sábado, 8 de novembro de 2025

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1.  Você poderia me dizer seu nome artístico, onde nasceu e qual sua formação acadêmica?

Meu nome artístico é Thiago Mariano, mas meu nome completo é Francisco Thiago de Sousa Mariano. Thiago com H. Eu nasci em Juazeiro do Norte, em 1993, aqui no interior do Ceará. Minha formação acadêmica começou em 2011, quando eu entrei em Engenharia de Materiais (me formei 5 anos e meio depois). Em 2020, eu recebi o diploma da segunda faculdade: Pedagogia. E agora, em 2025, eu pretendo finalizar o curso de Jornalismo. Estou no último semestre.

2. Para você, o que é literatura e qual a importância dela em sua vida?

A literatura é uma forma de expressar o que eu sinto, as minhas histórias e até os meus traumas. Usei a escrita para transformar em arte muitas das dificuldades que vivi na infância e na adolescência, principalmente por causa do bullying. O meu livro fala muito sobre isso. O protagonista, por exemplo, é apelidado de Filé de Muriçoca, porque é magro e tem a cabeça grande — do mesmo jeito que eu era zoado na escola, pelos mesmos motivos.

Então, para mim, a literatura serve tanto pra contar histórias quanto para extravasar as minhas insatisfações, raivas e frustrações, de um jeito que me faz sentir que existe um pouco de justiça no mundo. É complicado, mas gosto de colocar nas histórias o que vivi — só que de uma forma que ninguém perceba exatamente o que aconteceu.

3. Como começou seu desejo de escrever (família, escola ou outros meios)?

No começo, eu não escrevia com palavras, e sim com a oralidade. Quando era criança, eu tinha uma coleção de brinquedos e adorava criar histórias complexas para justificar a existência deles. Eu não queria saber se o Goku já tinha a sua história, ou se o Superman vinha dos quadrinhos — eu inventava novas versões, histórias próprias, que faziam com que esses personagens existissem no meu quintal.

A minha bicicleta, por exemplo, era um demônio supremo que queria destruir o mundo, e um dos meus bonequinhos era o herói que precisava salvar todo mundo. Eu criava tudo isso de cabeça.

Com o tempo, lá pelos 9 ou 10 anos, ganhei um caderno de aniversário — o primeiro que não era pra fazer tarefa. Ele tinha o Mickey e o Donald na capa, e eu fiquei empolgado. Foi aí que comecei a escrever minhas primeiras histórias, em forma de quadrinhos. Criei um personagem chamado Coelhato, um coelho mutante superforte, com olhos triangulares, que voava, lançava raios laser e tinha um ponto fraco: ele ficava com muita fome e só queria comer bolacha. Fiz várias HQs caseiras e amadoras com ele.

Depois percebi que desenhar dava muito trabalho, e comecei a escrever roteiros para animações. Fiz animações em stop motion, com recortes, e até frame a frame, mas também era trabalhoso demais. Então pensei: seria mais fácil filmar com atores reais. E foi assim que comecei a criar roteiros de cinema — meu sonho, por muito tempo, foi ser cineasta.

Mas com o tempo percebi o quanto é difícil fazer um filme: precisa de equipe, equipamentos, dinheiro… Então fui adaptando esse sonho e passei a fazer curtas para a internet. Nesse processo, acabei escrevendo literalmente centenas de roteiros.

Em algum momento, percebi que seria ainda mais interessante transformar essas ideias em histórias longas, no formato de romance literário. Foi aí que nasceu o desejo de escrever livros e levá-los até o fim. A experiência com roteiros me ensinou que eu era capaz de me dedicar por anos a uma história — como aconteceu com Minhas 4 Futuras Ex-namoradas, que levei cinco anos para concluir.



4. Qual a importância de ler em um país considerado pouco leitor?



A leitura é importante porque ajuda a gente a lidar com os problemas ao nosso redor. E eu nem falo nem da leitura apenas como forma de se capacitar ou ficar mais inteligente — mas como uma ferramenta de felicidade. Ler é uma forma de se sentir bem, de passar o tempo de um jeito que realmente único.

A ideia de escolher ler, não por falta de opção, mas porque ler é mais divertido do que muitas outras coisas é inspiradora. Encontrar um bom livro e sentir vontade de ler ele, sem preguiça, é uma dádiva. Pena que no nosso país as pessoas não são estimuladas quanto a isso. A leitura traz prazer e conforto.

Então, pra mim, a leitura é importante porque ela tem o poder de fazer as pessoas mais felizes.



5. O que o levou a querer escrever?


Sempre gostei de criar e contar histórias — desde pequeno. Primeiro na oralidade, com meus brinquedos, depois em histórias em quadrinhos, filminhos de animação, curtas e até vídeos para o YouTube. Sempre me atraíram histórias que misturam humor, cultura nerd, fantasia e romance.

Chegou um momento em que percebi que queria escrever algo maior, algo que mostrasse que eu era capaz de construir uma narrativa mais complexa. Eu também entendi que, enquanto continuasse usando ideias de terceiros — tipo The Flash no Brasil, The Walking Dead no Brasil ou Todo Mundo Odeia o Chris no Brasil — eu nunca teria uma obra que fosse realmente minha.

Então, decidi criar algo totalmente original. Passei cinco anos escrevendo uma história só minha, feita com dedicação e no meu próprio universo. E eu gostei muito do processo — foi quando percebi que era isso que eu queria fazer.


6. Tendo em vista que quem escreve deve estar sempre em contato com obras literárias, quais são as leituras que você realiza e quais são seus autores e autoras preferidos?


Eu cresci com muita preguiça de ler. Por anos, achei que eu simplesmente não gostava de leitura, porque os livros que chegavam até mim eram os que eu tinha dificuldade de terminar. Eu não me dava o direito de abandonar um livro no meio — achava que isso era errado. Então eu me forçava a ler, mesmo que fosse devagar, e isso acabava me travando. Eu lia um livro, demorava muito, e não conseguia seguir pra outro.

Na adolescência, tudo mudou. Quando conheci livros como O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, e alguns de fantasia, como O Senhor dos Anéis e Harry Potter, percebi que eu gostava de ler, sim — eu só não tinha encontrado as histórias certas. A partir daí, comecei a me apaixonar pela leitura e a entender que eu era mais seletivo: precisava de histórias que realmente me prendessem.

Com o tempo, fui descobrindo os livros que me cativavam e até desenvolvi o hábito de reler as mesmas histórias várias vezes, porque me conecto mais fácil com o que já me encantou do que com algo novo que demora a me prender.

Entre os autores que me influenciaram estão o Tolkien e a J.K. Rowling, mas também a Thalita Rebouças, que é a principal escritora do gênero em que eu atuo. Quando li Confissões de uma Garota Tímida, Ansiosa e (Ligeiramente) Dramática em 2018, fiquei apaixonado pela forma leve e próxima como ela escreve. Foi por causa desse livro que decidi reescrever Minhas 4 Futuras Ex-namoradas — mudei de terceira pessoa para primeira pessoa, inspirado na narrativa dela.

Além da literatura, também fui muito influenciado por animes, como Attack on Titan, Death Note, Sword Art Online, Boku no Hero e Hunter x Hunter. Essas obras me despertaram o desejo de escrever histórias que misturassem fantasia, romance e comédia, mas trazendo tudo isso para dentro da cultura caririense — que é onde minhas histórias realmente ganham vida.



7. Qual obra literária você considera indispensável em sua formação de escritor?


Na minha formação como escritor, existem algumas obras que considero indispensáveis. Eu colocaria 6 obras literárias, já q cada uma impactou em quesitos que compões a minha linguagem: comédia, romance, fantasia, adolescência e regionalidade. 

O Auto da Compadecida, por exemplo, foi essencial pela questão  do humor e da regionalidade. Já Harry Potter e O Senhor dos Anéis me marcaram profundamente na fantasia, e eu incluiria também A História Sem Fim nesse grupo, porque esse último livro me marcou demais.

E, na parte do romance, por mais engraçado que pareça, eu colocaria Crepúsculo. Essa obra realmente me cativou quando eu era adolescente. Você encontra no meu livro influências com o romance sobrenatural entre adolescente. Quando li os livros e esperava os filmes, entre 2008-2010, eu sentia uma grande vontade de criar uma história que contagiasse as pessoas da mesma maneira que Crepúsculo contagiava aquela geração. Senti vontade de brincar com o amor superestimado adolescente, cheio de intensidade, exagero, mas incluindo ironias, piadas e regionalismo. 

Já a pegada mais adolescente do livro, na forma de expressar em primeira pessoa, foi inspirada pelo texto da Thalita Rebouças, com seu livro Confeições que foi um divisor de águas durante a minha escrita. 



8. Você poderia contar um pouco sobre seu processo de escrita? Este é seu primeiro livro? Como ele nasceu?


Eu comecei a escrever Minhas 4 Futuras Ex-Namoradas em 2018, quando já fazia cerca de um ano que eu havia criado a ideia da premissa — com todos os plots e o desfecho planejados. No início, pensei que seriam três livros, e que cada um contaria a história de uma futura ex. Mas, no meio do processo, decidi que seriam quatro. Assim nasceu o título Minhas 4 Futuras Ex-Namoradas.

O livro foi crescendo muito com o tempo. Passei cinco anos escrevendo e reescrevendo essa história. A primeira versão tinha mais de 700 páginas. Mesmo depois de revisar e reescrever nove vezes, ainda continuava grande, com cerca de 600 a 650 páginas.

Percebi, então, que lançar um livro tão longo seria inviável comercialmente — especialmente sendo um autor estreante e independente. Por isso, decidi dividir a obra ao meio e lançar a parte 1, que é essa que está sendo publicada agora. Ela tem 240 páginas, e acredito que cumpre bem o papel de prender o leitor e deixá-lo curioso para a continuação.

Apesar de ser o meu primeiro livro impresso, eu já havia escrito outros dois: Guempy – Amor Perfeito, de 2021, e O Mapa do Gempendoele Ele, de 2023. Ambos estão disponíveis digitalmente na Amazon Kindle.

Essas histórias fazem parte de um mesmo universo literário, o chamado Universo onde Gempendoele é real. Trata-se de uma mitologia que eu mesmo criei, inspirada na cultura caririense. 



9. Pensa em escrever outros livros? Quais temas poderiam surgir neles?


Sim, eu tenho vontade de escrever outros livros — inclusive a continuação de Minhas 4 Futuras Ex-Namoradas já está pronta e deve ser lançada no próximo ano.

Atualmente, estou finalizando uma nova obra que segue um caminho diferente: uma paródia de super-heróis ambientada no Cariri, chamada O Traumatizador vs. O Tempero. É uma história que mistura sátira e cultura regional, mostrando heróis e vilões inspirados no nosso jeito de ser, nas nossas expressões e na vida aqui da região.

Esse livro vai ser mais curto e voltado para o público infantojuvenil, com ilustrações e capítulos curtos, quase como se fossem contos independentes. No início, parece uma antologia, mas aos poucos as histórias se conectam até chegarem a um desfecho comum.

É um projeto que me deixa muito empolgado — e a ideia é lançá-lo no Dia do Super-Herói, 28 de abril de 2026.



10. Escrever é desafiador, mas publicar é muito mais. Quais são, do seu ponto de vista, os desafios de trabalhar como escritor no Ceará?


A maior dificuldade pra mim não foi escrever o livro — embora tenha exigido muita disciplina manter um projeto por cinco anos, sem ninguém me cobrando ou acreditando muito que eu realmente fosse concluir. O mais difícil veio depois que terminei: juntar maturidade, conhecimento e recursos financeiros pra transformar o livro em realidade.

Demorei dois anos só pra escolher a capa certa, levantar o dinheiro pra publicar e entender que eu não precisava de uma editora. Percebi que, no meu caso, uma editora encareceria o produto e tiraria parte do controle criativo. Então comecei a estudar sobre serviços editoriais, revisão, diagramação, e tudo que envolve as etapas e elementos pré e pós-textuais.

Aprendi que o maior desafio de um escritor independente, além de vender, é entender que ele precisa ser mais do que escritor. Precisa ser também empreendedor, comunicador, blogueiro — e, muitas vezes, investir do próprio bolso no sonho, às cegas, pra só depois, talvez, colher algum retorno.



11. Você conhece o conceito de Literatura Infanto-juvenil? Você considera que seu livro está vinculado à denominada a esse tipo de Literatura?


Conheço um pouco do conceito, mas não sou especialista. Sou pedagogo e trabalho com crianças há nove anos. Acredito, no entanto, que o meu livro se encaixa melhor no público juvenil, acima dos 13 anos — talvez a partir dos 11, se houver o consentimento dos pais. Isso porque a história aborda temas como namoro, romance e paixão, o que não considero adequado para o público infantil. Já os adolescentes e jovens que estão vivendo essa fase, sim, podem se identificar bastante. O protagonista, por exemplo, tem 15 anos — ele começa a história com 14, mas faz 15 durante a narrativa. Então é um livro voltado para quem está nessa faixa etária e, claro, para os demais adultos que gostarem de ler.

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