domingo, 2 de agosto de 2020

E QUANDO A GENTE CANSA? (OU: COMO MANTER A SANIDADE EM TEMPOS DE PANDEMIA?)


No dia em que publico este texto, já morreram 94.130 pessoas no Brasil. São muitas histórias que foram cessadas nesta pandemia. O que assusta, mais do que tudo, é o fato de que a maioria dessas mortes poderia ser evitada se tivéssemos um contexto político mais digno. As mortes têm ocorrido, sobretudo, porque não dispomos da sensibilidade política necessária para revertermos esse quadro trágico. Temos contado, obviamente, com algumas lideranças políticas que tomaram atitudes no sentido de minimizar o efeito devastador desse vírus sobre os brasileiros - é o que nos serve de alento -, mas ainda é pouco. Quero erradicação do vírus, quero a cura, quero que nós pobres da nação estejamos assistidos!

Enquanto isso, tenho tentado realizar minhas atividades intelectuais, mas não tenho conseguido efetivamente. Como fazê-lo quando somos bombardeados por tantos acontecimentos vergonhosos no âmbito da política nacional e por notícias que anunciam mortes diárias? O que mais temos a fazer, agora, é manter a sobriedade, mas tem sido difícil quando nos deparamos com desempregos, violências, mortes cotidianas. Não podemos nos esquecer de que o mal pode ser banalizado com facilidade. As mortes que têm acontecido não podem se tornar acontecimentos corriqueiros que se dão sem que tenhamos pesar pelas inúmeras perdas. 

Nesses dias, tenho pensado muito sobre a vida e sobre a morte. A vida, que me pareceu sempre cansativa, insuportável e trágica, agora, me parece tão tristemente significativa. Eu a quero para mim como nunca a quis. Como se eu percebesse, à beira do precipício somente, que viver é gratificante apesar das implicações que ela traz. Já a morte que tanto me instigava, agora, parece algo mais concreto, de modo que não a suporto perto de mim com seus braços fendidos e seu olhar inquisidor. Não quero a morte dos meus, nem a minha própria, nem do povo brasileiro. Quero esperança de dias melhores, de vida em plenitude. O que é vida em plenitude? Para essa pergunta, cada um pode ter sua própria resposta. Eu, por mim, penso que vida em plenitude é vida que vislumbra o mínimo de dignidade e esperança. E é tudo o que posso dizer sobre a vida.  

Estou cansado. De quê? De ler notícias tristes, de não ver uma luz no final do túnel, de ter que produzir textos e mais textos acadêmicos, de pensar sobre a política do mundo, do Brasil e da minha cidade. Estou cansado de tudo o que o tempo me tem proporcionado. Estou cansado de não dormir, de tentar manter o equilíbrio, de mostrar produção, de realizar mais do que minha alma suporta diariamente. 

Por fim, quero que a vida resista. Que a vida sobreviva, intensa e diversa, com a possibilidade de um mundo novo. Será que eu tenho feito algo a favor desse mundo novo? Será que sou digno da vida e do que ela tem a oferecer? Quanto à morte, estou farto de vê-la por perto - que ela nos dê trégua.

Sabe o que eu mais gostaria para o momento? Eu gostaria de ter em mim o silêncio. Não o silêncio da covardia, dos que aceitam sem resistência mil injustiças, dos que coadunam com o mal do mundo em sua banalidade mais nociva. O silêncio sobre o qual eu falo é o silêncio da alma, do pensamento, do coração, porque tenho falado e gritado e esperneado demais dentro de mim mesmo no auge do medo e da impaciência. Se eu não aprender o silêncio e a força que nasce quando damos espaço a ele, penso que não estarei preparado para o mundo.

Vida, por favor, segure minha mão e vamos à aprendizagem que tanto me queres proporcionar!

Émerson Cardoso
06/07/2020


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