segunda-feira, 17 de março de 2014

FOLHETO: "A BEATA LUZIA VAI À GUERRA..."


Franco Rabelo “maldito”
Com sua tamanha ambição
Tirou dos Acióli o mito
Da mais alta posição
Quis ser o governador
E seu nome sustentou
Rugindo como um leão.

Mas um problema havia
Na cidade de Juazeiro
Pois quem governar iria
No lugar do tal Rabelo
Era o firme governante
Padim Ciço bom amante
Do sertão e do romeiro.

O governo agora estava
Com seus dois governadores
Franco Rabelo gritava
Com muita raiva e temores:
“Do caminh’eu vou tirar
O tal santo vou matar
E também seus seguidores.”

Da capital se mandou
Tropa de soldado ruim
Foi então que ele pensou:
“De Juazeiro vou dar fim!”
A guerra se preparava
Todo mundo lamentava:
“O que vai ser do Padim?”

Quando a guerra aconteceu
Tirando a paz de Juazeiro
Padim Ciço se benzeu
Protegido por romeiro
Era homem e mulher
Todo mundo tinha a fé
Pra salvar o milagreiro.

E foi nessa estripulia
Que surgiu uma figura
Tinha por nome Luzia
De alma santa e candura
Uma beata valente
Forte como pouca gente
Era bonita, era pura.

Luzia de Deus um soldado
Com um bando de Beata
De vestido maltratado
Gritava: “Por Deus, combata!”
A guerra crescia, crescia
Com a muita valentia
De romeiros e beatas.

A arma do Juazeiro
Eram a fé e oração
A tropa do tal Rabelo
Carregava até canhão
Mas o medo não havia
Na cidade se dizia:
“Franco Rabelo é do cão!”

Foi durante o vil combate
Que a sangue e fogo ocorria
Que se deu o disparate
No coração de Luzia
Um musculoso soldado
De fardamento trajado
Que pra ela um riso ria.

Não conseguia entender
Aquele soldado ruim
Tentou correr pra não ver
O inimigo do Padim
Entre fogo aberto ia
Pra fugir da covardia
Do riso do cabra enfim.

Mas o soldado bisonho
Correu atrás da Beata
Disse num grito medonho:
“Tão bonita em guerra ingrata!”
Segurou com rapidez
Como quem pega de vez
Animal que se arrebata.

A Beata pesarosa
Enquanto a guerra crescia
Fechou o rosto, raivosa,
Nada na vida temia
Muito menos um soldado
 Com as feições de safado
Um rancor nela surgia.

Carregou, bem apressado,
Para longe do conflito
A Beata do sagrado
Com o coração aflito
Como pôde conhecer
Numa guerra uma mulher
De semblante tão bonito?

Distante da guerra forte
O soldado cessou passo
Olhou com furor de morte
E falou com embaraço:
“Que beleza tem você!
Como posso conceber
Você nesse descompasso!”

A Beata agoniada
Com o homem junto a si
Sentiu-se desesperada
Pensou em correr, fugir
Quando escutou a desdita
Do soldado rabelista
Sentiu o sangue sumir.

O soldado indolente
À Beata se agarrou
E deu-lhe um beijo indecente
E depressa se formou
Uma raiva angustiante
Que se firmou no semblante
Luzia, assim, se afastou.

O vestido acinzentado
Que servia de prisão
Foi para longe atirado
Subiu poeira no chão
A Beata se despiu
Quando o soldado lhe viu
Pensava ser ilusão.

O soldado atordoado
Nervoso e co’afobação
Com olhos arregalados
Quase louco de paixão
Tocou o corpo sereno
Sem perceber o veneno
Que chegou na conclusão.

Quando Luzia percebeu
O soldado rabelista
Que sujo do chão se ergueu
Um animal narcisista
Pegou dentro do cabelo
Um punhal que no Rabelo
Enfiou sem dar na vista.

O soldado desalmado
Caído se viu no chão
Um sangueiro desgraçado
Fugiu do seu coração
A Beata vitoriosa
Vestiu-se mais corajosa
E voltou à confusão.

Mas a guerra terminava
Quando chegou ao local
Do conflito o que restava
Luta do bem contra o mal
Foi toda benevolência
A santidade e inocência
Restou a paz divinal.

A cidade do Padim
Iluminada brilhou
A guerra chegou ao fim
Juazeiro se salvou
Todo o povo se sentiu
Como quem se revestiu
Da vida que começou.

Luzia guerreira mais forte
Foi uma mulher fiel
Fugiu da possível morte
Com os auxílios dos céus
Por Juazeiro se arriscou
A vida a Deus consagrou
E fugiu dos escarcéus.

Cícero Émerson do Nascimento Cardoso
(22/10/05 – 05/10 /11)






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