segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

RETRATO DE MINHA AVÓ


Da beleza que era dela, 

meu Senhor, o que sobrou?

Só despedida tristonha,

porque a morte veio cedo. 


O domingo no vestido, 

meu Senhor, se acabou.

Tempo é festa de não-mais

engolindo mãos e dedos.


Onde o riso de batom,

Deus do Céu, onde o olhar?

Traz rosário no pescoço, 

ou colar de sonho aflito? 


Os cabelos são tão presos,

Deus do Céu, querem voar?

Na voz longe da memória 

vem silêncio em quantos gritos? 


Preto e branco, vento e força,

meu Senhor, é sagitário?

Sobrancelhas comportadas

em lunar revelação. 


Moça altiva sempre intensa,

Deus do Céu, belo retrato:

que me invade matriarca

com vestido e solidão.


Émerson Cardoso

Novembro de 2021

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