domingo, 22 de junho de 2014

MODERNISMO EM PORTUGAL (PARTE II) - A TRÍADE DE FEL

Em 1915, em Portugal, surgiu uma revista intitulada Orpheu, cujo principal objetivo era observar valores simbolistas com a intenção de reformulá-los. Dentre seus idealizadores destacam-se: Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros. Estes constituíram a chamada Primeira Geração Modernista de Portugal - geração também denominada Orfista, em decorrência da relação com a revista.

Florbela Espanca não participou da revista Orpheu, mas é considerada integrante dessa geração que introduziu o Modernismo em Portugal. Fernando Pessoa, Mário de Sá-Caneiro e Florbela Espanca são, para mim, a "Tríade de Fel". 


FERNANDO PESSOA

Nasceu em Lisboa, em 1888, porém passou parte de sua infância e juventude em Durban, na África do Sul. Retornou a Portugal e iniciou o curso de Letras, em Lisboa, mas abandonou a universidade. Ao morrer, em 1935, com apenas 47 anos, o poeta ainda era desconhecido em seu país.

Foi o introdutor das vanguardas modernistas em Portugal. Em 1915, com Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros, fundou a revista Orpheu - marco inicial do Modernismo em Portugal. Aos seis anos criou seu primeiro heterônimo: Chevalier de Pás. Posteriormente, vieram Alexander Search, Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro.

HETERÔNIMOS

ALBERTO CAEIRO: Poeta bucólico, vive em contato com a natureza e é considerado o mestre dentre todos os heterônimos. Filósofo, acredita que o homem complicou as coisas com a metafísica e as religiões. Defende, portanto, a simplicidade da vida e a sensação (pensamento do poeta).

RICARDO REIS: Representa o mundo clássico. Monarquista, educado em colégio de jesuítas, valoriza a vida campestre e a simplicidade das coisas. Deixa de lado a emoção, por desconfiar da felicidade extrema.

ÁLVARO DE CAMPOS: Voltado para o futurismo, procura expressar o mundo moderno. É considerado o poeta do "não".



MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO 

Nasceu em Lisboa, em 1890. Ficou órfão de mãe aos dois anos. Em 1912 viajou para Paris, para cursar a faculdade de Direito. Retornou a Lisboa, em férias, e juntou-se ao grupo da revista Orpheu, em 1915. No mesmo ano publica Dispersão e A confissão de Lúcio. De volta a Paris, enfrentou sérios problemas financeiros que o levaram à depressão e finalmente ao suicídio, em abril de 1916. Dedicou-se à poesia, à prosa e ao teatro. Suas personagens são geralmente voltadas para si mesmas, com a personalidade em desagregação, buscando um outro no seu próprio interior que viesse a completá-las. 



FLORBELA ESPANCA

Nasceu em Vila Viçosa e realizou seus estudos em Évora, onde começou a escrever poemas. Seu temperamento forte mistura-se com sua sensibilidade poética, a qual é demonstrada de forma sentimental, firme, transparente e vigorosa, diante dos acontecimentos de sua vida. Muito infeliz nos seus casamentos, deprimida diante da reação da crítica, Florbela demonstrou claramente as fases dos problemas existenciais que sentia: angústias, decepções, desvalorização, tristezas, mágoas, numa época repressora, machista e severa com o sexo feminino. Em 1919 estudou na faculdade de Direito, em Lisboa, publicando sua primeira obra: Livro de Mágoas. Em profundo estado de depressão, totalmente abatida e doente, afastou-se de vez do convívio social com o consolo e a amizade de alguns poucos amigos. Em 1939, faleceu enquanto dormia, por excesso de barbitúricos. Escreveu, também: Livro de Sóror Saudade, Charneca em flor, Reliquiae, Máscaras do destino e Dominó negro


TEXTOS 


LIBERDADE

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro pra ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha quer não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca.

Fernando Pessoa - 16/3/1935



Nenhum comentário:

Postar um comentário