quarta-feira, 4 de outubro de 2017

ENTREVISTANDO ÉMERSON CARDOSO (UM EXERCÍCIO)


ENTREVISTA

A entrevista é um gênero a que recorro com frequência há alguns anos. Eu sou viciado em entrevista – esta é que é a verdade –, mas não busquei saber, a fundo, o porquê de tal vício. Escrita ou oralmente, a entrevista sempre me instiga. Um dos meus programas preferidos de entrevista é o Provocações, com o imortal Antônio Abujamra. Como um dos meus sonhos era ser entrevistado por ele, o que ainda em vida do entrevistador já seria impossível por vários motivos, eu resolvi, em 2013, transcrever algumas das perguntas que ele apresentava no programa e tentar responder num fôlego. Foi um exercício interessante! Após quatro anos deste exercício, resolvi, sem ler as respostas anteriores, refazê-lo e ver em que aspectos minhas respostas foram preservadas – eu retomarei as mesmas perguntas acrescentando apenas um ou outro ponto. Autoentrevista é coisa de gente narcisista e egocêntrica, eu sei – mas que se danem as opiniões que criticam o exercício que preciso fazer. O que quero, em verdade, é me autoconhecer de algum modo e, se esse for um bom método, a ele recorrerei.


Em crônica em que você discorre sobre um fim de tarde, você escreve: “Aves pernoiteiras deslizavam pelo céu em arrebol e eu caía em pontiagudas ânsias: sede de alguma coisa que sequer eu sou, nem sei”. Que sede é esta?

A sede de viver em paz de espírito, de sentir a presença de Deus (apesar de minha pouca crença), de ampliar os conhecimentos, de conseguir realizar meus objetivos me persegue desde sempre, mas creio que a sede a que me refiro é a sede do autoconhecimento, da autocompreensão e de conseguir me tornar um ser humano melhor para mim mesmo e para o outro – que desafio!  

Perceber que o tempo passa, e que você envelhecerá, o incomoda?

Às vezes, sim. Não no sentido de que a velhice me conduziria para uma provável aproximação da morte – não é preciso envelhecer para morrer –, mas porque a velhice, nesta sociedade capitalista que exclui quem não é capaz de representar possibilidade de produção, me remete à solidão e ao abandono. Tenho pensado sobre o fato de que na velhice eu não poderei contar com meus filhos – porque não os tenho – para cuidar de mim. Mas ter filhos, é claro, não é garantia de proteção e cuidados.  

Como você acha que vai morrer?

Não sei, mas seria interessante que fosse sem medo e sem dor – conformar-se com a morte, ou melhor, perder o medo, quando ela vier, talvez alivie a sensação incômoda da inexistência inevitável. A solidão na hora da morte parece ser dolorosa demais, mas...

O que você acha que vai encontrar quando você morrer?  Com quem você, se pudesse, desejaria se encontrar?

Se houver vida após a morte, e eu me esforço para crer nisto, espero me encontrar com as pessoas com as quais mantive, aqui na Terra, grandes afinidades – seria bom reencontrar alguns familiares e alguns amigos e amigas.

Você costuma enfatizar o tema da amizade em vários textos que escreveu. Num deles, você afirmou: “Alguém me disse, certa vez, que amizade não passa de uma utilidade prática – eu discordo. Eu prefiro apoiar-me, talvez romantizando o termo – o que é um problema a ser dirimido –, na assertiva de Clarice Lispector (1999, p. 78): ‘Amizade é matéria de salvação’”. Você acredita mesmo que amizade não é uma utilidade prática?

A gente deve atribuir utilidade prática a objetos, não a pessoas. Creio, no entanto, que tenho uma visão mais racional sobre amizade, tanto que tenho restrições com esta palavra, por considerá-la valiosa demais para utilizá-la com quem de fato não a merece. Sobre o assunto, gosto do que Omar Kháyyát diz: “Contenta-te com poucos amigos. / Não busques ampliar a simpatia que alguém te inspirou. /Antes de apertares a mão de um homem, considera se ela um dia não se erguerá contra ti”.

Você considera importante que as pessoas professem uma crença religiosa?

Sim, creio que é pertinente quando isto torna a pessoa um ser humano melhor. E quando a crença não se transforma em motivo para que conflitos sejam fomentados.

Você prefere a certeza ou o risco?

Depende do contexto. Eu não gosto de ter certeza das coisas porque o mistério é, por vezes, instigante, porém não suporto lidar com coisas arriscadas. Correr riscos nunca foi meu forte – tenho muito medo do que é novo e tenho medo de surpresas!

Explique esta ideia que você expôs em um dos seus textos: “Baratas gordas existem em algum escuro que não posso perscrutar – e como são completas! Nascem para fins específicos sem que haja necessidade de problematizações”.

Elke Maravilha disse algo parecido numa entrevista. Ela comentava que o ser humano, diferente dos demais animais que já nasciam sabendo sua finalidade, precisa descobrir, às vezes durante a vida inteira, a que veio. Do meu ponto de vista, nós humanos somos realmente limitados neste sentido, ao mesmo tempo em que, por pensarmos sobre nossas limitações, somos de fato muito mais complexos que os animais e, por isto, mais fascinantes!

O que é a vida?

Gosto do que disse Clara Charf numa entrevista: “Eu acho que é tudo o que pulsa, tudo o que você pode realizar, construir, fazer... Vida é isso! Uma pessoa que não faz nada, que não participa de nada, que fica só se queixando, ou então, sei lá, amargurada, porque não tem isso ou aquilo, acho que não vive, porque vida, para mim, é luta!” Mas eu digo, ainda: a vida é algo inexplicável e a gente tem que fazer com que ela tenha sentido!

A vida é uma causa perdida?

Por vezes, sou instigado a dizer, porque tenho alma que se pretende realista demais, que a vida é um caos, um horror! Eu repensei muito esta minha percepção e tenho tentado considerar o seguinte: a vida é um momento compreendido entre o nascer e o morrer e, de certo modo, temos que dar significado, ou sentido, a este momento. Por este ângulo, a vida ainda não é uma causa perdida, pois temos muitos sentidos e significados a atribuir a ela.

A felicidade é uma causa velha?

Gosto do conceito de felicidade que Clóvis de Barros Filho propõe: felicidade seria, para ele, algo que a gente vive e não quer que acabe nunca. Desde que nasci, eu tive, pela primeira vez, um encontro definitivo com a felicidade: passei dois anos e alguns meses fazendo o que mais amo na vida – estudar. A felicidade acabou, infelizmente, quando o curso foi concluído, mas eu pude dizer que fui feliz e, com isto, constatei que a felicidade ainda pode acontecer, embora seja rara e passageira.

Na irônica e crítica crônica intitulada “A felicidade de ser professor no Brasil”, você afirmou: “Num país em que Professores são tratados com desdém, humilhação, violência, descaso e desrespeito [...], ser Professor parece incongruência e masoquismo: por quanto tempo cursos de licenciatura ainda terão público?”. Comente:

Eu me tornei professor por vocação – escolhi a profissão antes de estar no Ensino Médio. Agora, na minha concepção, o problema da educação neste país é um projeto arquitetado ardilosamente pelos malditos poderosos que se dizem políticos: quanto menos o povo tiver acesso ao conhecimento, mais alienado, retrógrado, abobalhado e infeliz será o povo e, consequentemente, mais fácil de manipular. Ser professor é um grande acontecimento em minha vida, não me imagino em outra profissão, porque de fato amo o que faço, no entanto não considero que seja viável olhar para o que temos com cegueira e conformismo. Algo precisa ser feito e eu, sinceramente, não sei o que é, porque um professor sozinho nada faz e os profissionais da área tendem a ser pouco organizados e, muitas vezes, acomodados e acríticos demais. Eu tento fazer a diferença na minha área – tenho conseguido alguns momentos de alívio na dor.

Qual foi sua grande frustração nesta vida?

Não ter nascido numa família bem estruturada que representasse apoio e segurança.

O que mais pesa em sua cabeça: as dores ou as recordações?

Tenho uma memória absurdamente intensa – e isto é uma dádiva, porque eu sou aquilo que minha memória conseguiu resguardar de bom ou de ruim ao longo de minha vida. O problema é que recordações vêm à tona com muita facilidade e, inevitavelmente, isto representa dor. Há alguns dias vivi algo muito grave em termos de memória: 1) nem sempre o que ela insiste em mostrar corresponde, de fato, à realidade, ela pode superdimensionar as coisas e nos enganar, 2) a memória pode nos trazer alegrias inexplicáveis, pois guardei uma melodia por quase vinte anos e, por tê-la resguardado com afinco, foi possível reencontrá-la por meio de uma pesquisa.

O que você quis dizer com a seguinte frase: “Estou num lugar que não é meu, num tempo que não é meu, num mundo que não é meu”.  Em que época você queria ter vivido?

Não sei explicar muito bem, mas não me sinto pertencente ao lugar em que vivo, embora eu me sinta rico por ser nordestino; não me sinto identificado com o tempo em que vivo, embora eu reconheça as facilidades tecnológicas de que dispomos; não me sinto parte do mundo, porque o vejo por um prisma do realismo demais: os seres humanos, e eu me incluo, são capazes de tantas monstruosidades que eu, em verdade, por pura vergonha, gostaria de não ser parte dele e...

Você se considera politizado?

Não no que diz respeito a concepções partidárias e coisa e tal. Sou politizado porque estudo política, porque penso a condição da minha cidade, estado e país... Porque analiso as práticas governamentais e sou capaz de apontar falhas e propor ideias que amenizariam o caos... Sim, penso politicamente... Sou capaz de agir politicamente.

Há esperança para o mundo?

Queria que sim, mas...

E para o Brasil?

Só quando o povo brasileiro for capaz de condenar a corrupção dos políticos e, também, for capaz de excluir de si as pequenas e grandes corrupções diárias. Quando o povo, além disso, buscar intelectualizar-se e tiver capacidade de reivindicar seus direitos ao contrário de ficar, como teria cantado Raul Seixas, “com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar”.

Remetendo-se à política nacional, em texto contundente e, por vezes, irônico, você apresentou a seguinte assertiva: “E Enquanto biltres se ocupam em destruir – ratos que são – o país, eu me impressiono com a minha própria condição. Fixo um ponto na parede e deixo o mundo girar sem mim”.

Eu disse que fixo um ponto e deixo o mundo girar sem mim, mas não é verdade. Eu me envolvo com questões políticas a ponto de adoecer – evito jornais, porque sou capaz de perder, literalmente, o sono quando vejo certas notícias. Quanto ao que disse sobre os políticos, isto é o de menos que eles são. Eu os chamo de ratos, mas com todo respeito aos ratos. Estamos perdidos, sobretudo no momento atual, com a gentalha de baixa índole que, por meio de um golpe, dita as regras e destrói o país cinicamente.

Numa das suas assertivas mais amargas, você diz que a população brasileira, fortemente hipócrita, costuma “cantar o Hino nos jogos da copa do mundo e em cerimônias obsoletas, ilusórias e acríticas que são realizadas sempre na semana da pátria”. Qual é o seu problema com o Hino Nacional?

Eu aprendi a cantar o Hino Nacional na escola – e o reforcei na época do serviço militar. Eu não consigo cantar o Hino, eu não o suporto, não o tolero... Não sei se tem a ver com tristeza e decepção com o país, se tem a ver com a raiva que tenho de só ver a população cantá-lo por ocasião da copa do mundo... Talvez tenha a ver, ainda, com o fato de que me traz lembranças dolorosas demais: o Hino me lembra uma infância triste, uma adolescência dolorida... Eu cantei o Hino na escola, toquei o Hino na fanfarra, cantei o Hino no Tiro de Guerra... Não o posso ouvir e cantar nunca mais!

Você escreveu, certa vez: “No meu serviço militar, dentro de coturno e fardamento, fui instigado a crer na pátria como algo de imenso valor e que eu deveria, com o sacrifício da vida, preservá-la, no entanto...” As reticências remetem a algo que não foi dito – o que é este algo?

Tudo neste país é contraditório... Quando a gente canta o Hino da Independência que, devo ressaltar, me comove profundamente (ele me faz lembrar uma professora que tive: ela se atirou da janela de um hospital psiquiátrico), nós cantamos o refrão como se fôssemos capazes de morrer para salvar a pátria de inimigos externos que tivessem a ousadia de vir desrespeitar e espoliar a nação, mas o inimigo da nação, em verdade, está aqui fazendo coisa pior e ninguém faz nada! Como mentem os brasileiros que cantam este verso: “Ou ficar a pátria livre, ou morrer pelo Brasil!”

Você tem humor?

Sim, eu rio muito facilmente das coisas... E de mim mesmo.  

Você já deu vexame?

Milhões de vezes.

Qual foi a maior imprudência da sua vida?

Lembrei-me de uma frase de Dercy Gonçalves: “Nada foi alegre, nada foi triste: foi vida!” Faz parte da vida e suas aprendizagens ser um tanto imprudente – mas evito ser.

Em crônica, você diz: “As pessoas temem a solidão – palavra mais linda da língua portuguesa, para mim –, porque a solidão tem peso de chumbo”. Você realmente considera esta a palavra “mais linda” da nossa língua? E a solidão tem peso de chumbo por quê?

A solidão, para mim, é a mais linda das palavras, sem dúvidas, e a mais indispensável das sensações e o mais indispensável dos estados. A solidão pesa, porque nem todo mundo é capaz de acorrer a ela, ou aceitá-la como algo positivo. Estar com pessoas é valioso também, claro, porém a solidão é condição sine qua non para quem deseja produzir, autoconhecer-se, encontrar-se com a espiritualidade...

Alguém perguntou se você já amou e sua resposta foi: “Se amei ou amo [...], a quem direciono tal amor? Isto não importa, pois dizer que amo alguém não trará este alguém para mim. E amar é totalmente contrário ao ato de exposição – ao menos no meu caso –, porque sou avesso a declarações mais explícitas. E costumo dizer, contrariando visões mais telenovelísticas, que a confissão de amor é uma falha sem precedentes numa relação afetiva. O amor deve ser expresso, mas não com palavras. Confessar a alguém o amor sentido é um risco desnecessário – o que é mistério instiga”. São muitas afirmações contundentes sobre o amor em um parágrafo só, não acha? Você pode comentar o que, de fato, está por trás dessas afirmações?

Realmente, são declarações incisivas sobre o amor. Eu continuo pensando dessa forma e continuo sem conseguir dizer, ao certo, se amei alguém. Sobre o tema, gosto do que Katherine Mansfield diz no texto O canário: “Talvez não importe muito que coisa amamos nesta vida. Mas devemos amar alguma coisa”. Isto contraria o trecho de O Quinze, de Rachel de Queiroz, que norteou, nesta perspectiva, minha vida desde sempre: “Ora o amor!... Essa história de amor, absoluto e incoerente, é muito difícil de achar... eu, pelo menos, nunca o vi... o que vejo, por aí, é um instinto de aproximação muito obscuro e tímido, a que a gente obedece conforme as conveniências...”

Em que você se considera melhor que os outros?

Em nada. Cada vez mais, tenho percebido que não sou aquilo que eu deveria e poderia ser. Estou longe de ser melhor em algo...

Em que você se considera pior que os outros?

Sou medroso demais!

Em seu memorial sobre como adquiriu o hábito da leitura, você afirma o seguinte: “A minha professora da primeira série foi, sem dúvidas, uma grande influência que tive para tornar-me um leitor, tendo em vista que em casa não havia estímulo. Minha infância foi totalmente diferente da infância de crianças comuns: eu era muito isolado, passava o dia a desenhar, criar narrativas, tinha poucas amizades e muito medo de sair de casa”.

Em verdade, o desejo de ler nasceu sem que ninguém me estimulasse diretamente, pelo que me lembro. Não só a minha primeira professora, mas todas elas contribuíram com a minha formação, sim, porque não tive estímulo em casa... Desde sempre, quando criança, eu fui muito atento ao que as pessoas falavam. Eu amava escutar histórias...  

Qual a manifestação de Arte que você prefere?

Literatura, cinema e música – mas todas as outras áreas me são instigantes.

Por qual personagem da Literatura você sente maior admiração?

São tantas, em verdade. Vou dizer três mulheres e três homens: 1) Maria Moura, de Rachel de Queiroz; 2) Emma Bovary, de Gustave Flaubert; 3) Úrsula, de Gabriel García Márquez; 1) Aliocha, de Fiódor Dostoiévski; 2) Frédéric Moreau, de Gustave Flaubert; 3) Nando, de Antonio Callado.  

E da História?

Francesco d’Assisi, Gandhi...  

O que você lê atualmente?

Tropicália: a história de uma revolução musical, de Carlos Calado.

Cite um autor de que você gosta muito:

Impossível citar um...

Qual o grande autor que você ainda não descobriu?

Camus, Balzac e Lúcio Cardoso...

Que obra literária vem à sua mente sempre que alguém pergunta sobre qual é sua obra preferida? 

Memorial de Maria Moura, Madame Bovary, Cem anos de solidão, Os irmãos Karamazov, A educação sentimental, Quarup, A hora da estrela, Verão no aquário, Romanceiro cigano, O Quinze...

Que obra você leu – se é que conseguiu finalizar a leitura – e que você não suporta e não recomenda ao pior inimigo?

Farda, fardão, camisola de dormir, de Jorge Amado.

Você teceu um comentário incisivo em certo texto: “Preconceito acadêmico é uma lástima – antes de tecer qualquer crítica contra um autor e sua obra faz-se necessário conhecê-los”. É preciso ler autores como Paulo Coelho para confirmar o quanto de fato ele é ruim?

Sem dúvidas. Não é possível criticar um autor sem ter condições de apontar em que aspectos ele falha. O preconceito acadêmico é complicado, pois se dizem que uma obra é ruim, pela lógica, o aluno deveria ler a obra considerada ruim para tirar suas próprias conclusões – e isto não ocorre. Alunos de graduação aceitam, conformados, o pensamento dos professores. Se um texto for ruim ou bom, que a leitura seja o meio através do qual essa constatação se estabeleça. Criticar algo sem ler, do meu ponto de vista, é catastrófico – e patético!   

Qual é o maior trabalho musical do Brasil?

A história do Nordeste (1954), de Luiz Gonzaga; Tropicália ou Panis et circensis (1968), de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Os Mutantes, Tom Zé, Gal Costa e Nara Leão; Acabou chorare (1972), dos Novos Baianos; e A mulher do fim do mundo (2015), de Elza Soares!

Qual a maior cantora e o maior cantor?

Elza Soares e Luiz Gonzaga.

Ao remeter-se ao cantor Luiz Gonzaga, em comentário sobre sua morte, você disse: “Se um dia o país em que vivo tiver que renegar seus grandes artistas, eu lamentaria muito porque sei que muitos artistas vivos e mortos não mereceriam tal condição, mas eu talvez, dependendo da circunstância, o perdoasse. Mas um há que eu não admitiria ser, em hipótese alguma, renegado: Luiz Gonzaga”. Por que um comentário tão generalizante e apaixonado?

Luiz Gonzaga traz à tona a única coisa de que me orgulho neste país: o Nordeste. O Nordeste é de uma riqueza cultural e de uma força de sobrevivência que não podem ser mensuradas. A história desse país em que nasci mostra, com facilidade, o quanto o Nordeste contribuiu em seus vários aspectos. Luiz Gonzaga, com sua voz e lirismo, construiu um projeto muito bem articulado e fez o Nordeste ser visto para além dos estereótipos...

Qual é o maior equívoco que as pessoas poderiam cometer ao falar sobre você?

Algumas pessoas me veem como alguém que detém muita inteligência e coisa e tal – isto não é verdade. Se há inteligência em mim, tem a ver com a visão perspicaz que me diz diariamente o quanto preciso ampliar meus conhecimentos e mudar meu comportamento que, por vezes, é complicado.

Você se indagou: “De onde me vem este desejo absurdo de chorar sem conseguir nunca?” Você não chora? Por quê?

Quando criança, segundo minha mãe, eu chorava muito e por tudo. Certo dia, cansada de me ver chorar, minha mãe me trancou no banheiro e me deixou lá até eu parar de chorar... Ela conseguiu alcançar seu objetivo. Eu choro apenas por estar comovido, e isto só acontece se eu estiver sozinho.

Diga algo que, se você tivesse tido oportunidade, você teria dito, mas que até então você, por vários motivos, não pôde dizer:

“O verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que lançamos, pela primeira vez, um olhar inteligente sobre nós mesmos”. (Marguerite Yourcenar)

OBS.: Perguntas elaboradas pelo autor do Blog a partir das entrevistas realizadas por Antônio Abujamra, do programa de entrevistas "Provocações", da TV Cultura, em 26/09/13, e retomado em 23/09/2017. 




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