terça-feira, 15 de julho de 2014

PRÉ-MODERNISMO (PARTE II) - AUGUSTO DOS ANJOS


1 - NOTAS BIOGRÁFICAS:

Augusto dos Anjos nasceu no Engenho Pau D'Arco, Paraíba, Estado onde viveu até os 24 anos. Entre 1903 e 1907 estudou direito na Faculdade de Direito do Recife. Em 1910, transferiu-se para o Rio de Janeiro com sua mulher, grávida de seu primeiro filho, que não sobreviveria. Viveu em condições precárias na cidade, com dificuldades de obter emprego e sustento para si e a família. Em cerca de três anos, consta ter residido em dez diferentes endereços, em geral hospedado em pensões. Em 1912, o poeta publicou seu único livro, Eu, financiado por seu irmão Odilon. Em 1914 foi morar em Leopoldina, onde obteve  cargo de diretor do Grupo Escolar da cidade em que faleceria, aos trinta anos, na noite de 12 de novembro.

2 - SOBRE A OBRA EU:

Publicado em 1912, Eu seria o único livro de Augusto dos Anjos. Os 58 poemas aqui reunidos causaram enorme estranhamento no ambiente literário do início do século XX e permaneceram ainda hoje como exemplares de uma poesia bastante insólita. Frutos de uma singular aliança entre tendências literárias e filosóficas do período, os poemas de Eu são tributários do cientificismo positivista do século XIX, do formalismo parnasiano, do misticismo simbolista - vazado pelas doutrinas espirituais do Oriente, que o poeta empresta de Schopenhauer, junto do pessimismo das coisas humanas - e das ideias do Naturalismo, que que reduzem o homem a seus aspectos biológicos e temperamentais. Anti-idealista, corrosiva e impiedosa na consideração dos destinos humanos, a poesia de Augusto dos Anjos, considerada doentia por muitos de seus contemporâneos, sobreviveu ao século XX muito melhor do que a de autores celebérrimos durante a vida do poeta, como Olavo Bilac e Raimundo Correa. 

3 - LEIAMOS, A SEGUIR, UM DOS SEUS MAIS BELOS POEMAS:  

Meu coração tem catedrais imensas, 
Templos de priscas e longínquas datas,
Onde um nume de amor, em serenatas,
Canta a aleluia virginal das crenças.

Na ogiva fúlgida e nas colunatas 
Vertem lustrais irradiações intensas
Cintilações de lâmpadas suspensas 
E as ametistas e os florões e as pratas.

Como os velhos templários medievais
Entrei um dia nessas catedrais 
E nesses templos claros e risonhos...

E erguendo os gládios e brandindo as hastas,
No desespero dos iconoclastas
Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!

TEXTO RETIRADO DO LIVRO:

ANJOS, Augusto dos. Eu. Organização de Fabiano Calixto. São Paulo: Hedra, 2012. p. 04. 

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