quinta-feira, 11 de junho de 2020

PARA "A OBSCENA SENHORA D" (PERSONAGEM DE HILDA HILST)


Caríssima Senhora D., 

Queria que alguém dissesse de mim o que disse a seu respeito o Porco-Menino. Ele disse que a Senhora é "um susto que adquiriu compreensão". 

E assim, depois de tudo o que foi dito, sinceramente, fiquei entre confuso e comovido: sua solidão é intensa como a prosa de Hilst é complexa. 

Posso confessar uma coisa? É que me perdi no imenso desejo de alentá-la em sua solidão. 

Somos tão solitários: a senhora em seu vão de escada, vivendo o amor perdido e os fragmentos de memória, e eu sem ter encontrado o melhor de mim e do amor.

Estou entregue, Senhora D., a uma busca irrefreada. Deus em mim é tão silente, embora vivo! Queria olhá-la e não ser recebido com violência ou mal-estar em minha tentativa de aproximação  desejo apenas abraçá-la quando, em verdade, não sei de afetos e de demonstração de força.

Retomarei seu vão de escada logo mais, porque a vida solitária e louca, pulsante em seus gritos, me inundou de identificação e fez-me cair, descuidado, na piscina obscura e melancólica que são nossos olhos em derrelição e medo.

Com amor,
Émerson Cardoso
02/06/2020

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