sexta-feira, 6 de outubro de 2023

CRÔNICA: "O ESGOTAMENTO MENTAL QUE ME AGRIDE"


Não vou definir o que é esgotamento mental. Vou dizer, apenas, que meu esgotamento mental existe e eu estou perplexo com a dificuldade das pessoas em compreender que alguém pode ficar nessa situação.

Tenho histórico de esgotamentos. Vivenciei essa nefasta experiência durante a graduação e as pós-graduações, no ambiente de trabalho, no convívio familiar e em diversos momentos da minha vida. Quando olho para trás, constato que o esgotamento mental me foi uma presença constante. Ele me causa sensações terríveis: tontura, fadiga, angústia, sensação de febre, dores musculares, tensões, insônia, dores de cabeça, visão turva, taquicardia, impaciência, desespero, falta de concentração, tendência ao isolacionismo, medo, tristeza, dor e ausência de esperanças. 

Neste momento em que escrevo, estou excessivamente cansado. O corpo e a mente gritam. A vida parece um eterno caminho de pedras a ser transposto por obrigação e a ser suportado mesmo que a duras penas. 

Estou cansado. Não digo que estou cansado da vida. Estou cansado de conduzir a vida desse modo um tanto grosseiro: sem paz, sem forças, sem descanso, sem afetos verdadeiros, sem compreensões tão necessárias para o convívio social e repleto de obrigatoriedades e cobranças acríticas. 

Estou exausto. Pessoas mais próximas estranham meu desejo de isolamento. Às vezes, o mundo parece um buraco que deve ser evitado. Sim, porque o mundo não se faz amável. Ele quer nossa energia e, infelizmente, essa energia já se exauriu. Na urgência de atender a esses ditames, a pessoa adoece e cai no mais absoluto esgotamento. O fundo do poço não instiga esperança de portas ou de escadas.

Estou esgotado. Quero descansar. Preciso descansar. Exijo de mim mesmo um resquício de descanso. Ainda não sei como fazê-lo, mas estou em busca de algum oásis que anule esse caos construído em meu derredor. 

Não tenho ânimo para viagens, trilhas, atividades físicas, convívios, trabalho e atividades intelectuais. Como tenho compulsão por escrever, é tudo o que me resta. Escrever tem sido um subterfúgio, mas sabemos que essa atividade também pode nos esgotar. 

Enfim, estou cansado como poucas vezes estive na vida. Quero algum alento. Não sinto que a vida pode melhorar se não me for possível vivenciar esse descanso. Torço para pessoas do meu convívio não estarem na mesma situação que eu, porque não é tranquilo lidar com isso. Enquanto busco meu descanso de algum modo, uma vez que se eu permanecer desse jeito não resistirei, vou torcendo para que o mundo seja menos caótico e mais leve. 

Inspirado na irônica canção "Fundo do poço", de Clarice Falcão, também vou criar estratégias para decorar meu fundo do poço e transformá-lo em espaço de descanso. Enquanto não me vem a energia necessária para tal empreendimento, vou escrevendo daqui desse poço profundo. Fui atirado nele pelas exaustivas circunstâncias da vida, porém farei de tudo para transformá-lo em espaço de descanso.

Émerson Cardoso
12/09/2023 

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