terça-feira, 6 de dezembro de 2016

DEZEMBRO, ESVAZIAMENTOS E CUPINS DE PALETÓ

"Big Man", de Ron Mueck

Eu me pergunto, neste início de dezembro, se o vazio que me acomete a alma é consequência de uma tendência minha à sensibilidade excessiva, ou percepção nada alienada das baixezas humanas que têm tentado, com êxito, destruir o país.

A sensibilidade excessiva e a política não me possibilitam fechar os olhos em busca de alguma paz. O que eu mais queria, no entanto, era fechar os olhos e acordar na mais absoluta serenidade. Queria força interior para mim e coerência e democracia para a política nacional. Como conseguir tais proezas?

O vazio que me tritura liquidifica minhas esperanças e alegrias. Sob meus pés deslizam fragmentos de uma vida em silêncio. Em silêncio como? Vivo aos gritos – e somente eu mesmo os posso ouvir.

Esse vazio indica pessoas ausentes? Os mortos ou os vivos me despertam maior saudade? Não vejo minhas mãos quando o mundo me atravessa com suas inadequações. Quem tem mais inadequação: ele ou eu?

Enquanto biltres se ocupam em destruir – ratos que são – o país, eu me impressiono com a minha própria condição. Fixo um ponto na parede e deixo o mundo girar sem mim. Baratas gordas existem em algum escuro que não posso perscrutar – e como são completas! Nascem para fins específicos sem que haja necessidade de problematizações. Meus olhos fixos no ponto da parede. Incompletude absoluta é a lança que sorve de mim o sangue e a água.

Passeio os dedos sobre as cenas que aprisionei em mim – nunca as saberia descrever. Dor intensa é melhor segredada? O país chora sem hino, sem bandeira, sem ética, sem soluções. Queria um olhar de fraternidade que se transformasse em mãos aguerridas e tirassem de mim a não-força que me fustiga.

Neste dezembro, tão incerto e injusto, quero a paz maior do mundo. Serpentes de paletó preparam botes contra a nação, mas será possível a existência de alguém nascido para um olhar confortador?

Andarei dias e noites fixando pontos incertos, ou encontrarei, finalmente, a pacificidade perdida desde o momento em que nasci e tive que enfrentar os desamparos com choro e ranger de dentes? Será isso? Desamparo? Quem ousou, nesta vida incompleta, me desamparar? Eles não sabiam que eu era de alma frágil?

Será autocomiseração demais para um ser humano só? Dezembro, preciso pedir com ênfase: não permita que os políticos  cupins malignos  comam as pedras que meu povo reuniu com trabalho e honra, também não permita que o vazio arranque de mim a esperança de encontrar novas roupagens para minhas mãos há tanto tempo vazias e sem cor.

Émerson Cardoso
06/12/16

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