Encontrei uma página intitulada Casa Museu do Padre Cícero numa rede
social e vi, dentre os materiais iconográficos, audiovisuais e textuais, apresentados
na referida página, um texto cujo autor não é identificado e que fiz questão de
ler. Neste texto, fiquei sabendo que o Museu “é um verdadeiro patrimônio
histórico e cultural para o Ceará, Região do Cariri, especialmente para o
Juazeiro”.
Agora, decepcionado com o que os
administradores têm feito com o Museu, devo perguntar: como assim o Museu Casa do Padre Cícero é um
patrimônio de inconteste valor se ele me parece desprezado, abandonado, à mercê
da própria sorte?
Estou estarrecido, triste e
decepcionadíssimo com o que vi. No texto mencionado anteriormente, há menção a
um trabalho que tem sido desenvolvido com relação ao material bibliográfico, e
isto é louvável. Mas como proteger este material se a casa parece não dispor do
mínimo de cuidado por parte da administração, se tudo parece atirado ao léu?
Eu sou juazeirense, nascido e
criado, de modo que posso falar sobre o que tem ocorrido com propriedade. Como se
não bastasse a administração municipal não ter o mínimo de competência para
gerir nossa cidade, que está devastada em vários aspectos, deparar-me com o que
vi na última morada do padre Cícero, considerado o cearense do século, parece
uma afronta aos valores históricos e culturais de que a cidade dispõe.
Sujeira pelo chão, poeira,
desorganização na disposição dos objetos do padre, madeira do teto de um dos
cômodos caindo, nenhuma fiscalização para acompanhar os muitos visitantes que
se abalroavam pelos cômodos da casa e um notável odor de mofo a espargir de
todos os espaços. Claro que temos visto muita chuva neste mês de janeiro, e que
a umidade é possível neste caso, mas, convenhamos, não me parece que o problema
deve ser lido apenas como uma das consequências da chuva!
Aquela casa em que o padre Cícero
morou, e onde morreu, é de valor incomensurável do ponto de vista histórico –
isto é fato. Como podemos permitir que tanto descaso a acometa e a transforme
em reduto de sombras quando, em verdade, ela representa um dos espaços mais
importantes da atualmente tristonha Juazeiro do Norte?
Creio que os Salesianos devem
realizar, no momento, algum trabalho nesta perspectiva, porém precisamos de
algo mais expressivo. Vamos deixar que aquele espaço se dilua por falta de
melhores cuidados? Meu Deus, que absurdo!
Juazeiro do Norte, com tanto
potencial humano e econômico e político e cultural, tem se deteriorado em
vários aspectos, porque não vislumbramos, há tempos, a sensibilidade de
políticos que olhem com mais sensação de pertencimento para nossa cidade. O que
a tem salvado, de certo modo, é a sensibilidade de alguns que ainda levantam a
voz contra o descaso a que ela está submetida, de modo que preciso integrar
este grupo dos que gritam a seu favor. Temos que fazer algo por ela hoje, para
que, na posteridade, possamos dispor do que por nós foi preservado.
A primeira ação que proponho é olhar
para o Museu Casa do Padre Cícero e
revitalizá-lo. O Horto foi revigorado e todos saímos ganhando com isto, não
foi? Façamos o mesmo com este Museu. Não
posso ver a casa, que minha bisavó visitou tantas vezes para colher, do
padre que ela considerava santo, auxílio para o corpo e para a alma, ser
desamparada, excluída, desvalorizada desta forma.
Aliás, quantas pessoas, ao longo dos
anos em que ela está de pé, entraram nela em busca de acolhimento e paz de
espírito! Não há quem olhe para seus degraus, e suas espessas paredes,
muito menos para os seus cômodos quase vazios, sem que vozes maltratadas pela
sorte gritem por um auxílio, e sem que o padre Cícero, em sua inteligência e
personalidade forte, lhes valha com uma palavra de conforto ou com uma ordem à
beata Mocinha de que lhes entregue alguns tões e tantos vinténs – e isto quem
me disse foi minha bisavó, mulher que nunca foi de mentira.
Este texto, portanto, é uma nota de
repúdio. É, também, um pedido devotado de que os Salesianos, ou a quem de
direito, faça alguma coisa por essa casa que aprendi a respeitar como se
fosse um ente querido que aguarda, sempre atencioso, alguma visita minha. A propósito,
mesmo quando morei fora da cidade, por algum tempo, não houve uma vez em que
estive aqui sem que eu fosse revê-la, com saudade e respeito, sempre certo de
que ela não me deixaria isento de ser bem acolhido.
CÍCERO
Émerson do Nascimento Cardoso
25/01/16
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