quinta-feira, 6 de outubro de 2016

BREVES NOTAS SOBRE O SONETO "ALMA MINHA GENTIL, QUE TE PARTISTE", DE CAMÕES, E "SONETO DE SEPARAÇÃO", DE VINÍCIUS DE MORAES


A produção literária de Luís de Camões, escritor maior da poesia portuguesa, apresenta inúmeras características que a tornam peculiar. Além da epopeia Os Lusíadas, sua obra mais conhecida, foi exímio produtor de sonetos. Dentre as características que podemos ressaltar em sua obra, devemos considerar o forte lirismo com que produziu seus sonetos. Neste gênero textual, desenvolveu discussões acerca do seu tempo, apresentava inferências sobre um amor de cunho platônico e discorria sobre princípios filosóficos e crenças religiosas.
            No soneto “Alma minha gentil, que te partiste”, há a voz de um eu lírico angustiado que, ao remeter-se ao seu amor, que se foi para a eternidade, lamenta profundamente esta separação inevitável. O eu lírico remete-se a um ser a quem devota um amor expressivo e apresenta-se como triste, magoado e perdido nas dores de amar a quem Deus “levou” para a morada eterna.
Nos versos: “Roga a Deus, que teus anos encurtou, / Que tão cedo de cá me leve a ver-te”, podemos perceber a sensação desesperadora a que se submete o eu lírico por ter se separado do seu grande amor, que morreu cedo deixando nele uma espécie de “mágoa, sem remédio”. A temática do amor irrealizado, da sensação de perda, a morte como princípio antagônico da vida, a crença na eternidade da alma, a angústia, melancolia, sofrimento e dor pertinentes à condição humana, são temáticas recorrentes neste soneto amplo em aspectos polissêmicos e lirismo.
            Após esta breve explanação, consideremos o soneto do poeta Vinicius de Moraes, “Soneto de Separação”, poema em que se percebe a mesma temática do texto camoniano: a separação entre dois amantes, embora se possa inferir que apresentam perspectivas diferenciadas quanto à maneira com que o assunto é tratado. No soneto de Camões em análise, o eu lírico expressa sua angústia ao dizer que se separou da sua amada “Tão cedo desta vida”, enquanto o soneto de Vinicius de Moraes apresenta sua constatação sobre a dolorosa separação que, para este, aconteceu também “De repente, não mais que de repente”.
            Quanto à temática, os dois sonetos podem ser muito parecidos, ambos tratam de desencontros, de ilusões e das dores de quem se depara com a fugacidade da vida afetiva. O eu lírico do primeiro texto se mostra mais conformado com a ideia da perda, no entanto isto se dá porque ele acredita na vida etérea como forma de reencontrar a sua amada. O indivíduo se mostra, neste sentido, vítima dos desencontros que a própria sorte, num sentido mais espiritual, revela.
No segundo texto, porém, o eu lírico, num jogo antitético, apresenta a separação de diversas maneiras e não descarta o fato de que tudo, no que diz respeito à vida amorosa, pode mudar rapidamente, e aquilo que se tem em mãos pode deixar de ser em pouco tempo, mas não se percebem processos ideológicos voltados para o fato de que poderia haver continuidade para o amor na vida após a morte. Antes, o amor que deixa de existir com o passar do tempo, no “Soneto de Separação”, é encarado com certo realismo, sem grandes dramatizações, embora conserve o teor lírico que também se faz presente no soneto de Camões.
















  

2 comentários:

  1. análise e comparações fantásticas!

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  2. Vinicius, não amou, possuiu apenas muitas mulheres e para isso, enganou-as com um falso lirismo de ocasião. Um ato mecânico do corpo visando o sexo induzido pelo álcool . Camões como Machado com sua "Carolina" , usaram o alma num lamento sincero de perda .

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