Li
obstinadamente esta obra, mas não consegui concluí-la na data em que deveríamos
retornar à nossa cidade. Vendo-me constantemente com o livro em
mãos, e percebendo que eu havia me incomodado por não tê-lo lido inteiro à
iminência de ir embora, seu dono fez uma dedicatória e o entregou a mim com votos de que
eu lesse e depois comentasse se havia gostado. Ante a gentileza dele, fiquei
sem palavras – principalmente porque ele me havia dito que o comprara há pouco
e que sequer o havia lido ainda. Devo dizer que ele dispunha de vários outros
títulos da autora e que ao me presentear esse livro o fez por evidente desprendimento.
A propósito das
crônicas que a autora compila no livro, todas são de uma linguagem acessível, os temas cotidianos são
instigantes, há menção constante a obras cinematográficas, artes plásticas, peças teatrais e
livros sobre os quais a cronista discorre de modo a apontar pontos de vista
interessantes.
Além
disso, surgem nas crônicas discussões sobre comportamento, relacionamentos
afetivo-amorosos, família, atualidades, cenas de perceptível humor, comentários sutis sobre política, reflexões sobre o ser/estar no mundo conflitante das relações
humanas e os dissabores (por vezes permeado de comicidade) sobretudo do universo feminino – com suas belezas e
constantes descobertas diárias.
Fiquei
sabendo que o hilário e comovente filme Divã,
que traz a excelente Lília Cabral como protagonista, foi baseado na obra de
Martha Medeiros, mas não havia lido obra alguma dessa escritora. Foi nessa
viagem, através do livro A graça da coisa, que tive acesso à escrita dela.
Confesso
que os textos são direcionados a um público específico, pelo modo como a autora
expõe determinados problemas do cotidiano. Sinto falta de mais discussões de
caráter, por exemplo, social nos textos. A leveza, no entanto, com que a autora
conversa com o leitor, faz com que seus textos sejam agradáveis. Creio que é um livro é ideal para quem busca descansar a mente um pouco, para quem deseja
leituras mais leves, mais tranquilas.
Alguém
comentou que não suportava Martha Medeiros por ela ser escritora de autoajuda.
Não sei quanto aos demais livros dela, porém ao ler A graça da coisa, especificamente, vi que ela não se trata de uma escritora de autoajuda, mas
de uma escritora que consegue dizer de modo simples, coerente e inteligente o
quanto é possível estar antenado com o mundo prático e tentar estar de bem com
ele. Sendo as relações tão tumultuárias e conflitantes, ler textos literários
que discorrem sobre tais assuntos, quando estes são bem escritos e apresentam
ideias inteligentes, é sempre válido.
Agora,
no fim do ano de 2014, na tentativa de descansar a mente de leituras mais
teóricas, decidi reler A graça da coisa
e confesso que foi muito bom: deu para refletir sobre a vida, sobre o mundo,
sobre tudo... E, ao fazê-lo, recordei-me de que havia prometido a quem o havia ofertado que
emitiria minha opinião. Eis,
portanto, minha opinião.
E,
para concluir, preciso dizer duas coisas: 1) preconceito acadêmico é
uma lástima – antes de tecer qualquer crítica contra um autor e sua obra faz-se
necessário conhecê-los – e 2) sou muito grato por ter aprendido que pequenos gestos de desprendimento podem fazer grande diferença para
quem de fato os valoriza.
Texto
de: Émerson Cardoso
29/12/14
Nenhum comentário:
Postar um comentário