INTERPRETAR UM TEXTO CONSISTE, INICIALMENTE, EM DESENVOLVER UMA LEITURA
ATENTA OBSERVANDO OS ELEMENTOS QUE ESTRUTURAM ESSE TEXTO A PARTIR DE SUAS
CARACTERÍSTICAS SUPERFICIAIS.
INTERPRETAR UM TEXTO CONSISTE EM IDENTIFICAR AS PRINCIPAIS
CARACTERÍSTICAS QUE UM AUTOR APRESENTA EM SUA PRODUÇÃO
TEXTUAL.
INTERPRETAR UM TEXTO É CRIAR UMA LEITURA NOVA SOBRE
ESSE TEXTO, ATRIBUINDO SENTIDOS E ENCONTRANDO LEITURAS POSSÍVEIS A PARTIR DOS
ELEMENTOS QUE O ESTRUTURAM.
OBSERVE O SEGUINTE TEXTO:
Poema do beco
Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do
horizonte?
- O que eu vejo é o beco.
(Manuel Bandeira)
1-
O que podemos
perceber no texto, após uma primeira leitura, é que o autor Manuel Bandeira, um
proeminente representante da Primeira Geração Modernista, vivencia de modo
efetivo o ideal da poesia modernista proposta pela Semana de Arte Moderna de
1922 – ano da comemoração de Independência do Brasil –, ao produzir um texto
curto composto por dois versos que apresenta uma estrutura simples fortemente
diferenciada das produções literárias tradicionais. O texto apresenta dois
versos tendo, no primeiro, uma gradação percebida pelas vírgulas que enumeram
os elementos que o compõe, para encerrar com uma interrogação; no segundo
verso, por sua vez, há pressuposição de um diálogo evidenciado pelo travessão.
2- O poema inicia com um advérbio interrogativo “Que” e
coloca em pauta o fato de que, enquanto alguns veem elementos evidenciadores de
beleza e requinte na produção literária, ele, um partícipe do povo, observa a
realidade prática, com certo pessimismo; observa o espaço cotidiano e, desse modo,
valoriza a condição humana simples ao perceber na poesia princípios de beleza
em imagens corriqueiras.
3- O poema traz, em suas camadas mais profundas, forte
crítica à produção literária antiquada, ultrapassada e que enaltecia apenas
imagens belas ricas em plasticidade e cores. Ao valorizar esses elementos de
teor, por vezes, artificial, o poeta esquecia a pureza do povo, suas
existências, seus conflitos, suas realidades sociais. O poema do beco observa o
que é cotidiano, o que se pode tatear, o que é tangível e próximo.
4- Para o poeta, observar situações distanciadas da sua
realidade era absurdo, por isso a interrogação evidenciada no texto como uma
questão filosófica que coloca em pauta a discussão entre o “belo” e o
“não-belo”, nos levando a considerar a proposta heraclítica que se funda na
adequação entre o que “é” e o que “não-é”, para se tornar um possível
“vir-a-ser”.
5- O travessão indica o diálogo estabelecido como
pressuposto conativo em que o eu poético
discute argumentativamente com o leitor:
a- O homem sofre diversas misérias existenciais;
b- Observar paisagens não resolveria problemas
existenciais do homem;
c- Logo, por que observar paisagens ricas em bucolismos
se a realidade humana não vai mudar com isso?
6- A grande discussão evidente no texto corresponde à
exposição de uma crítica que pressupõe a premissa acima apresentada: como
poderia um poeta ver apenas o que é belo,
o que pode atrair pela artificialidade, e desconsiderar a construção de um
poema que traduza efetivamente a realidade prática com suas precariedades e
desdobramentos?
Seria
pertinente refletir, a partir do texto:
1-
O que, na
produção literária, deve ser considerada: a exaltação de belezas por vezes
distantes da vida prática, ou a realidade, mesmo com suas precariedades?
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