quarta-feira, 6 de março de 2013

"O PORTUGUÊS QUE NOS PARIU", DE ANGELA DUTRA DE MENEZES - UMA RESENHA CRÍTICA

          MENEZES, Angela Dutra de. O português que nos pariu. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2010.

         Esta obra apresenta, com bom humor e criatividade, os valores culturais que o povo brasileiro herdou - ou amargou? - de seus antepassados portugueses. A autora realiza um trabalho sem o rigor comum dos livros didáticos e, sem perder de vista uma intensa pesquisa histórica, desvela inúmeros acontecimentos importantes para compreendermos uma das marcantes raízes da nossa múltipla cultura brasileira. 

         Essa obra é constituída de vinte capítulos em que, com uma linguagem simples, descontraída, prosaica, a autora trata desde o surgimento do idioma até a explanação, por vezes tragicômica, da vida de grandes nomes da história portuguesa. Com fluência, a autora realiza uma crônica de costumes, expõe detalhes preciosos sobre a realidade social portuguesa em séculos e séculos de história que são apresentados sem os discursos encomiásticos (que mitificam personalidades históricas) e sem leviandades (a autora nos apresenta, por exemplo, um interessante capítulo em que discorre, de modo até comovente, sobre as venturas e desventuras de Carlota Joaquina: a nada singela esposa de D. João VI).

         No primeiro capítulo, a autora nos apresenta a história do idioma por meio de uma divertida "Receita de português" em que são apresentados os diversos povos que contribuíram com suas culturas para a construção da nossa língua portuguesa - a quinta mais falada no mundo. No sétimo capítulo, a autora nos apresenta a vocação marítima de Portugal, por exemplo, num dos capítulos mais intrigantes do livro. E nos estimula a tentar entender melhor essa peculiaridade portuguesa quando diz (p. 73): "A vocação marítima lusitana é mais antiga do que se imagina."  Em seguida, temos um dos, sem dúvidas, capítulos mais excitantes da obra: "Carlota Joaquina, Infanta de Espanha". Isso se dá, certamente, porque nele a autora destaca a figura de Carlota Joaquina que sempre estimulou, para o bem ou para o mal, o imaginário popular.

      Um leitor desavisado poderia afirmar que essa obra é uma crônica condescendente sobre o português explorador cuja ambição e soberba nos aterrorizou por muitos anos. Porém, a sensação que se tem, ao concluir a leitura dessa obra, é a de que o português, sobretudo pela herança linguística que nos legou, muito contribuiu para a nossa compreensão de mundo. As idas e vindas de Portugal - que vivia ora de glórias, ora de desgraças - nos proporciona, pela forma com que a autora nos apresenta, um desejo imenso de rir, ou mesmo de aceitar a grandeza intelectual e histórica desse povo que esteve aberto às grandes navegações e suas possíveis conquistas de modo mais amistoso. Ressalte-se que, no entanto, a obra não nos dá a visão alienada de que Portugal e suas figuras históricas merecem mitificações encomiásticas - porque qualquer ufanismo ante o 'colonizador-explorador-invasor' seria uma atitude ingênua e patética -, mas nos apresenta um olhar menos 'rancoroso' sobre os valores culturais que também nos amplia como seres brasileiros multifacetados que somos. 
         
           No último capítulo do livro, "Nossos bisavós portugueses", a autora discorre sobre valores familiares pessoais - podemos dizer que esse capítulo se caracteriza como uma crônica de memórias de família - ao mesmo tempo em que discute a realidade de Portugal ante a estagnação que vive em relação a demais países europeus e a realidade de emigrantes portugueses no Brasil - daí o "português que a pariu" é colocado em pauta: João Jorge Gaio Júnior, seu bisavô.

           Enfim, a autora Angela Dutra de Menezes, escritora, jornalista e romancista - é autora dos romances "Tecelã de sonhos" e "Santa Sofia" - consegue nos apresentar um pouco de Portugal com o ar descontraído de quem conta uma história para amigos e, ao mesmo tempo, com o compromisso de nos tornar mais próximos de nossas origens. É um "best seller" - o que a academia muitas vezes não vê com bons olhos - de qualidade incontestável.

 TEXTO: ÉMERSON CARDOSO
06/03/13


ESSA RESENHA CRÍTICA APRESENTA OS SEGUINTES ITENS:

1- IDENTIFICAÇÃO

2- APRESENTAÇÃO

3- DESCRIÇÃO SUMÁRIA DA ESTRUTURA DA OBRA

4- AVALIAÇÃO (DESCRIÇÃO DO CONTEÚDO DA OBRA)

5- RECOMENDAÇÃO (ANÁLISE CRÍTICA E RELAÇÃO DAS IMPLICAÇÕES DECORRENTES DO TEMA)

6- DADOS DO AUTOR

7- ASSINATURA DO RESENHISTA

ESSE MODELO DE RESENHA CRÍTICA FOI RETIRADO DO LIVRO:


KÖCHE, Vanilda Salton; BOFF, Maria Benetti; PAVANI, Cinara Ferreira. Prática textual: atividades de leitura e escrita. 6. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.


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