A
produção literária de Luís de Camões, escritor maior da poesia portuguesa,
apresenta inúmeras características que a tornam peculiar. Além da epopeia Os Lusíadas, sua obra mais conhecida,
foi exímio produtor de sonetos. Dentre as características que podemos ressaltar
em sua obra, devemos considerar o forte lirismo com que produziu seus sonetos.
Neste gênero textual, desenvolveu discussões acerca do seu tempo, apresentava
inferências sobre um amor de cunho platônico e discorria sobre princípios
filosóficos e crenças religiosas.
No soneto “Alma minha gentil, que te
partiste”, há a voz de um eu lírico angustiado que, ao remeter-se ao seu amor,
que se foi para a eternidade, lamenta profundamente esta separação inevitável.
O eu lírico remete-se a um ser a quem devota um amor expressivo e apresenta-se
como triste, magoado e perdido nas dores de amar a quem Deus “levou” para a
morada eterna.
Nos versos: “Roga a Deus, que teus anos encurtou, / Que tão
cedo de cá me leve a ver-te”, podemos perceber a sensação desesperadora a que
se submete o eu lírico por ter se separado do seu grande amor, que morreu cedo
deixando nele uma espécie de “mágoa, sem remédio”. A temática do amor
irrealizado, da sensação de perda, a morte como princípio antagônico da vida, a
crença na eternidade da alma, a angústia, melancolia, sofrimento e dor
pertinentes à condição humana, são temáticas recorrentes neste soneto amplo em
aspectos polissêmicos e lirismo.
Após esta breve explanação, consideremos
o soneto do poeta Vinicius de Moraes, “Soneto de Separação”, poema em que se
percebe a mesma temática do texto camoniano: a separação entre dois amantes,
embora se possa inferir que apresentam perspectivas diferenciadas quanto à
maneira com que o assunto é tratado. No soneto de Camões em análise, o eu lírico
expressa sua angústia ao dizer que se separou da sua amada “Tão cedo desta
vida”, enquanto o soneto de Vinicius de Moraes apresenta sua constatação sobre
a dolorosa separação que, para este, aconteceu também “De repente, não mais que
de repente”.
Quanto à temática, os dois sonetos podem
ser muito parecidos, ambos tratam de desencontros, de ilusões e das dores de
quem se depara com a fugacidade da vida afetiva. O eu lírico do primeiro texto
se mostra mais conformado com a ideia da perda, no entanto isto se dá porque ele
acredita na vida etérea como forma de reencontrar a sua amada. O indivíduo se
mostra, neste sentido, vítima dos desencontros que a própria sorte, num sentido
mais espiritual, revela.
No segundo texto, porém, o eu lírico, num jogo antitético, apresenta
a separação de diversas maneiras e não descarta o fato de que tudo, no que diz
respeito à vida amorosa, pode mudar rapidamente, e aquilo que se tem em mãos
pode deixar de ser em pouco tempo, mas não se percebem processos ideológicos
voltados para o fato de que poderia haver continuidade para o amor na vida após
a morte. Antes, o amor que deixa de existir com o passar do tempo, no “Soneto
de Separação”, é encarado com certo realismo, sem grandes dramatizações, embora
conserve o teor lírico que também se faz presente no soneto de Camões.
análise e comparações fantásticas!
ResponderExcluirVinicius, não amou, possuiu apenas muitas mulheres e para isso, enganou-as com um falso lirismo de ocasião. Um ato mecânico do corpo visando o sexo induzido pelo álcool . Camões como Machado com sua "Carolina" , usaram o alma num lamento sincero de perda .
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