A Idade Média tem início no final do século V, com o avanço do
Cristianismo, e estende-se até o século XV. Neste período, surge o primeiro
movimento literário da História Ocidental: o Trovadorismo. A principal
característica do Trovadorismo foi a produção de poesia acompanhada por
instrumentos musicais, ou seja, o fazer poético estava relacionado à ideia de
que se produzia o texto para ser cantado com auxílio de instrumentos diversos,
além de traduzir os valores morais da época.
A poesia trovadoresca apresentava
três tipologias: Cantiga de amor, Cantiga
de amigo e Cantiga de escárnio ou
maldizer. Ao mesmo tempo em que os trovadores produziam suas poesias
cantadas e musicadas, no Norte da França surgiu um novo tipo de produção
literária: as Novelas de Cavalaria. O primeiro produtor deste gênero foi
Chréstien de Troyes, autor de Lancelot, e
retratava, diferente da idealização amorosa das canções trovadorescas, o amor
concreto e realista com relações amorosas que se davam entre nobres. Como eram
de caráter pagão, em sua maioria, os poetas exaltavam a valentia, a aventura e
a capacidade de conquista. Surgiram, desse modo, as narrativas centradas no Rei
Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda.
Posteriormente, a Igreja passa a
aceitar as Novelas de Cavalaria em sua doutrina e surgem novelas em que eram
retratados aspectos místicos nas narrativas que se pautavam na valorização de
aventuras com sentido religioso. Em suma, a Novela de Cavalaria se caracteriza
como o melhor exemplo de prosa medieval em que se ressalta o heroísmo de
influência religiosa e feudal.
Muitos estudiosos da Literatura
popular nordestina, mais precisamente estudiosos da Literatura de Cordel, e dos
Cantadores Repentistas, buscam, em suas investigações, observar até que ponto
essas manifestações literárias sofreram influências da produção trovadoresca
criada na Idade Média.
Sabe-se que a Literatura de Cordel
incorporou, de modo recorrente, as características prosaicas pautadas em
aventuras e valores medievos presentes nas Novelas de Cavalaria, e os
Cantadores Repentistas, em vários aspectos, relembram a associação existente
entre poesia oral e música.
Diante disso, é possível estabelecer
um rápido estudo de cunho comparativo entre a produção medieval das Novelas de
Cavalaria e a Literatura de Cordel, para ser mais específico, o Cordel Antônio Silvino – o rei dos cangaceiros,
do autor Leandro Gomes de Barros, que apresenta a história do cangaceiro
Antônio Silvino que faz ameaças ao Padre José Paulino que, segundo é exposto no
Cordel, foi responsável pela morte de três cangaceiros do seu grupo por tê-los
entregado ao governo.
No cordel podem ser encontradas
várias das características que são pertinentes às Novelas de Cavalaria, mesmo
com a distância temporal existente entre essas duas manifestações literárias.
Antônio Silvino assume o papel de herói que, ao reunir homens em bando,
passa a viver de supostos crimes enquanto tenta fugir da realidade social a que
se submete. Esse bando se desloca por diversos espaços do sertão nordestino
guerreando contra o poder governamental da época, tendo como objetivo
consciente ou inconscientemente o processo reivindicativo que o tornava um
guerreiro inconformado com o sistema social e político de seu tempo. Assim, é
possível estabelecer relações de proximidade com os Cavaleiros da Távola
Redonda, do reino do Rei Arthur, por estarem ambos distantes de seu espaço de
origem à mercê de aventuras e perigos inúmeros com seus respectivos objetivos heroicos.
Guerrear era-lhes uma necessidade quase natural mediante as anfractuosidades
dos caminhos que percorriam.
Diferem, no entanto, porque, no caso
do cangaceiro, a guerra se estabelecia contra representantes do poder
governamental e do clero, enquanto as personagens das Novelas de Cavalaria não
se opunham a nenhum sistema social e político, muito menos se opunham ao poder
clerical, antes defendiam a Igreja e lutavam em prol desta.
O que os aproxima, ainda, é a manutenção de uma tradição que estabelece
hierarquias comportamentais e valores morais no bando como se percebe, por
exemplo, no fato de que, ao perder os companheiros do bando, seria imprescindível
vingar a morte destes para fazer justiça àqueles que foram fiéis ao grupo. Nem
que para isso a Igreja fosse alvo da cólera dos cangaceiros.
Após esse breve comentário,
constata-se o quanto é possível encontrar elementos comparativos que podem ser
observados com maior apuro, o que não é nossa pretensão tendo em vista o
caráter sucinto de nosso texto.
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