segunda-feira, 21 de abril de 2025

MEU ROMANCE: "O CASARÃO SEM JANELAS"


Um escritor inseguro quanto ao seu ofício depara-se com uma cena: há uma velhinha sentada no alpendre de um casarão construído, há anos, no sopé da Chapada do Araripe, floresta que corta, dentre outras cidades, Crato – cidade do Ceará que é uma das mais relevantes do Cariri. 

A partir dessa imagem, o escritor decide contar uma história. Quem construiu o casarão? Por que o construiu sem janelas? Quem era aquela velha solitária cujo olhar comovente parecia perder-se em cenário tão desolador? Na tentativa de desvendar o olhar anônimo dessa personagem, o escritor passa a contar a história do casarão, construído sem janelas, e a história de seus habitantes. 

Para contar essa história, o escritor dá voz a algumas personagens para que elas apresentem suas versões dos fatos. Com uma linguagem que tenta reproduzir as idiossincrasias linguísticas da região em que as personagens estão inseridas, surgem os depoimentos de Augusta (a ex-escravizada cujo comportamento ambíguo movimenta consideravelmente a trama) e das irmãs: Maria dos Anjos (dona do casarão e responsável por sua revitalização), Angelita (que, após um casamento conturbado, foge do marido e vai buscar abrigo no casarão da irmã) e Lina (a versão jovem da velhinha que, no início do romance, aparece no alpendre e estimula o escritor a desvendar sua história). 

Outras personagens ganham voz na enredística: uma personagem emudecida que se chama Maria Tacita (suas intervenções são indicadas por meio de pontilhados), o Tempo (que, ao narrar, parece primar por intenso lirismo), o Açude (que narra fatos vinculados, especificamente, à personagem Ana, filha de Angelita), o Silêncio (que, em verdade, é o não-dito da personagem Maria Tacita), a Solidão (que enfatiza a visita de Lina a Juazeiro do Norte, momento em que surge o Padre Cícero) e, por fim, o Casarão (que, considerado maldito pela circunvizinhança, apresenta uma versão elucidativa acerca de sua construção e das pessoas que nele habitam).  

O título da obra metaforiza a condição das personagens femininas que vivem o enredo. A ausência de janelas no casarão representa, nas camadas profundas do texto, a esterilidade a que a visão patriarcal submete a mulher. Vítimas dos mais diversos conflitos existenciais, as personagens desse romance formam uma confraria de sujeitos femininos que tentam, até mesmo contra o tempo e suas devastações, transgredir regras estipuladas socialmente e sobreviver – mesmo quando a morte parece algo inevitável.


Para ler, gratuitamente, click aqui:


segunda-feira, 24 de março de 2025

OFICINA DE GÊNEROS DIGITAIS (MINISTRANTES: EVELYN E LUIZ HENRIQUE)

 O que são gênero digitais?

     

Os gêneros digitais são formatos de comunicação e expressão que surgiram ou se popularizaram com o advento da internet e das tecnologias digitais. Eles são caracterizados por sua adaptação ao ambiente virtual, combinando texto, imagens, áudio e vídeo de forma interativa e dinâmica. Esses gêneros são amplamente utilizados para informar, entreter, educar e conectar pessoas em diferentes contextos.

Todo gênero textual, seja ele simples ou complexo, tem o poder de gerar uma resposta. Uma conversa casual, por exemplo, é um gênero discursivo em que a troca de conhecimento acontece de forma direta e imediata. Nesse tipo de interação, ambos os interlocutores assumem um papel ativo, construindo juntos o diálogo e respondendo instantaneamente às ideias apresentadas.

 No entanto, quando nos voltamos para gêneros mais complexos, como um livro, um artigo ou até mesmo um filme, a dinâmica da resposta muda. Nesses casos, a reação pode ser retardada, ou seja, não acontece no mesmo momento em que o conteúdo é consumido. O leitor ou espectador precisa de tempo para processar as informações, refletir sobre o que foi apresentado e, só então, formular sua resposta. Essa resposta pode se manifestar de diversas formas: uma resenha, um comentário em um blog, uma discussão com amigos ou até mesmo uma mudança de opinião sobre um determinado assunto.

Voltando ao Pré-Modernismo, por exemplo, temos um período literário marcado por discussões profundas que denunciam as injustiças sociais da época. As obras desse período não apenas retratam as desigualdades e os conflitos do início do século XX, mas também trazem para o debate temas polêmicos e relevantes, como o abandono das populações marginalizadas e as tensões entre tradição e modernidade. Tudo isso é apresentado com base em uma visão crítica girando em torno dos desafios e das contradições da época.

Vejamos alguns desses exemplos em grandes obras desse período:

Confira mais sobre o autor: https://www.ebiografia.com/lima_barreto/

 Confira mais sobre o autor: https://www.ebiografia.com/graca_aranha/

Confira mais sobre o autor: https://www.ebiografia.com/augusto_anjos/

Os trechos selecionados expressam ideias semelhantes ao que vemos nos dias de hoje? Além disso, propomos uma reflexão: se os autores dessa época estivessem vivos hoje, como você acha que se expressariam?

ANEXOS DOS MEMES E TWEETS

REFERÊNCIAS:

ALVES FILHO, Francisco; SANTOS, Leonor Werneck; RAMOS, Paulo. Gêneros digitais: muito além do hipertexto. In: MARQUESI, Sueli Cristina; PAULIUKONIS, Aparecida Lino; ELIAS, Vanda Maria (org.). Linguística textual e ensino. São Paulo: Contexto, 2017.

ANJOS, Augusto dos. Eu e outras poesias. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1998.

ARANHA, Graça. Canaã. São Paulo: Martin Claret, 2013.

BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do Discurso. Tradução de Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2016.

BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma. São Paulo: Penguin-Companhia das Letras, 2011.