Quando assisto ao filme Stand by me (1986) fico excessivamente emocionado. O diretor Rob Reiner, por meio desse filme, apresentou ao mundo a obra Outono da inocência - o corpo, de Stephen King, com muita sensibilidade. A propósito, devo ter assistido pela vigésima sétima vez a esse filme – deixo claro que isso não é uma hipérbole – e não me cansarei de revê-lo sempre que a alma precisar repensar os valores da amizade.
Diante de uma vida tão vazia de verdadeiros amigos, o filme Stand by me, cuja trilha sonora e fotografia são impecáveis, causa uma espécie de dor interior justamente porque coloca em
destaque a amizade com teor de infância, de inocência, de pureza que muitos de
nós não conseguiríamos mais alcançar.
Seu enredo é mais ou menos assim: quatro amigos
saem para encontrar o corpo de um menino que está desaparecido. Um dos meninos – Vern – colhe as informações sobre como chegar ao menino
que, pelo que foi escutado, está morto. A partir daí, nos deparamos com
quatro personagens que se reúnem com a intenção de encontrar o corpo do menino
desaparecido para, com isso, tornarem-se heróis aos olhos do mundo – o mundo deles
é representado pela pequena cidade de Castle Rock.
Decididos a tornarem-se heróis, à medida que eles se aproximam do corpo do menino aproximam-se, também, de
seus conflitos existenciais, que terminam por lhes proporcionar novas formas de
enxergar o mundo: o paradoxo buscar a morte e encontrar a vida deve ser
considerado na apreciação dessa obra.
Nesta perspectiva, os meninos empreendem uma aventura sem se darem conta
de que estão prestes a se deparar com a ferida existencial do homem por excelência: o
encontro inevitável com a morte e seus mistérios indevassáveis. Essa busca proporciona
aos aventureiros experiências enriquecedoras, pois todos, ao longo do caminho,
deparam-se com suas feridas e precisam superá-las ou, ao menos, lidar com elas.
Teddy, Vern, Chris e Gordie, que são as personagens do filme, vão em
busca do corpo do menino morto, como já foi dito, mas será que, em verdade, o
que cada um busca de fato não é encontrar-se consigo mesmo?
E nesse contexto surge a amizade: palavra carregada, para mim, de uma forte carga emocional. Sempre quis entender como ela se processa de modo
efetivo no convívio humano e, talvez, esse filme tenha contribuído para que eu
entendesse um pouco mais a esse respeito.
Antes que eu me esqueça, vou apresentar alguns detalhes sobre as personagens: Teddy é filho
de um ex-guerrilheiro que, louco, certa vez quase o matou queimado; Vern é um menino
ingênuo, o “gordo” da turma, de comportamento inseguro e, por isso, fácil de
ser manipulado pelos outros; Chris é o mais forte do grupo, o líder que
consegue ser racional e seguro de si, apesar dos problemas que tinha que
enfrentar com a família sempre mal vista pela cidade; e Gordie, um menino frágil
que se sentia ignorado pela família e que perdera o irmão – jogador amado pelos
pais e muito popular – recentemente. É Gordie quem, já adulto, narra a história
dos amigos que tivera aos doze anos.
Nas últimas cenas, o narrador atira sobre nós uma realidade dolorosa: “Amigos
entram e saem da nossa vida...” Essa afirmação amarga é pungente porque
é real. O que nos conforta: quem passa por nossa vida sempre deixa alguma recordação
e, muitas vezes, essa recordação pode ser tudo em que nos apoiamos para não
morrer de eternos vazios.
Percebo nesse filme que a amizade é vista de modo bem realista, e o narrador termina
perguntando se alguém de fato "tem" amigo. E eu penso o seguinte: pode ser que hoje não tenhamos, mas um dia
alguns de nós já tivemos, e isso nos aproxima de uma existência mais humanizada.
Stand by me pode ser traduzido
como: “fique comigo” ou “fique do meu lado” ou "conte comigo". Quem nunca desejou que houvesse
alguém que lhe acolhesse ou representasse cumplicidade nos momentos benévolos e
malévolos da vida? Como diz Rachel de Queiroz, numa crônica sobre o assunto: “O
lindo da amizade é a gente saber que é querida a despeito de todos os nossos
defeitos”. Já Clarice Lispector, num conto sobre a mesma temática, diz que:
“Amizade é matéria de salvação”. E é assim mesmo, a meu ver. Amizade representa
muito para quem sabe dar o devido valor àquilo que nem sempre se pode perceber,
com facilidade, no cotidiano da vida. Enfim.
TEXTO: ÉMERSON CARDOSO
16.05.13
Ficou excelente o texto. Vou até rever o filme.
ResponderExcluirAbraço
Obrigado pelo elogio! A propósito, é um filme que merece ser revisto mesmo!
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