domingo, 12 de julho de 2015

FESTIVAL INTERNACIONAL DE SONETOS "CHAVE DE OURO": OS CINQUENTA MELHORES


(Poema selecionado para compor a Antologia: Os cinquenta melhores sonetos do VIII Festival Internacional de Sonetos "Chave de Ouro", da Academia Jacareyhense de Letras, de 2014):  


SONETO PARA UM SÓRDIDO E OBSOLETO CATRE: O AMOR!

O amor de Diego Rivera por Frida
O amor de Paul Verlaine por Rimbaud
Camille Claudel daria a sua vida
Para ter, de Auguste Rodin, o amor...

O amor de Clara perpassava ermidas
E a Francisco acariciava co’ardor
Sylvia Plath, alma tristonha e suicida,
Sofreu, por Ted Hugues, imensa dor...

Também o amor de Simone por Sartre
Dalva, por Herivelton, era amor
O amor de Edith Piaf pelo Pugilista...

De sofrer pungentes quedas num catre
De sentir, do desprezo, seu furor
Ninguém se livra se o tiver em vista.

(Émerson Cardoso)


CARTA / APELO AO PREFEITO DA CIDADE DE JUAZEIRO DO NORTE – CE (ou a revolta dos que não têm mais sangue para compartilhar com muriçocas)





Inicio esta carta com uma pergunta filosófica: quando está em Juazeiro do Norte, o senhor tem conseguido dormir em paz? Refiro-me não à sua administração que, como temos visto, anda – como eu posso dizer? – muito bem... Quer dizer... Não é uma coisa que se diga: ai que administração, mas...

Deixe-me que eu explique a que eu me refiro... Eu perguntava se o senhor, caro prefeito, dorme em paz sem ouvir um certo barulhinho no ouvido, ou certa picada na pele que tem, na possibilidade de um tapa, por vezes aplicado contra si mesmo, a única arma de que se dispõe para uma franca proteção?

Desculpe minha ignorância: é claro que o senhor dorme em paz, porque deve ter central de ar em casa, ou ventilador potente, ou dinheiro muito para comprar Raquete mata-mosquitos, Baygon, Raid mata-mosquitos e repelente o tanto que quiser...  

Quem não dorme em paz é a população de Juazeiro, sobretudo a população mais carente, que não pode comprar central de ar, ventilador potente ou Baygon, e outros produtos de proteção, com frequência! Aliás, até quem dispõe destes recursos não tem dormido em paz, porque as vampiras aladas não se dão por vencidas...

Bolsas de sangue, que poderiam ser doadas para o HEMOCE – instituição realizadora de trabalho louvável e sério –, têm sido carregadas pelo ar no ventre disforme desses esvoaçantes monstros noturnos a que a população denomina, com ódio veemente, “muriçoca”.

Será um problema advindo da falta de saneamento básico da cidade? Será porque o carro, apelidado popularmente como carro do fumaceiro, não tem passado há milênios? Ou será mais um elemento convocado para a perceptível tentativa de destruição da cidade? Sinceramente, não sei...

Minha cidade tem sofrido muito com isso e eu, que também me vejo no clã dos que não têm mais sangue a doar para quem toma de mim com violência, peço, amistosamente, algum auxílio.

Não sei o que tem causado a proliferação dessa praga – refiro-me às “muriçocas”, claro! – que tem destruído a cidade. Elas vivem nas sombras e comprazem-se em roubar nosso sangue como quem não tolera ver em nossas mãos o que nos pertence – lembra muito a postura de alguns políticos brasileiros...

Diante disso, eu preciso externar, em nome dos moradores da cidade em que nasci, a necessidade de que algo seja feito. Não é possível suportar essa situação como se nada estivesse a ocorrer  o sangue representa vida! Que clichê! Pergunto, ainda, ao senhor: não temos mais o direito de deixar a vida circular dentro de nós, com seu direito constitucional de ir e vir, pelas veias e artérias do nosso corpo cansado de trabalhar para fazer algo pela cidade? Já que dormir não nos é mais um direito, que ao menos nosso sangue seja preservado!

Considero a presença desses seres devastadores um problema de saúde pública e, como tal, exige-se, das autoridades competentes, alguma providência. Caso seja inviável, para o senhor, realizar saneamento básico em toda a cidade, com a urgência que o caso exige   que pretensão a minha! , sugiro, ao menos, que entre em contato com o secretário de saúde do município, com demais funcionários da área, ou com quem quer que seja, e veja se não seria possível ressuscitar o carro do fumaceiro – talvez não resolva, mas pelo menos assim ninguém dirá que o senhor não tentou reverter o quadro sanguinolento em que nos encontramos...

Ou, se possível, dê-nos uma bolsa-muriçoca, ou seja, um kit entregue diariamente no Centro Social Urbano  CSU  que contenha: Baygon, Raid mata-mosquitos, Raquete, repelente e óculos escuros para escondermos as olheiras resultantes de noites mal dormidas. Com isto, quem sabe, nós recuperemos nossa alegria de viver!

No mais, caríssimo, que seu sangue seja resguardado! Que seu ouvido jamais seja fustigado com zunidos devastadores! Que pela manhã seu rosto não seja marcado por bolinhas vermelhas que denunciam 15 litros de sangue a menos – roubados de si, corruptamente, numa única noite por essas bestas ferozes do armagedon, que nascem e renascem nos esgotos expostos da nossa cidade tão desassistida!

Creio que o senhor tomará alguma providência... Tenho esperança de que virão melhores dias para esta terra benemérita que não está a morrer à míngua, pois nela desfilam bons políticos – como o senhor, que, além de discursar muito bem, e ser um grande articulador da língua portuguesa, é dotado de visão crítica, sóbria, honesta e sensível aos valores que ela comporta, pelo que temos percebido!

Atenciosamente,

Émerson Cardoso
15/08/15

"ROMANCEIRO DO NORTE JUAZEIRO" (ROMANCE DA RUA DE SÃO BENEDITO)



"ROMANCEIRO DO NORTE JUAZEIRO" (ROMANCE DA INDEPENDÊNCIA)


ROMANCE DA INDEPENDÊNCIA

TRÊS MOTIVOS PARA “O REBATE”

Liberdade nós queremos,
Nós queremos liberdade!

Juazeiro não precisava
Donativos dar ao Crato.

Liberdade nós queremos,
Nós queremos liberdade!

Pelo Monsenhor Tabosa
Juazeirenses insultados.

Liberdade nós queremos,
Nós queremos liberdade!

Antônio Luiz mandou
Batalhão de cobradores.

Liberdade nós queremos,
Nós queremos liberdade!

Criou-se mais que depressa
O informativo O Rebate.

Liberdade nós queremos,
Nós queremos liberdade!

Decidiu-se sem demora:
Juazeiro será cidade!

TRÊS FORÇAS PARA O COMBATE

Às regras vindas do Crato
Ninguém obedeceria.
Permitir ninguém iria
Do Crato humilhação.

Ricos sentiram o brio
Atirado contra o vento.
Pobres ergueram a fronte
Querendo retaliações.

Ante a fúria de Juazeiro,
Desperta num arrebol,
A Independência feroz
Resolveu reivindicar:

O Crato vislumbraria  
A desforra em recompensa.
Ergueria, a Independência,
Armas para combater.

Segurou as mãos sedentas
Do trio da aristocracia,
Segurou as mãos dolentes
Da população sofrida...

E escreveu austeras páginas
Em fulgentes pergaminhos.
Letras ornadas em sangue
D’uma gente combativa.

Gritos, vozes, urros, passos:
Procissão enfurecida...
Passos, gritos, vozes, marchas:
Juazeiro será cidade!

E pelas ruas indormidas
Retumbavam o refrão:
Liberdade nós queremos!
Nós queremos liberdade!

Mesmo que o Crato implorasse,
Que chorasse por perdão,
A Independência altiva
Não demonstraria clemência.
                                    
Professor José Marrocos
E Padre Alencar Peixoto,
Com Floro Bartolomeu,
Bradaram: “Independência!”

O poder de aristocratas
(Ideologia que estimula
O povo a quebrar os dentes
À frente de seus conflitos)

Fez da liberdade um fato
E o povo marchou bisonho,
A esperar melhores dias
Em passarela de mitos.

APOLOGIA À LIBERDADE

Homens, venham vislumbrar
Os desvelos desta dama!

Esqueçam Luzia e Glória,
Deixem sozinhas a ambas.

Quem precisa de bordel
Tendo em mãos a mais astuta?

A dama que não se vende,
A que se dá resoluta.

A cujo corpo se doa
Com flores de bons perfumes.

A cujas curvas se mostram,
A de olhar de mil veludos?

Homens, venham vislumbrar
Os desvelos desta dama!

Ela deita em qualquer corpo
E o adormece com suas chamas!

Quem quiser do seu abraço
Deve buscá-la, no entanto,

Nas sendas da confusão,
Na loucura do confronto.

Porque muitos amam dela
Seus braços de ouro impávido,

Seus lábios de prata em flor,
Seus olhos doces e cálidos...

Porque muitos amam dela
Sua facezinha purpúrea

E suas pernas alongadas
Dotadas de formosura...

Homens, combatam por ela!
Vocês devem resguardá-la!

Querem saber onde vive
Esta dama de preclaras?

Procurem e a encontrarão
Em noites de vis combates,

Quando a alma perde as forças
E deseja liberdade!

Liberdade, liberdade,
Em que beco encontraremos

Seus olhares, seus abraços?
Em que sonhos mais singelos?

A liberdade teremos
Nesta nascida cidade?

  Liberdade nós queremos!
Nós queremos liberdade!


CARDOSO, Cícero Émerson do Nascimento. Romanceiro do Norte Juazeiro. Pará de Minas, MG: VirtualBooks Editora, 2014. p. 32 - 38. 

SOFIA COPPOLA: DIREÇÃO MARCADA POR UM OLHAR FEMININO


CARDOSO, Cícero Émerson do Nascimento. Sofia Coppola: direção marcada por um olhar feminino. Revista Sétima de Cinema, n. 23, p. 03 - 05, ago. 2015.  

Ante a hegemonia masculina que paira sobre a profissão de diretor cinematográfico, Sofia Coppola parece não ter se sentido tolhida. Sequer o fato de ser filha de um diretor famoso, como é o caso de Francis Ford Coppola, a impediu de desenvolver obras fortemente marcadas por um estilo próprio que enfatiza o universo feminino.   

Sob vigilantes olhares que a acusaram de ser uma péssima atriz, por sua atuação no clássico O Poderoso Chefão – Parte III (1974), Sofia Coppola tem realizado uma filmografia que tem sido considerada superior ao seu desempenho como atriz e, por alguns dos seus filmes, sobretudo o premiado Encontros e desencontros, obteve finalmente o reconhecimento da crítica. 

O tema principal de suas obras é a expressão da alma feminina com seus aprisionamentos, angústias e insatisfações diante da necessidade de se afirmar num universo, por vezes, fustigante para a mulher. Com o diálogo sempre em segundo plano, seus filmes buscam capturar momentos incisivos das personagens em que a comunicação pelo olhar e pelos gestos, mais do que por meio de palavras, dá a tônica da cena. 

Na tentativa de discorrer sobre a feminilidade e suas nuanças, Sofia Coppola cria filmes protagonizados predominantemente por personagens femininas singularizadas pela juventude. Basta observar sua filmografia – curta ainda, embora já delineada por um estilo próprio – para comprovarmos nossa afirmação. 

Seu primeiro longa-metragem foi As virgens suicidas (1999). Em seguida, realizou: Encontros e desencontros (2003), Maria Antonieta (2006), Um lugar qualquer (2010) e o recente The Bling Ring: a gangue de Hollywood (2013). 

Dos filmes realizados pela diretora, As virgens suicidas me causou maior impacto. Adaptação criativa do romance de Jeffrey Eugenides – que publicou sua obra em 1993 –, este filme tem como foco a história de uma família norte-americana frente às mudanças comportamentais típicas da década de 1970. Cinco moças submetidas a rígidos padrões sociais e religiosos, estipulados sobretudo por seus pais conservadores, cometem suicídio num intervalo mínimo de um ano. A grande questão que a obra, por ser rica em vieses polissêmicos, destaca, do meu ponto de vista, é: será que apenas estes fatores impulsionaram as moças à realização de tal ato?

No elenco, têm destaque: James Woods, Kathleen Turner, Danny DeVito, Josh Hartnett e Kirsten Dunst – que voltou a trabalhar com a diretora no filme Maria Antonieta.

A propósito do filme Maria Antonieta, Sofia Coppola apresenta a juventude da personagem histórica evocada no título que, casada com o rei Luís XVI, para estabelecer a união entre a Áustria e a França, se tornou odiada pelos franceses por ser tida como fútil, frívola e promíscua. O filme foi vencedor de vários prêmios – mais que merecidos – concernentes sobretudo ao figurino e à direção de arte. 

Por falar em prêmios, seu filme Encontros e desencontros – no Brasil, o título original Lost in translation perdeu a criatividade do original! –, que lhe rendeu um merecido Óscar de Melhor Roteiro Original, discorre sobre um ator maduro e uma jovem esposa de um fotógrafo, formada em Filosofia, que se conhecem em Tóquio e, em decorrência da solidão e da estranheza do lugar em que se encontram, percebem um no outro o complemento para o vazio que experimentam.

Seu filme Um lugar qualquer, que destaca o suposto tédio em torno da vida dos atores de Hollywood, enfatiza a relação de um ator que se vê forçado a cuidar de sua filha num momento em que uma forte crise existencial o tumultua. Talvez seja, dos filmes da diretora, o que menos impacto poderia causar em seu expectador por tratar-se de um enredo pouco inovador, no entanto Sofia Coppola não foge de sua marcante necessidade de enfatizar o universo feminino – a personagem masculina tem seu mundo alterado e encontra, na afetividade que a filha suscita, uma nova possibilidade de repensar a sua vida aparentemente vazia. 

A crítica tem sido feroz com relação ao novo filme de Sofia Coppola: The Bling Ring: a gangue de Hollywood. Eu, sobre este filme, não poderei comentar, porque ainda não o assisti, mas, pelo que tenho sondado, teremos o mundo hollywoodiano novamente como pano de fundo de uma história contada por ela e a presença de personagens femininas. Espero que esta não perca a densidade psicológica e a leveza que caracterizam obras-primas como: As virgens suicidas e Encontros e desencontros – estas, sim, obras impecáveis da cinematografia universal.

"ROMANCE DO XILOGRAVURISTA" (HOMENAGEM A JOÃO PEDRO DO JUAZEIRO)


ROMANCE DO XILOGRAVURISTA

Madeireiro, madeirado,
Mundo xilogravurado.
Um João dentre joões
De Juazeiro um afilhado.

Do seu músculo cardíaco
Deslizam imagens rústicas
Que tocam mortas madeiras
Dando-lhes vida e sentido.

Na astúcia do olhar sabido,
(Vivo sempre: branco e sombra)
As imagens desenhadas
Em noites de muita insônia.

Na fumaça entre os dedos,
Dedos ágeis, dedos luzes,
Arte em vida revelada
Nos umbrais de tons, matizes.

Madeireiro, madeirado,
Mundo xilogravurado.
Um João dentre joões
Artesão de mil traçados.

Padim Ciço e sua história,
Rei Gonzaga, Patativa,
Juazeiro (são alguns temas)
Deste xilogravurista.

Madeireiro, madeirado,
Mundo xilogravurado.
Um João dentre joões
De Pedro pedra criado.

Lutas, dores, sofrimentos,
Alegrias, erros, memórias.
Cada imagem traduz muito
De João Pedro em suas obras.

Madeireiro, madeirado,
Mundo xilogravurado.
Um João dentre joões
Que seja sempre lembrado!


CARDOSO, Cícero Émerson do Nascimento. Romanceiro do Norte Juazeiro. Pará de Minas, MG: Virtualbooks, 2014. 



SOBRE JOÃO PEDRO

Nascido em Ipaumirim - CE, em 11 de junho de 1964, João Pedro Carvalho Neto (João Pedro do Juazeiro) foi, quando ainda criança, para Juazeiro do Norte - CE e lá deu início à sua produção artística de cunho popular. Autor de inúmeros cordéis, e de expressivas xilogravuras, foi a partir do prêmio Salão Rockwuel, do IBEU - CE, recebido em 2001, que sua obra teve maior destaque e passou a ser propagada. Ele realiza palestras, cursos e exposições sempre com trabalhos de perceptível qualidade artística. Atualmente, ele mora em Fortaleza - CE e prossegue com seu trabalho que enfatiza, sobretudo, os valores da terra nordestina. Neste último dia 11 de junho ele comemorou mais um aniversário e eu presto, aqui, minha homenagem a este artista popular de notável talento!