quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

CARTA (ABERTA) AO POETA DÉRCIO BRAÚNA

Juazeiro do Norte-CE, 10 de dezembro de 2025

Caro Dércio Braúna, 

Venho, por meio desta, dizer da emoção que senti ao receber os livros que você me enviou. Eles chegaram hoje: no Dia Internacional dos Direitos Humanos e no dia em que aniversariam duas autoras cujas obras me fascinam: Emily Dickinson e Clarice Lispector. Tenho mais é que comemorar, hein!

Conheci sua obra através do poeta e dramaturgo Mailson Furtado que, generoso como ele é, falou sobre a beleza de sua escrita e instigou-me a ler seus livros. Os primeiros livros de sua autoria que eu li foram: Como cavalos fatigados abrindo um mar (este livro tem título, capa e textos poéticos maravilhosos demais para que eu possa, com simples palavras, definir) e Aridez lavrada pela carne disto (este, igual ao anteriormente citado, dispõe de título, capa e textos poéticos de tal modo incríveis que não sei como demonstrar o que ele me causou). Lembro de tê-los lido com voracidade no mesmo dia em que eles me chegaram às mãos (e os tenho relido com intenções de escrever algo a respeito deles). 

Eu tive duas sensações com a leitura desses livros: 1) a primeira sensação foi de satisfação ao constatar que, de fato, eu estava diante de um escritor de talento inconteste e que, portanto, deveria figurar como um dos mais representativos dessa nossa Literatura Brasileira Contemporânea (essa literatura que pisa e repisa solo fértil, mas ainda incerto); e 2) a segunda sensação foi de que estava diante de autor que conseguia conjugar conteúdo e forma com maturidade, de modo que foi intensa a experiência de ver: suas abordagens temáticas e sua articulação, sempre expressiva, da linguagem poética (como foi aprazível observar sua maestria no uso de recursos estéticos de que a poesia se vale para manifestar-se sem amarras e sem cerceamentos).   

Agora, estou com os seguintes livros em mãos: Metal sem húmus (2008), Como um cão que sonha a noite só (2010), Escrevivências: livro de vidas imaginografas (em parceria com Joel Neto, 2017), Auto de incineração (2021), Eu talvez desejasse matar poetas: exercícios barrocos (2023) e Três margens para a alquimia dos dias (em parceria com Ícaro Malveira e Kelson Oliveira, 2024). Além desses, recebi, com entusiasmo e alegria, o livro Tentações de sapateiro: o cerco da história na operação ficcional de José Saramago (2023), que é resultado de sua tese de doutorado (produção acadêmica orientada pelo Prof. Dr. Francisco Régis Lopes Ramos). 

Por falar em Régis Lopes, este intelectual cujo olhar para o Juazeiro do Norte tem proporcionado obras-primas da pesquisa acadêmica no âmbito da História, recentemente estivemos juntos e ele falou sobre sua tese. Ele, uma pessoa de generosidade notável, foi quem me instigou a realizar a leitura do seu Tentações de sapateiro, que lerei o quanto antes (assim que concluir a leitura dos livros poéticos). 

O primeiro que vou ler é o seu Auto de incineração, pois do título à capa, devo enfatizar, ele me convida à realização de leitura profunda e atenta. Lerei, daqui a pouco, ele e, na sequência, todos os outros. Será um prazer poder reencontrá-lo pela leitura de seus livros (eu que já o encontrei pessoalmente em contexto rápido). Sabe o que penso a seu respeito? Sinto orgulho por sabê-lo do nosso Ceará. Sim, é gratificante conhecer escritor como você: criativo, ousado, expressivo, crítico, reflexivo e, sobretudo, talentoso. 

Simone Weill escreveu, certa vez, o seguinte: "A atenção é a forma mais rara e pura de generosidade". Ela tem razão. Como mensurar um gesto tão generoso? Como recompensar atitude tão nobre? Ter recebido seus livros, hoje, neste dezembro de sol triste, nesta quarta-feira de esperança precária, foi um oásis, porque seu gesto me lembrou algo indispensável para quem se dispõe a viver a experiência de escrever e de publicar: conhecimentos devem ser compartilhados, arte deve chegar ao coração dos que precisam de bom ânimo e, como diz a canção de Milton Nascimento: "Todo artista tem de ir onde o povo está". 

Você veio para mim, hoje, e eu agradeço demais por ter vindo. Acolherei seu trabalho com atenção e com entusiasmo, pois, neste dia de alegria ausente, nesta horda de mediocridade que a vida tem me proporcionado (sou um dos deprimidos da nação, Dércio!), você me alegrou demais, a ponto de me fazer esquecer da angústia cotidiana tão sufocante quanto desenganadora. 

Para terminar com um tom mais leve, porque não adianta viver de desesperos, quero dizer o seguinte: venha ao Cariri, rapaz, que será uma alegria reencontrá-lo! Temos muitos assuntos de literatura e de vida para conversar. Mailson, de vez em quando, vem ao Cariri (ele, Yane Cordeiro e o Grupo Criar de Teatro estiveram aqui semana passada para apresentar o maravilhoso Cassacos). Venha com eles, viu? 

Abraço fraterno e, mais uma vez (e não o suficiente), muito obrigado! 

Émerson Cardoso

P.S.: Eu li (e estou relendo) a obra Papel Passado: cartas entre os devotos e o Padre Cícero, de Régis Lopes, e estou com mil vontades de escrever cartas, por isso envio esta (simples e carecida de ampliação) para você. 

 



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