quarta-feira, 12 de novembro de 2025

CÍRCULO DE LEITURA: "LEITURA DE TEXTOS DE AUTORIA FEMININA EM PROSA E POESIA"

 


Sinopse

O Círculo de Leitura do Centro Cultural do Cariri propõe, entre agosto e outubro de 2025, na EEM Governador Adauto Bezerra, a atividade: Leitura de textos de autoria feminina em prosa e poesia. Com o objetivo de promover leitura de textos em prosa e poesia de autoras brasileiras diversas, pretendemos realizar apreciação e debate em torno de aspectos formais e conteudísticos presentes em textos que se manifestam em gêneros discursivos variados. Além disso, pretendemos despertar o desejo de ler e de construir, no âmbito escolar, espaços de leitura contínuos.

Classificação indicativa: 12 anos

Público-alvo: Docentes e discentes da EEM Governador Adauto Bezerra

Limite: 20 participantes

12 de agosto

         O Círculo de Leitura, intitulado “Leitura de textos de autoria feminina em prosa e poesia”, teve início na data de 12 de agosto de 2025, às 13h30, no Centro de Multimeios da EEM Governador Adauto Bezerra, localizado na cidade de Juazeiro do Norte–CE. Na ocasião, foi apresentada a proposta de leitura dos seis encontros que deveriam ser mediados por mim. Nesse sentido, os encontros foram divididos em três momentos: 1) leitura de texto poético, 2) leitura de texto em prosa e 3) debate teórico-crítico.

        Assim, no primeiro encontro, foram apresentados, no primeiro momento, um poema de Conceição Evaristo e três poemas de Neuma Xenofonte. No segundo momento, foi lido o conto “O búfalo”, de Clarice Lispector. Para dar suporte à explanação do texto, foi realizada discussão em torno do ensaio: “O amor erótico n’O búfalo, de Clarice Lispector”, de autoria do mediador.    

         Antes da leitura, que ocorreu de forma interativa, houve breve explanação de notas alusivas às temáticas gerais abordadas pela escritora, também houve menção a componentes estruturantes do gênero narrativo conto: definições, aspectos estruturais, características gerais etc. Dentre as propostas teórico-críticas, foi apresentada a que se encontra em “Formas breves”, de Ricardo Piglia.

        Com base no conto lido, a discussão foi direcionada para diversos temas, dentre os quais: amor, ódio, afetividade, solidão, frustrações amorosas etc.

26 de agosto    

         No segundo encontro, foi apresentado, no primeiro momento, um poema de Conceição Evaristo e, no segundo momento, os contos: “Pomba enamorada ou uma história de amor”, de Lygia Fagundes Telles; “Não pode dar certo” e “O grande e o pequeno”, de Adriana Falcão.     

         Antes da leitura, houve breve predição acerca da obra e, após a leitura interativa, houve debate alusivo aos temas: encontro amoroso, busca amorosa, a condição da mulher nos séculos XX e XXI etc. Para o debate, recorremos ao conceito de amor conforme o apresenta Zygmunt Bauman no livro: "Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos". 

09 de setembro

        No terceiro encontro, foram apresentados, no primeiro momento, poemas de Conceição Evaristo e, no segundo momento, foram lidos os contos: “Sacola” e “Gesso”, de Jarid Arraes. Na ocasião, recebemos na escola a visita de um ex-aluno que construiu uma sólida carreira literária, em âmbito nacional, e fez uma fala sobre sua experiência literária: Sidney Rocha. 

23 de setembro

         No quarto encontro, foram apresentados, no primeiro momento, poemas de Cecília Meireles e, no segundo momento, foram apresentados: o conto “Uma amizade sincera”, de Clarice Lispector, e a crônica “Ah, os amigos”, de Rachel de Queiroz.

         Antes da leitura, houve breve predição acerca da obra e, após a leitura interativa, houve debate alusivo ao tema da amizade. Para o debate, recorremos ao texto Da amizade, de Marcus Túlio Cicero. 

         Na ocasião, realizamos debate em torno das aproximações e diferenciações dos gêneros narrativos conto e crônica.

07 de outubro

          No quinto encontro, foram apresentados, no primeiro momento, poemas de Zila Mamede e, no segundo momento, o conto “Olhos d’Água”, de Conceição Evaristo. Para a discussão, foram explanados conteúdos teórico-críticos alusivos à Literatura Afro-brasileira, conforme as abordagens de: Eduardo de Assis Duarte, Conceição Evaristo e Nazareth Fonseca, dentre outros. Nesse sentido, foram abordados os temas: maternidade, memória, afetividade etc.

21 de outubro

           No sexto encontro, foram lidos, no primeiro momento, poemas de Jovina Benigno, com ênfase nos livros “Cruviana” e “As linhas apagadas de minhas mãos”. No segundo momento, foi lido o conto “Amor”, de Clarice Lispector. Antes da leitura, houve breve predição acerca da obra e, após a leitura interativa, houve debate alusivo aos temas presentes no conto. Nessa perspectiva, foram explanados os seguintes temas: epifania, a condição da mulher, reflexões em torno da condição social brasileira, relações familiares, maternidade, erotismo etc. 

          Para o último encontro, os participantes do Círculo de Leitura foram convidados a visitarem o Centro Cultural do Cariri, com transporte disponibilizado pela instituição, e o encontro para leitura se deu na Biblioteca e, depois, no Bosque (espaço no qual foi servido lanche).

          O encontro foi concluído com o sorteio, entre os presentes, de diversos livros teórico-críticos e ficcionais. Dentre eles, foram sorteados: “As linhas apagadas de minhas mãos”, de Jovina Benigno, e o livro “Romanceiros”, de autoria do mediador do Círculo de Leitura.

          Como resultado das atividades realizadas durante o Círculo de Leitura, o Centro de Multimeios pretende prosseguir com o desenvolvimento de novos encontros para leituras e debates. No geral, a experiência foi maravilhosa, pois tivemos um espaço de construção de saberes plurais sob incentivo do Centro Cultural do Cariri, que tem prestado relevante serviço de propagação das artes no Cariri cearense.

REFERÊNCIAS:

ARRAES, Jarid. Redemoinho em dia quente. Rio de Janeiro: Capital das Letras, 2021.

BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. Trad. de Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2016.

BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.

CARDOSO, Cícero Émerson do Nascimento. O amor erótico n’O búfalo, de Clarice Lispector. In: GOUVEIA, Arturo (org.). Sátira, amor, pobreza e anatomia da alusão: ensaios de literatura. Cotia: Cajuína, 2022.

CÍCERO, Marco Túlio. Saber envelhecer e A amizade. Tradução de Paulo Neves. Porto Alegre: L&PM, 2013.

DUARTE, Francisco de Assis. Por um conceito de literatura afro-brasileira. In: DUARTE, E. A. e FONSECA, M. N. S. (org.) Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.

EVARISTO, Conceição. Literatura negra: uma poética de nossa afro-brasilidade. InSCRIPTA, Belo Horizonte, v. 13, n. 25, p. 17–31, 2º sem. 2009. 

________. Olhos d’água. Rio de Janeiro: Pallas: Fundação Biblioteca Nacional, 2016.

FONSECA, Maria Nazareth Soares. Poesia afro-brasileira: vertentes e feições. 2018. Disponível em: http://www.letras. ufmg.br/literafro/artigos/teoricos/ArtigoNazareth. Acesso em: 24 jan. 2020.

LISPECTOR, Clarice. Todos os contos. Rio de Janeiro: Rocco, 2016. 

MAMEDE, Zila. O arado. Natal: EDUFRN, 2023.

MEIRELES, Cecília. Literatura comentada: Cecília Meireles. Seleção de Norma Seltzer Goldstein e Rita de Cássia Barbosa. São Paulo: Abril Educação, 1982.

PLATÃO. O banquete. Trad. de Donaldo Schüler. Porto Alegre: L&PM, 2018.

PIGLIA, Ricardo. Teses sobre o conto. InFormas breves. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

QUEIROZ, Rachel de. Ah, os amigos. InMapinguari: crônicas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1989.

STRAUZ, Rosa Amanda (org.). Elas por elas: histórias de mulheres contadas por grandes escritoras brasileiras. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2018.

TELLES, Lygia Fagundes. Literatura comentada: Lygia Fagundes Telles. Organização de Ligia Chiappini Moraes Leite. São Paulo: Abril Educação, 1980.


sábado, 8 de novembro de 2025

ENTREVISTA: "MINHAS QUATRO FUTURAS EX-NAMORADAS", DE THIAGO MARIANO

1. Você poderia me dizer seu nome artístico, onde nasceu e qual sua formação acadêmica?

Meu nome artístico é Thiago Mariano, mas meu nome completo é Francisco Thiago de Sousa Mariano (Thiago com H). Eu nasci em Juazeiro do Norte, em 1993, aqui no interior do Ceará. Minha formação acadêmica começou em 2011, quando eu entrei em Engenharia de Materiais (me formei 5 anos e meio depois). Em 2020, eu recebi o diploma da segunda faculdade: Pedagogia. E agora, em 2025, eu pretendo finalizar o curso de Jornalismo. Estou no último semestre.

2. Para você, o que é literatura e qual a importância dela em sua vida?

A literatura é uma forma de expressar o que eu sinto, as minhas histórias e até os meus traumas. Usei a escrita para transformar em arte muitas das dificuldades que vivi na infância e na adolescência, principalmente por causa do bullying. O meu livro fala muito sobre isso. O protagonista, por exemplo, é apelidado de Filé de Muriçoca, porque é magro e tem a cabeça grande — do mesmo jeito que eu era zoado na escola, pelos mesmos motivos. Então, para mim, a literatura serve tanto para contar histórias, quanto para extravasar as minhas insatisfações, raivas e frustrações, de um jeito que me faz sentir que existe um pouco de justiça no mundo. É complicado, mas gosto de colocar nas histórias o que vivi — só que de uma forma que ninguém perceba exatamente o que aconteceu.

3. Como começou seu desejo de escrever?

No começo, eu não escrevia com palavras, mas com a oralidade. Quando era criança, eu tinha uma coleção de brinquedos e adorava criar histórias complexas para justificar a existência deles. Eu não queria saber se o Goku já tinha a sua história ou se o Superman vinha dos quadrinhos — eu inventava novas versões, histórias próprias, que faziam com que esses personagens existissem no meu quintal. A minha bicicleta, por exemplo, era um demônio supremo que queria destruir o mundo, e um dos meus bonequinhos era o herói que precisava salvar todo mundo. Eu criava tudo isso de cabeça. Com o tempo, lá pelos 9 ou 10 anos, ganhei um caderno de aniversário — o primeiro que não era para fazer tarefa. Ele tinha o Mickey e o Donald na capa, e eu fiquei empolgado. Foi aí que comecei a escrever minhas primeiras histórias, em forma de quadrinhos. Criei um personagem chamado Coelhato, um coelho mutante superforte, com olhos triangulares, que voava, lançava raios laser e tinha um ponto fraco: ele ficava com muita fome e só queria comer bolacha. Fiz várias HQs caseiras e amadoras com ele. Depois, percebi que desenhar dava muito trabalho e comecei a escrever roteiros para animações. Fiz animações em stop motion, com recortes, e até frame a frame, mas também era trabalhoso demais. Então, pensei: seria mais fácil filmar com atores reais. E foi assim que comecei a criar roteiros de cinema — meu sonho, por muito tempo, foi ser cineasta, mas, com o tempo, percebi o quanto é difícil fazer um filme: precisa de equipe, equipamentos, dinheiro… Então, fui adaptando esse sonho e passei a fazer curtas para a internet. Nesse processo, acabei escrevendo centenas de roteiros. Em algum momento, percebi que seria ainda mais interessante transformar essas ideias em histórias longas, no formato de narrativa literária. Foi aí que nasceu o desejo de escrever livros e levá-los até o fim. A experiência com roteiros me ensinou que eu era capaz de me dedicar por anos a uma história — como aconteceu com Minhas 4 Futuras Ex-namoradas, que levei cinco anos para concluir.

4. Qual a importância de ler em um país considerado pouco leitor?

A leitura é importante, porque ajuda a gente a lidar com os problemas ao nosso redor. E eu não falo nem da leitura apenas como forma de se capacitar ou de ficar mais inteligente — mas como uma ferramenta de felicidade. Ler é uma forma de se sentir bem, de passar o tempo de um jeito realmente único. A ideia de escolher ler, não por falta de opção, mas porque ler é mais divertido do que muitas outras coisas é inspiradora. Encontrar um bom livro e sentir vontade de ler, sem preguiça, é uma dádiva. Pena que, no nosso país, as pessoas não são estimuladas quanto a isso. A leitura traz prazer e conforto. Então, para mim, a leitura é importante, porque ela tem o poder de fazer as pessoas mais felizes.

5. O que o levou a querer escrever?

Sempre gostei de criar e contar histórias — desde pequeno. Primeiro, na oralidade, com meus brinquedos. Depois, em histórias em quadrinhos, filminhos de animação, curtas e até vídeos para o YouTube. Sempre me atraíram histórias que misturam humor, cultura nerd, fantasia e romance. Chegou um momento em que percebi que queria escrever algo maior, algo que mostrasse que eu era capaz de construir uma narrativa mais complexa. Eu também entendi que, enquanto continuasse usando ideias de terceiros — tipo The Flash no Brasil, The Walking Dead no Brasil ou Todo Mundo Odeia o Chris no Brasil —, eu nunca teria uma obra que fosse realmente minha. Então, decidi criar algo totalmente original. Passei cinco anos escrevendo uma história só minha, feita com dedicação, no meu próprio universo — e gostei muito do processo. Foi quando percebi que era isso que eu queria fazer.

6. Tendo em vista que quem escreve deve estar sempre em contato com obras literárias, quais são as leituras que você realiza e quais são seus autores e autoras preferidos?

Eu cresci com muita preguiça de ler. Por anos, achei que eu simplesmente não gostava de leitura, porque os livros que chegavam até mim eram os que eu tinha dificuldade de terminar. Eu não me dava o direito de abandonar um livro no meio — achava que isso era errado. Então, eu me forçava a ler, mesmo que fosse devagar, e isso acabava me travando. Eu lia um livro, demorava muito, e não conseguia seguir para outro. Na adolescência, tudo mudou. Quando conheci livros como O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, e alguns de fantasia, como O Senhor dos Anéis e Harry Potter, percebi que eu gostava de ler, sim, eu só não tinha encontrado as histórias certas. A partir daí, comecei a me apaixonar pela leitura e a entender que eu era mais seletivo: precisava de histórias que realmente me prendessem. Com o tempo, fui descobrindo os livros que me cativavam e até desenvolvi o hábito de reler as mesmas histórias várias vezes, porque me conecto mais fácil com o que já me encantou do que com algo novo que demora a me prender. Entre os autores que me influenciaram estão: Tolkien e J.K. Rowling, mas também Thalita Rebouças, que é a principal escritora do gênero em que eu atuo. Quando li Confissões de uma Garota Tímida, Ansiosa e (Ligeiramente) Dramática, em 2018, fiquei apaixonado pela forma leve e próxima do leitor como ela escreve. Foi por causa desse livro que decidi reescrever Minhas 4 Futuras Ex-namoradas — mudei da terceira pessoa para a primeira pessoa, inspirado na narrativa dela. Além da literatura, também fui muito influenciado por animes, como: Attack on Titan, Death Note, Sword Art Online, Boku no Hero e Hunter x Hunter. Essas obras me despertaram o desejo de escrever histórias que misturassem fantasia, romance e comédia, mas trazendo tudo isso para dentro da cultura caririense — que é onde minhas histórias realmente ganham vida. 

7. Qual obra literária você considera indispensável em sua formação de escritor?

Na minha formação como escritor, existem algumas obras que considero indispensáveis. Eu colocaria 6 obras literárias, já que cada uma impactou em quesitos que compõem a minha linguagem: comédia, romance, fantasia, adolescência e regionalidade. O Auto da Compadecida, por exemplo, foi essencial pela questão do humor e da regionalidade. Harry Potter e O Senhor dos Anéis me marcaram profundamente na fantasia, e eu incluiria também A história sem fim, nesse grupo, porque esse último livro me marcou demais. E, na parte do romance, por mais engraçado que pareça, eu colocaria: Crepúsculo. Essa obra realmente me cativou quando eu era adolescente. Você encontra no meu livro influência do romance sobrenatural entre adolescentes. Quando li os livros e esperava os filmes, entre 2008-2010, eu sentia uma grande vontade de criar uma história que contagiasse as pessoas da mesma maneira que Crepúsculo contagiava aquela geração. Senti vontade de brincar com o amor superestimado adolescente, cheio de intensidade, exagero, mas incluindo ironias, piadas e regionalismo. Já a pegada mais adolescente do livro, na forma de expressar em primeira pessoa, foi inspirada no texto de Thalita Rebouças, com seu livro Confissões de uma Garota Tímida, Ansiosa e (Ligeiramente) Dramática, que foi um divisor de águas durante a minha escrita. 

8. Você poderia contar um pouco sobre seu processo de escrita? Este é seu primeiro livro? Como ele nasceu?

Eu comecei a escrever Minhas 4 Futuras Ex-Namoradas em 2018, quando já fazia cerca de um ano que eu havia criado a premissa — com todos os plots e o desfecho planejados. No início, pensei que seriam três livros, e que cada um contaria a história de uma futura ex. Mas, no meio do processo, decidi que seriam quatro. Assim nasceu o título Minhas 4 Futuras Ex-NamoradasO livro foi crescendo muito com o tempo. Passei cinco anos escrevendo e reescrevendo essa história. A primeira versão tinha mais de 700 páginas. Mesmo depois de revisar e reescrever nove vezes, ele ainda continuava grande, com cerca de 600 a 650 páginas. Percebi, então, que lançar um livro tão longo seria inviável comercialmente — especialmente sendo um autor estreante e independente. Por isso, decidi dividir a obra ao meio e lançar a parte 1, que é essa que está sendo publicada agora. Ela tem 240 páginas, e acredito que cumpre bem o papel de prender o leitor e deixá-lo curioso para a continuação. Apesar de ser o meu primeiro livro impresso, eu já havia escrito outros dois: Guempy – Amor Perfeito (2021) e O Mapa do Guempendoele (2023). Ambos estão disponíveis digitalmente na Amazon KindleEssas histórias fazem parte de um mesmo universo literário, o chamado universo onde guempendoele é real. Trata-se de uma mitologia que eu mesmo criei, inspirada na cultura caririense. 

9. Pensa em escrever outros livros? Quais temas poderiam surgir neles?

Sim, eu tenho vontade de escrever outros livros — inclusive a continuação de Minhas 4 Futuras Ex-Namoradas já está pronta e deve ser lançada no próximo ano. Atualmente, estou finalizando uma nova obra que segue um caminho diferente: uma paródia de super-heróis ambientada no Cariri, chamada O Traumatizador vs. O Tempero. É uma história que mistura sátira e cultura regional, mostrando heróis e vilões inspirados no nosso jeito de ser, nas nossas expressões e na vida aqui da região. Esse livro vai ser mais curto e voltado para o público infantojuvenil, com ilustrações e capítulos curtos, quase como se fossem contos independentes. No início, parece uma antologia, mas aos poucos as histórias se conectam até chegarem a um desfecho comum. É um projeto que me deixa muito empolgado — e a ideia é lançá-lo no Dia do Super-Herói, 28 de abril de 2026.

10. Escrever é desafiador, mas publicar é muito mais. Quais são, do seu ponto de vista, os desafios de trabalhar como escritor no Ceará?

A maior dificuldade para mim não foi escrever o livro — embora tenha exigido muita disciplina manter um projeto por cinco anos, sem ninguém me cobrando ou acreditando muito que eu realmente fosse concluir. O mais difícil veio depois que terminei: juntar maturidade, conhecimento e recursos financeiros para transformar o livro em realidade. Demorei dois anos só pra escolher a capa certa, levantar o dinheiro para publicar e entender que eu não precisava de uma editora. Percebi que, no meu caso, uma editora encareceria o produto e tiraria parte do controle criativo. Então, comecei a estudar sobre serviços editoriais, revisão, diagramação e tudo que envolve as etapas e elementos pré e pós-textuais. Aprendi que o maior desafio de um escritor independente, além de vender, é entender que ele precisa ser mais do que escritor. Precisa ser também empreendedor, comunicador, blogueiro e, muitas vezes, investir tirando dinheiro do próprio bolso por um sonho às cegas para, só depois, talvez, colher algum retorno.

11. Você conhece o conceito de Literatura Infantil, Literatura Infanto-juvenil e Literatura Juvenil? Você considera que seu livro está vinculado a um desses tipos de Literatura?

Conheço um pouco do conceito, mas não sou especialista. Sou pedagogo e trabalho com crianças há 9 anos. Acredito, no entanto, que o meu livro se encaixa melhor no público juvenil, acima dos 13 anos — talvez a partir dos 11, se houver o consentimento dos pais. Isso porque a história aborda temas como: namoro, romance e paixão, o que não considero adequado para o público infantil. Já os adolescentes e os jovens que estão vivendo essa fase, sim, podem se identificar bastante. O protagonista, por exemplo, tem 15 anos — ele começa a história com 14, mas faz 15 durante a narrativa. Então, é um livro voltado para quem está nessa faixa etária e, claro, para os demais adultos que gostarem de ler.

MARIANO, Thiago. Minhas 4 futuras ex-namoradas. Vol. 1. Juazeiro do Norte: Edição do Autor, 2024. 

domingo, 31 de agosto de 2025

ANTOLOGIA POÉTICA: "HAICAI CARIRI"



No início de 2025, fui convidado pela artista visual Cleo do Vale para ministrar uma oficina de poesia no Museu Orgânico Casa de Telma Saraiva e Museu de Fotografia do Cariri. Ernesto Rocha, filho de Telma Saraiva e curador do museu, que tem aberto o espaço para atividades artísticas diversas, acolheu a proposta e a oficina foi realizada. 

Diante do convite, não hesitei em propor a explanação do gênero poemático haicai. Pensei em organizar as produções em livro, mas considerei que seria possível realizar novas oficinas para reunir outras vozes do Cariri que se interessam por essa instigante forma de poesia. 

No mesmo ano, desta feita em julho, realizei uma oficina no Centro Cultural Banco do Nordeste–CCBNB-Cariri e, dentre os textos estudados, novamente propus a apreciação e a produção de haicais. O resultado dessa oficina me estimulou ainda mais à organização de um livro no qual pudesse reunir os textos produzidos.

Assim, surgiu esta antologia de haicais (a primeira organizada com ênfase nesse gênero poemático aqui, no Cariri, minha terra amada). 

Nascido no Japão, e tendo em Matsuo Bashô uma de suas figuras maiores, o haicai chegou ao Brasil durante a imigração japonesa e adaptou-se ao nosso modo à tropicália de escrever (que tanto nos enriquece). De Guilherme de Almeida a Paulo Leminski, passando pelas incríveis Teruko Oda e Alice Ruiz, o haicai no Brasil ganhou espaço e construiu um horizonte poético lúdico, expressivo e criativo de amplas proporções. 

Este livro reúne artistas da palavra do Cariri cearense e dispõe de inúmeras abordagens temáticas que se manifestam pela forma do haicai. Com isso, prestamos nossa homenagem a esse gênero poemático que nossa literatura tem abraçado com interesse crescente.  

Portanto, leia nossos haicais e vivencie as experiências que eles propõem. Temos lirismo, reflexões e experimentos literários que reafirmam a riqueza de vozes que temos em nosso Cariri. 

Émerson Cardoso

O livro está disponível,

GRATUITAMENTE, no link:

Livro Haicai Cariri


sábado, 30 de agosto de 2025

CRÔNICA: "DESPEDIDA"



Quero me despedir. Sim, quero me despedir do cotidiano com suas tramas. Quero me despedir dos tentáculos diários que se manifestam sem que a vida consiga libertar-se. Também me despeço da ilusão de paz, da suposta harmonia buscada com desespero e da ânsia pelo mundo de calmaria. O mundo desenha caos e instabilidade, de modo que, sem compreender e aceitar isso, será impossível existir.

Quero me despedir de mim. Desta mente tumultuada em busca de perfeição, controle, organização e estabilidade. Sim, que se vá o meu eu, este ser em busca de luz diária, de caminhos perfeitos, de horizontes estáveis e de santidade indiscriminada. O pior da vida é pensar que é possível ser feliz. Viver, por si só, é engolir o dissabor inevitável e aceitar o horror da finitude. 

Em Dogman, de Luc Besson (2023), o protagonista diz que: "Reclamar é orar para o demônio!" Eu, de tanto conviver com quem viveu de reclamações, aprendi a fazê-lo. Parece que minhas orações diárias, porque as conservo apesar da crença e da espiritualidade oscilantes, não conseguem suprimir em mim a reclamação constante. Reclamar, ao que parece, foi o modo possível de existir no mundo, mas isso cansa. Então, me despeço desse projeto de inexistência. 

Quero me despedir desse cansaço, dessa ausência de saúde, desse mundo insuportável que me destrói cada vez em que não posso expandir minha alma. Expandir minha alma seria viver para a literatura, a pesquisa e a educação sem precisar sofrer por querer viver esses três atos de uma peça para a qual me inclino desde sempre.  

Quero me despedir das relações humanas incapazes de sinceridade ou de escutar o não. Quero dizer não e não ser importunado por exigências de sim. Quando respeito não nos é ofertado, parece insuportável ter que exigir isso (é sempre triste dizer o óbvio). 

Quero me despedir dos rancores. Tenho na alma um caderno com nomes que mereciam sofrer, no entanto, para sorte dessa gentalha, sou vingativo só na imaginação (não concretizo meus projetos criativos de ódio). Para me libertar, quero apagar esses nomes, deixar para trás os traumas, esquecer da gente vulgar que não merece permanecer em minha memória. 

Quero despedidas da criança ferida que, teimosa, triste e frágil, se alojou em mim e não me deixa. Quero que se vá o adolescente desajustado, inseguro e triste que se martiriza por existir. Quero me livrar do adulto infeliz que luta, desde sempre, e teme a frustração, a incerteza e o tédio. Quero aceitar, se me vier, a velhice com seus poderes adquiridos ou podridões possíveis.

Quero despedidas do sofrer por tudo. Quero amenizar as intensidades. Não suporto mais tanta sensibilidade descontrolada. Não aceito pensar e repensar cada cena ou cenário que acontece em meu derredor. Estou desolado sempre, de modo que não consigo mais existir assim. Preciso deixar para trás esses infortúnios existenciais. 

Quero despedidas dessa maldita culpa. Da culpa infame, da culpa insuportável, da culpa por existir. Tenho culpa por observar, perceber e saber demais. Culpa pelos erros do mundo, pelos erros cometidos por mim, pelos erros cometidos pelas pessoas que deveriam ter me amparado, mas me deixaram à mercê das maldições do mundo. 

Enfim, chega de tantas despedidas, pois a despedida que importa é a da pessoa capaz de julgamentos, de intolerâncias e de exclusões (sim, esta pessoa cheia de defeitos sou eu e eu não a quero mais). Dizem que o ser humano, em verdade, age sempre em busca de ser amado, aceito e amparado. Talvez faça sentido. Eu, definitivamente, só queria me libertar de ser tão apegado, intransigente e aprisionado ao medo que me tritura e à sensação de doer por tudo. Em meio a tantos apegos, tecer despedidas não é tarefa das mais fáceis. Apesar disso, não tenho outra saída. Então, para minha vida continuar, eu me despeço desses monstros que trago em mim. 

Por fim, uma pitada de adeus a gosto!

Émerson Cardoso
30/08/2025


sábado, 12 de julho de 2025

RICARDO TABOSA EM "METENDO A BOCA": UMA EXPERIÊNCIA CATÁRTICO-LÍRICA

 
Fonte: Divulgação do Centro Cultural do Cariri


Engana-se quem pensa que Metendo a boca, título instigante e provocativo do monólogo do ator Ricardo Tabosa (que ele dirige em parceria com a talentosa diretora Elisa Porto), entrega de forma explícita sua proposta temática. Leia esse título, enfatizo, com vistas a observá-lo com toda a força polissêmica que ele concentra em suas camadas profundas e prepare-se, pois Rafael Martins cria um texto dramático de apuro estético incomensurável.  

Minha afirmação parte de duas experiências vivenciadas ao assistir a essa peça no sábado e no domingo, dias 12 e 13 de julho de 2025, no Centro Cultural do Cariri. A primeira experiência diz respeito ao entusiasmo de ver um ator em perceptível domínio do seu ofício. A segunda tem a ver com a identificação imediata e comovedora com o texto de Rafael Martins (as temáticas exploradas ao longo da peça me proporcionaram uma experiência catártica de amplas proporções).

Para me remeter ao primeiro ponto, que tem a ver com o entusiasmo que Ricardo Tabosa me despertou, preciso dizer o seguinte: esse ator traz vivacidade ao monólogo (ele é incansável, mantém o fôlego e cria profundidade na relação com o público) e domina as técnicas inerentes à dramaturgia (do gesto ao olhar, da entonação das palavras às camadas profundas do texto a que dá vida, tudo nele reverbera a capacidade de fazer explodir no corpo, em contínuo movimento, a complexidade humana com intensidade, domínio técnico e consistência). Em verdade, o espetáculo em seu todo, do figurino à direção, passando pelo texto dramático e pelo ator que o mimetizou, merece elogios.

Para me remeter ao segundo ponto, voltado para minha identificação com as temáticas exploradas no texto, preciso considerar o seguinte: envolto em uma leitura equivocada do título, eu entrei no teatro como se estivesse certo de que assistiria a uma peça repleta de componentes eróticos e momentos cômicos (claro que teria sido bom encontrar isso também!). Não digo que não houve, a propósito, momento para o erótico (o figurino não me deixa mentir!) e para o cômico (sinto que Ricardo Tabosa passeia com maestria pelo universo delicado do cômico), mas esse espetáculo, cujo emprego de recursos audiovisuais acontece com criatividade, apuro e pertinência, é construído com uma densa proposta: há metalinguagem (o jogo teatral se descortina, em vários momentos, com alusões aos componentes constitutivos da peça), há denúncia de casos de homofobia (sem cair no mero didatismo tão em voga em se tratando do tema), há crítica social (o uso de ironia é bem empregado ao trazer, dentre outros aspectos, reflexões semânticas em torno do termo "jeitinho"), há uso criativo de estruturas linguísticas locais (a cena cômica em que existe uma voz representada pelo microfone vazio demonstra isso) e há memória (um ponto alto na peça está nesse componente sobre o qual falarei mais enfaticamente). 

Para mim, a memória se caracteriza, direta ou indiretamente, como um ponto alto da peça. Ela volta à década de 1980, era de domínio do programa infantil apresentado por Xuxa, e rememora um dos desenhos animados mais famosos exibidos no programa: She-Ra. Na peça, o episódio A perda da voz é mencionado e estabelece uma perfeita relação com as questões discutidas no enredo. No episódio, a feiticeira Sombria, aliada do grande vilão Hordak, cria um feitiço que consiste em capturar a voz das pessoas. She-Ra, a bela, forte e misteriosa heroína, age no sentido de salvá-las — e consegue fazê-lo. No final do episódio, Geninho tece comentários acerca da liberdade de expressão.

A peça alude, ainda, ao fato de que: 1) She-Ra é uma personagem feminina cujo figurino sensual e cujos cabelos volumosos "atiçam", no melhor sentido, o imaginário das crianças (e as crianças LGBTs, por exemplo, poderiam ter nessa imagem um universo rico de possibilidades de expressão); 2) She-Ra detém caracteres femininos e detém a capacidade de defender-se e de ajudar, heroína que é, as pessoas necessitadas; 3) Xuxa, que também estimula a imaginação infantil com seus figurinos, tem uma canção intitulada She-Ra (1986), isto é, assim como outras canções interpretadas pela apresentadora, era muito comum ouvi-la em festas de aniversário infantil. Essas e outras imagens surgem com maestria no texto. Ele conduz quem o escuta a uma viagem no tempo entre dolorosa e complexa, sobretudo se quem o escuta for uma pessoa que, igual a mim, foi criança no final da década de 1980 e no início da década de 1990. 

Devo confessar que, tendo vivido cenas parecidas com as que foram relatadas, a comoção foi inevitável. Quando Ricardo Tabosa, em cena, coloca um banco à direita do palco, falando da criança que foi agredida, reprimida e xingada, era eu (ou minha infância destruída em casa e na escola?) quem estava sentado lá. A solidão da criança que tem um "jeitinho", que não é heteronormativa, é muito bem representada na peça. Esse componente explora o universo da memória, com suas vivências dolorosas, mas passíveis de serem revisitadas e reconfiguradas, de modo que ter visto isso em cena me levou a uma experiência catártica como poucas vezes pude vivenciar assistindo a uma peça. 

Para encerrar, certo de que esse breve comentário não alcança em absoluto a complexidade do espetáculo Metendo a boca, preciso dizer da alegria vivida pelo Cariri neste mês de julho de 2025. Em Juazeiro do Norte-CE, no CCBNB-Cariri, a peça foi apresentada em duas sessões. No Crato, no Centro Cultural do Cariri, a peça também foi apresentada em duas sessões (eu assisti as duas e participei da atividade formativa A desmontagem: workshop sobre a construção do espetáculo). Torço para que esse monólogo volte muitas vezes por aqui, pois ele é arte em seu sentido pleno e precisa chegar a mais pessoas. Afirmo, sem hesitações, que esse foi o melhor espetáculo teatral apresentado no CCBNB-Cariri e no Centro Cultural do Cariri que eu assisti neste ano de 2025. 

Enfim, como foi gratificante ouvir minha voz sair da bolha pela voz de Ricardo Tabosa, que nos proporcionou experiências lírico-catárticas e mostrou o quão necessário é construir espaços para entrarmos em contato com o que há de melhor em teatro e liberdade de expressão. 

Meter a boca no trombone (isto é, falar!) pode nos salvar em vários sentidos. Eu, portanto, vou Metendo a boca no mundo para dizer: assistam a esse monólogo notável e vivam essa experiência libertadora! 

Émerson Cardoso

13/07/2025








segunda-feira, 7 de julho de 2025

LIVRO: "ENSAIOS SOBRE GÊNEROS DIGITAIS"

Com imensa alegria, compartilhamos o livro Ensaios sobre Gêneros Digitais. Este livro dispõe de ensaios que apresentam estudos voltados para apontamentos em torno de Gêneros Digitais (principalmente no contexto de ensino de Língua Portuguesa) e para explanação de demais debates alusivos à Educação Digital.

Esses ensaios resultam de reflexões propostas, em sua maioria, no âmbito das atividades do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência–PIBID, com atuação na Escola de Ensino Médio Governador Adauto Bezerra. O PIBID está vinculado à Universidade Regional do Cariri–URCA e conta com apoio institucional da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoas de Nível Superior–CAPES, o que possibilita o desenvolvimento das pesquisas aqui  apresentadas, assim como outras atividades relevantes para a experiência docente dos bolsistas e supervisores envolvidos no projeto.    

Esta coletânea é resultado da Oficina de Ensaio Acadêmico, que foi ministrada por mim e envolveu a participação de estudantes do PIBID e de docentes da EEM Governador Adauto Bezerra. A experiência da oficina propiciou a realização de debates sobre produção acadêmica e a construção dos ensaios aqui compartilhados.

Sendo assim, esperamos que a leitura dos ensaios que se seguem seja uma experiência de amplas aprendizagens, assim como foi de amplas aprendizagem, para os autores e as autoras, o exercício de produzi-los. Partimos da ideia de que conhecimento adquirido deve ser sempre compartilhado. Por isso, compartilhamos esses ensaios construídos com o objetivo de instigar reflexões e de proporcionar debates plurais dentro e fora do âmbito escolar. 

Boa leitura!


Acesse nosso livro, 

gratuitamente

no link:

Ensaios sobre Gêneros Digitais