terça-feira, 8 de abril de 2014

NOTAS SOBRE O ROMANCE "SENHORA", DE JOSÉ DE ALENCAR


José de Alencar propõe um programa de Literatura nacional criado a partir das tradições indígenas e da descrição da natureza. Além disso, não deixa de respeitar uma rigorosa consciência estética. Escreve muitos romances que vão dos históricos, regionais, rurais, indianistas  e de costumes aos urbanos. 

O Romantismo brasileiro em prosa teve na figura de José de Alencar seu representante maior. Enquanto no Brasil existia uma comum apreciação à Literatura estrangeira, surge a ideia, por parte de alguns autores, e Alencar está incluído neste grupo, de criação de uma literatura que se pretendia nacional, seguindo as trilhas já indicadas pelos intelectuais da poesia, tida como essencialmente romântica pela construção estética e temáticas abordadas.

O romance brasileiro passa a ser apreciado - embora privilegiasse a classe aristocrática -, e passa a expor o que Schwarz* aponta como "ideologia de segundo grau", ou seja, a construção literária baseada num discurso meramente verbal, ideológico, sem efeito. O romance surge, de certa forma, para entretenimento e não para expor a realidade da sociedade brasileira. 

Dentre as inúmeras obras construídas por José de Alencar, Senhora é, de acordo com Schwarz, um dos "livros mais cuidadosos" do autor, e traz em sua constituição uma formalização estética baseada em dois estilos muito vívidos no romance: o estilo galhofeiro e, por vezes, cômico, representado pelas personagens secundárias; e o estilo sério, representado pelas personagens protagonistas. 

Schwarz afirma ser nesse segundo estilo que José de Alencar se filia à linha do Realismo, demonstrando tendências que buscam mostrar o sentido da realidade local. 

Quanto às personagens secundárias, há um poder subordinador e elas se separam das protagonistas que vivem num círculo restrito. Há um conflito no enredo da obra, mas ele se restringe à Aurélia e Seixas.

O cômico e a galhofa associados às personagens secundárias - que estão fora do círculo aparentemente formal em que se inserem as personagens protagonistas - evidenciam, apesar de certo desprestígio, a confirmação do "abrasileiramento" do romance. 

Em Senhora, duas realidades existem, embora uma se sobressaia à outra. O mundo degradado e a experiência de vida são critérios para a concepção do romance tido como Romântico. 

O romance romântico se estabelece como uma obra de edificação nacional e estabilidade comportamental, diferente do europeu. Em Senhora, as diferenças entre essência e aparência surgem de forma periférica. 

José de Alencar estabelece, num plano primário, a reprodução de conflitos europeus e valores burgueses com as personagens protagonistas, enquanto num plano secundário expõe os problemas brasileiros. O problema ético do romance advém do fato de que ele reproduz o aspecto da sociedade. Surge, dessa forma, a relação da dinâmica de favores e a questão da ideologia de "segundo grau", ou seja, o discurso político não interfere na realidade exposta. 

Apesar do desfecho patético, Senhora figura como uma das mais bem realizadas obras de José de Alencar e pode ser valorativa por trazer à tona, dentre outros temas, a força da figura feminina, a mercadologia das relações e a fragilidade do sujeito ante os sentimentalismos exacerbados. 

TEXTO: Émerson Cardoso

(Este pequeno texto corresponde a notas de um trabalho que realizei, quando aluno de graduação de Letras, na disciplina de: Literatura Brasileira: do Romantismo ao Realismo. Portanto, não se pretende amplo e apenas esboça algumas ideias que poderiam ser interessantes se fossem desenvolvidas. Fica aqui a sugestão a quem se interessar!)

* SCHWARZ, Roberto. Ao vencedor as batatas: forma literária e processos sociais nos inícios do romance brasileiro. 6. ed. São Paulo: Editora 34, 2012. (Coleção Espírito Crítico)

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