quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

NOTAS DO LIVRO "CARTAS A UM JOVEM POETA", DE RAINER MARIA RILKE


RILKE, Rainer Maria. Poemas e cartas a um jovem poeta. Tradução de Geir Campos e Fernando Jorge. Rio de Janeiro: Saraiva, 2013. 

Carta I

"E nada mais difícil de definir do que as obras de arte - seres misteriosos cuja vida imperecível acompanha nossa vida efêmera. (p. 79)

Só existe um caminho: penetre em si mesmo e procure a necessidade que o fez escrever. Observe se esta necessidade tem raízes nas profundezas do seu coração. Confesse à sua alma: "Morreria, se não me fosse permitido escrever?" (p. 80)

Aproxime-se então da natureza. Depois procure como se fosse o primeiro homem, dizer o que vê, vive, ama e perde. Não escreva poesias de amor. Evite, de início, os temas demasiado comuns: são os mais difíceis. (p. 80)

Fuja dos grandes assuntos e aproveite aqueles que o dia a dia lhe oferece. Fale das suas tristezas e dos seus desejos, dos pensamentos que o tocam, da sua fé na beleza. Diga tudo com sinceridade, calma e humildade. Utilize, para se exprimir, os objetos que o rodeiam, as imagens dos seus sonhos, as suas lembranças. Se o cotidiano lhe parece pobre, não o acuse: acuse-se a si próprio de não ser muito poeta para extrair as suas riquezas. (p. 80)

Uma obra de arte é boa quando nasceu por necessidade: é a natureza da sua origem que a julga. Por isto [...], apenas me é possível dar-lhe este conselho: mergulhe em si próprio e sonde as profundidades de onde jorra a sua vida. Só desta maneira encontrará resposta à pergunta: "Devo criar?" (p. 81)

Carta II

Utilizada pura, a ironia também é pura e não nos envergonha. Se experimenta por ela demasiada inclinação, se receia entre si e ela uma intimidade excessiva, volte-se para coisas grandes e graves, diante das quais ela se torne pequena e como perdida. Desça ao âmago: a ironia não vai até lá. (p. 83)

Carta III

Ser artista não significa contar, é crescer como a árvore que não apressa a sua seiva e resiste, serena, aos grandes ventos da primavera, sem temer que o verão possa vir. O verão há de vir. Mas só vem para aqueles que sabem esperar, tão sossegados como se tivessem na frente a eternidade. Aprendo todos os dias, a custa de sofrimentos que abençoo: a paciência é tudo. (p. 86)

Carta IV

Não procure, por ora, respostas que não lhe podem ser dadas, porque não saberia ainda colocá-las em prática e vivê-las. [...] No momento, viva apenas as suas interrogações. Talvez que, somente vivendo-as, acabe um dia por penetrar, sem perceber, nas respostas. (p. 90)

Por isso, [...] ame a sua solidão, suporte as penas que dela vierem, e, se essas penas lhe arrancarem queixas, que sejam belas queixas. (p. 92)

Alegre-se da sua marcha em frente: ninguém poderá acompanhá-lo. Seja bom para os que ficarem atrás, senhor de si e tranquilo perante eles. Não os atormente com as suas dúvidas; não os assuste com sua crença, com seu entusiasmo, porque não poderiam entendê-lo". (p. 92)

Mas a sua solidão, mesmo nessas condições desfavoráveis, vai servir-lhe de lar e de apoio: a ela ficará devendo todos os seus rumos. (p. 93)

Carta VI

Ora, pense: que seria uma solidão que não fosse uma grande solidão? A solidão é "una" e, por natureza, grande, pesada e difícil de aguentar. (p. 96)

Uma só coisa é necessária; a solidão, a grande solidão íntima. Caminhar em si mesmo e, durante horas, não encontrar ninguém - é a isto que é preciso chegar. (p. 96)

Aplique [...] os seus raciocínios ao cosmo que traz dentro de si e dê o nome que entender a esses pensamentos. Mas, quer se trate de lembranças da sua infância ou da necessidade apaixonada de se realizar, concentre-se sobre tudo o que brotar em si, dando-lhe a primazia sobre tudo o que observar a seu redor. Os seus "acontecimentos" interiores merecem todo o seu afeto. (p. 97)

Carta VII

Não se deixe perturbar na sua solidão pelo fato de sentir desejos de a abandonar. Usadas com calma e reflexão, essas tentações devem mesmo auxiliá-lo como instrumento capaz de alargar a sua solidão num país ainda mais rico e maior. (p. 100)

É bom estar só, porque a solidão é difícil. Se uma coisa é difícil, motivo mais forte para a desejar. Amar também é bom, porque o amor é difícil. O amor de um ser humano por outro é talvez a experiência mais difícil para cada um de nós, o mais superior testemunho de nós próprios, a obra absoluta em face da qual todas as outras são apenas ensaios. (p. 100 - 101)

Toda aprendizagem é uma época de clausura. (p. 101)

O amor é a oportunidade única de sazonar, de adquirir forma, de nos tornarmos um universo para o ser amado. (p. 101)

Quantos jovens existem que não sabem amar, que se limitam a entregar-se, como sucede habitualmente (e decerto a maioria limitar-se-á sempre a isto) e inclinam-se depois sob peso do seu erro! (p. 102)

Na medida em que estamos sós, o amor e a morte tocam-se. As solicitações dessa terrível empresa que é o amor, através da nossa existência, não são à medida dessa vida, e jamais estaremos à altura de merecer o amor desde os primeiros passos. ((p. 103)

Este será o amor [...]: duas solidões que se protegem, se completam, se limitam e se inclinam uma para a outra. (p. 104)

Carta VIII

As tristezas são autoras novas em que o desconhecido nos visita. A alma, assustada e temerosa, cala-se, tudo se afasta, faz-se uma grande tranquilidade e o incognoscível surge em silêncio". (p. 105)




2 comentários:

  1. O senhor como sempre né? Magnânimo, esplêndido. O rei nunca perde a majestade. Parabéns pelo seu incrível trabalho.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. E você super generoso com estes elogios hiperbólicos (rsrsrs)! Abraço!

      Excluir