sexta-feira, 6 de outubro de 2023

BREVE RELATÓRIO DO CLUBE DE LEITURA - NOTAS SOBRE A CONTÍSTICA DE ZÉLIA SALES

06 de agosto

O Clube de Leitura para Iniciantes teve início na data de 06 de agosto de 2023, às 10h30, no Bosque do Centro Cultural do Cariri, localizado na cidade de Crato–CE. Na ocasião, foi apresentada a proposta de leitura dos seis encontros que deveriam ser mediados pelo Prof. Dr. Cícero Émerson do Nascimento Cardoso. Nesse sentido, as obras “A cadeira de barbeiro” e “O desespero do sangue”, da escritora cearense Zélia Sales, foram mencionadas, tendo em vista que os encontros tinham como proposta a leitura e o debate de um dos contos do livro “A cadeira de barbeiro”.

Com base nas reflexões explanadas no livro “A literatura como remédio”, de Dante Gallian (2017), o mediador discorreu sobre a relevância de ler e transformar a experiência da leitura em ampliação cognitiva, reflexiva e discursiva dos participantes do Clube de Leitura para Iniciantes, que tem como objetivo, dentre outros, proporcionar no Cariri um espaço de leitura e de debate de obras de autores e de autoras da literatura brasileira.

No primeiro encontro, o texto lido foi “Parque dos horrores”, do livro “A cadeira de barbeiro”. Antes da leitura, que ocorreu de forma interativa, houve breve explanação de notas alusivas às temáticas gerais abordadas pela escritora Zélia Sales, bem como houve menção a componentes biográficos e bibliográficos da autora.

Houve explanação concisa, também, acerca do gênero narrativo conto: definições, componentes estruturais, características gerais etc. Dentre as propostas teórico-críticas, foi apresentada a que se encontra em “Formas breves”, de Ricardo Piglia (2004).

Com base no conto lido, a discussão foi direcionada para diversos temas, dentre os quais: memória, conflitos familiares em torno da relação pai e filha, frustrações da infância, configuração do lúdico no imaginário da criança etc.

O encontro foi concluído com o sorteio, entre os presentes, de diversos livros teórico-críticos e ficcionais.

13 de agosto

No segundo encontro, o texto lido foi “Mas havia uma criança morta na mesa, no centro da sala”, do livro “A cadeira de barbeiro”. Antes da leitura, houve breve predição acerca da obra e, após a leitura interativa, houve debate alusivo aos temas: morte na infância, alienação parental, conflitos familiares em decorrência da separação conjugal, ausência paterna etc.

Como nesta data foi comemorado o Dia dos Pais, as discussões foram invariavelmente alusivas a essa data, tendo em vista que o texto possibilitou esse tipo de debate. 

20 de agosto

No terceiro encontro, o texto lido foi “Circo Íbis”, do livro “A cadeira de barbeiro”. Antes da leitura, houve breve predição acerca da obra e, após a leitura interativa, houve debate alusivo aos temas: curiosidade infantil, frustração na infância, maternidade, conflitos decorrentes do patriarcado, exploração do trabalho, erotização da figura feminina etc. 

O encontro foi concluído com o sorteio, entre os presentes, de diversos livros teórico-críticos e ficcionais, dentre eles o livro “A cadeira de barbeiro”, que foi doado pela própria autora para ser sorteado. A participante Elisabete Pacheco venceu o sorteio.  

27 de agosto

No quarto encontro, o texto lido foi “Tia Cândida”, do livro “O desespero do sangue”. Antes da leitura, houve breve predição acerca da obra e, após a leitura interativa, houve debate alusivo aos temas: velhice, demência cognitiva, culpa, conflitos decorrentes do patriarcado, superdimensionamento de responsabilidades direcionadas à figura feminina, morte etc. 

O encontro foi concluído com o sorteio, entre os presentes, de diversos livros teórico-críticos e ficcionais. 


03 de setembro

No quinto encontro, o texto lido foi “Mercado de carnes”, do livro “O desespero do sangue”. Antes da leitura, houve breve predição acerca da obra e, após a leitura interativa, houve debate alusivo aos temas: prostituição infantil, conflitos decorrentes do patriarcado, depreciação da figura feminina, erotização em contexto de pré-adolescência etc. 

O encontro foi concluído com o sorteio, entre os presentes, de diversos livros teórico-críticos e ficcionais. 




10 de setembro

No sexto e último encontro, o texto lido foi o que dá título ao livro: “O desespero do sangue”. Antes da leitura, houve breve predição acerca da obra e, após a leitura interativa, houve debate alusivo aos temas: conflitos decorrentes do patriarcado, poder de escolha da mulher, relações familiares, maternidade, feminicídio etc. 

O encontro foi concluído com o sorteio, entre os presentes, de diversos livros teórico-críticos e ficcionais. Dentre os livros, foi sorteado o que intitula o conto lido no encontro. Quem o recebeu foi novamente a participante Elizabete Pacheco.







 

REFERÊNCIAS:

CARDOSO, Émerson. Notas sobre ‘A cadeira de barbeiro’, de Zélia Sales. 2018. Disponível em: https://emersoncardosoemerson.blogspot.com/2018/01/resenha-critica-notas-sobre-cadeira-de.html. Acesso em: 06 ago. 2023.

GALLIAN, Dante. A literatura como remédio: os clássicos e a saúde da alma. São Paulo: Martin Claret, 2017.

PIGLIA, Ricardo. Teses sobre o conto. In: Formas breves. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

SALES, Zélia. A cadeira de barbeiro. Fortaleza: Luazul Editora, 2015.

_____. O desespero do sangue. Fortaleza: Luazul Editora, 2017.

CRÔNICA: "O ESGOTAMENTO MENTAL QUE ME AGRIDE"


Não vou definir o que é esgotamento mental. Vou dizer, apenas, que meu esgotamento mental existe e eu estou perplexo com a dificuldade das pessoas em compreender que alguém pode ficar nessa situação.

Tenho histórico de esgotamentos. Vivenciei essa nefasta experiência durante a graduação e as pós-graduações, no ambiente de trabalho, no convívio familiar e em diversos momentos da minha vida. Quando olho para trás, constato que o esgotamento mental me foi uma presença constante. Ele me causa sensações terríveis: tontura, fadiga, angústia, sensação de febre, dores musculares, tensões, insônia, dores de cabeça, visão turva, taquicardia, impaciência, desespero, falta de concentração, tendência ao isolacionismo, medo, tristeza, dor e ausência de esperanças. 

Neste momento em que escrevo, estou excessivamente cansado. O corpo e a mente gritam. A vida parece um eterno caminho de pedras a ser transposto por obrigação e a ser suportado mesmo que a duras penas. 

Estou cansado. Não digo que estou cansado da vida. Estou cansado de conduzir a vida desse modo um tanto grosseiro: sem paz, sem forças, sem descanso, sem afetos verdadeiros, sem compreensões tão necessárias para o convívio social e repleto de obrigatoriedades e cobranças acríticas. 

Estou exausto. Pessoas mais próximas estranham meu desejo de isolamento. Às vezes, o mundo parece um buraco que deve ser evitado. Sim, porque o mundo não se faz amável. Ele quer nossa energia e, infelizmente, essa energia já se exauriu. Na urgência de atender a esses ditames, a pessoa adoece e cai no mais absoluto esgotamento. O fundo do poço não instiga esperança de portas ou de escadas.

Estou esgotado. Quero descansar. Preciso descansar. Exijo de mim mesmo um resquício de descanso. Ainda não sei como fazê-lo, mas estou em busca de algum oásis que anule esse caos construído em meu derredor. 

Não tenho ânimo para viagens, trilhas, atividades físicas, convívios, trabalho e atividades intelectuais. Como tenho compulsão por escrever, é tudo o que me resta. Escrever tem sido um subterfúgio, mas sabemos que essa atividade também pode nos esgotar. 

Enfim, estou cansado como poucas vezes estive na vida. Quero algum alento. Não sinto que a vida pode melhorar se não me for possível vivenciar esse descanso. Torço para pessoas do meu convívio não estarem na mesma situação que eu, porque não é tranquilo lidar com isso. Enquanto busco meu descanso de algum modo, uma vez que se eu permanecer desse jeito não resistirei, vou torcendo para que o mundo seja menos caótico e mais leve. 

Inspirado na irônica canção "Fundo do poço", de Clarice Falcão, também vou criar estratégias para decorar meu fundo do poço e transformá-lo em espaço de descanso. Enquanto não me vem a energia necessária para tal empreendimento, vou escrevendo daqui desse poço profundo. Fui atirado nele pelas exaustivas circunstâncias da vida, porém farei de tudo para transformá-lo em espaço de descanso.

Émerson Cardoso
12/09/2023 

CRÔNICA: "O CALOR REINA NO MUNDO"


Hoje, quando o calor reina no mundo, sinto que não é possível enfrentá-lo sem aceitar que nós temos colhido o que plantamos. A mediocridade do ser humano tem destruído o planeta e, agora, temos constatado a natureza mostrando sua capacidade de ensinar pela dor.

Não é que eu seja de todo pessimista, mas tampouco sou a viva esperança, de modo que ouso dizer: a humanidade pagará caro por ter desrespeitado a natureza da qual nunca deixou de fazer parte - embora faça de tudo para isentar-se dessa participação inequívoca.  

Ultimamente, além do calor, tem sido cansativo conviver com o mundo. Não tenho estrutura psíquica que me torne capaz de prosseguir com as máscaras sociais com as quais precisei deslizar em mil convívios. Quero leveza, sabe? Para ser leve, precisarei fugir de amarras criadas no entorno das relações. Também precisarei acender fogueira com as máscaras que já não cabem mais em meu rosto exaurido. 

Enquanto escrevo, sem ter exatamente condições de prosseguir, sinto que a noite me convida a um adormecimento incapaz de me acalentar. Estou exaurido demais para conseguir firmar meus sonhos em algum lugar capaz de me caber com minha angústia imensa, porém necessária em mim - sem ela não serei eu em minha essência. 

07/10/2023