Conhecemos
algumas pessoas que surgem em nossas vidas, mas passam. Elas vêm e até
contribuem de algum modo, porém mal o tempo segue seu curso e elas se transformam
apenas em meras lembranças que podem ser positivas ou não. Há pessoas, no
entanto, de tal modo significativas que é impossível não notarmos sua presença afetiva
em nossas memórias. Acontece que, por vezes, essas pessoas notáveis vão embora
antes de nós e deixam um espaço vazio impossível de ser preenchido – não se substitui
uma pessoa que estimamos. Resta-nos, portanto, lidar com a saudade que nos
afaga inevitavelmente.
No
dia 22 de agosto de 2017, ainda pela manhã, fiquei sabendo do falecimento de Mazé
– Maria José Barbosa Gonçalves. Eu a conheci em 1992, quando eu ainda era
criança. Éramos vizinhos e, sendo amigo de suas filhas, tornei-me, também,
amigo dela. Nossa amizade aconteceu de uma forma diferente: eu era criança e
ela adulta. Ela me instigava respeito e admiração, no início, mas a infância se
foi, a adolescência passou e a fase adulta chegou ampliando, cada vez mais, os
sentimentos positivos que ela me despertava. Assim, ela tornou-se alguém que eu
costumava ver pouco, mas que, quando eu reencontrava, me causava grande
alegria.
Ela
era uma mulher muito dedicada ao marido e aos filhos. Estudou, mas optou pelo
casamento. Era católica, tinha suas devoções. Era uma pessoa forte, de caráter irreprochável
e rica em dignidade – poucas pessoas conseguiram ser tão dignas quanto ela. Com
a mesma seriedade com que fazia exortações aos filhos, era capaz de fazer rir
aos que estavam em seu derredor. Acho que esta era a sua maior peculiaridade: ser engraçada, divertida, bem-humorada. Eu a vi chorar, claro, também se
irritar, algumas vezes, mas ela era essencialmente alegre, simpática e fazia a
gente se sentir bem quando estava por perto – ela tinha muitas amizades.
Quando
soube de sua partida, eu senti uma tristeza profunda. Ela é, talvez, a pessoa
que nunca, em minha vida inteira, me causou dor, tristeza ou mágoa. Eu, que tive uma infância infeliz e cheia de dores, não me
recordo de ouvir de sua boca uma palavra áspera, um tratamento que me causasse sofrimento
ou tristeza – e isto foi o que me aproximou dela por toda a vida. Ela fazia com
que eu me sentisse querido, fazia com que eu me sentisse gente, porque nunca me
olhou com julgamento, repreensão ou crítica. Eu era, nas várias fases em que
estivemos juntos, alguém que ela sempre tratou com carinho e, para mim, ela era
mais que uma pessoa estimada, era minha amiga – uma amiga inesquecível, que
sempre ri e me acolhe quando a vejo em minhas recordações.
Sei
que um dia eu me reencontrarei com ela no mundo espiritual ou em outras vidas,
porque estou certo de que não importa a forma e o contexto, mas nós, se nos
reencontrarmos, seremos sempre amigos. Ela despertou em mim aquele tipo de afeto
que o tempo não apaga, nem a morte impossibilita de crescer. Não são assim as
verdadeiras amizades? Que saudade dessa minha amiga tão querida, Deus, que
saudade! Enquanto ela descansa um pouco, eu, daqui, envio meu carinho e bons
sentimentos para ela, que ocupará, enquanto eu existir, um grande espaço neste
meu coração tristonho.
Émerson
Cardoso
22/09/2017
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