domingo, 31 de agosto de 2025

ANTOLOGIA POÉTICA: "HAICAI CARIRI"



No início de 2025, fui convidado pela artista visual Cleo do Vale para ministrar uma oficina de poesia no Museu Orgânico Casa de Telma Saraiva e Museu de Fotografia do Cariri. Ernesto Rocha, filho de Telma Saraiva e curador do museu, que tem aberto o espaço para atividades artísticas diversas, acolheu a proposta e a oficina foi realizada. 

Diante do convite, não hesitei em propor a explanação do gênero poemático haicai. Pensei em organizar as produções em livro, mas considerei que seria possível realizar novas oficinas para reunir outras vozes do Cariri que se interessam por essa instigante forma de poesia. 

No mesmo ano, desta feita em julho, realizei uma oficina no Centro Cultural Banco do Nordeste–CCBNB-Cariri e, dentre os textos estudados, novamente propus a apreciação e a produção de haicais. O resultado dessa oficina me estimulou ainda mais à organização de um livro no qual pudesse reunir os textos produzidos.

Assim, surgiu esta antologia de haicais (a primeira organizada com ênfase nesse gênero poemático aqui, no Cariri, minha terra amada). 

Nascido no Japão, e tendo em Matsuo Bashô uma de suas figuras maiores, o haicai chegou ao Brasil durante a imigração japonesa e adaptou-se ao nosso modo à tropicália de escrever (que tanto nos enriquece). De Guilherme de Almeida a Paulo Leminski, passando pelas incríveis Teruko Oda e Alice Ruiz, o haicai no Brasil ganhou espaço e construiu um horizonte poético lúdico, expressivo e criativo de amplas proporções. 

Este livro reúne artistas da palavra do Cariri cearense e dispõe de inúmeras abordagens temáticas que se manifestam pela forma do haicai. Com isso, prestamos nossa homenagem a esse gênero poemático que nossa literatura tem abraçado com interesse crescente.  

Portanto, leia nossos haicais e vivencie as experiências que eles propõem. Temos lirismo, reflexões e experimentos literários que reafirmam a riqueza de vozes que temos em nosso Cariri. 

Émerson Cardoso

O livro está disponível disponível, 

GRATUITAMENTE, no link:

Haicai Cariri


sábado, 30 de agosto de 2025

CRÔNICA: "DESPEDIDA"



Quero me despedir. Sim, quero me despedir do cotidiano com suas tramas. Quero me despedir dos tentáculos diários que se manifestam sem que a vida consiga libertar-se. Também me despeço da ilusão de paz, da suposta harmonia buscada com desespero e da ânsia pelo mundo de calmaria. O mundo desenha caos e instabilidade, de modo que, sem compreender e aceitar isso, será impossível existir.

Quero me despedir de mim. Desta mente tumultuada em busca de perfeição, controle, organização e estabilidade. Sim, que se vá o meu eu, este ser em busca de luz diária, de caminhos perfeitos, de horizontes estáveis e de santidade indiscriminada. O pior da vida é pensar que é possível ser feliz. Viver, por si só, é engolir o dissabor inevitável e aceitar o horror da finitude. 

Em Dogman, de Luc Besson (2023), o protagonista diz que: "Reclamar é orar para o demônio!" Eu, de tanto conviver com quem viveu de reclamações, aprendi a fazê-lo. Parece que minhas orações diárias, porque as conservo apesar da crença e da espiritualidade oscilantes, não conseguem suprimir em mim a reclamação constante. Reclamar, ao que parece, foi o modo possível de existir no mundo, mas isso cansa. Então, me despeço desse projeto de inexistência. 

Quero me despedir desse cansaço, dessa ausência de saúde, desse mundo insuportável que me destrói cada vez em que não posso expandir minha alma. Expandir minha alma seria viver para a literatura, a pesquisa e a educação sem precisar sofrer por querer viver esses três atos de uma peça para a qual me inclino desde sempre.  

Quero me despedir das relações humanas incapazes de sinceridade ou de escutar o não. Quero dizer não e não ser importunado por exigências de sim. Quando respeito não nos é ofertado, parece insuportável ter que exigir isso (é sempre triste dizer o óbvio). 

Quero me despedir dos rancores. Tenho na alma um caderno com nomes que mereciam sofrer, no entanto, para sorte dessa gentalha, sou vingativo só na imaginação (não concretizo meus projetos criativos de ódio). Para me libertar, quero apagar esses nomes, deixar para trás os traumas, esquecer da gente vulgar que não merece permanecer em minha memória. 

Quero despedidas da criança ferida que, teimosa, triste e frágil, se alojou em mim e não me deixa. Quero que se vá o adolescente desajustado, inseguro e triste que se martiriza por existir. Quero me livrar do adulto infeliz que luta, desde sempre, e teme a frustração, a incerteza e o tédio. Quero aceitar, se me vier, a velhice com seus poderes adquiridos ou podridões possíveis.

Quero despedidas do sofrer por tudo. Quero amenizar as intensidades. Não suporto mais tanta sensibilidade descontrolada. Não aceito pensar e repensar cada cena ou cenário que acontece em meu derredor. Estou desolado sempre, de modo que não consigo mais existir assim. Preciso deixar para trás esses infortúnios existenciais. 

Quero despedidas dessa maldita culpa. Da culpa infame, da culpa insuportável, da culpa por existir. Tenho culpa por observar, perceber e saber demais. Culpa pelos erros do mundo, pelos erros cometidos por mim, pelos erros cometidos pelas pessoas que deveriam ter me amparado, mas me deixaram à mercê das maldições do mundo. 

Enfim, chega de tantas despedidas, pois a despedida que importa é a da pessoa capaz de julgamentos, de intolerâncias e de exclusões (sim, esta pessoa cheia de defeitos sou eu e eu não a quero mais). Dizem que o ser humano, em verdade, age sempre em busca de ser amado, aceito e amparado. Talvez faça sentido. Eu, definitivamente, só queria me libertar de ser tão apegado, intransigente e aprisionado ao medo que me tritura e à sensação de doer por tudo. Em meio a tantos apegos, tecer despedidas não é tarefa das mais fáceis. Apesar disso, não tenho outra saída. Então, para minha vida continuar, eu me despeço desses monstros que trago em mim. 

Por fim, uma pitada de adeus a gosto!

Émerson Cardoso
30/08/2025


sábado, 12 de julho de 2025

RICARDO TABOSA EM "METENDO A BOCA": UMA EXPERIÊNCIA CATÁRTICO-LÍRICA

 
Fonte: Divulgação do Centro Cultural do Cariri


Engana-se quem pensa que Metendo a boca, título instigante e provocativo do monólogo do ator Ricardo Tabosa (que ele dirige em parceria com a talentosa diretora Elisa Porto), entrega de forma explícita sua proposta temática. Leia esse título, enfatizo, com vistas a observá-lo com toda a força polissêmica que ele concentra em suas camadas profundas e prepare-se, pois Rafael Martins cria um texto dramático de apuro estético incomensurável.  

Minha afirmação parte de duas experiências vivenciadas ao assistir a essa peça no sábado e no domingo, dias 12 e 13 de julho de 2025, no Centro Cultural do Cariri. A primeira experiência diz respeito ao entusiasmo de ver um ator em perceptível domínio do seu ofício. A segunda tem a ver com a identificação imediata e comovedora com o texto de Rafael Martins (as temáticas exploradas ao longo da peça me proporcionaram uma experiência catártica de amplas proporções).

Para me remeter ao primeiro ponto, que tem a ver com o entusiasmo que Ricardo Tabosa me despertou, preciso dizer o seguinte: esse ator traz vivacidade ao monólogo (ele é incansável, mantém o fôlego e cria profundidade na relação com o público) e domina as técnicas inerentes à dramaturgia (do gesto ao olhar, da entonação das palavras às camadas profundas do texto a que dá vida, tudo nele reverbera a capacidade de fazer explodir no corpo, em contínuo movimento, a complexidade humana com intensidade, domínio técnico e consistência). Em verdade, o espetáculo em seu todo, do figurino à direção, passando pelo texto dramático e pelo ator que o mimetizou, merece elogios.

Para me remeter ao segundo ponto, voltado para minha identificação com as temáticas exploradas no texto, preciso considerar o seguinte: envolto em uma leitura equivocada do título, eu entrei no teatro como se estivesse certo de que assistiria a uma peça repleta de componentes eróticos e momentos cômicos (claro que teria sido bom encontrar isso também!). Não digo que não houve, a propósito, momento para o erótico (o figurino não me deixa mentir!) e para o cômico (sinto que Ricardo Tabosa passeia com maestria pelo universo delicado do cômico), mas esse espetáculo, cujo emprego de recursos audiovisuais acontece com criatividade, apuro e pertinência, é construído com uma densa proposta: há metalinguagem (o jogo teatral se descortina, em vários momentos, com alusões aos componentes constitutivos da peça), há denúncia de casos de homofobia (sem cair no mero didatismo tão em voga em se tratando do tema), há crítica social (o uso de ironia é bem empregado ao trazer, dentre outros aspectos, reflexões semânticas em torno do termo "jeitinho"), há uso criativo de estruturas linguísticas locais (a cena cômica em que existe uma voz representada pelo microfone vazio demonstra isso) e há memória (um ponto alto na peça está nesse componente sobre o qual falarei mais enfaticamente). 

Para mim, a memória se caracteriza, direta ou indiretamente, como um ponto alto da peça. Ela volta à década de 1980, era de domínio do programa infantil apresentado por Xuxa, e rememora um dos desenhos animados mais famosos exibidos no programa: She-Ra. Na peça, o episódio A perda da voz é mencionado e estabelece uma perfeita relação com as questões discutidas no enredo. No episódio, a feiticeira Sombria, aliada do grande vilão Hordak, cria um feitiço que consiste em capturar a voz das pessoas. She-Ra, a bela, forte e misteriosa heroína, age no sentido de salvá-las — e consegue fazê-lo. No final do episódio, Geninho tece comentários acerca da liberdade de expressão.

A peça alude, ainda, ao fato de que: 1) She-Ra é uma personagem feminina cujo figurino sensual e cujos cabelos volumosos "atiçam", no melhor sentido, o imaginário das crianças (e as crianças LGBTs, por exemplo, poderiam ter nessa imagem um universo rico de possibilidades de expressão); 2) She-Ra detém caracteres femininos e detém a capacidade de defender-se e de ajudar, heroína que é, as pessoas necessitadas; 3) Xuxa, que também estimula a imaginação infantil com seus figurinos, tem uma canção intitulada She-Ra (1986), isto é, assim como outras canções interpretadas pela apresentadora, era muito comum ouvi-la em festas de aniversário infantil. Essas e outras imagens surgem com maestria no texto. Ele conduz quem o escuta a uma viagem no tempo entre dolorosa e complexa, sobretudo se quem o escuta for uma pessoa que, igual a mim, foi criança no final da década de 1980 e no início da década de 1990. 

Devo confessar que, tendo vivido cenas parecidas com as que foram relatadas, a comoção foi inevitável. Quando Ricardo Tabosa, em cena, coloca um banco à direita do palco, falando da criança que foi agredida, reprimida e xingada, era eu (ou minha infância destruída em casa e na escola?) quem estava sentado lá. A solidão da criança que tem um "jeitinho", que não é heteronormativa, é muito bem representada na peça. Esse componente explora o universo da memória, com suas vivências dolorosas, mas passíveis de serem revisitadas e reconfiguradas, de modo que ter visto isso em cena me levou a uma experiência catártica como poucas vezes pude vivenciar assistindo a uma peça. 

Para encerrar, certo de que esse breve comentário não alcança em absoluto a complexidade do espetáculo Metendo a boca, preciso dizer da alegria vivida pelo Cariri neste mês de julho de 2025. Em Juazeiro do Norte-CE, no CCBNB-Cariri, a peça foi apresentada em duas sessões. No Crato, no Centro Cultural do Cariri, a peça também foi apresentada em duas sessões (eu assisti as duas e participei da atividade formativa A desmontagem: workshop sobre a construção do espetáculo). Torço para que esse monólogo volte muitas vezes por aqui, pois ele é arte em seu sentido pleno e precisa chegar a mais pessoas. Afirmo, sem hesitações, que esse foi o melhor espetáculo teatral apresentado no CCBNB-Cariri e no Centro Cultural do Cariri que eu assisti neste ano de 2025. 

Enfim, como foi gratificante ouvir minha voz sair da bolha pela voz de Ricardo Tabosa, que nos proporcionou experiências lírico-catárticas e mostrou o quão necessário é construir espaços para entrarmos em contato com o que há de melhor em teatro e liberdade de expressão. 

Meter a boca no trombone (isto é, falar!) pode nos salvar em vários sentidos. Eu, portanto, vou Metendo a boca no mundo para dizer: assistam a esse monólogo notável e vivam essa experiência libertadora! 

Émerson Cardoso

13/07/2025








segunda-feira, 7 de julho de 2025

LIVRO: "ENSAIOS SOBRE GÊNEROS DIGITAIS"

Com imensa alegria, compartilhamos o livro Ensaios sobre Gêneros Digitais. Este livro dispõe de ensaios que apresentam estudos voltados para apontamentos em torno de Gêneros Digitais (principalmente no contexto de ensino de Língua Portuguesa) e para explanação de demais debates alusivos à Educação Digital.

Esses ensaios resultam de reflexões propostas, em sua maioria, no âmbito das atividades do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência–PIBID, com atuação na Escola de Ensino Médio Governador Adauto Bezerra. O PIBID está vinculado à Universidade Regional do Cariri–URCA e conta com apoio institucional da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoas de Nível Superior–CAPES, o que possibilita o desenvolvimento das pesquisas aqui  apresentadas, assim como outras atividades relevantes para a experiência docente dos bolsistas e supervisores envolvidos no projeto.    

Esta coletânea é resultado da Oficina de Ensaio Acadêmico, que foi ministrada por mim e envolveu a participação de estudantes do PIBID e de docentes da EEM Governador Adauto Bezerra. A experiência da oficina propiciou a realização de debates sobre produção acadêmica e a construção dos ensaios aqui compartilhados.

Sendo assim, esperamos que a leitura dos ensaios que se seguem seja uma experiência de amplas aprendizagens, assim como foi de amplas aprendizagem, para os autores e as autoras, o exercício de produzi-los. Partimos da ideia de que conhecimento adquirido deve ser sempre compartilhado. Por isso, compartilhamos esses ensaios construídos com o objetivo de instigar reflexões e de proporcionar debates plurais dentro e fora do âmbito escolar. 

Boa leitura!


Acesse nosso livro, 

gratuitamente

no link:

Ensaios sobre Gêneros Digitais



quarta-feira, 18 de junho de 2025

MARTELO AGALOPADO: "TEMPESTADE TAMBÉM ACABA UM DIA"







 

TRILOGIA DO CARIRI CEARENSE: PEÇA TEATRAL "A REVOLTA DE ANTONINA"


Antígona, a insubmissa filha de Édipo, serviu de inspiração para que eu criasse Antonina — a sonoridade do nome e os fatos que constituem o enredo da peça evidenciam isso. Diferente da jovem grega, Antonina é uma sertaneja nordestina, viúva, sem familiares próximos, que acaba de perder um filho e depara-se com a tirania de um coronel que a impede de sepultá-lo. Três pontos nortearam minha escrita:

1) Decidi escrever essa peça em continuidade a uma ideia que tive de discorrer sobre o Cariri cearense em três obras realizadas nos três gêneros literários: lírico, dramático e narrativo;

2) Antonina é uma personagem feminina que, como tantas outras mulheres nordestinas fadadas a viverem sozinhas, pelas circunstâncias da vida, traz em si a força de resistir em meio a um espaço que exige da mulher, por vezes, força física, condição sine qua non para manutenção de sua sobrevivência, e também força psicológica para encontrar em si coragem de enfrentar o poder de certo coronel que manda e desmanda em uma típica localidade do Cariri cearense;

3) Antonina é uma personagem que reúne as mulheres fortes de minha família. Ela, como toda boa mãe nordestina, atribui ao filho grande valor, porém o destino (ou as ações/reações da vida?) faz com que ela experimente a pior dor que uma mãe poderia experimentar: ver um filho morto. Para sepultá-lo, ela tem que buscar forças para enfrentar a mão de ferro de um coronel tirânico e sádico, vestido em pele de cordeiro.

No mais, espero que Antonina alcance seu objetivo e seja compreendida em suas dores. Espero, para ela, cumplicidade. Lembremo-nos de que ela fala por quem, muitas vezes, não tem voz contra o poderio de gente desalmada.  


Tenha acesso, gratuitamente, à peça no link:

A Revolta de Antonina

terça-feira, 27 de maio de 2025

EXPERIÊNCIAS ESCOLARES EXITOSAS QUE DEIXARÃO SAUDADE

Em 2025, a EEM Governador Adauto Bezerra vivenciou duas experiências escolares exitosas envolvendo a criatividade e o esforço da Prof.ª Ma. Éricka Sobreira[1]: 1) o Projeto práticas corporais de aventuras (que consiste em realizar a tradicional subida ao Horto) e 2) o Projeto 2º Grau em Ação.

Projeto práticas corporais de aventuras consiste em conduzir estudantes do 2º ano do Ensino Médio (a Professora Éricka ministra a disciplina de Educação Física para estudantes dessa série) ao ponto turístico mais relevante da cidade de Juazeiro do Norte-CE. Durante o trajeto, estudantes realizam a caminhada na denominada Rua do Horto (espaço de peregrinação de romeiros que visitam a cidade e que tem se transformado, cada vez mais, em lugar para atividades físicas). A caminhada termina no ponto mais alto da cidade, local em que está localizada a imagem do Padre Cícero Romão Batista.




Ao propor essa atividade, a Professora Éricka promove atividade de Educação Física, mas também contribui para que estudantes vivenciem uma experiência de contato com: 1) a história da cidade, 2) o ponto turístico dos mais visitados do Nordeste, 3) um dos espaços de preservação do Geopark Araripe e 3) o contato com a realidade sociocultural e sócio-histórica da denominada cidade dos romeiros. Durante a experiência, existe o contexto de interação entre professores e estudantes, o que torna o momento lúdico, interativo e agradável.

Quanto ao Projeto 2º Grau em Ação, que está em sua décima sexta edição, neste ano, ele foi idealizado e realizado, ao longo desses anos, para alcançar a comunidade escolar em seu todo. Com isso, estimula o protagonismo dos estudantes, promove saúde física e bem-estar, cria momentos de interação e, do meu ponto de vista, caracteriza-se por ser de grande relevância para a construção identitária da escola. 



O 2º Grau em Ação é desenvolvido com o envolvimento de estudantes, o que nos possibilita dizer que o protagonismo juvenil é vivenciado na prática. Embora receba apoio da Gestão Escolar e do Corpo Docente, o 2º Grau em Ação é desenvolvido, intensamente, desde o processo de organização até o momento em que tem sua culminância, pelo esforço da Professora Éricka e dos estudantes supervisionados por ela.  

No contexto de sua realização, que ocorreu no dia 21 de maio, foram oferecidos atendimentos diversos: 1) brinquedoteca, 2) teste de glicemia e de outras questões de saúde, 3) aferimento de pressão arterial, 4) tipagem sanguínea, 5) limpeza de pele, 6) massagem, 7) roda de conversa, 8) orientações de saúde física e psicológica, 9) orientação jurídica, 10) oficina de educação financeira, 11) oficina de defesa pessoal, 12) cinema para divulgação da Língua Brasileira de Sinais–LIBRAS etc.

As turmas da 2ª Série do Ensino Médio são, novamente, as envolvidas no Projeto. Elas são articuladas, com apoio da idealizadora do projeto, e organizam-se com o objetivo de tornar possível o evento. Enquanto as ações são realizadas, a comunidade escolar espalha-se nos corredores, nos pátios e nas salas de aulas reorganizadas para os atendimentos.

Essa edição do Projeto 2º Grau em Ação, em especial, se realizou envolta na seguinte sensação: ela fecha um ciclo, com chave de ouro, pois a Professora Éricka completará, neste ano, o tempo de que necessitava para cumprir sua missão em nossa escola. 

Enquanto as atividades do 2º Grau em Ação aconteciam, pensei que esse projeto foi significativo demais para o desenvolvimento da escola, porque propagou saberes, proporcionou interações, bem-estar comunitário e, sobretudo, construiu memórias afetivas.

Desde sua fundação, em 1977, a EEM Governador Adauto Bezerra contou com muitos profissionais que contribuíram para torná-la uma escola de referência. A Professora Éricka também faz parte desse grupo dedicado que merece reconhecimento. Ela também olhou para a escola com dedicação, mesmo quando os desafios que se impõem no âmbito educacional foram adversos a seu desejo de tornar a escola um lugar de amplas possibilidades.  

Como a vida é de impermanências, a sensação que temos, por vezes, é a de que tudo passa rápido demais. Desse modo, pode parecer que não conseguimos realizar os projetos idealizados, mas a Professora Éricka pode se alegrar, porque em sua vida profissional (seja em sala de aula, seja fora dela) conseguiu realizar grandes feitos (a prova disso são esses dois projetos, dentre os vários que ela realizou, que mostram o quão bem-sucedida ela foi). 

O tempo parece levar tudo sem considerar, quando ele passa, o quão frágeis nós somos. O tempo já não levou dezesseis anos desse evento que tanto amplia a experiência de nossa escola? Quando se vai, ele tende a querer apagar os cenários nos quais vivemos, mas ainda nos é dado guardar memórias. 

Esses projetos ficarão em nossas memórias, certamente, também o exemplo de dedicação e de envolvimento da Professora Éricka, que teve a coragem de transformar uma ideia em realidade. 

Agora, enquanto escrevo, parece justo dizer da alegria que sinto por ter visto em nossa Escola, por três vezes, o Projeto práticas corporais de aventuras e o Projeto 2º Grau em Ação ganharem vida. Nós que compartilhamos do afeto por nossa escola, repleta de boas memórias construídas, apesar dos desafios do cotidiano, só temos a agradecer à Professora Éricka. Ela é consciente de sua função social e, por ser uma profissional admirável (seja pela firmeza de caráter, seja pela dedicação ao trabalho), não se permitiu (e não se permite) passar pela escola sem torná-la um lugar digno e acolhedor, repleto de aprendizagens e de interações, o que nos ensina uma grande lição: é preciso ter coragem para enfrentar os desafios e concretizar nossos ideais.    

Para encerrar, gostaria de dizer que a Professora Éricka é bisneta de uma figura histórica importante de nossa cidade: o comerciante Aureliano Pereira da Silva[2]. Ele foi o romeiro alagoano a quem o Padre Cícero vaticinou que seria pai de 36 filhos que contribuiriam para o desenvolvimento de Juazeiro do Norte. Sendo assim, a Professora Éricka está de parabéns, pois pode comemorar por ter cumprido, por suas contribuições na Educação, a profecia do Padre Cícero, que disse que os descendentes de seu bisavô contribuiriam para o desenvolvimento de nossa cidade. 

Que o legado dessa Professora notável nunca seja esquecido!

Émerson Cardoso

28/05/2025



[1] Éricka Maria Pereira Sobreira de Araújo é graduada em Educação Física, tem especialização em Planejamento e Políticas Educacionais e em Gestão Escolar. Professora de Educação Física com ampla experiência, com atuação no Ensino Fundamental, no Ensino Médio e no Ensino Superior, ela é mestra em Saúde da Criança e do Adolescente e tem diversas várias práticas de projetos em suas atividades docentes.

[2] A história de Aureliano Pereira da Silva foi contada no romance O Padre e o Romeiro, de Geraldo Menezes Barbosa. Ele também é retratado à mesa o Padre Cícero no Museu Vivo localizado no Horto.