quarta-feira, 3 de julho de 2013

BARROCO - UM RESUMO (PARTE I)

ÊXTASE DE SANTA TERESA, DE GIAN LORENZO BERNINI

MOMENTO SOCIOCULTURAL:

  • CONTRARREFORMA: REAÇÃO DA IGREJA CATÓLICA.
  • OS NOVOS VALORES HUMANISTAS, DEFENDIDOS PELA BURGUESIA, CHOCAM-SE COM OS VALORES TEOCÊNTRICOS, REPRESENTADOS PELO CLERO. 
  • COMEÇA EM PORTUGAL O DOMÍNIO ESPANHOL, QUE DURA DE 1580 A 1640. 

CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS:

  • ANTÍTESE, DUALIDADE, CONTRADIÇÃO, DICOTOMIA: O SAGRADO E O PROFANO, A RAZÃO E A EMOÇÃO, O ESPIRITUAL E O CARNAL, VIDA E MORTE, MEDIEVALISMO E RENASCENTISMO.
  • LITERATURA BASEADA EM ANTÍTESES, PARADOXOS, INVERSÕES SINTÁTICAS (HIPÉRBATOS) E EXAGEROS (HIPÉRBOLES) QUE EXPRESSAM A ANGÚSTIA EXISTENCIAL BARROCA.
  • PREDOMINÂNCIA DE DUAS TENDÊNCIAS, QUE SE INTERPENETRAM: CULTISMO (REBUSCAMENTO FORMAL, JOGO SENSORIAL DE PALAVRAS) E CONCEPTISMO (SOFISTICAÇÃO NO PLANO DAS IDEIAS E ARGUMENTAÇÕES PARADOXAIS).

A INCREDULIDADE DE SÃO TOMÉ, CARAVAGGIO

AUTORES E OBRAS:

  • PADRE ANTÔNIO VIEIRA: MAIOR ORADOR SACRO DA LÍNGUA PORTUGUESA, ESCREVEU, DENTRE OUTRAS OBRAS, "SERMÕES" (15 VOLUMES, ENTRE 1679 - 1718) E "HISTÓRIA DO FUTURO" (1718).
  • FRANCISCO MANUEL DE MELO: ERA VOLTADO PARA A POESIA LÍRICA, A HISTORIOGRAFIA, O TEATRO E A PROSA FILOSÓFICA E MORALIZANTE. ESCREVEU "CARTA DE GUIA AOS CASADOS" (1651), CARTAS FAMILIARES (1664), "OBRAS MÉTRICAS" (1665).
  • PADRE MANUEL BERNARDES: PRODUZIU OBRAS DE CUNHO MÍSTICO E MORALISTA (DIDÁTICO) COM UMA LINGUAGEM SIMPLES E ESPONTÂNEA. ESCREVEU "NOVA FLORESTA" (5 VOLUMES, 1706 - 1728) E "LUZ E CALOR" (1696).
  • SÓROR MARIANA ALCOFORADO: ESCREVEU "CARTAS PORTUGUESAS" (1669) ATRIBUÍDAS A UM AMOR PROIBIDO, UMA PAIXÃO VIOLENTA, INCONTROLADA E NÃO CORRESPONDIDA POR UM MILITAR, O CAPITÃO CHAMILLY. NESSAS CINCO CARTAS, A CONSCIÊNCIA MORAL É SUPLANTADA PELO SENTIMENTO AMOROSO E PELA ÂNSIA DE ESQUECER UMA RELAÇÃO PECAMINOSA, MAS AINDA ASSIM ARDENTEMENTE DESEJADA. 
  • SÓROR VIOLANTE DO CÉU: PRODUZIU POEMAS MARCADOS PELO SENTIDO PASSIONAL, PELAS IMAGENS SUTIS E PELA VEEMÊNCIA. DEPOIS DE ENTRAR PARA O CONVENTO, IMPREGNOU SUAS POESIAS DE RELIGIOSIDADE. ESCREVEU, DENTRE OUTRAS OBRAS, "RIMAS VÁRIAS" (1646) E "ROMANCE A CHRISTO CRUCIFICADO" (1659).
  • FRANCISCO RODRIGUES LOBO: POETA BUCÓLICO E DE INFLUÊNCIA CAMONIANA, ESCREVEU, DENTRE OUTRAS OBRAS, "O PASTOR PEREGRINO" (1608). 

UM POUCO MAIS SOBRE O ASSUNTO:

A estética barroca opõe-se à estética clássica: superfície versus profundidade, forma fechada versus forma aberta, multiplicidade versus unidade. O homem barroco foge das coisas e sentimentos contraditórios que envolvem a natureza humana, exaltando os valores cristãos - o homem volta-se para Deus. Podemos encontrar dois tipos de estética barroca: 

1 - Estética Gongórica: O termo faz alusão ao poeta espanhol Luis de Gôngora y Archote. Essa estética utiliza-se de forte descritivismo. É frequente o uso de Figuras de Linguagem, como a antítese, a metonímia, o paradoxo, o assíndeto, a metáfora, a sinestesia, a hipérbole e a catacrese, além do uso de neologismos. Utiliza-se, também, de uma linguagem trabalhada. 

2 - Estética Conceptista: Também conhecido como Quevedismo, termo que faz alusão ao escritor espanhol Francisco Quevedo y Villegas. Preocupa-se em conhecer a essência das coisas, em vez de descrevê-las (teocentrismo). Utiliza-se mais da razão do que da emoção. Há o uso de antíteses e paradoxos, tornando o raciocínio mais ambíguo em busca da satisfação da inteligência.


CONTEXTUALIZANDO: 

IRMÃ KELLY PATRÍCIA

A Irmã Kelly Patrícia, que fora vinculada à Ordem Carmelita de 1990 até 1992, resolveu realizar trabalhos de evangelização por meio da música cristã e, ao lado da Irmã Jane Madelaine, fundou o Instituto Hesed. Essa religiosa é cantora e compositora e produz o que podemos considerar música erudita cristã, uma vez que transforma poemas de santos carmelitas doutores da igreja, como Santa Teresa de Ávila, São João da Cruz e Santa Teresinha, em música de alta qualidade. Santa Teresa de Ávila e São João da Cruz, considerados representantes grandiosos da poesia barroca espanhola, produziram poemas de forte misticismo e de uma beleza poética indescritível. Para ilustrar, apresentarei algumas das obras desses santos que a Irmã Kelly Patrícia, com poucas adaptações,  musicou.



SANTA TERESA D'ÁVILA 

DOCE CAÇADOR
Entreguei-me toda e assim
Os corações se hão trocado,
Meu Amado é para mim
E eu sou para o meu Amado
Quando o doce caçador
Me atingiu com sua seta,
Nos meigos braços do amor
Minh'alma aninhou-se,
Aninhou-se quieta.
E a vida em outra, seleta
Totalmente se há trocado.
Meu amado é para mim
E eu sou para o meu Amado.
Era aquela seta eleita
Ervada em sulcos de amor.
E minh'alma ficou feita
Uma com seu Criador,
Com seu Criador.
Já não quero eu outro amor,
Que a Deus me tenho entregado,
Meu Amado é para mim
E eu sou para o meu Amado.

BUSCA-TE  EM MIM

Alma, buscar-te-ás em mim
E a mim, buscar-me-ás em ti. 
De tal sorte pôde o amor, alma, em mim te retratar 
Que nenhum sábio pintor soubera, 
Com tal primor, tua imagem estampar.

Foste por amor criada, bonita, formosa e, assim, 
em meu coração pintada, se te perderes, amada alma, 
Buscar-te-ás em mim, buscar-me-ás em ti. 
Porque sei que te acharás em meu peito retratada, 
Tão ao vivo desenhada, que, em te olhando, folgarás 
Vendo-te tão bem pintada.

E se acaso não souberes em que lugar me escondi 
Não busques aqui e ali, mas se me encontrar quiseres 
A mim, buscar-me-ás em ti, buscar-te-ás em mim. 
Sim, porque és meu aposento, és minha casa e morada

E assim chamo no momento em que de teu pensamento 
Encontro a porta cerrada 
Busca-me em ti, não por fora para me achares ali 
Chama-me, que a qualquer hora a ti virei sem demora 
E a mim, buscar-me-ás em ti, buscar-te-ás em mim.


SÃO JOÃO DA CRUZ


NOITE ESCURA I 

Em um noite escura,
De amor em vivas
Ânsias inflamada,
Oh! Ditosa ventura!
Saí sem ser notada,
Já estando minha casa sossegada.
Em uma noite escura,
De amor em vivas
Ânsias inflamada,
Oh! Ditosa ventura!
Saí sem ser notada,
Já estando minha casa sossegada.


Na escuridão, segura,
Pela secreta escada, disfarçada,
Oh! Ditosa ventura!
Na escuridão, velada,
Já estando minha casa sossegada.


Em noite tão ditosa,
E num segredo em que ninguém me via,
Nem eu olhava coisa,
Sem outra luz nem guia
Além da que no coração me ardia.


Essa luz me guiava,
Com mais clareza que a do meio dia
Aonde me esperava
Quem eu bem conhecia
Em sítio onde ninguém aparecia.

NOITE ESCURA II

Oh! Noite que me guiaste,
Oh! Noite mais amável
Que a alvorada:
Oh! Noite que juntaste;
Oh! Noite que juntaste:
Amado com amada. 


Amada já no Amado transformada!
Em meu peito florido
Que, inteiro,
Para ele só guardava.


Quedou-se adormecido,
E eu, terna, o regalava,
E dos cedros o leque o refrescava.


Da meia a brisa amena.
Quando eu os seus cabelos afagava,
Com sua mão serena,
Com sua mão serena,
Em meu colo soprava.


E meus sentidos todos transportava. 
Esquecida, quedei-me,
O rosto reclinado sobre o Amado; 
Tudo cessou. Deixei-me.


Largando meu cuidado
Por entre as açucenas olvidado.


Nenhum comentário:

Postar um comentário