quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

LIVRO É SEMPRE UM BOM PRESENTE - SOBRE "A GRAÇA DA COISA", DE MARTHA MEDEIROS


Por ocasião de uma viagem realizada em 2013, rumo a João Pessoa, um amigo e eu ficamos hospedados no apartamento de um leitor contumaz da obra de Martha Medeiros. Durante os poucos dias em que estivemos nesta cidade, passamos a maior parte – o que pareceu muito gratificante – confinados. Eu aproveitei para assistir filmes (Tudo sobre minha mãe, Colegas e À beira do caminho) e ler alguns textos de um livro de crônicas que me chamou atenção assim que entrei no apartamento e o vi sobre uma mesa: A graça da coisa, de Martha Medeiros.

Li obstinadamente esta obra, mas não consegui concluí-la na data em que deveríamos retornar à nossa cidade. Vendo-me constantemente com o livro em mãos, e percebendo que eu havia me incomodado por não tê-lo lido inteiro à iminência de ir embora, seu dono fez uma dedicatória e o entregou a mim com votos de que eu lesse e depois comentasse se havia gostado. Ante a gentileza dele, fiquei sem palavras – principalmente porque ele me havia dito que o comprara há pouco e que sequer o havia lido ainda. Devo dizer que ele dispunha de vários outros títulos da autora e que ao me presentear esse livro o fez por evidente desprendimento.

A propósito das crônicas que a autora compila no livro, todas são de uma linguagem acessível, os temas cotidianos são instigantes, há menção constante a obras cinematográficas, artes plásticas, peças teatrais e livros sobre os quais a cronista discorre de modo a apontar pontos de vista interessantes.

Além disso, surgem nas crônicas discussões sobre comportamento, relacionamentos afetivo-amorosos, família, atualidades, cenas de perceptível humor, comentários sutis sobre política, reflexões sobre o ser/estar no mundo conflitante das relações humanas e os dissabores (por vezes permeado de comicidade) sobretudo do universo feminino – com suas belezas e constantes descobertas diárias.

Fiquei sabendo que o hilário e comovente filme Divã, que traz a excelente Lília Cabral como protagonista, foi baseado na obra de Martha Medeiros, mas não havia lido obra alguma dessa escritora. Foi nessa viagem, através do livro A graça da coisa, que tive acesso à escrita dela. 

Confesso que os textos são direcionados a um público específico, pelo modo como a autora expõe determinados problemas do cotidiano. Sinto falta de mais discussões de caráter, por exemplo, social nos textos. A leveza, no entanto, com que a autora conversa com o leitor, faz com que seus textos sejam agradáveis. Creio que é um livro é ideal para quem busca descansar a mente um pouco, para quem deseja leituras mais leves, mais tranquilas.

Alguém comentou que não suportava Martha Medeiros por ela ser escritora de autoajuda. Não sei quanto aos demais livros dela, porém ao ler A graça da coisa, especificamente, vi que ela não se trata de uma escritora de autoajuda, mas de uma escritora que consegue dizer de modo simples, coerente e inteligente o quanto é possível estar antenado com o mundo prático e tentar estar de bem com ele. Sendo as relações tão tumultuárias e conflitantes, ler textos literários que discorrem sobre tais assuntos, quando estes são bem escritos e apresentam ideias inteligentes, é sempre válido.

Agora, no fim do ano de 2014, na tentativa de descansar a mente de leituras mais teóricas, decidi reler A graça da coisa e confesso que foi muito bom: deu para refletir sobre a vida, sobre o mundo, sobre tudo... E, ao fazê-lo, recordei-me de que havia prometido a quem o havia ofertado que emitiria minha opinião. Eis, portanto, minha opinião. 

E, para concluir, preciso dizer duas coisas: 1) preconceito acadêmico é uma lástima – antes de tecer qualquer crítica contra um autor e sua obra faz-se necessário conhecê-los – e 2) sou muito grato por ter aprendido que pequenos gestos de desprendimento podem fazer grande diferença para quem de fato os valoriza. 
           
Texto de: Émerson Cardoso

29/12/14

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