quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

CRÔNICA NADA APOLOGÉTICA À "pec - 55" (OU: "SANTA LUZIA, ROGAI POR NÓS!")


Acontece que no dia 13 de dezembro de 2016 a "pec - 55" foi aprovada. Vinte anos! Acontece que eu sou deslocamento, inadequação, estranhamento ante o ser-estar em mim. Vinte anos... E aqui em casa comemoravam o aniversário de minha mãe. Vinte anos? Luiz Gonzaga nos honrou com seu nascimento nesta data. O "ai - 5" foi imposto em 13 de dezembro de 1968. Santa Luzia está em pauta para os católicos. 

Santa Luzia, que nossos olhos se abram! Mártir benevolente, restitui o dom de ver destes brasileiros deitados eternamente em berço nada esplêndido, porque tiraram de nós vinte anos de possibilidades. Luiz Gonzaga nunca fez canção para Santa Luzia? Minha mãe é de sagitário e é complicada e é generosidade e é impulso e é dramática. Santa Luzia, por que tão distante estou de minha mãe quando com ela estou? 

O "brasil" morre um pouco hoje, ó vida e seus percalços! O "brasil" morre e eu estou sem chão. Mas sem chão aprendemos a voar? Não sejamos otimistas... Santa Luzia, como olhar para mim mesmo nesta data querida-não-querida? 

Diz o ditado popular que: "Ingratidão tira afeição!" Diz a vida que as decisões tomadas podem ser cruéis quando pouco sensatas. Vida, quem te obrigou a respirar por mim? Se eu vim para cá com a sensação de que não queria ser-estar, vida, por que me foi dado o dom maior de todos? Viver, vida, me entorpece e amplia: sinto novos espaços e tempos com minhas mãos feridas.

Estou num lugar que não é meu, num tempo que não é meu, num mundo que não é meu. Luiz Gonzaga, cante algo que me faça esquecer que sou. Santa Luzia, ilumina caminhos para que meus olhos não se ofusquem com a escuridão. Mãe, queria saber novas roupagens para a sensação de desamparo que despertaste em mim. Vida, que tenho eu para viver no amanhã que já nem sei? 

Danço alguma música triste que me dá o tom e a força. Acontece que no dia 13 de dezembro de 2016 a "pec - 55" destruiu minhas sandálias. Minhas mãos vazias imploram por perdão por aqueles que destruíram nossa paz. Não seria melhor estender as mãos pedindo armas? Mas a paz que busco, e que julgo encontrar no olhar perdido de uma criança triste, me impele a dizer que não... Santa Luzia, por favor, carecemos de novas luzes... O "brasil" está sem olhos! Luiz Gonzaga, não posso respirar, não posso mais nadar... 

E o fluxo que me invade dói com dor renitente - tenho medo e fecho os olhos. Adeus, 13 de dezembro de 2016. Que meus olhos nunca mais te vejam. Mãe, quem sabe um dia a gente possa comemorar de fato seu aniversário! 

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