágico que parece capaz de arrastar folhas secas e esgalhar árvores. Nesta árida paisagem, o sertanejo nordestino, vitimado pela seca, constata a sua condição existencial e, como único subterfúgio, recorre à religiosidade.

A presença de

CONTINUA...

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