(Cecília
Meireles)
(Isso foi lá
para os lados
do Tejuco, onde
os diamantes
transbordavam do
cascalho.)
Que andor se
atavia
naquela varanda?
É a Chica da
Silva:
A
Chica-que-manda!
Cara cor da
noite,
olhos de cor de
estrela.
Vem gente de
longe
para conhecê-la.
(Por baixo da
cabeleira,
tinha a cabeça
raspada
e até dizem que
era feia.)
Vestida de
tisso,
de raso e de holanda,
– é a Chica da
Silva:
A
Chica-que-manda!
Escravas,
mordomos,
seguem, como
rio,
a dona do dono
do Serro do
Frio.
(Doze negras em
redor
– como as horas,
nos relógios.
Ela, no meio,
era o sol!)
Um rio que,
altiva,
dirige e comanda
a Chica da
Silva:
a
Chica-que-manda.
Esplendem as
pedras
por todos os
lados:
são flechas em
selvas
de leões
marchetados.
(Diamantes eram,
sem jaça,
por mais que
muitos quisessem
dizer que eram
pedras falsas.)
Mil luzeiros
chispam,
à flexão mais
branda
da Chica da
Silva
da
Chica-que-manda!
E curvam-se,
humildes,
fidalgos
farfantes,
à luz dessa
incrível
festa de
diamantes.
(Olhava para os
reinóis
e chamava-os
“marotinhos”!
Quem viu
desprezo maior?)
Gira a noite,
gira,
dourada ciranda
da Chica da
Silva,
da
Chica-que-manda.
E em tanque de
assombro
veleja o navio
da dona do dono
do Serro do
Frio.
(Dez homens o
tripulavam,
para que a negra
entendesse
como andam
barcos nas águas.)
Aonde o leva a
brisa
sobre a vela panda?
– À Chica da
Silva:
à
Chica-que-manda.
À vênus que
afaga,
soberba e
risonha,
as luzentes
vagas
de
Jequitinhonha.
(À Rainha de
Sabá,
num vinhedo de
diamantes
poder-se-ia
comparar.)
Nem Santa
Ifigênia,
toda em festa
acesa,
brilha mais que
a negra
na sua riqueza.
Contemplai,
branquinhas,
na sua varanda,
a Chica da
Silva,
a
Chica-que-manda!
(Coisa igual
nunca se viu.
Dom João Quinto,
rei famoso,
não teve mulher
assim!)
MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. Porto Alegre: LP&M, 2013.
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