quarta-feira, 4 de setembro de 2013

HINO NACIONAL BRASILEIRO (ESTUDO DE VOCABULÁRIO E UMA OPINIÃO NADA ROMÂNTICA)



I
Ouviram do Ipiranga as margens plácidas (tranquilas, serenas)
De um povo heroico o brado (grito, clamor) retumbante (estrondoso, de grande ruído)
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos (brilhantes, resplandecentes),
Brilhou no céu da pátria nesse instante.

Se o penhor (garantia) dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte, 
Em teu seio, ó liberdade, 
Desafia o nosso peito a própria morte!

Ó pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!

Brasil, um sonho intenso, um raio vívido (expressividade, brilho, entusiasmo)
De amor e de esperança à terra desce,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido (transparente, limpo, nítido),
A imagem do Cruzeiro (redução de Cruzeiro do Sul, constelação austral) resplandece. 

Gigante pela própria natureza,
És belo, és forte, impávido (destemido, intrépido, corajoso) colosso (estátua enorme, agigantada, imensa),
E o teu futuro espelha essa grandeza.

Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!

II
Deitado eternamente em berço esplêndido (que tem brilho, que é admirável, magnífico),
Ao som do mar e à luz do céu profundo,
Fulguras (cintilação, brilho), ó Brasil, florão (ornato circular em forma de flor) da América,
Iluminado ao sol do Novo Mundo!

Do que a terra, mais garrida (elegante, alegre, vistosa, vivaz),
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;
"Nossos bosques (mata pequena, porção de árvores reunidas) têm mais vida",
"nossa vida" no teu seio "mais amores". 

Ó pátria amada, 
Idolatrada,
Salve! Salve!

Brasil, de amor eterno seja símbolo
O lábaro (bandeira, estandarte, pendão) que ostentas (ter orgulho, vangloriar-se) estrelado,
E diga o verde-louro dessa flâmula (espécie de bandeira ou pequena chama)
- Paz no futuro e glória no passado.

Mas, se ergues da justiça a clave (bastão, cajado, arma antiga) forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.

Terra adorada, 
Entre outras mil,
És tu, Brasil, 
Ó pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!

Letra: Joaquim Osório Duque Estrada
Música: Francisco Manuel da Silva


ALGUMAS (des) CONSIDERAÇÕES SOBRE A PÁTRIA MÃE (pouco) GENTIL:

O Hino Nacional Brasileiro é muito difundido em época de copa do mundo e durante a inestimável semana da pátria, que ocorre na primeira semana de setembro. O país ostenta em cerimoniais um Hino tido como um dos mais belos do mundo, porém muitos brasileiros não sabem decodificar sua letra (no Brasil, a Educação nunca foi prioridade), e os que conseguem, muitas vezes, dão importância mínima (tentar sobreviver mediante situações grotescas e inóspitas tira do povo o desejo de prestar homenagens a quem quer que seja e de aprender a letra dos hinos que simbolizam a nação). Muitos sequer têm forças para cantá-lo, ou memória para resguardá-lo (no Brasil, a Fome e a falta de programas que assegurem Saúde e qualidade de vida impedem, muitas vezes, que seu povo consiga ânimo para proferi-lo). Quero enfatizar que o Hino Nacional Brasileiro parece contraditório quando cantado por seus representantes políticos que em hipótese alguma amam, idolatram e dariam suas vidas pela pátria que, no Hino, é metaforizada pela figura de uma mãe gentil.  

O verde-louro que poderia representar a natureza pátria e a riqueza da terra perdeu seu tom - a natureza é triturada pela falta de consciência de uns, e a riqueza tem sido roubada dos brasileiros desde que seus invasores por aqui chegaram - é claro que os poderosos deleitaram, e deleitam, os valores da terra em detrimento das mãos vazias dos que vivem à margem das eternas festas promovidas por políticos corruptos.

Para sobreviver a tanto sofrimento, herdamos a resistência dos irmãos africanos com seus corpos lacerados pela desumanidade da escravatura; herdamos a coragem, que ainda tentamos entender se deveria ser aclamada ou repudiada, dos aventureiros que atravessaram o mar para explorar o que a nova terra poderia oferecer; herdamos a capacidade de nos relacionarmos com a terra de modo a reencontrar nela, como sempre fizeram os nativos, possibilidades de vida. Porém, da dor somos herdeiros, do medo somos cativos. Nossa maior herança, disso não tenho dúvidas, é a força interior que se expressa pela resistência ante os muitos algozes que nos fustigaram, e fustigam, ao longo dos séculos de constante retaliação. 

Conclamo todos a, nesta semana da pátria, assistir a três filmes que poderão dimensionar um pouco a visão que tenho em mim sobre o país em que nasci e fui criado. Assista, se puder e quiser, aos filmes: "Batismo de sangue", "Anjos do sol" e "Quanto vale ou é por quilo?"... Em "Batismo de sangue" você sofrerá a dor dos torturados pela ditadura militar; em "Anjos do sol" você se indignará com a infância pisada, destruída e vergonhosa de uma criança que é vítima do comportamento zoomorfizante (com todo respeito aos animais, obviamente) de homens inconscientes de sua baixeza de alma e, no último filme, "Quanto vale ou é por quilo?", você se deparará com a hipocrisia, o falso moralismo e a ganância que caracterizam, há séculos, os poderosos dessa nação. 

Após assistir aos filmes recomendados, volte para a letra do Hino Nacional Brasileiro, leia-a mil vezes e internalize-a. Não deixe de refletir sobre cada palavra de modo a entender de fato o que o eu lírico quer dizer. Em seguida, procure mudar sua visão para que você não seja mais vítima da hipocrisia nacional que costuma cantar o Hino nos jogos da copa do mundo e em cerimônias obsoletas, ilusórias e acríticas que são realizadas sempre na semana da pátria. 

No mais, como canta Nara Leão, numa interpretação magnânima: "Podem me prender, podem me bater / Podem até deixar-me sem comer / Que eu não mudo de opinião." 


Texto de: Émerson Cardoso

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