1.
Você poderia me dizer seu nome artístico, onde nasceu e qual sua formação
acadêmica?
Meu nome artístico é Jorge Nogueira. Nasci em Jaguaribe, Ceará. Sou Mestre em Biblioteconomia pela UFCA, Especialista em Pesquisa Científica pela UECE e Graduado em Biblioteconomia pela UFC.
2. Para você, o que é literatura e
qual a importância dela em sua vida?
A boa literatura é vida pulsante! É
prazeroso, é um aprendizado constante, é o melhor hobby que se pode ter. É
viajar sem sair do lugar, é conhecer lugares, culturas, outros mundos, pessoas
(sim, quando os personagens são bem construídos, são quase como nós, reais) que
jamais teríamos acesso se não fosse pela literatura. A literatura me ajudou a
entender quem sou, a me aceitar enquanto um homem gay, a entender que a vida é
muito mais do que o meu olhar me permite ver. Na adolescência, quando sofria
bullying com frequência, os livros eram meus melhores amigos e sei que sempre
farão parte de minha vida.
3. Como começou seu desejo de
escrever (família, escola ou outros meios)?
Lembro que comecei a escrever como
uma tentativa de entender o que sentia, de expurgar todos aqueles sentimentos
ruins. Eram, em sua maioria, poesias mórbidas, depressivas. Mas nem todas.
Escrevia também como uma forma de entender o mundo ao redor, de captar a beleza
em palavras.
4. Qual a importância de ler em um
país considerado pouco leitor?
Ler nos permite ter uma visão crítica
sobre tudo, nos faz menos dependentes do olhar do outro e capazes de perceber o
quanto estamos constantemente passíveis de manipulação, seja da mídia, de
políticos, religiosos etc. São tantos benefícios! Especificamente sobre a
leitura de ficção, penso que nos permite ter mais empatia pelo outro e por nós
mesmos, entender que somos tão diversos mas ao mesmo tempo tão iguais, no que a
gente sente, sabe? E aquela frase famosa sobre quem lê vive muitas vidas pra
mim é real.
5. Tendo em vista que quem escreve
deve estar sempre em contato com obras literárias, quais são as leituras que
você realiza e quais são seus autores e autoras preferidos?
Leio sempre livros de ficção,
principalmente contos e romances, dos clássicos aos contemporâneos. Também
poesia e crônica. Muita literatura brasileira. Também leio não ficção e livros
de escrita criativa. Com relação aos meus autores favoritos, tenho muitos:
Dostoiévski, Tolstói, Tchekhov (amo os russos), Saramago, Kafka, Fernando
Pessoa, Elena Ferrante, Haruki Murakami, Guimarães Rosa, Machado de Assis,
Lygia Fagundes Telles e outros.
6. Qual obra literária você considera
indispensável em sua formação de escritor?
Contos de Machado de Assis, Lygia
Fagundes Telles, Clarice Lispector, Caio Fernando Abreu, Moreira Campos,
Antonio Carlos Viana e vários outros.
7. Você poderia contar um pouco sobre
seu processo de escrita?
Escrevo geralmente a partir de um
tema. Em seguida, penso em uma situação que possa trazer o tema para um
contexto real. Materializá-lo. Depois, penso em qual seria o melhor narrador
para a história. Mas nem sempre é assim. Já aconteceu, por exemplo, de surgir
um personagem e a história se desenrolar a partir dele.
8. Este é seu primeiro livro? Como
ele nasceu?
Sim, o primeiro. Ele nasceu a partir
de contos já escritos durante anos e outros que escrevi para que pudesse me
inscrever no Edital de Incentivo às Artes da SECULT–CE. A ideia inicial era de
um livro com temáticas sobre o universo gay e protagonismo de homens gays ou
bissexuais.
9. Pensa em escrever outros livros?
Quais temas poderiam surgir neles?
Sim! Inclusive, estou no processo de
escrita do meu novo livro de contos, intitulado Canção do riso. Diferentemente
de Inventário dos seus abraços, em Canção do riso, amplio os temas abordados.
Ainda com protagonismo gay e bi, trago nas histórias temas universais como a
morte e o amor, a amizade, as novas configurações das relações, o sexo, o
impacto da internet e das Inteligências Artificiais–IAs, entre outros. Pretendo
escrever um romance em seguida.
10. Escrever é desafiador, mas
publicar é muito mais. Quais são, do seu ponto de vista, os desafios de
trabalhar como escritor no Ceará?
Publicar é caro. Fazer com que o
livro chegue a muitos leitores, mais ainda. E tudo exige dinheiro. O maior
desafio para quem não tem dinheiro sobrando (a maioria de nós) é fazer tudo
isso com poucos recursos financeiros. Os editais públicos são um caminho, como
foi o caso da publicação de Inventário dos seus abraços. Com relação a ser
escritor no Ceará, considero que seja mais difícil ainda, pois a maioria dos
grandes eventos literários, onde os autores podem se mostrar e divulgar o seu
trabalho, acontecem no eixo Rio-São Paulo.
11. Você considera pertinente situar sua escrita a alguma denominação literária (Literatura Cearense, Literatura Homoerótica, Literatura LGBTQIAPN+ etc.)?
Sim, considero. Em um mundo ideal, não precisaríamos colocar os livros nessas “caixinhas”, mas penso que hoje ainda é necessário. Eu escrevo histórias com protagonismo LGBT+, então se algum leitor procurar por histórias assim, conseguirá localizar os meus livros mais facilmente. Mas isso não significa que escrevo só para este público. E fico muito feliz quando vejo leitores não LGBT+ lendo e gostando das minhas histórias.
Sobre o autor:
Jorge Nogueira é graduado em Biblioteconomia, pela Universidade Federal do Ceará (UFC), especialista em Pesquisa Científica, pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), e mestre em Biblioteconomia, pela Universidade Federal do Cariri (UFCA). Vencedor do concurso Diversidade e Resistência: Coletânea Literária LGBT do Ceará e do XII Edital de Incentivo às Artes da SECULT Ceará. Participou da antologia: Juazeiro tem artistas, Juazeiro tem poesia: manifesto poético (2024) e Haicai-Cariri: antologia de haicais (2025). No momento, prepara seu segundo livro de contos: Canção do riso.

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