sábado, 21 de novembro de 2020

O QUE LAURA CARDOSO DISSE SOBRE A VIDA

"Viva la vida", de Frida Kahlo


Laura Cardoso disse: "A vida não se revela!" De fato, ela não se revela e representa um completo mistério. Talvez a única certeza que ela nos permite é percebê-la como algo passageiro. Sim, ela passa. Com momentos felizes ou tristezas completas, a vida passa. Creio, no entanto, que sabê-la passageira não é uma grande problemática da condição humana. O que nos massacra quando paramos para pensar nela é que sentimos a necessidade de torná-la significativa, peculiar, com algum sentido. 

"A vida não se revela!", disse nossa grande atriz Laura Cardoso. Como queremos tanto desvendar o que não se revela? Vida é coisa que não tem controle. Por que queremos tanto dar sentido àquilo que não podemos controlar? Parece loucura buscar sentido para algo tão impermanente. Sim, porque a impermanência, como mencionei antes, é a grande tônica da vida!

Sim, ela disse, Laura Cardoso, que: "A vida não se revela!" Vida é algo de tal modo atrelado ao tempo que, quando menos esperamos, eles se foram de mãos dadas pelas estradas pontiagudas que, invariavelmente, eles deixam para trás para nos punir o corpo. 

Concordo, Laura Cardoso: "A vida não se revela!" Parece que nós devemos passar a existência curta ou longa na tentativa de entendê-la ou de experimentá-la (quando nascemos com alma mais quente). Vida, tempo e medo são misturas que dão receita indigesta. Para revelar esse mistério é preciso ter coragem. Que tragédia nascer sem coragem! 

Laura Cardoso, tens 93 anos nesta data. Poucos poderiam dizer, com tanta propriedade, o que disseste: "A vida não se revela!" Não, não se revela e nisto pode estar a melhor parte. Sim, porque o incerto pode instigar, motivar, impelir... Curiosidade é vestimenta apertada que exige alento e alívio. 

Vou ficar pensando na vida, ou vou vivê-la, Laura Cardoso? Acredito no que disseste: "A vida não se revela!" Se o medo não me fosse tanto, se a solidão não me ferisse tanto, se o mundo não me amedrontasse tanto, se não houvesse tanto descompasso neste estar vivo... Quem sabe um dia eu não a compreenda melhor ou consiga vivê-la sem pensar tanto nela. 

Viver, sim, mas ciente de que, como diz Laura Cardoso: "A vida não se revela!"

Émerson Cardoso
21/11/2020

domingo, 1 de novembro de 2020

DIVAGAÇÕES-MELÓDICAS-DIVAGAÇÕES



Quando gosto muito de uma música ou canção me pergunto interiormente: será que após a morte eu a poderei ouvir? Também me pergunto se as pessoas que eu gosto já a ouviram - desejo compartilhá-la. Claro que minhas preferências musicais são bem controversas, porque amo de Luiz Gonzaga a Cyndi Lauper, de Bach a Reginaldo Rossi, de Tulipa Ruiz ao Abba, de Caetano Veloso ao Falamansa, de Amelinha a Demis Roussos, de Elza Soares a Mercedes Sosa, passando por Edith Piaf, Perla (a paraguaia, obviamente), Raul Seixas, Belchior, Gilberto Gil, Mozart, Elba Ramalho, Supertramp, Chopin, Os Mutantes, Françoise Hardy, Diana, Beethoven, Chico César, Daniela Mercury, Ednardo, e tantas outras vozes. 


Meu ecletismo, não se engane, tem suas restrições. A música não pode ser em volume alto para que eu a aprecie, porque tenho sensibilidade auditiva. A música não pode ter sons que me causem desconforto mental, como algumas de Kenny G. A música não pode ser mera repetição de sons por falta de criatividade dos envolvidos na composição (eles não devem estar mais preocupados em criar um produto a ser vendido em grande escala, como ocorreu com o forró estilizado e o sertanejo universitário, do que preocupados com a música em sua força e expressão). 

A música em si, com sua melodia e seus componentes, é uma das maiores dádivas que o ser humano pode vivenciar. Deus, a Natureza ou o Universo, um deles, deve ter pensado no quanto a vida humana poderia ser árdua e disse: "Que se faça a música para dar alento à alma dos seres humanos!" Para mim, é exatamente isso que a música representa: alento para a alma. 

Quando a música vem com letra temos a canção. Aí, Deus, entramos em outro momento engrandecedor dessa arte. Há compositores e letristas que produzem poesia pura e as harmonizam colocando-a em melodias maravilhosas. A beleza, então, se faz. É desse tipo de coisa que gosto: a palavra deslizando na melodia enquanto me diz sobre mim, sobre o outro, sobre a vida, sobre a morte, sobre o mundo...

Não sei nem como me expressar sobre isso, porque me comovo, mas estou certo de que a música, a letra de canção, as vozes que me acompanham desde a infancia são tão vivas quanto a própria ideia de existência. No meu caso, especificamente, coleciono músicas e canções em minha memória como se elas fossem fotografias que me trazem sempre alguma pessoa, cenário, lembrança, dor ou alegria. A minha vida sem música poderia ser um vazio indescritível. Então, por saber que ouvir músicas e canções é uma dádiva grandiosa, eu fico comovido e agradeço a Deus: obrigado por me permitir escutar sons que, combinados por alguns artistas, se transformam em pura arte, porque aqueles que eu escolhi para mim tornam a minha vida menos vazia e infeliz. 

Émerson Cardoso
10/10/2020 





NÃO OUSE ATIRAR A PRIMEIRA PEDRA

 


Eu cometi um erro. Você sabe que a vida humana é um histórico amplo de erros possíveis. O problema de errar se amplia quando uma falha tem implicação nos outros. O que se pode fazer, porém, quando algo acontece sem que você possa controlar? Tentar reverter o quadro. Você tentou fazer isso, não foi? Então, só resta esperar o tempo reorganizar as coisas. Se o tempo estiver ocupado e não organizar nada, que seja. O que se pode fazer? Cedo ou tarde tudo passa. Agora, depois de autocomiserações e punições autoimpostas, só há uma coisa a fazer: sobreviver a si mesmo apesar da tendência humana ao erro que traz em si.

Preciso ficar tranquilo. Sim, precisa. Aliás, devo dizer que você está perdoado. Quem nunca se viu numa situação de mal-estar por ter cometido erro? Durma tranquilo, porque no mundo só existe gente predisposta à falha. Pelo que sei, infalibilidade não é dom humano! Então, explore seu potencial de se refazer depois do caos! Sim, perdoo você por seus pensamentos, palavras, atos ou omissões. 

Eu aprendo com o erro. Você aprende, sim, e merece caloroso abraço. Quem achar que não, vá catar pedras no Hades - o Rio Estige está cheio delas! Tome meu abraço e lembre-se de que ainda vai errar muito na vida. Não se esqueça de aceitar sua humanidade redescoberta no erro! Quem acerta sempre é uma fraude!

Penso nas consequências. Sim, mas, que eu saiba, o mundo não deixou de girar por um erro cometido por você. Esquecimento é erro? No trancelim é, mas na vida pode não ser! Quem determina se é erro ou não, por vezes, é o contexto. Sei que o seu contexto não tem sido dos mais tranquilos. Por acaso existe alguém tão irreprochável que se sentirá no direito de julgar você por um erro que você cometeu e procurou consertar?  Não leve isso a sério: o sistema solar continua no mesmo lugar e, se houve alguma reconfiguração nele, não foi com o seu poder de erro. Pode retomar sua vida sem culpa ou medo, quem mais do que você merece que a vida seja pacificada? Você já teve que sobreviver a tantas intempéries! Esse caos vai passar - tem sido assim desde que o mundo é mundo.

Acho que tenho tendência a remoer demais os pensamentos. Jogue essa tendência no lixo! Sabe o que é pior na vida? Não errar. Gente perfeita é chata, sem graça, sem cor! Não digo que você a partir de agora vai se tornar um tresloucado inconsequente, não é por aí. O que quero dizer é: você não pode partir do pressuposto de que o mundo vai acabar ou a vida ficou insustentável por algo tão irrelevante que você fez de errado! Sei que não gosta, porém o momento é para palavrão: fala! Sim, um palavrão que coloque quem te julgar em situação constrangedora. Não vou insistir, mas se quiser dizer um palavrão o momento é: ontem-agora-sempre. Pode expurgar quando quiser!

Escutar isso me deu alento. Agora, siga certo de que não cometeu o maior dos erros. Você não fez nada que um ser humano em tempos de pandemia e em país tão mal administrado não faria. Acho que você ainda está no lucro por ter algum juízo. Eu sei do quanto você vive para o trabalho e para o estudo. Caso venha um desconforto por estar pensando na opinião dos outros, já disse que um palavrão resolve! No mais, meu neurótico favorito, você ainda tem uma tese para escrever e uma vida para tornar mais leve. Faça isso sem peso ou angústia. Não transforme sonho em pesadelo. Suas conquistas só vêm com suor e sangue, vai esquecer disso agora? Quanto à leveza, sim, busque-a com rigor. Afaste-se de gente que olha por baixo, que ri torto e que gosta de melindres. Feito isso, pronto! Siga: a vida precisa de gente capaz de olhar para si mesmo com riso na face e humanidade nos olhos.

 Com amor! 

Émerson Cardoso

20/10/2020

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

ELEGIA PARA DONA MARIA GONÇALVES


Sabe o que torna a vida significativa, apesar dos dissabores que ela muitas vezes nos traz? A vida nos possibilita o convívio com exemplares humanos raros. Estes seres raros se tornam marcantes e permanecem, profundamente, em nossas memórias afetivas. 

Eu conheci um desses seres raros: trata-se de Dona Maria Gonçalves (a quem chamávamos carinhosamente de Dona Mariinha). Ela foi minha catequista quando eu era criança. Aliás, ela foi catequista de diversas gerações da comunidade na qual ela atuou. A propósito, era uma catequista amável, embora tivesse um jeito firme e prático de ser. Ela ensinava aos moldes da Igreja de seu tempo, mas o fazia com a doçura dos que nascem para o ato de comunicar com a melhor das bondades. 

Ao vê-la na primeira aula do catecismo fiquei tão impressionado - foi amor à primeira vista! Eu fui privilegiado por ser seu catequizando. Nem todos conseguiam. Ela era catequista disputada. As mães que ela catequizou queriam que seus filhos fossem seus catequizandos, de modo que ela era extremamente procurada. Quem conseguia estar em sua turma de catequese detinha certo "status" (ao menos era assim que nos sentíamos)!

Ainda ouço sua voz nos fazendo perguntas para, em seguida, mostrar as respostas do Catecismo com sua voz reconfortante: "Quem é Deus? É um espírito perfeitíssimo criador do Céu e da Terra!" E "Onde está Deus? No Céu, na Terra e em toda parte!" As lições se seguiam, nas tardes quentes de sábado, e ela ainda gostava de cantar comoventes canções católicas. Estou ouvindo sua voz agora, cantando a seguinte canção, que era a minha preferida: 

O meu coração é só de Jesus,
A minha alegria é a Santa Cruz. 

Eu só peço a Deus, na minha oração,
Que viva Jesus no meu coração. 

Nada mais desejo nem quero senão,
Que viva Jesus no meu coração. 

Nas ruas e praças, todos me ouvirão,
Que viva Jesus no meu coração. 

Em penas e dores, em toda aflição,
Que viva Jesus no meu coração.

Como dói lembrar! Não tenho como ouvir essa canção sem me comover profundamente. Essa canção, devo dizer, traz inteira a imagem de Dona Maria Gonçalves quando a conheci. Seu cabelo era longo, preso e bem penteado em seu cacheado cor de algodão. Trajava saia azul e blusa branca. Usava óculos. Deus, com que dedicação ela exercia seu ofício de ensinar! Eu, que sou professor por escolha e afeto, vi nela um dos mais perfeitos modelos de professora: era didática, dominava o conteúdo, era simples nos gestos e palavras, firme ao lidar com a turma e sempre atenciosa. 

Quantas crianças estiveram sob seus cuidados ao longo dos mais de 50 anos de catequese? Será impossível dizer, mas tenho por certo que foram diversas. Ela propagou Deus para muita gente. Não só como catequista ela serviu a Deus. Ela sempre encontrou outros caminhos para estar a serviço. 

Eu estive muitas vezes com ela, no entanto sinto que foi pouco. Ela era firme na fé, aconselhava sempre, tinha palavras de acolhimento, sabia dizer o que traria paz de espírito ao coração da gente. Não me recordo de ter ouvido dela, nas vezes em que nos encontramos, uma palavra que não fosse de acolhida. Eu realmente não consigo vê-la senão como uma dessas pessoas raras que, apesar do cotidiano, da vida e seus reveses, dos sofrimentos e angústias, conseque trazer luz ao mundo. Ainda que no anonimato e com simplicidade, há tantos santos que andam pelo cotidiano das nossas vidas sem que muitos percebam que eles estão entre nós. Por mim, prefiro pensá-la dessa forma: ela é santa. Sim, porque humildade, fé, caridade, dedicação e amor aos outros são características dos santos. Ela trazia em si essas e tantas outras qualidades, de modo que, para mim, ela é santa.

Nós humanos somos pequenos e frágeis quando a vida traz sua rotina e seus enfrentamos. Respondemos positiva ou negativamente aos reveses que ela traz. Talvez Dona Maria Gonçalves, em algum momento, tenha tido necessidade de mostrar que era humana, que também poderia errar. E a Igreja não está repleta de santos que invariavelmente cometeram suas divinas falhas? Que seja! E, com isso, reforço mais ainda o que disse anteriormente: ela é santa! 

Acima de qualquer visão mais passional que eu expresse aqui, ela era uma das pessoas mais lindas que eu tive a oportunidade de conhecer. O mundo não será o mesmo sem sua presença, porque precisamos de pessoas cheias de luz (igual a ela) para desfazermos as trevas que andam nos atemorizando. 

Dona Maria Gonçalves esteve conosco, espargindo luz e humanidade santa, até o dia 21 de setembro deste fatídico ano de 2020. Na última vez que nos vimos, nos abraçamos, conversamos e rimos! Que saudade sinto, que saudade sentirei. Não poderei esquecê-la, porque ela contribuiu para minha visão de mundo com tanta singeleza que será impossível não torná-la parte do que sou em essência. Enquanto eu tiver memória, ela estará comigo. Ela estará sempre rindo, com seu olhar bondoso, me dando conselhos para cuidar mais da saúde, para não me deixar levar pelo excesso de trabalho e para me dedicar mais a Deus! 

Adeus, Dona Maria Gonçalves, nossa grande catequista! Olhe por todos nós, seus frágeis catequizandos, e continue apontando os melhores caminhos para que alcancemos a paz e o bem!  

Émerson Cardoso

23/09/2020


sábado, 12 de setembro de 2020

CRÔNICA: "SOBRE INGRATIDÃO"


No conto "A confissão de Leontina", de Lygia Fagundes Telles, nos deparamos com uma história lastreada pelo monstro sem caráter desprovido de memória que é a ingratidão. Esta palavra tem a ver com a incapacidade que alguns seres humanos têm de não reconhecer o bem que alguém lhe fez. A ingratidão é palavra curiosa: nomeia o ausente em uma pessoa - quem não sabe retribuir ou demonstrar gratidão mediante uma ajuda que outrora lhe foi direcionada cai em seus lastros. 

No conto, a personagem evocada no título tem um primo chamado Pedro que é a personagem mais ingrata que já vi numa obra literária. Ele é monstruoso, infame e cruel! Para entender sobre o que falo, leia o conto e confirme minha assertiva. Ele se chama Pedro (nome de origem grega que remete à palavra "rocha") e traz no nome uma nítida relação com a imagem do discípulo que negou Cristo - negar o outro não é a ingratidão manifestada com toda maldade e força?  

Por vezes, uma pessoa que se doa em excesso e exige muito dos outros tende a considerar ingrata qualquer pessoa que não atenda às suas expectativas de retorno em relação ao que foi ofertado. Faz-se necessário, portanto, que se tenha cautela para não cair em acusação contra tudo e todos. Querer uma contrapartida por uma ação benéfica dispendida a alguém é comportamento de gente mercenária, claro, mas não deveria ser preciso que a pessoa com tendência à doação exigisse do beneficiado um reconhecimento por aquilo que foi feito por e para esse outro. A pessoa beneficiada deveria ser, em verdade, capaz de demonstrar dignidade a ponto de ser grata a quem lhe estendeu a mão. 

Ocorre que gratidão é característica de quem tem espírito aberto às percepções mais elevadas dos laços humanos. O prudente é observarmos, em nossas condutas, o quanto nos é dada a possibilidade de demonstrar diante de um gesto nobre o reconhecimento por esse gesto. Retribuir, reconhecer e retornar o que foi dado por alguém é gesto de gente digna. Como é raro perceber no cotidiano demonstrações de gratidão, sobretudo se pensarmos a rapidez que tem feito girar o mundo. Gratidão, ressalvo, é gesto de quem tem espírito elevado. No simples e no complexo, gratidão é conduta de quem sabe encontrar caminhos em direção ao outro. 

O ser humano que não tem gratidão, penso, é pobre de alma, é podre de espírito. Será que eu devo atirar pedra nos ingratos do mundo de cima de minha torre de marfim de homem moralmente blindado? Não, obviamente não! Escrevo reflexões sobre o assunto, aqui, mais para manter contato com ele do que para atirar pedra contra alguém. Eu, quantas vezes, fui e tenho sido ingrato! Ninguém está livre de ser fadado à falibilidade que nos resume. Agora, escrevendo sobre, tenho pensado no quanto poderia ter sido mais grato em relação a algumas pessoas. Penso, porém, que não sou o monstro sem caráter e desprovido de memória que metaforiza a ingratidão neste meu texto de reflexão sem jeito. 

Lygia Fagundes Telles é capaz de cada coisa em termos de escrita! Sempre que leio "A confissão de Leontina" mergulho na profundidade de meu ser ainda em formação e descubro que sou capaz de atrocidades tantas, por isso devo ficar atento. Que eu me livre ao menos desta falha humana: não quero ser ingratidão. Quanto aos que foram ingratos em relação a mim: estão desculpados. Vamos zerar as culpas e começar tudo de novo! 

 Émerson Cardoso

12/09/2020

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

NESTE 11 DE SETEMBRO DE 2020, ANO DE PANDEMIA, O QUE ME FARIA FELIZ?


1 - Escrever;

2 - Ler sem obrigação;

3 - Caminhar;

4 - Conseguir dormir;

5 - Conseguir ficar livre de redes sociais ainda que temporariamente;

6 - Descansar a mente; 

7 - Tomar banho sem pressa; 

8 - Conversar com pessoas com as quais eu não precisasse me preocupar muito se iria cometer gafes;

9 - Receber notícias positivas sobre a situação do Brasil e do mundo;

10 - Rir um pouco de bobagens do cotidiano;

11 - Receber a notícia de que foi encontrada vacina para destruir o vírus que amedronta a todos e descobrir que o presidente atual nunca foi presidente do país; 

12 - Ver meu quarto limpo e organizado; 

13 - Concluir os trabalhos que estão pendentes;

14 - Não sentir culpa por existir; 

15 - Encontrar soluções para as coisas práticas da vida;

16 - Ir ao ponto mais alto da cidade (ir ao Horto)!



domingo, 2 de agosto de 2020

CRÔNICA: "A DOLORIDA E NECESSÁRIA ARTE DE ESCREVER"


Eu escrevo há séculos. 

Na escola, eu me lembro de que na 3ª série eu escrevi minha primeira redação (como é forte a lembrança que tenho dela!). Era uma narração que a Professora da letra mais bela que já vi e que eu imito até hoje (Tia Elisângela) sugeriu que a escrevêssemos a partir de uma imagem. Eu escolhi uma imagem da Turma da Mônica (eu aprendi a ler com gibis da Turma da Mônica!) com roupas de festa junina. Havia muita inadequação em meu texto infantil, claro, mas me recordo perfeitamente da sensação de bem-estar que o ato de realizar aquele texto me proporcionou. Também lembro da expectativa que tive para saber qual seria a reação da Professora ao ler meu texto (queria o maior e melhor dos elogios e a Professora correspondeu às expectativas, gentil que era!). 

Depois, prossegui sempre a escrever. 

Eu escrevi, sobretudo, diários. Muitos diários, em verdade, mas os três mais relevantes foram escritos durante os anos de 2001, 2002 e 2003, isto é, anos, respectivamente, nos quais eu fiz meu Ensino Médio, Serviço Militar e vestibular para o Curso de Letras, que mudou minha vida. 

Durante o Ensino Médio fiz inúmeras produções textuais (sempre obtive notas significativas). No Serviço Militar, também, fiz uma produção textual para me tornar Monitor (sim, eu me tornei Monitor, a ponto de ser super elogiado pelo texto que escrevi). Quanto ao vestibular para o Curso de Letras (curso da minha vida), eu obtive a nota máxima na redação dissertativo-argumentativa, para minha alegria e orgulho incalculáveis! 

Voltando para os meus três diários, há neles o contexto político da época (sai Fernando Henrique Cardoso e entra Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência), as mudanças que o Brasil vivenciou, a perda de familiares queridos, a primeira vez que usei óculos, a queda das torres gêmeas, uma copa do mundo, a descoberta de sentimentos afetivo-amorosos (com os quais até hoje não sei lidar), a leitura do livro que me fez olhar para o mundo de outra forma (embora tivesse lido muitas obras, sobretudo do Romantismo, li O Quinze e meus olhos se abriram para sempre), ausências familiares, sofrimentos aos arroubos, a relação de proximidade com amigas e amigos que me ficaram na alma para sempre e minha trágica adolescência nada fácil. 

O meu primeiro desejo de escrever um romance me veio antes do Ensino Médio. Lembro que escrevi uma história intitulada Maria dos Anjos (1999), que depois se transformou numa das protagonistas do meu primeiro romance. Antes de pensar em escrevê-lo, eu produzi contos. Foi assim que resolvi juntá-los e transformá-los no romance. Para escrevê-lo, comprei um caderno e fiz tudo em manuscrito. Depois tive que digitalizar e foi nisto que o reescrevi mil vezes. 

Escrever sempre foi algo indispensável em minha vida. 

Começou, creio, na mesma época em que passei a ler. Antes de ler, no entanto, eu fabulava muito. Criava personagens inseridas em enredos nos quais a morte sempre estava em pauta - na infância eu tive contato excessivo com a morte, deve ter sido por isso. 

Eu sempre escrevi e escrevo tanto, meu Deus! Parece uma doença! Se as pessoas soubessem... 

Quanto ao que escrevo, algumas pessoas viram e gostaram, outras não deram muita atenção - devem ter detestado. 

Nessa aventura e desventura: 1) já li texto meu em sala de aula durante a graduação (quando eu era um aluno infantil e inseguro) com direito a aplausos; 2) já vivi a dor de ver um texto de minha autoria ser publicado por outra pessoa que, com esse texto, ganhou um prêmio de contos (causando em mim um dos meus maiores traumas); 3) fui estimulado, por boas amigas, a participar de mostras poéticas que selecionaram textos meus e deram a confiança de que eu precisava para divulgar meus textos, 4) já tenho textos publicados em diversas revistas on-line e impressas, 5) recebi menções honrosas (com direito a recebimento de dinheiro e tudo!) e prêmios; 6) fiz uma performance poética (traumática, devo dizer!); 7) já publiquei livros (para meu arrependimento, claro!) etc. 

Sim, escrevo de tudo: de cordel a soneto, de ode à elegia, de balada a haikai, porque amo escrever poemas em todos os gêneros possíveis. Escrevo, também, fábulas, apólogos, contos, crônicas, memórias, diários, relatos, romances, peças teatrais, trabalhos acadêmicos etc. 

Eu escrevo feito louco, sem conseguir cessar, sem entender por que motivo, sempre e muito. Creio que escrever é um modo de dar sentido à vida, é uma forma de compreender o que sou e sinto. Escrever é a ponte que me leva do desespero à expurgação. Escrever é doer um pouco menos. Escrever é minha vida! 

No que isso vai dar? Pouco me importa! Eu sei que quero e vou continuar escrevendo, é tudo o que me importa! O resto é silêncio - e solidão e ausências! 

Quanto a publicar, meu Deus! Publicar é uma tragédia! Eu sou pobre, não tenho como publicar com os orçamentos que me apresentam. Não sei lidar com as burocracias dos editais e concursos. A verdade é que não sei entrar e enfrentar os jogos que massacram almas no campo literário (refiro-me ao livro As regras da arte, de Bourdieu). Quero paz de espírito e silêncio na alma!  

Quanto a ser lido, o Brasil não tem espaço para amadores! Os clássicos não são lidos, o que os aspirantes ou metidos a escritores iguais a mim poderiam querer? Também há outro problema mais grave: sou de um país que quase não lê, porque não há em nosso cotidiano o hábito da leitura! A Educação atende a um projeto antigo de tornar o trabalhador e a trabalhadora, assim como seus filhos e filhas, incapazes de entender o contexto sôfrego no qual estão inseridos e, por isso, eles são cada vez mais explorados, vilipendiados e tolhidos na possibilidade de acesso à Cultura e à Arte em suas mais amplas manifestações. 

Relendo o texto de Antonio Candido O direito à literatura, recentemente, penso que não estou sozinho ao pensar por esse viés. Além disso, devo dizer que vivo essa realidade na prática: sou Professor. Instigo os estudantes à leitura sempre, no entanto sabemos que é desafiador desenvolver esse tipo de trabalho sem o apoio do "mundo" (quando digo o "mundo", eu me refiro às seguintes instituições e seres: ministério da educação, secretaria de educação, coordenadorias educacionais, diretores escolares, coordenadores pedagógicos, pais de alunos, sociedade, mídia etc.).   

E se me fosse tirado o direito de escrever? Não sei, mas... Creio que eu enlouqueceria. Digo isto, com sinceridade, porque o que organiza minha mente tumultuada é o ato de escrever. Sem a escrita eu entraria em tamanha desorganização da alma que me tornaria louco em pouco tempo. 

Enfim, a dolorida e necessária arte de escrever é o que me salva neste vale de lágrimas! 

Émerson Cardoso

11/08/2020



QUANDO A QUARENTENA AUMENTA A LOUCURA NOSSA JÁ EXISTENTE


Se eu pudesse fabular sobre como seria o meu post mortem, eu iria para o Céu, claro. Eu seria conduzido até lá sem dor - obviamente que morreria dormindo ou sob efeito de anestesia geral. Ao deslocar-me ao Céu, sentiria apenas leveza e paz. 

Se eu pudesse fabular sobre como seria o Céu, eu chegaria com alegria imensa a um lugar tão cheio de paz e luz que o identificaria imediatamente como o Paraíso no qual Deus me aguardaria. À porta do Céu, esperando-me, estariam anjos tocando e cantando Rain and tears (é a canção em língua inglesa que mais amo nesta vida). Eu iria chorar sem problema algum - na Terra fui incapaz de chorar diante de pessoas, mas livre de mim mesmo, e de todas as amarras, eu choraria sem conflitos. 

Após a canção ser tocada, eu entraria acompanhado por um anjo que me apresentaria a São Pedro, o Porteiro do Céu, que me daria algumas instruções: "Aqui, finalmente, não te sentirás mais abandonado ou deslocado ou exilado como te sentiste enquanto estavas na Terra! Podes entrar!"

Mercedes Sosa estava cantando Cuando tengo la tierra, ao lado de alguns grandes cantores e cantoras da América Latina, apenas para recordar o quanto a luta por um espaço na Terra era um desafio para nós pobres. E ela riu para mim, com o olhar intenso, dizendo que estava grata por eu tê-la amado tanto! 

Edith Piaf, agora ridente, esperava-me logo à frente para me dar um abraço! Encontrar Mercedes Sosa e Edith Piaf em questão de minutos no Céu me deixou enlevado. À frente, também com desejos de abraço, Demis Roussos, que me possibilitou a canção que me foi tocada pelos anjos por ocasião de minha entrada, sorriu para mim. Três almas grandiosas me receberam em minha chegada, Deus, eu merecia tanto?

Foi quando ouvi alguém gritar meu nome...

Minha avó paterna, D. Fransquinha, e minha bisavó materna, D. Maria Raquel, estavam sentadas, juntas, esperando por mim em um banco iluminado que ficava em um jardim próximo a um regato. Quanto verde e quanta diversidade de cores nas flores e rosas que por ali pairavam! Ao encontrá-las, foi imenso o abraço! Ficamos horas conversando sobre os familiares que ficaram na Terra, e como eles lidaram com a ausência delas. 

Enquanto conversávamos, Luiz Gonzaga, numa das melhores interpretações da vida, começou a cantar Asa Branca para comemorar meu encontro com minha avó e minha bisavó. As notas dançavam em nosso derredor e as flores riam. Pedi a Luiz Gonzaga, após abraçá-lo, que cantasse e tocasse A triste partida. Ele me atendeu em meu pedido - o Nordeste, que tanto me moldou como ser humano, me veio inteiro em sua capacidade criadora e resistente! 

Minhas avós me conduziram, depois, para um prédio no qual eu deveria entrar sozinho. Elas disseram que nos reencontraríamos em breve. Assim que entrei, vi que estavam sentados, com luzimentos indescritíveis, Santa Clara, São Francisco e Santo Antônio. Eles contavam histórias para um grupo de crianças e jovens. No grupo, vi Danúbia, minha prima que se foi tão jovem, muito envolvida com a história contada pelo Santo. Ela trazia nos cabelos estrelas reluzentes. Aproximei-me dela com timidez e a abracei. São Francisco, sorrindo com uma pureza impossível de imitação, percebeu-me logo. Ele levantou-se e abraçou-me: "Não queria tanto me conhecer, hein! O prazer é todo meu!" Santa Clara e Santo Antônio me abraçaram também! Fiquei suspenso no ar tamanha foi a alegria. 

Uma voz me chamou, polidamente, e São Francisco me orientou a segui-la. Era Santa Luzia que, com Santa Tereza D'Ávila e Santa Teresinha do Menino Jesus, queria me apresentar a Biblioteca Celeste. Mais abraços amorosos e pacificadores me foram dados por elas. Em seguida, feliz, andei pela Biblioteca. São João da Cruz declamava um poema - participava de um sarau com povos de todas as culturas que se preparavam para também declamarem seus respectivos poemas. O próximo seria São Benedito a quem, com discrição, para não atrapalhar o sarau, abracei amavelmente! Quando um poema está a ser declamado não se pode atrapalhar!

Decidi andar um pouco mais pela Biblioteca. Foi quando vi Miguel de Cervantes, Federico García Lorca e Gabriel García Marquez rindo de alguma anedota, sentados em almofadas coloridas. Quando me viram, levantaram-se, abraçaram-me e conduziram-me para uma sala. Lorca me disse: "Há umas figuras ali que esperam por ti!" Corri, curioso, para ver quem me esperava.  

Carolina Maria de Jesus recebeu-me à porta e, rindo, deu-me imenso abraço. Com ela, Antônio Callado, Clarice Lispector, Rachel de Queiroz, Machado de Assis, Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade, Júlia Lopes de Almeida, Osman Lins, Lima Barreto, Manuel Bandeira, Ariano Suassuna, Orides Fontela, Guimarães Rosa, Hilda Hilst, Graciliano Ramos, Francisca Júlia, dentre outros e outras, estavam tomando chá. Eu amo chá e, curiosamente, todos sabiam disso. Havia uma xícara plena, para mim, e uma cadeira pronta para que eu me reunisse ao grupo. Conversamos durante horas, meses ou anos. O tempo conforme o conhecemos na Terra não funciona como no meu Céu.

Gustave Flaubert, depois, apareceu à porta e convidou-me a ir com ele para uma outra sala. Pedi licença aos meus compatriotas e saí. Ele me abraçou com barulho e levou-me a um sarau. Nele, Voltaire, Slvia Plath, Marguerite Yourcenar, Victor Hugo, Emile Zola, Virgínia Woolf, Guy de Maupassant, Emily Dickinson, Honoré de Balzac, Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Violette Leduc, Katherine Mansfield, Emily Brontë, Jane Austen, William Shakespeare, dentre outros e outras, esperavam-me com crepes crocantes que eram servidos com uma boa quantidade de tomates regados a azeite e salpicados com orégano. Comi fartamente. Permaneci por horas, meses ou anos naquele espaço.

Depois, Salvador Dalí apareceu à porta e convidou-me para a sala de exposições. Ele e Gustave Doré apresentavam as imagens que desenvolveram sobre A Divina Comédia, de Dante. Dante, diga-se de passagem, fez questão de aparecer para me cumprimentar. Eu não consegui acreditar que seria possível, um dia, ver aquele ser capaz de construir algo tão perfeito querendo, de mim, um cumprimento! Abracei-o com desespero. Homero, Virgílio e Camões conversavam à frente e, rindo-se, também abriram os braços para um abraço fraterno!

Na saída, esperava-me Frida Kahlo. Ela me deu um abraço intenso, sugeriu que, na Bibiloteca, havia cinema de todas as nacionalidades, exposições diversas, concertos maravilhosos, peças teatrais grandiosas e uma sala-quarto só minha. Nela, estariam todos os livros que eu li e amei, e todos os livros que eu desejei ler e não pude ainda. Também estariam lá pinturas, obras cinematográficas, esculturas, músicas etc. Tudo o que faz pulsar meu coração estaria à minha espera. Ela disse, ainda, que eu deveria ficar tranquilo, porque as pessoas que eu mais amei ao longo da existência iriam me encontrar ali, sempre que eu quisesse, e eu também poderia visitar a sala-quarto das pessoas que me amavam quando me fosse feito o convite. Eu lhe perguntei, um tanto tímido, se no Céu a gente poderia encontrar o grande amor da vida. Ela ficou confusa e fez a seguinte pergunta: "Mas o amor da sua vida está na Terra, querido, vocês não se encontraram?" Silenciei. Ela se despediu com um bom álibi: iria para uma roda de conversas com Florbela Espanca, Agustina Bessa-Luís e Sophia de Mello Breyner. Eu estava convidado, caso quissesse ir.

Decidi ficar e sentar numa poltrona de belo designer que encontrei ao lado da cama. De repente, a canção Why worry deslizou na atmosfera. Posteriormente, Don't let me be misunderstood, na voz de Nina Simone, ecoou. Fiquei feliz e comovido. Havia muita coisa a fazer, muita arte e cultura a viver, mas me faltava algo. Uma voz me chamou à porta: era Santa Dulce dos pobres. Corri para abraçá-la. "Meu filho, você viu como a Biblioteca é maravilhosa? Aqui você será eternamente feliz! Antes de viver o que tanto deseja seu coração, no entanto, falta algo, não é!" Ela deve ter intuído, de algum modo, o que eu havia pensado. Saímos de mãos dadas: ela cheirando a rosas, e iluminando todos os espaços pelos quais passávamos, e eu expectante.

Já fora da Biblioteca, passamos por Maysa, Maria Callas, Dalva de Oliveira, Nina Simone, Ângela Maria, Miriam Makeba, Emilinha Borba, Cesária Évora, Carmem Miranda, Dolores Duran, Núbia Lafayete, Ella Fitzgerald, Dalida, Elis Regina, Nara Leão, Clara Nunes, dentre outras, que faziam apresentações com suas canções mais famosas. Quase cessei a marcha para ouvi-las, mas Santa Dulce me aconselhou que eu poderia voltar em outro momento, pois elas reuniam-se para cantar com frequência.

Seguindo Santa Dulce, percebi que ela cessou os passos maravilhada. Foi quando vimos, sentado perto de um riacho, revestido de luz, o ser que parecia me faltar. Era Jesus Cristo! Santa Dulce olhou para mim, apertando-me a mão, e disse: "Prepara-te, menino, agora a vida será preenchida tão completamente que tu não terás mais ausências no coração machucado que trazes da nossa sofrida Terra!" Jesus olhou-me com tanta singeleza, antes que se abrisse a um abraço enternecedor, e acolheu-me com amabilidade infinita. Seus negros braços, finalmente, alcançaram meu corpo ferido. E a vida fez-se plenitude e a paz sorriu para mim. Ao abraçá-lo, senti que três abraços, em um só, me revestiam da mais completa felicidade! Eu renasci!

Depois, Jesus segurou minha mão e convidou-me a ler as obras dos autores e das autoras brasileiras da contemporaneidade. Com um grupo irreverente, debatemos por três séculos peças teatrais, poemas e narrativas que o Brasil tem produzido nos últimos tempos. Fomos lendo os textos em forma de sarau. Dercy Gonçalves quase me matou de rir, com seu humor escrachado, quando decidiu fazer algumas leituras! Elke Maravilha, com riso eterno, declamou divinamente alguns poemas! Eva Todor declamou textos com seu riso e carisma insuperáveis! Depois, com o sarau finalizado, voltei com Santa Dulce para a minha sala-quarto.

A minha sala-quarto foi construída com inúmeras poltronas para os amigos. Em uma das paredes, com molduras prateadas, foram colocadas todas as fotos de minhas professoras e professores mais marcantes. Eu recebi visitas maravilhosas em minha eternidade, mas como o texto que escrevo já está longo demais, vou concluindo. Vou deitar na minha cama, sozinho, para ler um pouco. Depois da leitura, receberei meus escritores e escritoras e compositores e compositoras e cineastas e atores e atrizes preferidos. Quando saírem, receberei meus amigos e amigas e familiares tão queridos. Quando saírem, receberei os Santos e Santas de minha predileção. Posteriormente, assistirei bons filmes. Farei toda essa quantidade imensa, e perfeita, de coisas enquanto espero que o amor da minha vida, que anda pela Terra sem mim desde que nascemos (como Frida Kahlo me revelou), me chegue para que eu possa amar, também, nesta perspectiva do amor erótico. Como nunca soube lidar com isso estando na Terra, por isso terminei me acostumando com a solidão, quem sabe se no Céu eu não conseguiria  repensar meus modos e me permitir um pouco a esse tipo de amor! A culpa, no entanto, não foi minha: e eu lá sabia que no mundo havia alguém capaz de me amar e de merecer o meu amor!

Mas bateram na porta, agora, e meu sonho acordado desvaneceu.

Émerson Cardoso
22/06/2020

E QUANDO A GENTE CANSA? (OU: COMO MANTER A SANIDADE EM TEMPOS DE PANDEMIA?)


No dia em que publico este texto, já morreram 94.130 pessoas no Brasil. São muitas histórias que foram cessadas nesta pandemia. O que assusta, mais do que tudo, é o fato de que a maioria dessas mortes poderia ser evitada se tivéssemos um contexto político mais digno. As mortes têm ocorrido, sobretudo, porque não dispomos da sensibilidade política necessária para revertermos esse quadro trágico. Temos contado, obviamente, com algumas lideranças políticas que tomaram atitudes no sentido de minimizar o efeito devastador desse vírus sobre os brasileiros - é o que nos serve de alento -, mas ainda é pouco. Quero erradicação do vírus, quero a cura, quero que nós pobres da nação estejamos assistidos!

Enquanto isso, tenho tentado realizar minhas atividades intelectuais, mas não tenho conseguido efetivamente. Como fazê-lo quando somos bombardeados por tantos acontecimentos vergonhosos no âmbito da política nacional e por notícias que anunciam mortes diárias? O que mais temos a fazer, agora, é manter a sobriedade, mas tem sido difícil quando nos deparamos com desempregos, violências, mortes cotidianas. Não podemos nos esquecer de que o mal pode ser banalizado com facilidade. As mortes que têm acontecido não podem se tornar acontecimentos corriqueiros que se dão sem que tenhamos pesar pelas inúmeras perdas. 

Nesses dias, tenho pensado muito sobre a vida e sobre a morte. A vida, que me pareceu sempre cansativa, insuportável e trágica, agora, me parece tão tristemente significativa. Eu a quero para mim como nunca a quis. Como se eu percebesse, à beira do precipício somente, que viver é gratificante apesar das implicações que ela traz. Já a morte que tanto me instigava, agora, parece algo mais concreto, de modo que não a suporto perto de mim com seus braços fendidos e seu olhar inquisidor. Não quero a morte dos meus, nem a minha própria, nem do povo brasileiro. Quero esperança de dias melhores, de vida em plenitude. O que é vida em plenitude? Para essa pergunta, cada um pode ter sua própria resposta. Eu, por mim, penso que vida em plenitude é vida que vislumbra o mínimo de dignidade e esperança. E é tudo o que posso dizer sobre a vida.  

Estou cansado. De quê? De ler notícias tristes, de não ver uma luz no final do túnel, de ter que produzir textos e mais textos acadêmicos, de pensar sobre a política do mundo, do Brasil e da minha cidade. Estou cansado de tudo o que o tempo me tem proporcionado. Estou cansado de não dormir, de tentar manter o equilíbrio, de mostrar produção, de realizar mais do que minha alma suporta diariamente. 

Por fim, quero que a vida resista. Que a vida sobreviva, intensa e diversa, com a possibilidade de um mundo novo. Será que eu tenho feito algo a favor desse mundo novo? Será que sou digno da vida e do que ela tem a oferecer? Quanto à morte, estou farto de vê-la por perto - que ela nos dê trégua.

Sabe o que eu mais gostaria para o momento? Eu gostaria de ter em mim o silêncio. Não o silêncio da covardia, dos que aceitam sem resistência mil injustiças, dos que coadunam com o mal do mundo em sua banalidade mais nociva. O silêncio sobre o qual eu falo é o silêncio da alma, do pensamento, do coração, porque tenho falado e gritado e esperneado demais dentro de mim mesmo no auge do medo e da impaciência. Se eu não aprender o silêncio e a força que nasce quando damos espaço a ele, penso que não estarei preparado para o mundo.

Vida, por favor, segure minha mão e vamos à aprendizagem que tanto me queres proporcionar!

Émerson Cardoso
06/07/2020


quinta-feira, 25 de junho de 2020

NOTAS SOBRE O FILME "PACARRETE", DE ALLAN DEBERTON (PREPARE-SE PARA A ARTE NO QUE HÁ DE MAIS SINGELO)



Quando uma obra de arte vai às últimas consequências em sensibilidade e beleza: assim é Pacarrete. Este é o título do filme de estreia do cineasta Allan Deberton que traz Marcélia Cartaxo no papel principal.
A personagem evocada no título do filme, uma artista com diversas facetas (toca piano, desenha e é bailarina), deseja dar de presente à cidade de Russas – CE, sua terra natal que vai completar 200 anos, um presente de aniversário: ela quer realizar uma apresentação de balé no palco principal da festa que a prefeitura promoverá.
A meta da personagem Pacarrete está delineada: ela deseja oferecer ao povo de sua terra o que ela de melhor tem em si: sua arte. Tem início, com isto, uma sôfrega jornada para a personagem, pois o que está em jogo não é somente a ideia de convencer as pessoas da prefeitura, incumbidas de realizarem a festa, a darem espaço para que sua homenagem seja realizada, mas tentar mostrar que sua arte não está ultrapassada. Tendo em vista que ela valoriza a música erudita e o balé clássico, diante de um espaço que acorre a outros valores que diferem daqueles que ela tem a oferecer, conseguir realizar sua meta torna-se um imenso desafio.
Marcélia Cartaxo, uma das maiores atrizes do país, dá vida a Pacarrete com uma atuação singular. Essa personagem tem uma altivez de alma que entra em choque com o prosaísmo do espaço no qual está inserida. Disso resulta um descompasso: sua alma está propensa à sensibilidade, à vivência do que é belo, à criação artística, no entanto ela é tolhida, porque precisa cuidar de uma irmã doente, lidar com a incompreensão das pessoas e com a incomunicabilidade nas relações.
Marcélia Cartaxo mostra em sua atuação essas camadas da personagem com uma maestria que merece todos os elogios. É, sem dúvidas, uma das maiores atuações já vistas no cinema nacional. Ela vai do teor cômico ao mais profundo do drama, com lirismo sempre, sem nunca fugir da complexidade da personagem. Corpo e alma estão entregues à profusão de sentimentos e emoções da frágil e intensa Pacarrete que, para o povo, é uma louca, mas para o espectador é uma alma em conflito: o mundo não comporta sua mente repleta de palavras, ideias e fabulações que só canalizando para a arte a deixariam em paz.
Sem poder realizar-se em sua arte, Pacarrete transita entre dois modos de expressar-se: por vezes, ela é singela, doce e "chique" (para utilizar um termo francês tão ao gosto dela); por vezes, ela é agressiva, desbocada, arrogante e teimosa. Aliás, teimosia é o que melhor a caracteriza – é essa capacidade de teimar que a conduz, obstinadamente, à luta aparentemente vã contra um mundo que parece não comportá-la. Parafraseando uma das personagens, o que ela tem a oferecer ao povo, esse povo, infelizmente, não quer e não gosta. Numa comemoração regada a forró e seus correlatos, seria possível uma apresentação de balé clássico? Pacarrete não suporta o mundo que a rejeita – talvez por isto sua vontade de ir para a França. A França para a qual ela quer ir, em verdade, é fruto da idealização com a qual ela alimenta seu mundo repleto de arte e delicadezas.
Além da imensa Marcélia Cartaxo, contamos com atuações grandiosas nesse filme. A atriz Zezita Matos é Chiquinha (irmã de Pacarrete que depende dela por estar presa a uma cadeira de rodas) e a atriz Soia Lira é Maria (uma mulher muito solícita que trabalha na casa das duas irmãs). Essas duas atrizes dão vida a personagens delicadas, profundas e líricas. Talentosas e comprometidas em realizarem trabalhos de relevo, com a presença delas no filme temos uma tríade feminina que realiza o que há de perfeito e belo numa obra cinematográfica.
Há uma voz masculina no filme, que é o ator João Miguel. Ele interpreta o comerciante Miguel que está presente na vida das três personagens, sobretudo na vida de Pacarrete. Enquanto a cidade a vê como uma louca, ele a vê com atenção e afeto. Sua grandeza de alma o possibilita entrar na fabulação de Pacarrete e isso os aproxima, se não numa relação afetivo-amorosa (que muito a agradaria), numa relação de amizade que se mostra sincera.
Outras atrizes aparecem com atuações que também merecem nota como: Samya de Lavor (excelente no papel de “antagonista” de Pacarrete), Débora Ingrid e Edneia Tutti Quinto. Tudo concorre, nesse filme, para uma atmosfera de criatividade, dedicação e preparo. O sucesso de crítica e os prêmios recebidos comprovam que esse trabalho, de fato, foi feito com excelência. Figurino, fotografia, direção de arte, coreografia e trilha sonora, enfatizo, são irreprocháveis!
A propósito, Allan Deberton, que já havia realizado trabalhos como Doce de coco (2010), O melhor amigo (2013) e Os olhos de Arthur (2016), dentre muitos outros, estreia no cinema de longa-metragem com Pacarrete (2019). Allan Deberton é um diretor, roteirista e produtor inquieto e criativo, com Pacarrete ele mostra o quanto é promissor em sua carreira. Desde a escolha do elenco até o olhar atento para o roteiro, também escrito por Natália Maia, André Araújo e Samuel Brasileiro, esse filme dirigido por ele é realizado com maestria.  
A ansiedade para assistir a esse filme foi compensada, devo dizer, por uma das mais felizes experiências que eu tive como espectador apaixonado por cinema! Ele entra para o rol dos meus preferidos, aliás ele entra para o rol dos maiores filmes do país. Podemos nos orgulhar, como brasileiros que somos, porque apesar dos tempos sombrios que temos vivido, quando a Educação, a Cultura e as Artes têm sido desvalorizadas por visões que dialogam com o autoritarismo, nós encontramos gente produzindo arte em seu sentido mais amplo. Ver Pacarrete foi um alento para a alma! Precisamos de luz no final dos muitos túneis obscuros nos quais temos passeado no Brasil, indigestamente, e o filme Pacarrete, com sua mensagem de amor à vida e à arte, é um sol iluminando a quem tem a oportunidade de vislumbrá-lo. Eu estou feliz, porque estou inebriado com essa luz! Que esse filme premiado e aclamado ilumine, também, o Brasil e o mundo!
Émerson Cardoso
25/06/2020

sábado, 20 de junho de 2020

CARTA ENVIADA PARA MIM PELO SR. ANO DE 2020 (E QUE FOI VAZADA DESCARADAMENTE)


Caro Émerson Cardoso,

Você pensava que 2018, aquele sádico de chicote na mão e olhar de cobra, seria um ano desolador? Pensava que nada poderia ser pior do que ele, que proporcionou aquela eleição fatídica que deu espaço ao mal em sua pior dose de banalidade? Lamento, querido, mas há mais desgraça resguardada a um país sem criticidade do que supõe a nossa vã capacidade de imaginação!

Foi tragicômica a eleição, hein! Ignorância, ilusão, racismo, homofobia, misoginia, despreparo técnico, dentre outros predicativos nada simpáticos, deitaram e rolaram nos palanques do país! Não tem como não rir diante da falta de bom-senso: o Brasil tem vocação para piada, é isso? Ou foi só tendência masoquista momentânea? Não, talvez seja outra coisa: a elite brasileira, inteligente como uma porta, passou à frente, foi isso? E o povo que teve um pouco de melhora de vida achou que já fazia parte da elite também, foi isso? Gente, ri muito agora! Sabe a risada de Paulina, a mexicaníssima vilã d'A Usurpadora? Mas deixa eu me recompor e prosseguir com minha cartinha amorosa. 

Veio sorrateiramente, então, com seus dentinhos de serrote, o ano de 2019, lembra? Aquele sabe tirar onda da cara das pessoas! Antes de prosseguir, queria perguntar uma coisa: você comemorou a chegada dele? Seja sincero. Comemorou? Se a resposta for sim: outra risada de Paulina na sua cara sonsa, querido! Não gosto de falar mal de meus colegas, mas devo dizer que 2019 não vale a bactéria presente na casca da barata que desliza no esgoto que recebe os excrementos do traidor de uma figa do michel temer, aquele infame que vocês, brasileiros ingênuos, viviam dizendo que ficassem de FORA e fazendo alusões ao vampirismo dele. Mal sabiam vocês que michel temer era um anjinho de candura, um coraçãozinho gelado incapaz de ver o sol, sim, golpista, sim, aprovador de PECs demoníacas, sim, mas tão menos maligno que a figura que viria em seguida!

E em 2019 muita coisa aconteceu: a extinção do Ministério da Cultura; o Ministério da Educação foi entregue a um (que adjetivo utilizar?) ordinário-vulgar-estúpido-crápula-sacripanta-salafrário-mor; o tal paulo guedes foi fazer a festa no Ministério da Economia; houve a criação do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, que foi entregue às mãos da pastora evangélica (com mestrados atribuídos pela Bíblia e visões nada lunáticas de Jesus na goiabeira) damares alves; dentre outros tantos pontinhos que se eu fosse elencar, menino, seria um romance, não uma carta. Ah! Quase ia me esquecendo: e o demônio do sérgio moro, querido! No Ministério da Justiça, menino, logo ele? Nunca iria para um cargo político, o falsiane! Ah! Traste! Mal o desgoverno o convidou e ele foi correndo fazer parte do conluio de cão - não que ele já não tivesse parte com o diabo, é óbvio! 

Foi aí que, sob festas e louvores, eu cheguei! Cheguei incisivo e ridente, como sempre, porque sou um solzinho para amenizar a neo-idade-das-trevas que vocês amargam em pleno século XXI. Sempre tive tendência a fazer bondades - caridade é meu sobrenome! Estamos em junho e veja o tanto de benesses que eu trouxe para você e seus compatriotas: a casa do indigno está caindo, embora eu sinta que ainda virá coisa dolorida a ser enfrentada por vocês, se não ficarem de olho bem aberto. Querido, não é para me gabar, mas eu ajudei vocês demais: veja que sérgio moro deixou de ser ministro; regina duarte (Secretária Especial de Cultura) deixou de ser secretária em pouco tempo após ter assumido o cargo; queiroz foi finalmente achado; o ministro vulgar-canalha-estúpido-monstruoso-crápula-sacripanta-salafrário-mor da deseducação caiu; a Polícia Federal está no encalço do filhote do indigno que, ao que tudo indica, está mais sujo do que banheiro químico em dia de reveillon. Tudo bem que eu trouxe, assim, uma problemática econômica aqui, uma pandemia ali, mas... Sou ou não sou melhor do que o sádico 2018 e o infame 2019? 

Vou encerrando por aqui a minha epístola amável e cheia de boas novas a serem propagadas sobre os telhados. Beijos de luz, paz e amor para você e seus compatriotas! Cuide-se, porque chumbo grosso só dói quando a gente já não tem mais como reverter o quadro. E, para concluir, o deixarei com essa mensagem de luz: "Grite por São Bento antes que a cobra arranque o tampo de sua perna!" 

Amorosa e queridamente, 

2020
(ANO BISSEXTO, ANO DO RATO, MMXX)
20/06/2020




quinta-feira, 11 de junho de 2020

PARA "A OBSCENA SENHORA D" (PERSONAGEM DE HILDA HILST)


Caríssima Senhora D., 

Queria que alguém dissesse de mim o que disse a seu respeito o Porco-Menino. Ele disse que a Senhora é "um susto que adquiriu compreensão". 

E assim, depois de tudo o que foi dito, sinceramente, fiquei entre confuso e comovido: sua solidão é intensa como a prosa de Hilst é complexa. 

Posso confessar uma coisa? É que me perdi no imenso desejo de alentá-la em sua solidão. 

Somos tão solitários: a senhora em seu vão de escada, vivendo o amor perdido e os fragmentos de memória, e eu sem ter encontrado o melhor de mim e do amor.

Estou entregue, Senhora D., a uma busca irrefreada. Deus em mim é tão silente, embora vivo! Queria olhá-la e não ser recebido com violência ou mal-estar em minha tentativa de aproximação  desejo apenas abraçá-la quando, em verdade, não sei de afetos e de demonstração de força.

Retomarei seu vão de escada logo mais, porque a vida solitária e louca, pulsante em seus gritos, me inundou de identificação e fez-me cair, descuidado, na piscina obscura e melancólica que são nossos olhos em derrelição e medo.

Com amor,
Émerson Cardoso
02/06/2020

quarta-feira, 20 de maio de 2020

ANIVERSÁRIO EM TEMPOS DE PANDEMIA




Sim, comemora-se hoje, neste 20 de maio, o dia do pedagogo. Também se comemora o dia do técnico de enfermagem, o dia mundial das abelhas e o dia nacional do medicamento genérico. 

Este dia é o 140º do ano (se for em ano bissexto, como é o caso, torna-se o dia 141º). 

Neste dia, ao longo dos anos, aconteceram coisas alegres e tristes. 

Em 20 de maio de 1444, por exemplo, morreu São Bernardino de Sena, pregador e místico franciscano. Em 1498, Vasco da Gama descobriu o caminho marítimo para as Índias. Em 1506, morreu o navegador italiano Cristóvão Colombo. Em 1570, foi publicado, por Abraham Ortelius, o primeiro atlas moderno. Em 1799, nasceu o romancista francês Honoré de Balzac. Em 1806, nasceu o filósofo britânico John Stuart Mill. Em 1864, morreu o poeta inglês John Clare. Em 1880, morreu a enfermeira brasileira Ana Nery. Em 1883, Krakatoa, uma ilha vulcânica, entrou em erupção e matou 36.000 pessoas. Em 1891, aconteceu a primeira exibição do cinetoscópio de Thomas Edison. Em 1896, morreu a compositora e pianista alemã Clara Schumann. Em 1899, nasceu a poetisa e antropóloga Lydia Cabrera. Em 1902, tendo como primeiro presidente Tomás Estrada Palma, Cuba se tornou livre dos Estados Unidos. Em 1930, o líder Mahatma Gandhi foi preso em Bombaim, pela polícia política inglesa. Em 1932, Amélia Harhart fez o primeiro voo sem escalas do mundo através do Oceano Atlântico. Em 1934, nasceu Pepe Mujica, político e agricultor urugaio. Em 1937, nasceu a poetisa portuguesa Maria Teresa Horta. Em 1940, os primeiros prisioneiros chegaram a um novo campo de concentração em Auschwitz. Em 1945, nasceu o compositor e cantor brasileiro Renato Teixeira. Em 1946, nasceu a cantora e atriz norte-americana Cher. Em 1957, nasceu a atriz, produtora e diretora brasileira Lucélia Santos. Em 1966, nasceu a cantora portuguesa Dora. Em 1967, nasceu o padre, cantor e escritor brasileiro padre Marcelo Rossi. Em 1972, morreu o compositor brasileiro, grande sambista, Silas de Oliveira. Em 1973, nasceu a cantora francesa Elsa Lunghini. Em 1974, nasceu o músico brasileiro Fernando Anitelli. Em 1980, nasceu o ator brasileiro Cauã Reymond. Em 1983, na Revista Science, o virologista e médico francês Luc Montagnier apresentou as primeiras publicações da descoberta do vírus HIV. 

Em 1984, às 18h, no Hospital São Lucas, em Juazeiro do Norte, eu nasci. De acordo com o endereço eletrônico playback.fm, a canção mais tocada no dia do meu nascimento foi: "Hello", de Lionel Richie. A canção brasileira mais tocada era, provavelmente, "Sonífera Ilha", dos "Titãs". O filme mais visto no Brasil era "A princesa e o robô", animação da "Turma da Mônica", e nos Estados Unidos era "The natural". 

Em 2002, o Timor-Leste tornou-se independente de Portugal. Em 2005, morreu o filósofo Paul Ricouer. Em 2020, depois de passar a madrugada em claro, vi, pela manhã, que as secretarias estaduais de saúde confirmaram que há no país 271.885 casos de infectados com a Covid-19, com 17.983 mortes. O Brasil é o terceiro país no mundo com maior número de casos, perdendo somente para os Estados Unidos e para a Rússia.

Espero que me venham notícias menos tristes ao longo do dia!




terça-feira, 19 de maio de 2020

ARTIGO: "REFLEXÕES SOBRE BULLYING NO SERIADO THE BIG BANG: THEORY"



REFLEXÕES SOBRE BULLYING NO SERIADO
THE BIG BANG: THEORY
CÍCERO ÉMERSON DO NASCIMENTO CARDOSO
1 – INTRODUÇÃO

            A série The Big Bang: Theory, de Chuck Lorre e Bill Prady, teve início em 2007, após um episódio piloto malsucedido realizado em 2006. A série concluiu sua décima segunda temporada em 2019. Apesar da retomada de um tema recorrente, como a relação nerd versus garota bonita inacessível, George Beahm (2012, p. 10) aponta para o fato de que:

Big Bang, a teoria não nos ofereceu piadas batidas, mas apresentou um novo olhar sobre o mundo nerd. Apesar do velho contraste entre nerds e garotas, a diferença crucial da série é a celebração, e não difamação, do nerdismo. O bom humor pode ser visto nas situações da série, e não na sátira dos personagens em si.

Deparamo-nos, nesta série, com um universo constituído por cinco personagens: Dr. Sheldon Lee Cooper, Dr. Leonard Leaky Hofstadter, Dr. Rajesh Koothrappali, Ms. Howard Joel Wolowitz e Penny.
No primeiro episódio, somos informados de que Sheldon, físico teórico, e Leonard, físico experimental, são amigos há algum tempo e dividem o apartamento 2.311, localizado em Pasadena, Califórnia. Ambos trabalham na Caltech – Instituto de Tecnologia da Califórnia – e costumam ir para a loja de revistas em quadrinho, para o cinema, para a Comic-con e para restaurantes da cidade com os amigos Howard e Rajesh, que também trabalham na Caltech.
 Ao retornarem do banco de sêmen, aonde foram numa tentativa de adquirir dinheiro para ampliar o serviço de conexão de banda larga, Leonard e Sheldon deparam-se com a chegada de uma nova vizinha. Leonard a convida para jantar com eles e, a partir daí, surge uma amizade – da parte de Sheldon, pelo menos, porque da parte de Leonard surge, em verdade, uma grande paixão. Howard e Rajesh têm contato com ela, posteriormente, e a trama está formada.
O enredo pauta-se, inicialmente, neste mote: quatro nerds, que vivem suas aventuras virtuais, enquanto conciliam o trabalho com tentativas frustradas, na maioria das vezes, de relacionamentos, constroem uma espécie de “confraria” que representa interação e possibilidades de fuga diante da solidão que lhes fustiga.   
Assim, com idiossincrasias que os tornam personagens hilariantes, os quatro nerds tão inteligentes quanto estranhos para o mundo prático, aproximaram-se e tornaram-se inseparáveis. Sheldon, cujo QI é muito elevado, não compreende sarcasmo, não gosta de sociabilização, além de não ser afeito a contatos físicos, sobretudo do ponto de vista afetivo-sexual; Leonard, o mais sóbrio do grupo, tem imensa dificuldade de lidar com o sexo oposto; Howard, que vive com a mãe que o trata como criança, apesar de sua idade, pensa que é o sedutor, embora não consiga, senão, ser patético em seus flertes; Rajesh, por sua vez, tem mudez seletiva, o que o impossibilita de falar com mulheres atraentes.
Talvez pela solidão vivida ao longo da vida escolar, também pelos conflitos familiares vivenciados, a eles resta buscar subterfúgios que representam possibilidades de lidar, de modo menos conflitante, com o espaço em que vivem. A amizade construída por eles, uma espécie de clube de nerds que se completam, e que driblam a realidade prática construindo momentos de satisfação entre si, é o maior desses subterfúgios.
A propósito, Ruth E. Lowe (2013, p. 217) diz que: “Os personagens de The Big Bang Theory são um grupo eclético. Penny e seus vizinhos cientistas têm gostos, hábitos sociais, bagagens culturais e interesses diferentes; no entanto, eles se atraem e, de alguma forma, fazem isso dar certo”.
Dentre os pontos que representam união entre eles, há o fato de que, com exceção de Penny, os demais integrantes do grupo foram, de algum modo, vítimas de bullying. Ficamos sabendo o que lhes ocorre ao longo das temporadas da série, e as marcas do bullying lhes atormentam.
Neste sentido, Toni de la Torre (2014, p. 69) afirma:

Essa consciência de não se encaixar no resto da sociedade os une também em sua amizade. É algo que eles têm em comum e, embora não falem disso, todos são conscientes dessa ligação. Sabem muito bem que ninguém jamais irá considerá-los pessoas populares e que sempre se sentirão intimidados por homens mais atléticos. No fundo, todos têm uma conta pendente com uma sociedade que os rechaçou e se refugiam no próprio mundo, no qual podem fazer o que gostam e, além do mais, estão a salvo dos valentões.

Torre toca num ponto, desse modo, pertinente para nossa discussão. Não só Leonard foi vítima de bullying, seus demais amigos sofreram também, durante toda a vida escolar, esse tipo de agressão. Assim, como se não bastasse sofrer violência impetrada por crianças da vizinhança, Sheldon passou a vida apanhando na escola. O mesmo podemos dizer de Howard, que era fustigado na escola a ponto de, segundo Torre (2014, p. 69), alguns alunos gostarem “de agarrá-lo pelos pés” para “enfiar sua cabeça na privada”. Rajesh, também, além de seu comportamento introvertido e estranho, que o tornava alvo fácil para agressores escolares, sempre teve problemas quanto à sua orientação sexual – a própria família, em vários episódios, supõe que ele é homossexual por seu comportamento, por vezes, afeminado. 
Assim, após esta breve explanação que consiste numa apresentação acerca da série e suas personagens, discorremos sobre o bullying de modo a analisá-lo conceitualmente e refletimos, em seguida, sobre como esse tema é apresentado na série, especificamente no episódio que constitui nosso corpus.    

2 – REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO DE BULLYING

O bullying tem sido debatido enfaticamente por estudiosos de diversos países e em torno do assunto constatamos extensa discussão acadêmica. Ele aparece com frequência, também, em obras literárias e audiovisuais e tem recebido frequente atenção da mídia. A ocorrência de bullying preocupa profissionais da educação e pais de alunos há décadas e tem instigado pesquisadores a compreender como ele se manifesta em suas particularidades. Inúmeros estudos têm dado ênfase a esse fenômeno com vistas a conceituá-lo, identificá-lo no âmbito escolar e, sobretudo, erradicá-lo.
Nossa proposta de trabalho não se pauta em tentar fazer um levantamento sistemático dos estudos que incidem sobre o tema. Em verdade, apontamos apenas alguns aspectos pontuais que nos possibilitem pensar o bullying – sua definição e o comportamento apontado por estudiosos como típico dessa modalidade de violência – para, em seguida, nos remetermos ao corpus escolhido para nossa discussão.
Nesta perspectiva, no que concerne às definições, é consensual, pela maior parte dos autores consultados, que o bullying corresponde a um modo de violência que se dá especificamente no ambiente escolar e envolve, pelo menos, um agressor e uma vítima que, muitas vezes, é agredida física e verbalmente de modo contínuo.
Dentre os autores que apontam algumas definições para o termo bullying, podemos mencionar Mayre Barros Custódio Veiga (2014, p. 46), para quem esse é “um fenômeno antigo, tanto quanto a própria instituição escola. No entanto, seus efeitos, ao longo do tempo, foram ignorados, por serem interpretados como brincadeira”.
Veiga (2014, p. 48) enfatiza, desse modo, que o bullying jamais deve ser confundido com brincadeira, tendo em vista que corresponde a uma “violência gratuita e intencional”. Além disso, ela diz que essa violência é marcada “por um jogo de poder, no qual os fortes – do ponto de vista físico, emocional, econômico, social – convertem os mais fracos – sob os mesmos pontos de vista – em objetos de diversão e prazer”.
Esse comportamento que, para Veiga (2014, p. 46), era considerado, há pouco tempo, inofensivo e comum na maioria das escolas, “pode acarretar sérias consequências ao desenvolvimento psíquico dos alunos, gerando desde queda na autoestima até, em casos mais extremos, o suicídio ou tragédias”.
Enquanto Veiga (2014, p. 47) considera o bullying “um conceito muito bem definido, uma vez que não se deixa confundir com outras formas de violência”, Ana Beatriz Barbosa Silva (2010, p. 111), em estudo que se pretende pormenorizado, mas que é, em verdade, apenas panorâmico, aponta para o fato de que o desconhecimento sobre “a existência, o funcionamento e as consequências do bullying propiciam o aumento desordenado no número e na gravidade de novos casos, e nos expõe a situações trágicas isoladas ou coletivas que poderiam ser evitadas”.
Para Silva (2010, p. 111), o bullying é “um fenômeno tão antigo quanto a própria instituição denominada escola”, e nisto as autoras mencionadas estão de acordo. Silva enfatiza, ainda, que “o tema só passou a ser objeto de estudo científico no início dos anos 70”, tendo origem na Suécia.
             O primeiro a pesquisar o bullying, segundo Silva (2010, p. 112), foi o pesquisador norueguês Dan Olweus, que constatou em seu país que “um de cada sete alunos encontrava-se envolvido em casos de bullying, tanto no papel de vítima como no de agressor”. Diversos países passaram, a partir desse estudo, a preocuparem-se com a realidade das escolas, tendo em vista que o bullying passou a ter visibilidade e demonstrava números alarmantes.
            A década de 1990 viu crescer exponencialmente trabalhos voltados para tentativas de compreender e erradicar das escolas esse tipo de violência. No Brasil, como afirma Silva (2010, p. 113): “A Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (Abrapia) se dedica a estudar, pesquisar e divulgar o fenômeno bullying desde 2001”. 
            Ao conceituar o bullying, Veiga (2014, p. 48) afirma:

Sem termo equivalente na Língua Portuguesa, define-se bullying universalmente como “um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas, adotado por um ou mais alunos contra outro(s), causando dor, angústia e sofrimento”. Insultos, intimidações, apelidos cruéis e constrangedores, gozações que magoam profundamente, acusações injustas, atuação de grupos que hostilizam, ridicularizam e infernizam a vida de outros alunos, levando-os à exclusão, além de danos físicos, psíquicos, morais e materiais, são algumas das manifestações do comportamento bullying.

            Já Silva (2010, p. 21) assevera que o bullying é uma palavra de “origem inglesa e sem tradução ainda no Brasil” e, sem destoar da definição de Veiga, ela diz que essa palavra é utilizada para “qualificar comportamentos violentos no âmbito escolar, tanto de meninos quanto de meninas”. Desse modo, para a autora, dentre esses “comportamentos podemos destacar as agressões, os assédios e as ações desrespeitosas, todos realizados de maneira recorrente e intencional por parte dos agressores”.
Silva (2010, p. 21) discorre, ainda, sobre a palavra bullying de modo a analisar seus aspectos semânticos. Ela afirma, nesse sentido, que se buscarmos essa palavra no dicionário “encontraremos as seguintes traduções para a palavra bully: indivíduo valentão, tirano, mandão, brigão”. Em seguida, ela aponta para o fato de que a palavra bullying, propriamente dita, “corresponde a um conjunto de atitudes de violência física e/ou psicológica, de caráter intencional e repetitivo, praticado por um bully (agressor) contra uma ou mais vítimas que se encontram impossibilitadas de se defender”.
Aramis A. Lopes Neto (2005, p. 165), em artigo que estuda o comportamento agressivo entre estudantes, com ênfase no bullying, não difere do que diz as autoras mencionadas, no que concerne ao fenômeno, e afirma que esse tipo violência, manifestada pela agressividade entre os estudantes, “é um problema universal” e pode ser conceituado como “todas as atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudante contra outro(s), causando dor e angústia, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder”.
Cleo Fante e José Augusto Pedra (2008, p. 01) afirmam que, longe de parecer uma “brincadeira inocente, sem intenção de ferir”, o bullying corresponde a “atitudes hostis, que violam o direito à integridade física e psicológica e à dignidade humana”. Segundo Fante e Pedra (2008, p. 03), alguns fatores contribuem para a proliferação do bullying. Dentre elas, “atitudes culturais, como o desrespeito, a intolerância, a desconsideração ao “diferente”; a hierarquização nas relações de poder estabelecidas em detrimento da fraqueza de outros”.
Fante e Pedra (2008, p. 08) apontam, ainda, para o fato de que o bullying é “um problema epidêmico, específico e destrutivo, motivo pelo qual deve ser considerado questão de saúde pública”. As ações dos denominados bullies – valentões – são facilmente identificadas. Segundo Fante e Pedra (2008, p. 09), podem ser as ações de “apelidar, ofender, ‘zoar’, ‘sacanear’, humilhar, intimidar, ‘encarnar’, constranger, discriminar, aterrorizar, amedrontar, tiranizar, excluir, isolar, ignorar, perseguir, chantagear, assediar, ameaçar, difamar, insinuar, agredir, bater, chutar”.
            Quanto a essas ações executadas pelo agressor – bully –, Veiga (2014, p. 49) destaca que elas “são validadas por muitos que assistem e acabam por participar – direta ou indiretamente – como espectadores ativos, passivos ou omissos”.
            Parece preocupante, mais que a agressão de um bully contra uma vítima, o fato de que, em alguns contextos, há pessoas que testemunham as diversas agressões contra uma vítima sem que sejam capazes de tomar atitudes com vistas a solucionar o problema. Por medo de represálias, por coadunarem indiretamente, ou por vislumbrarem com naturalidade e frieza o ataque contra determinada vítima, os espectadores podem ser tão culpados quanto os agressores, porque poderiam reverter o quadro, no entanto pouco ou nenhuma empatia eles são capazes de externar com relação às vítimas.  
Além disso, Silva (2010, p. 43), que coaduna com a definição de Fante e Pedra sobre as atitudes que correspondem à manifestação do bullying, também enfatiza que, não raro, o “agressor pode agir sozinho ou em grupo”. Quando em grupo, ela destaca que “seu poder de “destruição” ganha reforço exponencial, o que amplia seu território de ação e sua capacidade de produzir novas vítimas”. Se o estudante indefeso é assediado e/ou violentado por um colega, fica mais fácil, de certo modo, solucionar o problema, porém quando o estudante é assediado por um grupo, isso parece mais preocupante. Para Silva (2010, p. 38), “qualquer coisa que fuja ao padrão imposto por um determinando grupo pode deflagrar o processo de escolha da vítima do bullying”.
As vítimas típicas, de acordo com Fante e Pedra (2008, p. 14), são “aqueles alunos considerados pela turma como diferentes ou ‘esquisitos’”. Assim, esses alunos:

São tímidos, retraídos, passivos, submissos, ansiosos, temerosos, com dificuldade de defesa, de expressão e de relacionamento. Além desses, as diferenças de raça, religião, opção sexual, desenvolvimento acadêmico, sotaque, maneira de ser e de se vestir parecem perfilar o retrato das vítimas.

            Nesta perspectiva, Silva (2010, p. 37 – 42) apresenta três tipos de vítimas: 1) Vítima típica: “alunos que apresentam pouca habilidade de sociabilização”, 2) Vítima provocadora: “são capazes de insuflar em seus colegas reações agressivas contra si mesmas” e 3) Vítima agressora: “reproduz os maus-tratos sofridos como forma de compensação, ou seja, ela procura outra vítima, ainda mais frágil e vulnerável, e comete contra esta todas as agressões sofridas”.
            Veiga (2014, p. 49) não difere das concepções dos autores mencionados, quanto ao perfil das vítimas. Desse modo, ela afirma que: “As vítimas potenciais são as que apresentam exacerbada timidez, introspecção, dificuldade relacional, diferenças individuais positivas ou negativas, dificuldade de se impor e se defender”.
            No que diz respeito ao agressor, Veiga (2014, p. 49) diz que:

O autor de bullying é movido pelo desejo de popularidade, aceitação, status de poder no grupo social. Para isso, submete aquele que elegeu como “bode expiatório” à situação de inferioridade, ao escárnio público na escola ou na internet, ao psicoterrorismo. Humilha, constrange, difama, intimida, persegue, amedronta. Quanto mais atormenta a vida do outro, mais cresce a sua popularidade. Torna-se temido e, muitas vezes, respeitado entre os colegas de escola e/ou fora dela.

            Parece consensual, entre os autores consultados para nossa discussão, o fato de que o agressor tem um perfil de líderes que empregam esta aptidão para propagação, no âmbito escolar, de atos cruéis contra aqueles que aparentam ser indefesos e contra os quais recaem aspectos que os diferenciem dos demais do grupo.
            A tendência à crueldade, atrelada ao poder de liderar, torna o bully imbatível no que concerne à capacidade de causar mal-estar àqueles que são escolhidos como alvo de suas atitudes inconsequentes e malévolas. Silva (2010, p. 43) propõe que: “Os agressores apresentam, desde muito cedo, aversão às normas, não aceitam serem contrariados ou frustrados, geralmente estão envolvidos em atos de pequenos delitos [...]”.
            Sobre as vítimas de bullying, por outro lado, Silva (2010, p. 81) afirma que elas “possuem uma personalidade extremamente afetiva, repleta de sensibilidade, empatia e senso moral em relação aos demais”. Podem, ainda, do ponto de vista intelectual, “apresentar níveis elevados de inteligência”.
As agressões do bully podem acarretar à vítima, dentre outros transtornos, para Silva (2010, p. 25 – 32): 1) sintomas psicossomáticos, 2) fobia escolar, 3) fobia social, 4) transtorno de ansiedade generalizada, 5) depressão, 6) anorexia e bulimia, 7) transtorno obsessivo-compulsivo, 8) transtorno do estresse pós-traumático e 9) quadros menos frequentes de esquizofrenia, suicídio e homicídio.
             O problema é ampliado quando a vítima se vê acuada e sofre em silêncio, o que ocorre na maioria dos casos. Isso pode ser consequência, para Veiga (2014, p. 49), do medo de repreensões, ou da incompreensão de familiares e colegas, “da vergonha de se expor ainda mais ou de não sobrecarregar os familiares com mais problemas”.  A vítima carrega “a dor, a vergonha, a raiva, tanto daqueles que a fazem sofrer, como de si mesma, por não saber o que fazer”.  
            Em alguns casos, o sofrimento proveniente dessas agressões pode levar o indivíduo à resiliência, que Silva (2010, p. 76) define da seguinte forma: “Em termos de comportamento humano, a resiliência pode ser entendida como a capacidade que um indivíduo possui de transmutar sofrimento, dor, rancor, mágoa ou raiva em aprendizado”. Dessa forma, algumas vítimas descobrem mecanismos para driblarem os traumas e conseguem realizar ações que as tornam bem-sucedidas em suas vidas pessoal e profissional, no entanto sabemos que o bullying pode causar danos irreparáveis e, em alguns casos, irreversíveis, por isto deve ser amplamente combatido e erradicado.
            Silva dispõe de um capítulo em que são apresentadas personalidades conhecidas da grande mídia que confessaram ter sofrido bullying, mas que conseguiram ser resilientes e foram bem-sucedidas em suas profissões, como é o caso do nadador Michael Phelps, da atriz Kate Winslet, do ator Tom Cruise, da cantora Madonna, do jogador David Beckham e do cineasta Steven Spielberg. Nem todas as pessoas vitimadas pelo bullying, no entanto, conseguem sobreviver aos traumas que essa modalidade de violência lhes acarreta. Por isso, a necessidade de compreendê-la em suas especificidades para eliminá-la das escolas.   
            Após essa explanação, que aponta para alguns aspectos definidores da nossa categoria analítica, enfatizamos o enredo do episódio que constitui nosso corpus e, desse modo, observamos como o conceito de bullying é apresentado na série.   
   
3 – LEONARD VERSUS JIMMY: REVIVENDO O BULLYING

No episódio The Speckerman Recurrence (A recorrência Speckerman), o personagem Leonard Hofstadter conversa com sua vizinha Penny sobre algo que o intriga: ele recebe uma mensagem, pelo facebook, de um colega de escola, seu principal agressor, que lhe propõe um reencontro. Seu companheiro de apartamento, Sheldon, lhe pergunta qual é o colega que o procura e passa a apontar os tipos de agressão que ele sofrera, na tentativa de identificar qual o agressor a que ele se refere. A comicidade da cena é causada pelo absurdo das agressões aplicadas contra Leonard e que Sheldon, sem perceber, atira contra o amigo na presença de Penny, a vizinha por quem ele é apaixonado.
            Leonard torna-se um físico experimental bem-sucedido e consegue, de certo modo, retomar a vida após o bullying que sofrera durante maior parte da vida escolar. No entanto, ele relembra, a partir da mensagem que recebe do agressor, o desconforto físico e moral que traz em si como consequência da violência a que fora submetido. Isso o angustia mais profundamente porque Sheldon expõe a violência sofrida por ele, como já apontamos, na presença de Penny.
Sheldon ainda lhe faz algumas perguntas que ele sempre responde com um incisivo “não”. Com isto, fica subentendido que Leonard não era vítima de apenas um agressor na escola, mas de vários que encontravam formas as mais perversas de fustigá-lo sem motivo aparente. O excesso de sofrimento que ele experimentava, sem revidar nunca, demonstra o quanto ele era indefeso e o quanto estava fadado ao silêncio. Além disso, questionamo-nos sobre a postura dos adultos da escola em que ele estudava: ou as pessoas ignoravam a violência impetrada contra ele, o que parece improvável, ou elas sabiam e agiam condescendentemente. 
No diálogo mencionado, Sheldon pergunta:

– É o cara que fez xixi no seu ponche havaiano?
– Não, esse foi um outro cara.
– Foi o que puxou sua cueca com tanta força que o seu testículo subiu e você passou o recesso de Natal esperando ele descer?
– Não, esse foi um outro cara.
– Foi o que usava sua cabeça para quebrar nozes?
– Não.
– Foi o que fez você comer seus pelos do braço?
– Não, mas, na verdade, foi a irmã desse cara.


Durante a madrugada, Leonard, que não consegue dormir intrigado com o convite, certamente porque, ao deparar-se com a possibilidade de reencontrar um dos seus agressores, vêm à tona suas angústias e medos do passado, encontra-se com Sheldon na sala – este assiste à transmissão de entrega do Prêmio Nobel de Física – e passam a conversar sobre seu dilema: encontrar-se ou não com seu principal agressor?
Após muito conflito, Leonard afirma: “Quer saber? Eu cansei de viver com medo desse cara. Eu irei vê-lo e dizer tudo o que deveria ter dito na época da escola”. Assim, ele enumera o que deveria ter dito, mas não disse: 1) “Pegue alguém do seu tamanho!”, 2) “Você não transou com minha mãe!”, 3) “Sim, eu sei por que estou me batendo!”.
Ele faz uma lista das principais agressões sofridas e vai, finalmente, para o temido encontro. Alguns itens da lista são mencionados durante os diálogos. Ficamos sabendo, dentre outras agressões, que ele teve: seu testículo grampeado, objetos colados em seus mamilos, um papagaio enfiado em sua calça e laxante em sua bebida no dia do baile de formatura. E, como se não bastasse a violência física, o agressor o submetia à violência psicológica: chamava-o de Nancy, um nome feminino que denota a tentativa de desmoralizá-lo em sua masculinidade, e o atirou totalmente nu, em certa ocasião, no vestiário feminino da escola.
Leonard afirma que, na última vez que encontrou seu agressor, ele o forçou a usar o cadarço do tênis como fio dental. No entanto, decidido a superar seus medos, e certo de que poderia ter enfim um acerto de contas, ele resolve encontrar-se com seu antigo agressor: Jimmy Speckerman. Na ocasião, seus amigos Sheldon, Howard e Rajesh o acompanham. Embora a presença deles represente apoio e força moral, Leonard diz que os amigos vão com ele apenas para vê-lo sofrer novamente. No caso de Sheldon, pelo menos, sua afirmação não é aplicável, tendo em vista que ele o defende, apesar de sua dificuldade de diferenciar o que é literal do que é ironia e sarcasmo quando Jimmy se remete aos predicativos intelectuais de Leonard – o que também cria o teor cômico que atenua a tensão do reencontro entre o bully e sua vítima.
Leonard diz, antes de encontrar seu agressor: “Eu vou fazer ele se desculpar por tudo o que fez comigo na escola”. Quando Jimmy chega ao bar, no entanto, ele, que o espera ansiosamente, tem imenso susto quando seu antigo algoz o surpreende chegando por trás dele aos gritos.
Seguem-se a essa cena, entre o drama de Leonard, e a comicidade do texto marcadamente criativo, os discursos cínicos de um agressor incapaz de reconhecer o sofrimento físico e psicológico que proporcionara à sua vítima. Exemplo disto é o modo tão inconsciente quanto cruel com que Jimmy relembra os maus-tratos a que submetia Leonard. Ele se dirige aos amigos de sua antiga vítima e afirma: “Vocês deviam ter visto esse cara antigamente. Ele era tão pequeno que cabia em qualquer lugar. Armários, latas de lixo...” E, em seguida, o interpela: “Ai, cara, como você entrou naquela mochila?!” A resposta, sarcástica, mas que Jimmy não consegue aquilatar, é: “Eu não posso ganhar o crédito. Você ajudou muito”.
Logo somos informados sobre o real motivo de Jimmy estar interessado em reencontrar Leonard. Quando indagado a este respeito, Jimmy lhe pergunta: “O que você acha de um par de óculos que transforma qualquer filme em 3D?” Havia, portanto, um interesse pecuniário por trás do encontro marcado. Jimmy não só ignora os sofrimentos e angústias de Leonard, como não é capaz de conscientizar-se dos males que lhe causou. Ele chega a exclamar: “Éramos quase um grupo de comediantes!”
Após Sheldon apontar o quanto Jimmy cometera ações reprocháveis contra Leonard, e ler alguns itens da lista de agressões que seu amigo portava, o bully tem um acesso de consciência e afirma: “Eu não sei o que dizer. Eu sempre achei que a gente só estava se divertindo”. Leonard responde em seguida: “Bom, não era divertido para mim”. Posteriormente, tendo percebido as verdadeiras intenções de seu antigo agressor, ele decide ir-se embora. 
Fica claro, nesse caso, que Jimmy parece ter internalizado algo que os autores que discorrem sobre bullying atentaram em suas discussões: para alguns bullies, a violência que é exercida contra o outro, no âmbito escolar, não passa de diversão, brincadeira. Muitas vezes, eles não interpretam os maus-tratos realizados contra suas vítimas como uma violência que pode deixar sequelas físicas e psicológicas graves.
A mesma postura acrítica e, inicialmente, cínica, quanto à violência que o bullying pode representar, percebemos no comportamento de Penny. Paralelamente às cenas correspondentes ao reencontro de Leonard com seu algoz, Penny conversa com Bernadette Rostenkowski e Amy Farrah Fowler – namoradas, respectivamente, de Howard e Sheldon – e, somente após ouvir de suas amigas os depoimentos do bullying que ambas sofreram, se reconhece como uma agressora. Consciente do absurdo de seus atos, Penny sente-se culpada e tenta redimir-se. Assim, instigada pelas amigas, ela decide ligar para as pessoas que agredira para desculpar-se, e realizar ações filantrópicas, como doação de roupas, para compensar suas falhas do passado.
  Percebemos, desse modo, que o bully é concebido nesse episódio como alguém incapaz de refletir criticamente sobre seus atos. Tanto Jimmy quanto Penny parecem compreender a violência que cometeram como diversão, brincadeira ou descontração.
Penny, por exemplo, vê como algo natural e divertido o que ela e outros colegas fizeram com Kathy Geiger, que fora amarrada num milharal e vendada, sem sequer ter condições de pedir socorro, porque estava com um “milho enfiado em sua boca”. O motivo da violência é explicitado em seguida: Geiger só tirava notas boas.   
            Penny, que só compreende seus atos como absurdos a partir do ângulo de visão de suas amigas, ambas vítimas de bullying, pensa por outra perspectiva a violência a que submetera alguns colegas. Se antes ela olha sem sentimento de culpa, e com naturalidade, para o que fizera, através do olhar de suas amigas, e provavelmente pelo que ocorrera com Leonard, a quem Penny direciona sentimentos para além da amizade, ela repensa seus atos e sente-se realmente culpada.
            Jimmy, por sua vez, também demonstra resquícios de arrependimento quando vai excessivamente embriagado ao apartamento de Leonard. O diálogo que se segue entre os dois comprova isto:

Aquilo não foi legal, cara. Me desculpa mesmo. Eu espero que você possa me perdoar.
– Certo, tudo bem... Eu acho...
– Você é um cara lindo!
– Bem, obrigado, Jimmy!


            Leonard se comove com a predisposição de seu antigo agressor em pedir perdão e, percebendo que ele está impossibilitado de dirigir, o convida a passar a noite em seu apartamento. O gesto digno de Leonard, no entanto, é reprovado por Sheldon. Enquanto se dá o diálogo entre eles, Sheldon reprova a bondade do amigo e considera sua atitude abnegada e amigável uma falha de caráter.
            Leonard, no entanto, pôde ouvir do seu agressor: “Engraçado, não é Leonard? Na época da escola, eu era o vencedor e você o perdedor. Agora nós trocamos. Você é o vencedor”. Diante disso, Howard tece comentário sobre o quanto seria interessante ouvir pedidos de desculpa do seu antigo agressor, ao que Leonard enfatiza: “Isso meio que reforça a sua fé na bondade natural das pessoas”. Sheldon propõe, em resposta à ação acolhedora do amigo com relação a Jimmy: “Sabem o que ia ser legal? Como um gesto simbólico para todos os valentões que nos atormentaram por anos, nós abrimos nossa casa para o Jimmy e, assim que ele dormir, nós matamos ele”.
            Na sequência das cenas, Jimmy acorda e demonstra que seu pedido de desculpas não passa do resultado da embriaguez da noite anterior. Ele continua a chamar Leonard de Nancy que, somente assim, decide tomar uma atitude de confronto. Antes, diante da bondade de Leonard, Sheldon afirma: “Você é um fraco. O mundo vai mastigar você e depois cuspir”.
            A descrença de Sheldon quanto à mudança comportamental de Jimmy, e sua crítica à abnegação do amigo e companheiro de apartamento, mostra que o tempo todo ele estava certo. Jimmy, que se mostra arrependido pelo que fez contra Leonard enquanto estava bêbado, quando sóbrio, parece não dar importância aos pedidos de desculpa, e enfatiza o quanto ele ainda é uma pessoa frágil, sensível e, por isto, merecedora de seu desrespeito e maledicência.
            Ofendido com a indiferença e falta de respeito do antigo agressor, ele o enfrenta, finalmente, mesmo que, na sequência da cena em que ele o expulsa e o empurra, Sheldon apareça a seu lado, ambos de pijama, descendo pelas escadas numa demonstração aparentemente covarde de que a solução, para não sofrer bullying novamente, é fugir o mais depressa possível.
            Leonard adequa-se, pelo que apreendemos ao longo da série, ao que Fante e Pedra (2008, p. 14) afirmam sobre a vítima do bullying: “São tímidos, retraídos, passivos, submissos, ansiosos, temerosos, com dificuldade de defesa, de expressão e de relacionamento”. Some-se a isto sua baixa estatura e o fato de que sua mãe, que sempre se mostrou distante e fria, o considerava um mero objeto de estudo, o que a tornava incapaz de perceber os conflitos que ele vivenciava em decorrência do bullying sofrido. Ele chega a dizer que não foram os traumas causados por Jimmy, e seus demais agressores, os responsáveis por ele urinar na cama até a adolescência, mas os traumas proporcionados pela própria mãe.
            Percebemos que o modo como o bullying é concebido nesse episódio reforça o quanto pessoas podem ser vítimas desse tipo de violência sem que possam se defender. Elas estão à mercê, em muitos casos, de ações tão abjetas que parecem absurdas. Na série, a enumeração das ações realizadas contra Leonard, de tão absurdas que são, causam a comicidade justamente por parecem impossíveis de serem realizadas contra alguém. O mesmo se aplica ao que Penny e seus colegas fizeram contra Kathy Geiger.
            Além disso, ressaltemos que o discurso de Sheldon, mais racional do que o discurso de Leonard, que em vários aspectos mostra-se emotivo e pautado em aceitação quase passiva dos erros do outro, aponta para o que os autores do episódio querem expressar: o bullying existe e traumatiza suas vítimas. Nem sempre o bully, dado que é à maldade e a inconsciência de seus atos já na infância, é capaz de refletir sobre si mesmo e tornar-se consciente das ações cruéis que realizou contra uma vítima indefesa. 
            Portanto, percebemos que o discurso de Sheldon, que é pessimista, mas realista, vislumbra quem foi agressor como alguém incapaz de qualquer mudança. Esse teor pessimista prepondera no episódio e termina por ser confirmado a partir do modo como Jimmy se porta.
Quanto a Penny, ela até consegue refletir sobre seus atos, mas ela o faz mais pela pressão que o grupo que ela integra exerce sobre si, do que por uma decisão própria. Notemos, nesse caso, que ela resiste quando as amigas propõem alguns atos de filantropia para amenizar sua culpa. E, mesmo quando ela toma a atitude de ligar para suas vítimas para pedir desculpas, ela se sente mal quando as desculpas não são aceitas – como se a mera ação de ligar fosse garantia de que a vítima estaria disposta a aceitar as desculpas apresentadas. Penny não reflete, por exemplo, que os traumas causados nas vítimas podem ter alterado negativamente suas vidas para sempre.
Leonard conseguiu ser resiliente. Apesar dos traumas, ele prosseguiu nos estudos, tornou-se um físico experimental da Caltech (embora, para Sheldon, ser físico experimental não represente grande conquista) e demonstra ser uma pessoa digna, sensata e que preza pela justiça e compreensão em seus atos. Nesta perspectiva, temos, como o próprio Jimmy reconhece, “um vencedor”, sobretudo porque ele é capaz de perdoá-lo, de preocupar-se com seu bem-estar e integridade, de acolhê-lo, mesmo em contrariedade às advertências de Sheldon. Sua capacidade de resiliência e seu altruísmo tornam-no superior ao comportamento interesseiro, desinteligente, desrespeitoso, cínico e agressivo de Jimmy. 
            Desse modo, pelo que apreendemos desse episódio, somente quem é capaz de refletir sobre seus atos, e demonstrar verdadeiro arrependimento, pode ser digno de crença quanto à sua mudança, como ocorre, de certo modo, com Penny. No entanto, o que se comprova, e isso pode ser inferido como uma visão que se pretende realista por parte dos roteiristas da série, é que não é recomendável acreditar em quem foi capaz de gestos maledicentes e covardes contra uma vítima indefesa sem que se demonstre, de fato, consciência sobre o quanto seus atos foram abjetos e cruéis.       

REFERÊNCIAS

BEAHM, George. Big Bang, a teoria: guia não autorizado da série. Tradução de Felipe C. F. Vieira. São Paulo: Universo dos Livros, 2012.

FANTE, Cleo; PEDRA, José Augusto. Bullying escolar: perguntas & respostas. Porto Alegre: Artmed, 2008. Disponível em: https://pt.scribd.com/doc/23442037/Bullying-escolar-perguntas-e-respostas-versao-sem-figuras. Acesso em: 20 de mai. 2018.

LOPES NETO, Aramis A. Bullying: comportamento agressivo entre estudantes. In: Jornal de Pediatria, Porto Alegre – RS, v. 81, n. 05, p. 164 – 171, 2006. 

SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Bullying: mentes perigosas nas escolas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010.

THE BIG BANG: THEORY. Direção de Mark Cendrowski e Anthony Rich. Criação de Chuck Lorry e Bill Prady. Produção: Warner Bros Television. Intérpretes: Johnny Galek, Jim Parson, Kaley Cuoco, Simon Helberg, Kunal Nayyar, Mayim Bialik, Melissa Rauch. Estados Unidos: 2011 - 2012. Minissérie distribuída em 3 discos (16min13s), DVD. 

TORRE, Toni de la. Bazinga!: um guia para a vida com Sheldon Cooper. Tradução de Marcelo Brandão. São Paulo: Lafonte, 2014.

VEIGA, Mayre Barros Custódio. Bullying. In: Falando sério sobre Eca e Temas Transversais. São Paulo: PAE Editora, 2014.  



REFERÊNCIA DA PUBLICAÇÃO DO ARTIGO: 

CARDOSO, Cícero Émerson do Nascimento. Reflexões sobre bullying no seriado The Big Bang: Theory. In: SOUZA, Adílio Junior; CARDOSO, Cícero Émerson do Nascimento; PEREIRA, Maria Lidiane de Sousa (orgs.) Linguística, literatura e educação: teorias, práticas e ensino. João Pessoa: Ideia, 2020. p. 136 - 148.