terça-feira, 3 de novembro de 2015

UMA ANTÍGONA NORDESTINA: NOTAS SOBRE A PEÇA TEATRAL "A REVOLTA DE ANTONINA"


NOTAS SOBRE A PEÇA TEATRAL A REVOLTA DE ANTONINA:

Antígona, a infeliz filha de Édipo, serviu de inspiração para que eu criasse Antonina – a sonoridade do nome e os fatos que constituem o enredo da peça evidenciam isto. Diferente da jovem grega, Antonina é uma sertaneja nordestina pobre, sem parente e aderente, que acabou de perder um filho e depara-se com a tirania de um coronel que a impede, por uma série de fatores, a sepultar seu morto querido. Três pontos nortearam minha escrita:

1) Decidi escrever esta peça em continuidade a uma ideia que tive de discorrer sobre o Cariri cearense em três obras realizadas em gêneros diferentes: poesia, teatro e romance. A primeira tem por título Romanceiro do Norte Juazeiro; a segunda é A Revolta de Antonina; a terceira é um romance ainda em processo de escrita e reescrita;

2) Antonina é uma personagem feminina que, como tantas outras mulheres nordestinas fadadas a viver sozinhas, pelas circunstâncias da vida, traz em si a força de resistir em meio a um espaço que exige da mulher, por vezes, não só força física, condição sine qua non para manutenção de sua sobrevivência, mas também força psicológica, para encontrar em si coragem de enfrentar o poder de indivíduos como o coronel Antenor, que manda e desmanda numa típica localidade do Cariri cearense;

3)  Antonina é uma personagem a quem eu devoto grande estima, porque nela estão reunidas várias mulheres fortes que me inspiraram, tanto as mulheres das obras literárias que li, quanto as mulheres com as quais convivi ao longo da vida  inclusive as de minha própria família. Ela, como toda boa mãe nordestina, atribui ao filho grande importância, porém o destino  ou as ações/reações da vida  fazem com que ela experimente o pior "bocado" que uma mãe poderia experimentar: a morte de um filho. E, para sepultá-lo, ela tem que buscar forças resguardadas em si para enfrentar, inevitavelmente, a mão de ferro de um coronel tirânico e sádico, vestido em pele de cordeiro. Então eu pergunto: será que ela consegue?

No mais, é isto! Espero que Antonina alcance seu objetivo e que o leitor / expectador compreenda suas dores e torne-se seu cúmplice. Lembremo-nos de que ela fala por quem, muitas vezes, não tem voz contra o poderio de gente desalmada.  

CARDOSO, Cícero Émerson do Nascimento. A Revolta de Antonina. João Pessoa: Sal da Terra, 2015. 



2 comentários:

  1. Muito bom! Nunca vi essas mulheres, sem atrativos rotulados, serem exploradas nos holofotes das mídias. Geralmente elas são só oniscientes na vida dos protagonistas que ganham o mundo. Muito bom essa vontade de retratar essa grande parcela, que em deveras, busca apenas a sobrevivência, vivendo da felicidade dos outros. E a sua obra de romance, já concluiu?

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    1. Sim, falta somente publicar, Thiago! Obrigado pelo comentário tão pertinente!

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