sexta-feira, 24 de maio de 2013

RENASCENTISMO - UM RESUMO (PARTE I)

"David", de Michelangelo Buonarroti


MOMENTO SOCIOCULTURAL:

  • REVALORIZAÇÃO DOS MODELOS CULTURAIS DA ANTIGUIDADE CLÁSSICA PELA BURGUESIA MERCANTILISTA;
  • GRANDES NAVEGAÇÕES E DESENVOLVIMENTO DO ANTROPOCENTRISMO (HUMANISMO);
  • REFORMA PROTESTANTE: CRISE DA IGREJA CATÓLICA;
  • NASCIMENTO DA CIÊNCIA MODERNA.

CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS:

  • ANTROPOCENTRISMO, HUMANISMO, RACIONALISMO (DECADÊNCIA DOS VALORES RELIGIOSOS);
  • A ARTE COMO MÍMESE: IMITAÇÃO DE MODELOS DA ANTIGUIDADE CLÁSSICA (HARMONIA, EQUILÍBRIO, PROPORÇÃO DE FORMAS);
  • SUBSTITUIÇÃO DA MEDIDA VELHA (VERSOS DE 5 E 7 SÍLABAS POÉTICAS - REDONDILHA MENOR E REDONDILHA MAIOR) PELA MEDIDA NOVA, PROVENIENTE DA ITÁLIA (VERSOS DECASSÍLABOS - SONETO);
  • POESIA LÍRICA E POESIA ÉPICA. 

PRINCIPAL AUTOR:

  • LUÍS VAZ DE CAMÕES: SUA POESIA LÍRICA ERA DE INFLUÊNCIA MEDIEVAL E CLÁSSICA, DE TEMÁTICA VARIADA E ABRANGENTE (OS MISTÉRIOS DA CONDIÇÃO HUMANA, A PRESENÇA DO HOMEM NO MUNDO, A EFEMERIDADE DO TEMPO, AS CONTRADIÇÕES AMOROSAS...);
  • ESCREVEU A OBRA "OS LUSÍADAS" - NARRAÇÃO DA HEROICA VIAGEM DE VASCO DA GAMA ÀS ÍNDIAS E A ETERNIZAÇÃO DE UM DOS MOMENTOS MAIS GLORIOSOS DE PORTUGAL: A ÉPOCA DAS GRANDES NAVEGAÇÕES.
 
"O nascimento de Vênus", de Sandro Botticelli

 UM POUCO MAIS SOBRE O ASSUNTO:

Como se sugerisse que o homem estava adormecido durante todo o milênio medieval, surge um movimento cultural que se manifesta na Filosofia, Literatura, Historiografia e Artes denominado Renascimento. No sentido mais amplo, Renascimento é o movimento cultural que, em sua grande diversidade de manifestações, muitas vezes conflitantes, concretiza historicamente a mentalidade renovadora e antimedieval inspirada nos valores culturais da Antiguidade Clássica. Em sentido mais estrito, portanto, esse movimento se caracteriza como a assimilação da cultura greco-latina, promovida pelos humanistas. Nesse período, surgiram nomes representativos do conhecimento universal:

Na Itália:
  •  Francesco Petrarca;
  • Giovanni Bocaccio;
  • Dante Aleghieri;
  • Nicolau Maquiavel;
  • Leonardo da Vinci;
  • Sandro Botticelli;
  • Michelangelo Buonarroti;
  • Ludovico Ariosto.
 Na França:
  • Michel de Montaigne;
  • François Rabelais.
 Na Inglaterra:
  • Tomas Moore;
  • Edmund Spenser;
  • William Shakespeare;
  • Francis Bacon.
Na Holanda:
  • Erasmo de Rotterdam.
Na Alemanha:
  • Martinho Lutero.
Em Portugal:
  • Francisco Sá de Miranda;
  • Luís Vaz de Camões.

EXTRAPOLANDO UM POUCO O ASSUNTO:

Abaixo apresento uma das imagens produzidas por Michelangelo, um dos mais importantes artistas renascentistas, no teto da famosa Capela Sistina "A Criação de Adão". Em seguida, apresento uma releitura fantástica (encontrei essa imagem no Facebook e, mesmo após dias de pesquisas, não consegui identificar o autor). Só para ficarmos inteirados sobre o assunto, chamamos de releitura, no estudo da Arte, uma obra que foi criada a partir de uma obra já existente, ou seja, a releitura é uma técnica que consiste em recriar ou reconstruir uma obra artística empregando o estilo próprio de quem a relê sem, contudo, fugir do tema original. 



quarta-feira, 22 de maio de 2013

A ARTE DA DANÇA NO UNIVERSO CINEMATOGRÁFICO

Muitas obras cinematográficas colocaram a Dança em destaque. Como exemplo, vejamos as cenas a seguir: 



CANTANDO na chuva. Direção de Gene kelly e Stanley Donen. Produção: M-G-M & Arthur Freed. Intérpretes: Gene Kelly, Donald O'Connor, Debie Reynolds. Estados Unidos: 1951. Musical (103 min), DVD.




PINA. Direção e Produção de: Wim Wenders. Intérpretes: Regina Advento, Malou Airaudo, Ruth Amarante, Rainer Behr, Andrey Berezin, Damiano Ottavio Bigi. Alemanha: 2011. Documentário (106 min), DVD. 




GREASE - Nos tempos da brilhantina. Direção de: Randal Kleiser. Produção: Allan Carr e Robert Stigwood. Intérpretes: Olivia Newton-John, John Travolta, Jeff Conaway. Estados Unidos: 1978. Musical (110 min), DVD.


E agora, para encerrar, vamos ver esse vídeo hilário 
que apresenta grandes cenas de Dança retiradas de filmes diversos!!! 

















quinta-feira, 16 de maio de 2013

(CINE) COMENTÁRIO: DA AMIZADE NO FILME "STAND BY ME", DE ROB REINER



 

Quando assisto ao filme Stand by me (1986) fico excessivamente emocionado. O diretor Rob Reiner, por meio desse filme, apresentou ao mundo a obra Outono da inocência - o corpo, de Stephen King, com muita sensibilidade. A propósito, devo ter assistido pela vigésima sétima vez a esse filme – deixo claro que isso não é uma hipérbole – e não me cansarei de revê-lo sempre que a alma precisar repensar os valores da amizade.  
Diante de uma vida tão vazia de verdadeiros amigos, o filme Stand by me, cuja trilha sonora e fotografia são impecáveis, causa uma espécie de dor interior justamente porque coloca em destaque a amizade com teor de infância, de inocência, de pureza que muitos de nós não conseguiríamos mais alcançar. 
Seu enredo é mais ou menos assim: quatro amigos saem para encontrar o corpo de um menino que está desaparecido. Um dos meninos – Vern – colhe as informações sobre como chegar ao menino que, pelo que foi escutado, está morto. A partir daí, nos deparamos com quatro personagens que se reúnem com a intenção de encontrar o corpo do menino desaparecido para, com isso, tornarem-se heróis aos olhos do mundo – o mundo deles é representado pela pequena cidade de Castle Rock. 


          Decididos a tornarem-se heróis, à medida que eles se aproximam do corpo do menino aproximam-se, também, de seus conflitos existenciais, que terminam por lhes proporcionar novas formas de enxergar o mundo: o paradoxo buscar a morte e encontrar a vida deve ser considerado na apreciação dessa obra.
Nesta perspectiva, os meninos empreendem uma aventura sem se darem conta de que estão prestes a se deparar com a ferida existencial do homem por excelência: o encontro inevitável com a morte e seus mistérios indevassáveis. Essa busca proporciona aos aventureiros experiências enriquecedoras, pois todos, ao longo do caminho, deparam-se com suas feridas e precisam superá-las ou, ao menos, lidar com elas.
Teddy, Vern, Chris e Gordie, que são as personagens do filme, vão em busca do corpo do menino morto, como já foi dito, mas será que, em verdade, o que cada um busca de fato não é encontrar-se consigo mesmo?


        E nesse contexto surge a amizade: palavra carregada, para mim, de uma forte carga emocional. Sempre quis entender como ela se processa de modo efetivo no convívio humano e, talvez, esse filme tenha contribuído para que eu entendesse um pouco mais a esse respeito.
Antes que eu me esqueça, vou apresentar alguns detalhes sobre as personagens: Teddy é filho de um ex-guerrilheiro que, louco, certa vez quase o matou queimado; Vern é um menino ingênuo, o “gordo” da turma, de comportamento inseguro e, por isso, fácil de ser manipulado pelos outros; Chris é o mais forte do grupo, o líder que consegue ser racional e seguro de si, apesar dos problemas que tinha que enfrentar com a família sempre mal vista pela cidade; e Gordie, um menino frágil que se sentia ignorado pela família e que perdera o irmão – jogador amado pelos pais e muito popular – recentemente. É Gordie quem, já adulto, narra a história dos amigos que tivera aos doze anos.
Nas últimas cenas, o narrador atira sobre nós uma realidade dolorosa: “Amigos entram e saem da nossa vida...” Essa afirmação amarga é pungente porque é real. O que nos conforta: quem passa por nossa vida sempre deixa alguma recordação e, muitas vezes, essa recordação pode ser tudo em que nos apoiamos para não morrer de eternos vazios. 


Percebo nesse filme que a amizade é vista de modo bem realista, e o narrador termina perguntando se alguém de fato "tem" amigo. E eu penso o seguinte: pode ser que hoje não tenhamos, mas um dia alguns de nós já tivemos, e isso nos aproxima de uma existência mais humanizada.
Stand by me pode ser traduzido como: “fique comigo” ou “fique do meu lado” ou "conte comigo". Quem nunca desejou que houvesse alguém que lhe acolhesse ou representasse cumplicidade nos momentos benévolos e malévolos da vida? Como diz Rachel de Queiroz, numa crônica sobre o assunto: “O lindo da amizade é a gente saber que é querida a despeito de todos os nossos defeitos”. Já Clarice Lispector, num conto sobre a mesma temática, diz que: “Amizade é matéria de salvação”. E é assim mesmo, a meu ver. Amizade representa muito para quem sabe dar o devido valor àquilo que nem sempre se pode perceber, com facilidade, no cotidiano da vida. Enfim.  
                                                                                                                  
TEXTO: ÉMERSON CARDOSO
16.05.13 




segunda-feira, 13 de maio de 2013

GRAMATIC (ARTE): SOBRE ENCONTROS VOCÁLICOS

O Encontro Vocálico ocorre quando aparecem agrupamentos de Vogais e Semivogais numa palavra. De acordo com o modo como ocorrem esses agrupamentos na sílaba, podem ser divididos em Ditongo, TrItongo e Hiato:

DITONGO: quando ocorre o encontro de uma Vogal com uma Semivogal, ou Semivogal com uma Vogal na mesma sílaba. Pode ser dividido em: 

1 - Ditongo Crescente: formado por uma semivogal e uma vogal:

QUASE  PÁRIA  CÁRIE

2 - Ditongo Decrescente: formado por uma vogal e uma semivogal:

MAU  VAI   DEIXE 

3 - Ditongo Oral: o som é expelido totalmente pela boca: 

PAI  VOU  MEU CAIXA 

4 - Ditongo Nasal: o som é expelido parcialmente pelas fossas nasais:

QUANDO  MÃE  NÃO  TEM

TRITONGO: quando há o encontro de uma Semivogal, uma Vogal e uma Semivogal na mesma sílaba. Pode ser dividido em: 

1 - Tritongos Orais: 

IGUAIS   AVERIGUOU   PARAGUAI 

2 -  Tritongos Nasais: 

SAGUÃO  ENXAGUEM  SAGUÕE

HIATO: é a reunião de duas vogais que, na separação silábica, ficam separadas.

CA-I   A-IN-DA    DI-A    VO-O    ÁL-CO-OL

DICA IMPORTANTE: os Encontros Vocálicos ia, ie, ua, ue, uo que apresentam finais átonos, seguidos ou não de / s /, classificam-se quer como Ditongos, quer como Hiatos, uma vez que ambas as emissões existem no domínio da Língua Portuguesa. Veja os exemplos:

DITONGOS  &  HIATOS
HIS-TÓ-RIA / HIS-TÓ-RI-A
SÉ-RIE / SÉ-RI-E
PÁ-TIO / PÁ-TI-O
TÊ-NUE / TÊ-NU-E
ÁR-DUA / ÁR-DU-A
VÁ-CUO / VÁ-CU-O
SUA / SU-A

Agora, para ilustrar, vamos procurar despretenciosamente encontros vocálicos nas canções a seguir? Eis uma forma interessante de aprender um pouco de Gramática e, ao mesmo tempo, contemplar a letra de canções belas, líricas, singelas e, por isso, comoventes! Vamos identificar Ditongos na canção "Efêmera" e "Monomania", Hiatos na canção "Dançando" e Tritongo em todas as letras. Quem quiser escutar grandes vozes e vislumbrar qualidade, beleza e arte, fique à vontade para correr em busca das canções que essas cantoras grandiosas nos apresentam:


       


EFÊMERA
(Tulipa Ruiz)

Vou ficar mais um pouquinho,
Para ver se acontece alguma coisa
Nessa tarde de domingo.


Congela o tempo pr'eu ficar devagarinho
Com as coisas que eu gosto
E que eu sei que são efêmeras
E que passam perecíveis
Que acabam, se despedem,
Mas eu nunca me esqueço.


Vou ficar mais um pouquinho
Para ver se eu aprendo alguma coisa
nessa parte do caminho.


Martela o tempo pr'eu ficar mais pianinho
Com as coisas que eu gosto
E que nunca são efêmeras
E que estão despetaladas, acabadas
Sempre pedem um tipo de recomeço.


Vou ficar mais um pouquinho, eu vou.

Vou ficar mais um pouquinho
Para ver se acontece alguma coisa
Nessa tarde de domingo.


Congele o tempo pr'eu ficar devagarinho
Com as coisas que eu gosto
E que eu sei que são efêmeras
E que passam perecíveis
Que acabam, se despedem,
Mas eu nunca me esqueço.


Por isso vou ficar mais um pouquinho
Para ver se eu aprendo alguma coisa
Nessa parte do caminho.


Martela o tempo pr'eu ficar mais pianinho
Com as coisas que eu gosto
E que nunca são efêmeras
E que estão despetaladas, acabadas
Sempre pedem um tipo de recomeço.






MONOMANIA

(Clarice Falcão)


Já te fiz muita canção
São quatro, ou cinco, ou seis, ou mais
Eu sei demais
Quedemais

Eu chego com um violão
Você só tá querendo paz
Você desvia pra cozinha
E eu vou cantando atrás


Hoje eu falei
Pra mim
Jurei até
Que essa não seria pra você
E agora é


Hoje eu falei
Pra mim
Jurei até
Que essa não seria pra você...


Se juntar cada verso meu
E comparar
Vai dar pra ver
Tem mais você que nota dó
Eu vou ter que me controlar
Se um dia eu quero enriquecer
Quem vai comprar esse cd
Sobre uma pessoa só?


Hoje eu falei
Pra mim
Jurei até
Que essa não seria pra você
E agora é


Hoje eu falei
Pra mim
Jurei até
Que essa não seria pra você
E agora é




DANÇANDO
(Pitty)

Eu sei que lá no fundo
Há tanta beleza no mundo
Eu só queria enxergar

As tardes de domingo
O dia me sorrindo
Eu só queria enxergar

Qualquer coisa pra domar
O peito em fogo
Algo pra justificar
Uma vida morna

O mundo acaba hoje e eu estarei dançando
O mundo acaba hoje e eu estarei dançando
O mundo acaba hoje e eu estarei dançando com você

Não esqueço aquela esquina
A graça da menina
Eu só queria enxergar

Por isso eu me entrego
  A um imediatismo cego
Pronta pro mundo acabar

Você acredita no depois?
Prefiro o agora
Se no fim formos só nós dois
Que seja lá fora

O mundo acaba hoje e eu estarei dançando
O mundo acaba hoje e eu estarei dançando
O mundo acaba hoje e eu estarei dançando com você










sábado, 11 de maio de 2013

ANGOLA: UM POUCO DOS VALORES LITERÁRIOS DE UMA TERRA EM BUSCA DE LIBERTAÇÃO



  

Ao realizarmos uma análise sobre a história do continente africano é possível constatar a realidade crítica a que se submeteram os nativos desse continente em decorrência das ações, muitas vezes desumanas, dos invasores europeus. Essas invasões às terras africanas começaram em meados do século XV com o intuito, dentre outros fatores, de expansão de novos mercados comerciais. Assim, os europeus estabeleceram seus domínios nos litorais da África e, com isso, foram implantando princípios de colonização pautados na exploração efetiva dos bens existentes nas terras “descobertas” e na destituição dos valores identitários dos povos que nelas habitavam.
Surgiram inúmeros problemas a partir da expansão colonialista na África, dentre eles: a forte desorganização das atividades produtivas, a diminuição absurda da população devido à escravização, as alianças entre europeus e classes dirigentes africanas, a criação de fronteiras políticas artificiais causadoras de guerras interétnicas e tribais, além da instituição de inferioridade racial.
Esses fatores construíram a imagem dos países africanos que a grande mídia apresenta na contemporaneidade. Foram responsáveis, também, pela desvalorização dos princípios morais constituídos por algumas comunidades nativas que, no início da colonização, não se percebiam vilipendiadas pelos interesses capitalistas dos invasores europeus. Desse modo, o poderio colonialista se apoderou da África e implantou a cultura europeia determinada por acessos de tirania e despotismo.
Muitos países na África sofreram essas invasões perpetradas pelos expansionistas alemães, franceses, ingleses, holandeses, dentre outros. Portugal, pioneiramente, foi um dos países desejosos de propagar a “arte” da expansão de seu poderio em novas terras.
Angola foi uma dessas terras “conquistadas” pela expansão lusitana e, como demais países, sofreu os impactos da tirania dos colonizadores. Desbravada em 1484, o expansionismo português estabeleceu uma aliança com o reinado existente na terra angolana. Na segunda metade do século XVI os portugueses apropriaram-se, definitivamente, de Angola. A colonização no país se consolidou, no interior, a partir do século XIX e os cursos fluviais foram determinantes para que isso ocorresse. Após séculos de domínio, só em meados de 1960 a população angolana deixou de agir passivamente diante do domínio luso e demonstrou força e luta tendo como exemplo a independência conquistada em outros países da África.
Como um dos meios reivindicativos utilizados por Angola surge, nas primeiras décadas dos anos 60, um movimento revolucionário organizado pelo "ABC – Diário de Angola": o I Encontro de Escritores de Angola, realizado em Lubango de 19 a 27 de janeiro de 1963, com trinta e três participantes. Ganhou repercussão também, nesse período, o "Prêmio Literário Maria José Abrantes da Motta Veiga", atribuído anualmente em Luanda. E os últimos anos da década de 50, e início da década de 60, foram caracterizados por vasta agitação política perpetrada pelo MPLA – Movimento Pela Libertação de Angola. Muitos adeptos desse movimento político foram presos – dentre eles escritores que representaram a produção literária engajada que, por meio da arte, exprimiam as perspectivas ideológicas que poderiam mudar a realidade sociocultural do povo angolano.
Sobre esse acontecimento é marcante a data de 4 de fevereiro de 1961, data que lembra o assalto às prisões de Luanda pelo MPLA. Os manifestantes buscavam libertar os militantes do partido presos há algum tempo. A independência política desse país aconteceu alguns anos depois em 11 de novembro de 1975.
Nesse contexto, se insere a figura emblemática de Agostinho Neto. Nascido em Angola, em 17 de setembro de 1922, foi o primeiro presidente desse país sendo um dos cidadãos mais engajados na luta pela independência de sua terra. Como poeta, desenvolveu obras voltadas para processos ideológicos que apresentavam instigantes construções reivindicativas numa espécie de “grito” intelectual em prol das mudanças que Angola precisava vivenciar. 
Agostinho Neto foi o Primeiro Presidente de Angola
Sua obra é constituída de ideais de renovação e insatisfação mediante a realidade social, política e econômica a que se submetia o povo angolano ante o domínio português e, em suas camadas profundas, expõe o “grito” sublimado através da arte da palavra que expressa, além do grito, a força subsidiadora de um fazer político intrinsecamente ligado ao fazer poético construído a partir de revoltante postura de não mais submissão ante o sistema explorador imposto, durante séculos, pelos colonizadores.
Com base nesses dados, é possível observar os vieses interpretativos da obra de Agostinho Neto e construir inferências diversas acerca de sua produção literária. Presente na obra Sagrada Esperança (1974), apresentaremos a seguir o poema Adeus à hora da largada que, dentre outras possibilidades interpretativas, nos dimensiona a necessidade de insubmissão do povo angolano através de uma voz lírica que, tendo a terra como uma suposta interlocutora, expressa suas insatisfações e reivindicações. 
Esse poema é dotado de um clamor emitido por uma voz lírica que constrói imagens contundentes e que, como se para sensibilizar o povo e instigá-lo à luta, exibe as feridas existenciais dos filhos de Angola sem qualquer temor ante a denúncia presente em seus versos angustiados. A voz lírica invoca diversas vezes sua "Mãe", o que nos possibilita considerar o vocábulo "Mãe" como uma metáfora empregada no texto para associar a terra africana à figura singela de uma "Mãe" que, após dar a luz ao filho e criá-lo, precisasse, enfim, de sua proteção, coragem e luta. A voz lírica personifica a dor de um povo cuja terra em tudo fora explorada, vilipendiada e, em busca de seus valores identitários ultrajados pela presença do branco português, convoca o povo à necessidade de mudança.
Muito poderíamos falar sobre esse poema, mas isso fica para outra ocasião, pois agora se faz necessário que nós o leiamos:

 ADEUS À HORA DA LARGADA

Minha Mãe
           (todas as mães negras
            cujos filhos partiram)
tu me ensinaste a esperar
como esperaste nas horas difíceis


Mas a vida matou em mim essa mística esperança


Eu já não espero
sou aquele por quem se espera


Sou eu minha Mãe
a esperança somos nós
os teus filhos partidos para uma fé que alimenta a vida


Hoje
somos as crianças nuas das sanzalas do mato
os garotos sem escola a jogar a bola de trapos
nos areais ao meio-dia
somos nós mesmos
os contratados a queimar vidas nos cafezais
os homens negros ignorantes
que devem respeitar o homem branco
e temer o rico
somos os teus filhos
dos bairros de pretos
além aonde não chega a luz elétrica
os homens bêbedos a cair
abandonados ao ritmo dum batuque de morte
teus filhos
com fome
com sede
com vergonha de te chamarmos Mãe
com medo de atravessar as ruas
com medo dos homens
nós mesmos


Amanhã
entoaremos hinos à liberdade
quando comemorarmos
a data da abolição desta escravatura


Nós vamos em busca de luz
os teus filhos Mãe
       (todas as mães negras
        cujos filhos partiram)
Vão em busca de vida.

(Agostinho Neto)

TEXTO: ÉMERSON CARDOSO


ALGUMAS OBRAS QUE DISCORREM SOBRE O ASSUNTO: 

ARNAUT, Luiz & LOPES, Ana Mônica. História da África: uma introdução. Belo Horizonte; Crisálida, 2005.

DANTAS, Elisalva Madruga e at all. Textos poéticos africanos de língua portuguesa e afro-brasileiros. João Pessoa: Ideia, 2007.

LARANJEIRAS, Pires. Literaturas africanas de expressão portuguesa. Lisboa: Universidade Aberta, 1995.

CONSULTE TAMBÉM: 

FUNDAÇÃO AGOSTINHO NETO DISPONÍVEL EM: http://www.agostinhoneto.org





Bandeira Nacional de Angola


OBS.: SE ALGUÉM QUISER UM POUCO MAIS SOBRE A OBRA DE AGOSTINHO NETO, LEIA MEU ARTIGO "A ARTE DA PALAVRA E, NA PALAVRA, O GRITO: ANÁLISE DE QUITANDEIRA, DE AGOSTINHO NETO" PUBLICADO EM: http://periodicos.urca.br/ojs/index.php/MigREN/article/view/348