Ternura, leveza, beleza e encantamento poderiam (muito restritivamente, porque faltam adjetivos elogiosos) denotar a grandeza do espetáculo "Confia em mim", criado e dirigido por Brino Correia - que também nele atua. No elenco, surge uma tríade de atores (formada por Wládia Torres, Dyego Steffan e Brino Correia) que, sem uma palavra, literalmente, comove, promove bem-estar e amplia a alma de quem se dispõe a contemplá-la.
Atuando, ou realizando a arte do sapateado, os atores desse espetáculo são em todos os sentidos ousados, intensos e profissionais. A competência cênica dos atores ultrapassa qualquer expectativa. São perceptíveis, durante todo o espetáculo, a sincronia dos passos do sapateado que executam; a expressividade da utilização da mímica, no sentido mais lírico, belo e original do termo; a utilização de instrumentos de percussão que dão ritmo às cenas sempre hilárias e criativas além de uma trilha sonora que foi muito bem escolhida.
Será exagero tanto encômio devotado ao espetáculo em pauta? Não é exagero: eu, espectador adulto, mais que me comovi, me emocionei muito nas duas vezes em que tive o privilégio de assistir ao espetáculo; crianças que assistiram ao espetáculo desejavam assistir novamente - e muitas o fizeram - profundamente desejosas de reencontrar aquelas personagens tão (não) silenciosas e que, por nada falarem, diziam tanto.
Há cenas específicas que não serão fáceis de sair da memória: por exemplo, a cena em que o Músico (Dyego Stefann) e o Sapateador (Brino Correia) tentam calçar o sapato na Palhacinha (Wládia Torres), e a cena em que a Palhacinha e o Sapateador "congelam" e, hilariamente, são manipulados pelo atrapalhado e circense Músico, são inesquecíveis.
Creio que o maior grau de envolvimento afetivo do público ocorre (e isto se deve a um conjunto de fatores que desperta, ao longo do espetáculo, a cumplicidade deste) em dois momentos: quando o Músico se enfurece com o Sapateador e o expulsa da cena com a intenção de ajudar a Palhacinha e, como consequência do medo que desperta no Sapateador, olha para o público como se dissesse: "Quem é que manda aqui agora?!" E também quando - e esta cena é de um lirismo profundo -, ao irem embora, a Palhacinha e o Sapateador deixam para trás o Músico. É uma cena de fato emocionante (que seja destacada a expressão facial do ator Dyego Stefann: ele devassa a alma de qualquer espectador porque seu olhar perpassa a capacidade de mera comunicação). Mas os seus amigos voltam e o levam consigo. Ele, por sua vez, esquece a avezinha de brinquedo (que na minha concepção também é uma personagem marcante no espetáculo), mas, quando o público achava que o Músico havia esquecido de fato seu amiguinho de brinquedo, ele retorna à cena e o toma nas mãos ternamente. E o espetáculo encerra - encerra lamentavelmente - e deixa o público fascinado.
Poucas vezes um espetáculo mexeu tanto comigo. A arte faz isto com a gente! E, para suportarmos viver neste mundo de conflitos e fragmentações, encontrar espaços para a experiência que a arte nos proporciona é, por excelência, algo mais que necessário. Desejo que a tríade do espetáculo "Confie em mim" salve, por meio da arte que propaga, muitas almas adultas e infantis que também precisam de leveza para melhor viver.
Texto de: Émerson Cardoso
Da esquerda para a direita: Juninho, Yáshila e Paulo Henrique com o ator Dyego Steffan |
Wládia Torres e eu... |
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