quinta-feira, 6 de outubro de 2016

“NOVELAS DE CAVALARIA” E “LITERATURA CORDEL”


A Idade Média tem início no final do século V, com o avanço do Cristianismo, e estende-se até o século XV. Neste período, surge o primeiro movimento literário da História Ocidental: o Trovadorismo. A principal característica do Trovadorismo foi a produção de poesia acompanhada por instrumentos musicais, ou seja, o fazer poético estava relacionado à ideia de que se produzia o texto para ser cantado com auxílio de instrumentos diversos, além de traduzir os valores morais da época.
            A poesia trovadoresca apresentava três tipologias: Cantiga de amor, Cantiga de amigo e Cantiga de escárnio ou maldizer. Ao mesmo tempo em que os trovadores produziam suas poesias cantadas e musicadas, no Norte da França surgiu um novo tipo de produção literária: as Novelas de Cavalaria. O primeiro produtor deste gênero foi Chréstien de Troyes, autor de Lancelot, e retratava, diferente da idealização amorosa das canções trovadorescas, o amor concreto e realista com relações amorosas que se davam entre nobres. Como eram de caráter pagão, em sua maioria, os poetas exaltavam a valentia, a aventura e a capacidade de conquista. Surgiram, desse modo, as narrativas centradas no Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda.
            Posteriormente, a Igreja passa a aceitar as Novelas de Cavalaria em sua doutrina e surgem novelas em que eram retratados aspectos místicos nas narrativas que se pautavam na valorização de aventuras com sentido religioso. Em suma, a Novela de Cavalaria se caracteriza como o melhor exemplo de prosa medieval em que se ressalta o heroísmo de influência religiosa e feudal.
            Muitos estudiosos da Literatura popular nordestina, mais precisamente estudiosos da Literatura de Cordel, e dos Cantadores Repentistas, buscam, em suas investigações, observar até que ponto essas manifestações literárias sofreram influências da produção trovadoresca criada na Idade Média.
            Sabe-se que a Literatura de Cordel incorporou, de modo recorrente, as características prosaicas pautadas em aventuras e valores medievos presentes nas Novelas de Cavalaria, e os Cantadores Repentistas, em vários aspectos, relembram a associação existente entre poesia oral e música.
            Diante disso, é possível estabelecer um rápido estudo de cunho comparativo entre a produção medieval das Novelas de Cavalaria e a Literatura de Cordel, para ser mais específico, o Cordel Antônio Silvino – o rei dos cangaceiros, do autor Leandro Gomes de Barros, que apresenta a história do cangaceiro Antônio Silvino que faz ameaças ao Padre José Paulino que, segundo é exposto no Cordel, foi responsável pela morte de três cangaceiros do seu grupo por tê-los entregado ao governo.
            No cordel podem ser encontradas várias das características que são pertinentes às Novelas de Cavalaria, mesmo com a distância temporal existente entre essas duas manifestações literárias.
Antônio Silvino assume o papel de herói que, ao reunir homens em bando, passa a viver de supostos crimes enquanto tenta fugir da realidade social a que se submete. Esse bando se desloca por diversos espaços do sertão nordestino guerreando contra o poder governamental da época, tendo como objetivo consciente ou inconscientemente o processo reivindicativo que o tornava um guerreiro inconformado com o sistema social e político de seu tempo. Assim, é possível estabelecer relações de proximidade com os Cavaleiros da Távola Redonda, do reino do Rei Arthur, por estarem ambos distantes de seu espaço de origem à mercê de aventuras e perigos inúmeros com seus respectivos objetivos heroicos. Guerrear era-lhes uma necessidade quase natural mediante as anfractuosidades dos caminhos que percorriam.
            Diferem, no entanto, porque, no caso do cangaceiro, a guerra se estabelecia contra representantes do poder governamental e do clero, enquanto as personagens das Novelas de Cavalaria não se opunham a nenhum sistema social e político, muito menos se opunham ao poder clerical, antes defendiam a Igreja e lutavam em prol desta.
O que os aproxima, ainda, é a manutenção de uma tradição que estabelece hierarquias comportamentais e valores morais no bando como se percebe, por exemplo, no fato de que, ao perder os companheiros do bando, seria imprescindível vingar a morte destes para fazer justiça àqueles que foram fiéis ao grupo. Nem que para isso a Igreja fosse alvo da cólera dos cangaceiros.

            Após esse breve comentário, constata-se o quanto é possível encontrar elementos comparativos que podem ser observados com maior apuro, o que não é nossa pretensão tendo em vista o caráter sucinto de nosso texto.

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