domingo, 12 de julho de 2015

SOFIA COPPOLA: DIREÇÃO MARCADA POR UM OLHAR FEMININO


CARDOSO, Cícero Émerson do Nascimento. Sofia Coppola: direção marcada por um olhar feminino. Revista Sétima de Cinema, n. 23, p. 03 - 05, ago. 2015.  

Ante a hegemonia masculina que paira sobre a profissão de diretor cinematográfico, Sofia Coppola parece não ter se sentido tolhida. Sequer o fato de ser filha de um diretor famoso, como é o caso de Francis Ford Coppola, a impediu de desenvolver obras fortemente marcadas por um estilo próprio que enfatiza o universo feminino.   

Sob vigilantes olhares que a acusaram de ser uma péssima atriz, por sua atuação no clássico O Poderoso Chefão – Parte III (1974), Sofia Coppola tem realizado uma filmografia que tem sido considerada superior ao seu desempenho como atriz e, por alguns dos seus filmes, sobretudo o premiado Encontros e desencontros, obteve finalmente o reconhecimento da crítica. 

O tema principal de suas obras é a expressão da alma feminina com seus aprisionamentos, angústias e insatisfações diante da necessidade de se afirmar num universo, por vezes, fustigante para a mulher. Com o diálogo sempre em segundo plano, seus filmes buscam capturar momentos incisivos das personagens em que a comunicação pelo olhar e pelos gestos, mais do que por meio de palavras, dá a tônica da cena. 

Na tentativa de discorrer sobre a feminilidade e suas nuanças, Sofia Coppola cria filmes protagonizados predominantemente por personagens femininas singularizadas pela juventude. Basta observar sua filmografia – curta ainda, embora já delineada por um estilo próprio – para comprovarmos nossa afirmação. 

Seu primeiro longa-metragem foi As virgens suicidas (1999). Em seguida, realizou: Encontros e desencontros (2003), Maria Antonieta (2006), Um lugar qualquer (2010) e o recente The Bling Ring: a gangue de Hollywood (2013). 

Dos filmes realizados pela diretora, As virgens suicidas me causou maior impacto. Adaptação criativa do romance de Jeffrey Eugenides – que publicou sua obra em 1993 –, este filme tem como foco a história de uma família norte-americana frente às mudanças comportamentais típicas da década de 1970. Cinco moças submetidas a rígidos padrões sociais e religiosos, estipulados sobretudo por seus pais conservadores, cometem suicídio num intervalo mínimo de um ano. A grande questão que a obra, por ser rica em vieses polissêmicos, destaca, do meu ponto de vista, é: será que apenas estes fatores impulsionaram as moças à realização de tal ato?

No elenco, têm destaque: James Woods, Kathleen Turner, Danny DeVito, Josh Hartnett e Kirsten Dunst – que voltou a trabalhar com a diretora no filme Maria Antonieta.

A propósito do filme Maria Antonieta, Sofia Coppola apresenta a juventude da personagem histórica evocada no título que, casada com o rei Luís XVI, para estabelecer a união entre a Áustria e a França, se tornou odiada pelos franceses por ser tida como fútil, frívola e promíscua. O filme foi vencedor de vários prêmios – mais que merecidos – concernentes sobretudo ao figurino e à direção de arte. 

Por falar em prêmios, seu filme Encontros e desencontros – no Brasil, o título original Lost in translation perdeu a criatividade do original! –, que lhe rendeu um merecido Óscar de Melhor Roteiro Original, discorre sobre um ator maduro e uma jovem esposa de um fotógrafo, formada em Filosofia, que se conhecem em Tóquio e, em decorrência da solidão e da estranheza do lugar em que se encontram, percebem um no outro o complemento para o vazio que experimentam.

Seu filme Um lugar qualquer, que destaca o suposto tédio em torno da vida dos atores de Hollywood, enfatiza a relação de um ator que se vê forçado a cuidar de sua filha num momento em que uma forte crise existencial o tumultua. Talvez seja, dos filmes da diretora, o que menos impacto poderia causar em seu expectador por tratar-se de um enredo pouco inovador, no entanto Sofia Coppola não foge de sua marcante necessidade de enfatizar o universo feminino – a personagem masculina tem seu mundo alterado e encontra, na afetividade que a filha suscita, uma nova possibilidade de repensar a sua vida aparentemente vazia. 

A crítica tem sido feroz com relação ao novo filme de Sofia Coppola: The Bling Ring: a gangue de Hollywood. Eu, sobre este filme, não poderei comentar, porque ainda não o assisti, mas, pelo que tenho sondado, teremos o mundo hollywoodiano novamente como pano de fundo de uma história contada por ela e a presença de personagens femininas. Espero que esta não perca a densidade psicológica e a leveza que caracterizam obras-primas como: As virgens suicidas e Encontros e desencontros – estas, sim, obras impecáveis da cinematografia universal.

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